Passos escrita por Nyna Mota


Capítulo 5
Passo IV


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Existe algo de instigante na liberdade.

A primeira sensação foi de medo. Eu nunca tinha sido livre, eu nunca pude fazer minhas próprias escolhas. 

A segunda sensação foi a euforia. Eu queria viver tudo, fazer de tudo e assim eu fiz.

Todavia, tive cuidado, com tudo que estava aprendendo, primeiro experimentei a temperatura da água, depois mergulhei de cabeça.

Eu sabia que a imensa alegria, a vontade de viver e a mudança drástica pra apatia e medo eram sintomas da depressão.

Eu não estava curada. Eu não sabia se existia cura. Mas eu queria viver e isso me motivou.

Rosalie e Lilian como sempre foram meu apoio. 

Elas me incentivavam a viver.

Na escola não me tornei popular como Rosalie, mas comecei a ser notada. Comecei a aparecer e não apenas como a sombra de Rose, comecei a me mostrar, mostrar quem era a Bella Swan, a bailarina que tentou se matar, a pessoa que queria viver.

Uma das primeiras coisas que quis foi ir à um show, em Port Angeles, era uma banda que não conhecia e provavelmente ia odiar mas queria viver aquela experiência.

— Mãe por favor, nos deixe ir — Rose olhava de forma suplicante a Lilian, que nos olhava de forma um pouco severa. 

— Já disse que não, vocês duas têm 17 anos, não vão nesse show de rock desacompanhadas, e não eu não irei — Rose bufou e marchou pro quarto.

— Não ouse bater a porta desse quarto mocinha, eu ainda sou sua mãe! — Lily gritou, logo em seguida ouvimos o barulho da porta batendo.

Nunca as tinha visto brigar assim, primeiro me senti culpada, depois ultrajada. Queríamos muito ir. Mas sem autorização nenhuma de nós arriscaria, ainda respeitávamos muito Lily pra fazer algo assim.  Além de não querermos enfrentar a ira da Halle mais velha, ela se provou uma boa mãe, mas não era dispersa, ela impunha limites, ela dava liberdade quando o achava sensato, e nos podava pensando em nosso bem estar e proteção.

Eu entendia a decisão dela, mas pra duas adolescentes aquilo era o auge da injustiça. 

Blasfemamos, ficamos irritadas e de cara amarrada e a depressão veio com com força, eu não estava vivendo, era como se estivesse desperdiçando minha vida naquela rotina.

Mas assim como a raiva veio ela se foi. Tanto eu como Rosalie fizemos as pazes com Lily, esquecendo o episódio do show. 

A vida seguiu. 

O cotidiano era algo entediante. O que as vezes me alegrava e me tirava da monotonia era Edward, que sempre que podia mantinha contato.

Descobri que a vida de um residente em medicina é cruel. Ele mal tinha tempo pra dormir ou comer direito, quando o tinha ele mandava mensagem mas nada concreto. 

Eu sentia falta da segurança que ele passava.

Duas semanas após a "ideia" do show veio uma nova oportunidade de me aventurar. Uma fogueira em La Push. 

Lilian nos deixou ir com muitas recomendações de juízo, responsabilidade, para não bebermos, cuidarmos uma da outra, e ainda nos deu preservativos.

— Estou muito jovem para ser avó, então nada de netinhos agora.

Lily era mãe, dava bronca, dava liberdade, dava responsabilidade, impunha respeito e eu a admirava por ser tantas em uma só.

— Enfim vamos poder socializar! — Rosalie dizia animada enquanto dirigia pra La Push. Ela estava tão animada, e super produzida. Eu me arrumei, não como Rose mas estava confortável e atraente. Calça jeans de lavagem escura, uma blusa branca com detalhes em renda, uma bota preta sem salto e uma jaqueta jeans.

Forks ainda era a cidade mais chuvosa do mundo e não me arriscaria em um vestido como a loira fez. Conforto acima de tudo.

Apesar de muito me esforçar eu ainda me sentia um pouco por fora dos outros adolescentes, uma mais sombria, mais sóbria, e não ousava colocar álcool na minha boca. Isso era algo que eu repudiava.

Eu conhecia o descontrole do álcool, o torpor, ainda podia sentir o whisky queimando em minha garganta. Sabia tudo de pior que ele trazia, eu vi o que fez com Renée em primeira mão. 

Rose depois de saber como me sentia nunca mais bebeu nas festas. Por mim. Pra me deixar mais confortável. Minha amiga irmã.

Vi vários casais se formando, o que me deu um certo comichão. Sentei em um tronco e olhei o céu. Tinha poucas estrelas, mas tinha algumas. O vento leve soprou meu rosto, me fazendo suspirar e apreciar o cheiro da maresia tão próxima.

Aquela sensação de paz, de plenitude. Era algo novo. Me surpreendi ao constatar que não sentia isso só na presença de Edward. E a lembrança do ruivo apertou meu peito, eu sentia falta de algo que nunca tive e não compreendia aquilo por completo.

Fechei os olhos e apreciei aquele momento, o som dos jovens rindo, as batidas do meu coração, a sensação do ar entrando e saindo dos meus o pulmões, a sensação de estar viva.

— Você é linda! — Me sobressaltei com a voz de Mike, ele vinha tentando se aproximar após o início da minha pequena ascenção social.

Eu não tinha esquecido do beijo na festa do Tyler, foi meu primeiro beijo.

— Obrigada — Dei um pequeno sorriso.

Nos encaramos por uns instantes até eu desviar o olhar constrangida.

— Posso sentar? — Novamente o encarei, eu sabia aonde aquilo nos levaria, a pergunta era: valeria a pena arriscar?

Decidi que sim.

— Claro, senta ai — Era a única resposta que eu tinha.

Aquela noite descobri sobre Mike Newton, filho único, pais ainda casados, um mimado, mas um mimado bonito, ele não era inteligente nem me fazia sentir segura, mas me fazia sentir importante e desejada.

Era bom receber atenção.

Ele sempre olhava pra minha boca com desejo, e me vi curiosa pra saber como era, pra viver aquilo.

— Bella, eu quero muito te beijar — Ele me olhava de forma intensa, seus olhos azuis claros brilhavam mesmo no escuro.

Mike era bonito, um bonito fofo, cabelos loiros com um topete estranho encharcado de gel, bochechas redondas, não era o típico atleta e talvez academia lhe fizesse bem, tinha umas três espinhas no rosto, mas nada que o deixasse feio. Ainda sim olhei ao redor, Rose me olhava com um sorriso, apenas mexendo os lábios me disse "se joga", eu sorri pra ela.

Um pouco mais por lado Jessica me olhava com raiva, o que prontamente ignorei.

Olhei para Mike, o dono do meu primeiro beijo, me aproximei mais, fechei os olhos e esperei.

Primeiro um toque breve, testando, logo movimentos gentis e então sua língua encostou em meus lábios, senti um frio na barriga e entreabri meus lábios de forma automática. 

Mike se empolgou rápido demais, me puxou pros braços dele, e Deus como ele babava. Os livros e filmes mentiam, não era o que eu esperava, eu correspondia de forma automática, em minha mente pensava que era por seu meu primeiro beijo de verdade.

Mais tarde naquela noite Rose riu e disse que era normal.

Após a noite da fogueira, eu e Mike sempre estávamos juntos, ao que parece realmente juntos, Jessica surtou quando nos viu na escola, ela o queria, e ao que tudo indicava Mike Newton só tinha olhos pra mim.

Os beijos foram melhorando, mas faltava algo. Ainda assim continuei com Mike, com ele vivi várias coisas como uma adolescente comum, coisas que antes sequer sonhava.

Fizemos coisas de casal, coisas comum. O comum as vezes era tão bom.

Marcamos de sair numa sexta à noite, cinema e jantar em Port Angeles. Iríamos apenas nós dois.

Eu estava nervosa, nunca tinha vivido nada parecido, Rose e Lily me ajudaram a me arrumar, mas se divertiram com meu sofrimento.

Um vestido florido, um pouco acima dos joelhos, um casaco e sapatilhas. Nada demais. Quando Mike buzinou meu estômago embrulhou.

— Eu não vou! Não posso fazer isso! — Rose e Lily me olhavam divertidas.

— Ah você vai sim Bella — Rose estava determinada a me fazer dar certo com Mike, isso era irritante na maior parte do tempo.

— Quieta Rosalie! Bella vá e aproveite, esse é o primeiro encontro de muitos. Isso é normal, apenas aproveite, vai dar tudo certo — Lily sempre sabia o que dizer pra me acalmar.

Então eu desci as escadas e fui. Não dissemos nada o caminho todo, o que foi estranho. 

O cinema estava cheio, tinha alguns filmes legais em cartaz, mas ao contrário do que eu previa Mike simplesmente escolheu o filme sem me consultar, algo sobre zumbis com um enredo fraco e cenas chatas, logo fiquei entediada, e fui jogar no celular pra evitar segurar a mão do pateta, aquilo realmente tinha me irritado.

Vi uma mensagem ainda não aberta, e só havia uma pessoa com quem trocava mensagens.

“Pequena, quando vocês vem me ver mesmo?! Não aguento mais viver fast food”

Um sorriso tomou conta do meu rosto enquanto eu digitava.

“Que feio Dr. Masen, achei que por ser médico seria mais cuidadoso com sua alimentação”

Me surpreendi com a rapidez em sua resposta. 

“Eu seria, se não colocasse em risco minha vida e a dos vizinhos ao tentar cozinhar”

Foi impossível não rir.

“Adoraríamos te alimentar Dr. Masen, mas não sei quando iremos”

“Espero que venham logo ou virarei um zumbi”

A menção à zumbis me lembrou que eu ainda estava em um encontro.

“Odeio zumbis Ed, não se torne um. Preciso ir agora”

A resposta não veio, e senti um vazio em meu peito que logo tratei de ignorar.

Ao contrário do cinema o jantar foi agradável. Fomos à uma lanchonete comum à jovens da nossa idade.

Ele foi gentil, e engraçado e parecíamos um casal. Nos beijávamos como um, mas não sabia o que aquilo significava, eu não conseguia ver um futuro com Mike, apenas eu e Rose em Nova Iorque. Mas ainda sim aproveitei aquilo, como aproveitaria tudo mais na vida.

Mike me deixou em casa, não tentou nada mais, nem uma mão boba, me senti frustrada, será que não me desejava? 

Eu não entendia aquilo e não quis perguntar, mas internamente doía. Era como se eu não fosse boa pra isso, não desejável o bastante. Não que eu quisesse sexo, mas queria me sentir desejada, queria que meu encontro fosse como o de qualquer outra garota e sempre ouvi elas falarem por ai das mãos bobas e tentativas de serem levadas pra cama.

Deus eu era tão complexa! Entrei em casa, todas já dormiam, me deitei em minha cama e fiquei pensando em nada. Sentindo falta de algo que eu não sabia o que era.

A rotina se tornou monótona, Mike se tornou monótono.

Rosalie e eu nos dedicamos com afinco para conseguir entrar na NYU, sempre estudando para alcançar boas notas.

Eu quase não tinha atividades extra curriculares, o que me deixava aflita, fazendo com que a loira me inserisse em tudo que ela fazia, me inscreveu mesmo que tardiamente na turma de debate, e me fez participar de tudo que houve na escola, os professores e o diretor ajudavam devido à tudo que aconteceu comigo nos últimos tempos.

Tudo com o fim de ir pra Nova York. Pro tão sonhado futuro.

Natal e ação de graças passaram de forma calma e tranquila, apenas nós três, Edward não pode comparecer, o que deixou o ruivo extremamente irritado fazendo com que brigássemos, não era motivo pra ele se irritar, como também não era pra brigarmos, mas nada disso importou. 

Nossa primeira briga me fez chorar e o ignorar por um dia, até não suportar mais e ligar pra ele que também estava chateado pela briga e por eu o ter ignorado, e da forma mais simples possível fizemos as pazes e foi como se nunca tivéssemos brigado.

— Odeio brigar com você pequena. Não vamos mais brigar ta — Como negar qualquer coisa à ele? Isso era algo que eu realmente não sabia fazer.

— É só não me irritar Ed — Era uma simples constatação.

Nos últimos meses minha personalidade antes submissa vinha se tornando totalmente diferente, mais firme e até irritadiça. Sempre havia alguns momentos de melancolia, mas estava me tornando mais firme e obstinada em meus propósitos.

Meses se passaram, mudanças de estação, festas de aniversário e estudo, muito estudo e muita dedicação, era nosso futuro ali, o que faríamos pelo resto de nossas vidas então nos dedicamos e esquecemos um pouco do resto.

A chegada dos meses de maio e junho trazia a expectativa de sermos aceita ou não nas universidades para as quais nos inscrevemos, o medo de ir pra longe de Rose, o medo de não ser aceita e aquela pontada instável de mim me abraçou com força total, me fazendo não acreditar em mim mesma ou na minha capacidade.

Acabaram as provas, finalizaram as aulas agora era só esperar, o que me deixava extremamente transtornada e fragilizada.

Uma semana sem aulas, Rosalie e eu estávamos duas bruxas rabugentas numa TPM eterna devido à espera, nem Edward nem Lily arriscavam falar conosco. 

Qualquer barulho de correio na porta da casa fazia com que corrêssemos desesperada para no fim ficarmos frustradas.

Só a perspectiva da colação de grau nos tirou daquele estado. Escolhemos os vestidos, estávamos no meio da maquiagem quando Lily chegou ao quarto com envelopes na mão.

O ar ficou preso em meus pulmões enquanto à olhávamos em expectativa.

— Respirem ou só entregarei as cartas após a colação — Lily brincou. Soltei o ar com força, mal olhando pra ela, apenas pros envelopes.

Ansiedade e medo.

Não seja covarde Bella. Vamos lá!

Lily revirou os olhos e estendeu as mãos. Direita pra Rose, esquerda pra mim, deu um sorriso encorajador e nos deixou sós. 

Eu e a Loira nos encaramos por diversos minutos, até começarmos a rir sem parar. Estávamos as duas com metade do rosto com maquiagem o cabelo arrumado e droga, ali era o pontapé inicial e estaríamos juntas, eu não estava mais só.

— OK Bella, é o seguinte. Vamos começar por Harvard — Era o primeiro envelope na minha pilha, Harvard era a melhor e eu não tinha tanta pretensão assim.

Abrimos ao menos tempo.

— Não fui aceita Rose — A loira negou também. 

— Yale? — perguntei olhando o segundo envelope.

— Não também.

— OK, nós não vamos pra Ivy League — meu coração estava tão acelerado. Dois nãos.

A pilha foi diminuindo até restarem apenas 3. Havíamos sido admitidas em algumas outras universidades do país, mas nenhuma que realmente quiséssemos estudar, em outras não fomos admitidas juntas o que era fora de cogitação, uma iria aonde a outra fosse.

Seattle era a próxima e depois NYU, yep eramos duas loucas que gostavam de se torturar, mas queríamos saber de todas antes de ver a resposta NYU.

— Sim! Exclamei empolgada. Era nossa segunda escolha, se não fosse na NYU queríamos ficar perto da Lily.

— Oh cara! Sim aqui também! 

Era um alívio e então chegou a hora de abrir a tão esperada resposta da Universidade​ de Nova Iorque.

Tanto eu quanto Rose tremíamos.

— No 3 Bella — Respiramos fundo e ela contou. —1,2,3.

Abrimos juntas e foi impossível segurar as lágrimas ao ver o Bem Vinda ali, era real eu tinha conseguido. Levantei a cabeça e ver as lagrimas de Rosalie junto à um sorriso me deu a confirmação que precisava. Íamos pra Nova Iorque!

O momento de felicidade foi esquecido ao perceber mais um envelope, que apenas eu tinha recebido, algo me dizia que aquilo estava errado. Meu estômago estava embrulhado, Rose notou logo minha exitação.

— Bella, porque essa cara? — Eu não olhava pra ela, estava focada no envelope branco com meu nome em uma letra elaborada.

— Eu recebi mais um envelope.

Ambas olhávamos o envelope intrigadas. Pelos meus cálculos todas as instituições para as quais me candidatei haviam me respondido, aquele envelope era uma incógnita. 

Peguei o em minhas mãe e li mais uma vez meu nome "Isabella Swan", rompi o lacre e de lá tirei algo simplesmente impossível. 

Era uma resposta de Juilliard. Considerada a melhor escola de artes, isso incluía dança, isso incluía Balé.

Antes, quando eu dançava, quando eu ainda queria agradar a treinadora eu realmente quis ir pra Julliard mas tudo havia mudado, eu não queria mais dançar, eu não queria mais ir pra Julliard, dançar agora me lembrava do meu passado com muita dor e pesar.

Essa carta era um soco no meu estômago, fazendo bile vir de uma vez, mal me dando tempo de correr para o banheiro despejar todo o almoço enquanto Rose segurava meu cabelo outrora com cachos perfeitos, agora já um pouco bagunçados.

Tinha que ser uma brincadeira, uma puta brincadeira de mau gosto. 

Dei descarga e enxaguei minha boca, suor frio escorria pelo meu rosto e costas.

Lily entrou sorridente no quarto sem perceber a tensão que pairava no ar.

— E então meus amores pra onde vão? — Levou poucos segundos pra ela notar que havia algo extremamente errado e mais alguns pra ela ver o envelope aberto e a carta em cima da cama, sua expressão de culpa dizia tudo no qual eu não queria acreditar.

— Você… — Comecei a balbuciar mas nada saia. Pesar invadiu suas feições.

— Eu não esperava que fosse assim — murmurou baixinho. — Bella querida, você precisa me escutar.

— Te escutar? Você quer que eu te escute depois disso! Você não tinha o direito Lilian! — Eu gritava. Doía, me sentia traída, uma decisão dessa magnitude tomada pelas minhas costas. Lágrimas invadiam meus rosto sem minha permissão. Eu chorava de raiva. De tristeza. O motivo das lágrimas eu não sabia precisar.

— Bella por favor só me escute… — Lily chorava também, fazendo a ferida no meu peito aumentar, eu não queria que ela chorasse, mas eu estava magoada e aquilo doía tanto! Eu a amava e me sentia traída.

— Você não podia ter feito isso comigo! Não depois de tudo Lilian — Eu ainda me encontrava sentada no chão, me sentindo debilitada e fraca e eu odiava aquele sentimento. — É da minha vida que estamos falando Lilian, da minha vida! Eu escolho entendeu! Eu escolho! Você não é minha mãe, você nunca vai ser minha mãe.

Eu estava sendo cruel eu sabia, o olhar quebrado dela me disse aquilo mas era a única forma de me defender, atacar, magoar, fazer doer da mesma forma que doía em mim.

— Você tem razão Bella, eu nunca vou ser sua mãe, mas você sempre vai ser minha filha — Mais lágrimas caíram em seu rosto, Rose chorava baixinho no canto, Lily me olhou e saiu do quarto. Aquelas palavras me arremeteram ao hospital, a mesma coisa que ela havia me dito em outro momento, mas tinha o mesmo peso, talvez até maior. Ela sempre esteve lá por mim. Eu queria retirar aquelas palavras, mas era algo que estava fora do meu alcance.

Todas estávamos arrasadas. Eu me arrependia de tudo que tinha dito, mas não sabia o que fazer.

Com muito esforço me levantei de onde estava, aquela letargia nos faria perder a colação de grau. Eu ia concertar aquilo, mas depois. Agora precisávamos agir.

Rose me observou e começou a falar hesitante.

— Bella eu…

— Eu vou arrumar tudo Rose. Mas agora precisamos ir colar grau — Meu tom não deixava espaço pra maiores discussões.

Rapidamente terminamos de nos arrumar em silêncio. Lily nos esperava no primeiro andar, mas não me olhou. Abraçou Rose e sussurrou algo baixinho em seu ouvido.

Me senti mil vezes pior pois sabia que o tratamento dado a Rose era o mesmo dispensado à mim, mas eu a afastei, eu tinha causado aquilo. Não me custava ter ouvido, ter tentado entender, não custava ter sido mais moderada e não falar as coisas de cabeça de cheia. Engoli o nó que se formou em minha garganta e passei por elas devagar. Senti alguém afagar meu ombro mas não me virei pra olhar quem seria.

Dentro do carro o silêncio era sepulcral, dez minutos pareceram dez horas. Assim que chegamos ao ginásio onde ocorreria a entrega simbólica dos diplomas suspirei audivelmente.

Desci do carro antes delas e mirei o horizonte. 

Ela errou, eu errei, ambas nos magoamos mas a presença de Lily em minha vida era mais importante que aquilo. Precisava mudar as coisas só não sabia como.

Avistei um ruivo vindo em minha direção, ele passava a mão pelos cabelos de forma nervosa, meu coração acelerou Edward tinha vindo. Então fiquei envergonhada e abaixei a cabeça. 

A vergonha era pelo que havia feito a Lily que não merecia ter sido tratada daquela forma depois de tudo que fez e faz por mim.

Vi quando se aproximou mas ainda não tive coragem de o olhar. Ele levantou minha cabeça com a mão, de forma delicada, mas não deixando alternativa. Olhei aqueles orbes verdes, intensos, amorosos que só me fizeram sentir mais culpa.

Ele me abraçou, me aconcheguei em seus braços e me deixei chorar.

— Vocês duas erraram sabe, mas precisam conversar, se perdoar — Ele sussurrava em meu ouvido, acariciando meus cabelos. — Agora não chore pequena, hoje é um dia importante.

Apesar de tudo suas palavras não me acalmaram.

— Lily é mais importante que tudo tudo Edward — Fitei seus olhos enquanto tentava parar de chorar.

— Então a faça saber disso Bella — Com um beijo na testa ele despachou Rosalie e eu, que já estávamos atrasadas.

Se me perguntarem como foi a cerimônia de colação de grau eu jamais saberei responder, tudo se passou como um borrão, vi Rosalie ser chamada no palco pois era a oradora da turma, depois meu nome sendo chamado e quando menos esperava todos jogaram seus capelos pra cima. E o que ouvi ou percebi de tudo isso? Absolutamente nada. 

Quando menos esperei me vi em frente ao público, pais de alunos, avós, seus familiares, e num cantinho a minha família: Lilian, Edward, o Dr. Walter,  os avós de Rose. 

Olhei para onde Rosalie se encontrava, um pequeno sorriso em seus lábios e os resto do corpo docente me olhando de forma questionadora. O impulso que me levou até o palanque ainda existia.

— A maioria de vocês me conhece, a maioria sabe sobre mim. Sabe que meu pai morreu, sabe que tentei me matar. Outros não fazem a menor ideia de quem eu seja. Minha certeza é que todos se perguntam o motivo de eu pegar esse microfone agora e falar. Acreditem, eu também me questiono isso — Algumas pessoas riram. Continuei — Nós imaginamos que o futuro começa agora, que este é o momento onde tudo se inicia, não sei vocês mas eu não acredito nisso. O futuro já começou, começou ontem, começou no último dia de aula, começou no primeiro dia de aula e tudo vai depender das atitudes que tomamos. Parei observando ao meu redor, todos me olhavam. — Nós esperamos momentos importantes e grandiosos para perceber o valor que as coisas tem, pra esperar algo mudar, mas somos nós que precisamos mudar, que precisamos agir. Eu precisei perder meu pai pra perceber o quanto eu o amava e precisava dele me sentir segura. Eu perdi minha mãe e tive que crescer sozinha, foram momentos dolorosos mas que fizeram de mim que sou. O que quero dizer com tudo isso é não deixe pra amanhã. Não deixe pra um momento grandioso, ele pode não chegar — Lágrimas tomaram meu rosto enquanto a lembrança de Charlie me assolava. — Eu nunca mais vou poder dizer que amo meu pai mas posso dizer isso pra outra pessoa. Uma pessoa que esteve comigo, alguém que me estendeu a mão, a casa, o amor, que mudou minha vida e meu futuro. Eu amo você Lily, você é a minha mãe e me perdoa! Eu não queria dizer aquilo e eu não quero perder mais oportunidades, eu não quero mais perder tempo. Essa pode ser a última chance sabe e preciso que você saiba o quão é importante pra mim — Olhei ao redor enquanto via algumas pessoas chorarem, familiares se abraçarem. — O futuro é o hoje, é o que você fez ou o que deixou de fazer, e mais importante que coisas são as pessoas que você carrega durante a vida. Que o hoje de vocês seja maravilhoso e cheio de pessoas incríveis como o meu é!

Sai do palco atordoada com tudo que eu havia falado, esse era o meu jeito de dizer a Lily que a amava, que eu estava errada. Rose me encontrou antes da mãe, me abraçou e seguimos juntas pra perto da nossa família.

Lily me abraçou sem dizer nada por um tempo, naquele momento não eram necessárias palavras. Só no fim daquela noite, após Edward ter ido embora junto com seus avós foi que Lily falou.

— Foi Renée Bella, Renée que pediu que eu te inscrevesse em Juilliard. Ela disse que você amava dançar e que não era justo você parar de dançar por ela — Ela deu um beijo em minha testa e me deixou com o peso daquela informação.

O cansaço físico e emocional daquele dia foram o suficiente pra me fazer dormir, a escuridão me tomou em um sono sem sonhos.

Um semana se passou. Uma semana sem saber o que fazer, com o peso de saber que Renée tinha pedido por aquilo. Uma semana fugindo de confrontar Lily.

Eu era covarde por não tentar entender, mas eu sequer havia começado a processar aquilo. Sem saber o que fazer com a informação adquirida apenas deixei pra lá, por ora.

Com a chegada do fim de semana chegou o dia do último evento do High School, o tão esperado baile de formatura.

Mike era meu par, Tyler o da Rose. Eles iriam como amigos, já eu e Mike…bem, ainda estávamos juntos, seja lá o que estarmos juntos significava. 

Mike iria pra faculdade de Seattle cursar administração. Eu iria pra Nova Iorque na segunda feira, dois dias após o baile. 

Só havia um motivo pra eu ainda não ter deixado Mike. Eu queria uma experiência completa do High School. Eu queria me apaixonar, o que não aconteceu. Mas eu queria viver o que todas vivem. Ser comum, e isso incluía perder minha virgindade.

 Ia acontecer naquele dia, mais clichê impossível. Tanto Rosalie quanto Lily sabiam dos meus planos. As duas fizeram cara feia, tentaram me dissuadir da decisão mas fui irredutível.

Lily dizia que eu devia esperar alguém que eu amasse, não fazer algo assim frio e premeditado. Mas e se eu nunca me apaixonasse? E se mais ninguém se interessasse por mim? Era a única alternativa que eu via. Rose achava que era muito recente, que eu não estava pronta.

A outra e única pessoa a qual confiava era Edward com o qual eu jamais poderia falar daquilo. 

Apesar da expectativa com o baile e a perca da minha virgindade me sentia mal. Primeiro porque Lily não ia conosco para Nova Iorque, e depois tinha Renée e a carta de Julliard.

Apenas naquele dia deixei tudo de lado e aproveitei o que a vida me dava: um dia de garotas.

Rose, Lily e eu comemos brigadeiro, fizemos as unhas, cabelo e maquiagem. Nossos vestidos haviam sido escolhidos à dedo.

Rosalie usaria um vestido longo, preto, decote em forma de coração e aberto nas costas. Seus cabelos estavam lisos, soltos, com grande destaque para a maquiagem forte e o batom nude.

Eu escolhi o vestido em um tom de verde, e só no momento que o coloquei percebi que lembrava o tom dos olhos de Edward. Ele era longo, barra estilo sereia e um decote simples. Meu cabelo preso em  coque meio bagunçado, graças aos dotes de Lily. Minha maquiagem era um esfumaçado verde e batom num tom coral. 

Estávamos lindas. Não parecíamos apenas jovens de 18 anos, tínhamos um ar maduro no olhar que nos distinguia das demais jovens.

O baile foi no ginásio da escola com a decoração padrão, simples, sem graça. Tinha inclusive um globo de luz, o que fez eu e Rosalie rir muito.

Era oficial, estávamos formadas, indo pra Nova Iorque iniciar nossa vida adulta e cara isso era tão empolgante. 

Eu e Rose dançamos como se não houvesse amanhã, esquecendo inclusive nossos parceiros de lado já que eram péssimos dançarinos. Nos mantivemos longe do ponche que estava batizado já que apesar de todos estarem iniciando a vida adulta ainda se tratavam de jovens inconsequentes que batizavam ponches.

Dancei um pouco com Tyler, e um pouco com Mike, mas na maior parte do tempo dancei só ou com Rose. Eu sentia muita falta de dançar tinha que admitir, a melhor parte era dançar pra me divertir, sem obrigação. Sentir meu corpo tomar conta e me deixar envolver. 

Suor escorria pelo meu corpo e me sentia cansada e relaxada, quando então notei que o baile estava chegando ao fim. 

Vi Mike me olhando de longe e me questionei se realmente queria ir até o fim. Rose estava indo embora com Tyler, mas seu olhar não saia de mim, ela estava apreensiva e eu também, mas me mantive firma na minha decisão. Eu iria até o fim.

Mike se aproximou e eu o beijei, de forma profunda. Ele tinha bebido, e o gosto de álcool em sua boca quase me fez desistir, mas não me deixei abalar e continuei.

Entramos no carro e novamente o beijei, tentei passar as mãos por seus cabelos mas estavam embebidos em gel o que me frustrou um pouco.

Mordi seu lábio inferior fazendo o gemer alto.

— Bella você está me matando assim — Ele já estava ofegante. Desceu o máximo que pode o banco do motorista e me puxou pro seu colo. Pude sentir sua ereção.

Senti um frio na barriga com a descoberta daquilo. Eu nunca havia estado naquela situação.

Continuamos nos beijando, o beijo dele não era totalmente ruim, mas não me despertava aquele fogo dos livros e filmes.

— Bella se não for fazer nada melhor eu te levar em casa — Ignorei sua fala e beijei seu pescoço, ele tinha um cheiro bom. — Bella por favor! — Ele gemia sôfrego.

— Não vamos parar Mike, vamos até o fim — Ele arregalou os olhos. Esperei ele me convidar para ir pra casa dele, um hotel, mas meu companheiro estava empolgado demais para se ater a esse pequeno grande detalhe.

Logo desceu as alças do vestido e beijou entre meus seios. 

— Ah Bella tão linda, tão cheiroso. Eu sou louco por você! — As declarações de Mike me congelaram por um instante, mas logo ignorei e deixei me levar pelo momento.

Senti desejo de continuar, então tirei a camisa social  que ele usava e arranhei suas costas como li nos romances.

— Eu esperei tanto por isso Bella! Eu sou louco por você. Você sabe que sou louco por você ne! — A cada instante as afirmações dele me deixavam mais desconfortáveis.

Talvez, só talvez, se eu correspondesse à esse sentimento que ele parecia demonstrar eu gostaria de ouvir aquelas coisas, mas eu não correspondia.

Uma voz em minha mente alertou que aquilo era um erro. Mas ainda sim não desisti, depois eu me entenderia com Mike.

Devo ter perdido muito tempo divagando em minha mente pois quando voltei à mim Mike já tinha posto a camisinha em seu membro ereto e se masturbava enquanto me olhava.

— Eu vou fazer ser bom pra você Bella, você vai ver — Suas palavras eram entrecortadas por gemidos.

Ainda se masturbando ele inseriu a mão por baixo do meu vestido e afastou a calcinha de renda vermelha, simplesmente afastou e me aproximou de seu membro.

— Vai doer um pouco Bella, eu acho, mas logo você vai sentir tanto prazer quanto eu — Eu não sabia o que responder, no meu íntimo só queria que aquilo acabasse logo, entretanto admito que o medo da dor me fez vacilar por um minuto ou dois.

Mike me beijou de forma urgente, gemendo entre meus lábios, ele suava, sentia seu corpo tremer em baixo do meu, lentamente guiou seu membro pra minha entrada me fazendo sentir a primeira pontada de dor e retesar.

—Hey Bella só mais um pouquinho, já está quase todo dentro.

Não era uma dor excruciante, mas incomodava, muito, querendo não prolongar a dor permiti que ele entrasse por completo em mim, um pequeno ardor se início junto com o vai e vem. 

O prazer que eu sentia era mínimo, não era o bastante para aplacar o incômodo no meu sexo.

— Estou quase lá Bella — Mike não calava a boca, junto com o incômodo e minha falta de prazer só me deixou mais irritada.

Logo ele estava engasgando com o ápice do seu prazer. Sai do colo dele, sentindo um pouco de dor, ele se ajeitou no banco sem me encarar. Um clima estranho predominava dentro do carro, eu me sentia constrangida e frustrada.

Chegamos em frente a minha casa, abri a porta quando Mike me parou.

— Bella estou realmente muito feliz que tenhamos feito isso — Achei que nada poderia me chocar mas subestimei Mike. Ele não era mau só era egocêntrico demais pra perceber qualquer coisa que não fosse ele. 

Ele não havia se preocupado comigo, se havia sido bom. Eu não o queria magoar mas não tínhamos futuro, por falta de sentimento, por falta de compatibilidade.

— Mike, isso, nós, bem... acabou essa noite. Estou indo pra Nova Iorque — Ele se surpreendeu, é talvez eu devesse ter sido mais aberta com ele, mas eu nunca o deixei se iludir.

— Mas eu achei que depois de hoje, que nós… — Senti pesar em meu peito.

— Foi bom enquanto durou Mike, hoje foi nossa despedida, agora cada um segue sua vida — Não esperei resposta. vi seu olhar magoado, de alguém usado. Dei um beijo em sua bochecha e sai para à noite fria. 

Lá fora chovia. Entrei em casa sem olhar pra trás. Mike foi bom pra mim de um jeito que ninguém jamais entenderia, nem mesmo eu.

Lily e Rose estavam na sala. Me olhavam em expectativa, sabia que não tinha como fugir.

— Vou tomar um banho venho contar tudo — Rosalie deu um suspiro aliviado por saber que eu contaria.

Tomei um banho rápido, sentindo um pequeno ardor em minha vagina. Desci as escadas e vi as duas com um balde de pipocas me esperando. Minha virgindade tinha virado motivo de pipoca, melhor que novela mexicana pelo que pude observar.

— Só não era o que eu esperava OK — Desabafei logo, não adiantava protelar e não querendo prolongar aquilo.

— E o que você esperava querida? — Lily me olhava divertida enquanto eu fazia careta.

— Primeiro esperava me sentir mais mulher, mas me sinto só normal e frustrada. E depois achei que seria maravilhoso, afinal uma certa loira aqui presente se vangloriava das noites tórridas e prazerosas.

As duas loiras riram.

— Bella, primeira vez quase nunca é confortável e bem eu falei que você não estava pronta que Mike não era o cara certo.

— E eu que Mike era um babaca que não faria nada direito — Realmente Rose tinha dito aquilo em algum momento durante nossas inúmeras discussões sobre o assunto.

— Bella ter feito sexo não te faz mais mulher, não te deixa madura de uma hora pra outra. Isso é com tempo. E sobre ser prazeroso, é e vai ser, com um cara legal, que saiba o que esta fazendo, que se preocupe com o seu prazer. 

Lily sempre sabia o que dizer, eu amava o fato dela ser aberta sobre sexo, de me ouvir e me aconselhar sobre o tema.

— Vocês se protegeram? — Era uma pergunta simples, de alguém que se preocupava comigo.

— Sim, usamos preservativo — Era constrangedor falar tão abertamente.

— Onde vocês foram Bella? — Rosalie me perguntou curiosa, e eu fiquei vermelha instantaneamente.

— Carro. Estacionamento da escola. — Balbuciei encarando o chão até Rose explodir em uma gargalhada.

— Mais clichê impossível Bella! 

Sorri de volta sabendo que era aceita e amada.

Um sorriso triste invadiu o rosto de nós três. Penúltima noite em Forks, iríamos eu e Rose pro apartamento que alugamos por meio do Edward. 

Não prolongamos à noite, no domingo arrumaríamos malas.

Lily se fazia de forte, mas víamos em seu olhar o coração partido por se despedir de suas meninas.

Acordei primeiro e fiz o café da manhã, tomei um banho e me preparei mentalmente para o que iria fazer.

Depois de muito pensar e repensar decidi que precisava ver Renée, precisava entender o porque de Juilliard, porque desistiu da minha guarda, e precisava fazer isso sozinha.

Na noite anterior, antes de dormir havia falado com Lily sobre onde Renée estava e se poderia pegar o carro emprestado. Ela não questionou meus motivos.

Dirigi até Port Angeles e de lá até a clinica especializada em viciados onde minha mãe havia pedido pra ser internada. 

Cada passo dado foi feito de forma automática, me dirigir até a recepção, me identificar, conseguir autorização pra ve-la fora do horário de visita com a justificativa da mudança pra Nova Iorque, até ser levada até o quarto onde ela estava.

— Qualquer coisa é só chamar — O enfermeiro que havia me acompanhado nos deixou só. 

Nossos olhos estavam grudados, nos encarávamos mas não falamos nada. Lágrimas começaram a escorrer por seus olhos. Era estranho ver ela depois de tanto tempo.

— Ah minha garotinha, minha linda garotinha!

 Um nó se fez em minha garganta. Eu por muito tempo havia esperado aquilo, mas só ali entendi que já era tarde demais, nossa relação quebrada não tinha mais concerto.

— Por quê Renée? Por que Julliard? Por que desistiu da guarda? Por que droga! — Era impossível me manter firme, não naquela situação.

O choro era desesperado, não só o meu, como o dela também.

— Por você Bella! Por você! Eu vi o que eu tinha feito, eu te destruí, destruí a única coisa boa que tinha no mundo. Eu percebi como você estava infeliz comigo quando fui te procurar, eu queria te levar pra casa, estava chovendo, você sorria e olhava pro céu, você estava tão em paz. Eu não podia te tirar aquilo, não podia tirar o resto da sua paz!

Suas palavras me pegaram de surpresa, me lembrei da noite que ela falava, logo após Edward voltar pra Nova Iorque, uma das primeiras noites que realmente dormi em paz.

— Então eu desisti da sua guarda e pedi pra Lilian enviar videos de você dançando pra Juilliard, ah você dança tão bem Bella. Charlie você viu como nossa garotinha será uma linda bailarina!? Ela vai pra Moscou Charlie, a melhor companhia de Balé!

Achei que nada mais me surpreenderia, não pude estar mais enganada. Renée agia como se Charlie estivesse ali, vivo, bem. 

— Ela as vezes está lúcida, as vezes em delírio — a voz do enfermeiro me assustou. — Mas ela sempre pede pra dançar, sempre fala da garotinha dela, e sempre fala em Charlie.

Só então notei que o quarto tinha uma barra e um espelho.

— Dançar acalma ela, por isso colocamos as coisas ai.

Renée vivia em um completo delírio, sem distinguir realidade de ilusão. A infelicidade dela, não me deixou feliz, me doeu e me fez sentir pena.

— Me avise se ela precisar de algo. Eu não posso vir..eu não consigo lidar, mas se ela precisar — Eu balbuciava as palavras sem coerência. Precisava sair dali.

— Não se preocupe, ela está sendo bem cuidada e temos os telefones de emergência.

O mais rápido que pude sai daquele lugar, dirigi pra Forks de forma imprudente, mas precisava fazer algo. Algo que não fazia desde o enterro do Charlie.

Cheguei ao cemitério e segui o caminho conhecido apesar de ter estado ali somente uma vez. Encontrei o túmulo do meu pai, estava limpo apesar dos maus tratos do tempo.

— Desculpe papai eu não te trouxe flores — sorri debilmente.— Eu sinto sua falta papai, muita. Tem um buraco negro dentro do meu peito desde que você se foi.

Soluções interromperam meu monólogo. Todo o pranto guardado pelos últimos seis anos saíram. Assim como meu coração chorava e lavava minha alma, gotas de água da chuva caíram em mim lavando meu corpo.

— Eu desisti de viver papai. Eu tentei me matar, eu estava tão cansada, a mamãe não foi muito boa pra mim sabe. Mas eu a perdoei, não foi fácil, mas depois de hoje percebi que a mamãe era fraca, eu não quero ser como ela, então percebi que eu preciso ser forte. Mas um por um instante eu desisti, eu fui tão fraca! — Mais uma onde de choro me tomou.

— Aconteceram tantas coisas, eu queria tanto que você estivesse aqui, queria seu colo, queria que me protegesse dos garotos, queria que tirasse fotos de mim nos momentos importantes, queria que ameaçasse meus namorados, eu te queria comigo. Eu trocaria o mundo por você, pra você estar comigo! Eu sou tão egoísta por querer isso — Tentei conter um pouco o choro. — Mas nem tudo foi ruim pai, conheci boas pessoas no caminho, agora tenho Lily e Rose, você gostaria muito delas, e o Dr Walter, você teria ciúmes dele. E eu tenho aprendido tanto papai. Eu aprendi a me amar, o que não foi fácil eu me acostumei a não gostar de mim e fazer as coisas apenas pra agradar a mamãe, tive que aprender sobre quem eu era, descobrir do que gostava, pra onde iria, o que faria;  depois aprendi que posso ser amada mesmo depois de perder você e a mamãe o que realmente foi muito doloroso papai, eu por muito tempo precisei e dependi do amor de vocês e tive que abrir mão disso, mas aceitei o amor de outras pessoas, e elas realmente me ama pai, assim como eu sou, cheia de defeitos e propensa a erros; aprendi que mesmo que doa muito que eu preciso seguir em frente, que eu não posso desistir.

A chuva começava a afinar e as nuvens negras foram sumindo do céu.

— Estou aprendendo que na vida existem momentos bons e ruins, atitudes boas e ruins, momentos de felicidade e momentos de tristeza mas que eles não duram pra sempre, nem os bons, nem os maus, e eles te fazem crescer. Esse é meu quarto passo papai, perceber que a vida é vivida entre bons e maus momentos — Eu precisava me despedir. — Eu cresci tanto Charlie. Foi duro mas tenho orgulho de quem eu sou, você se orgulharia de mim também. Amanhã vou pra Nova Iorque, não era o que a gente planejou mas foi o que a vida me deu e estou abraçando isso pai. Estou com tanto medo! Eu queria você comigo! Você não podia ter me deixar pai, eu preciso de você! Mas agora entendo sua partida, eu te perdoo por me deixar.

Um raio de sol aqueceu meu rosto, como uma carícia leve, era como se fosse Charlie ali limpando as lágrimas que ainda escorriam por minha face.

— Eu te amo papai, eu sempre vou te amar. Você vai ser pra sempre meu anjo protetor.

Sai do cemitério de alma limpa, com os ombros leves, pronta pra iniciar a nova fase da minha vida.


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Notas finais do capítulo

Oie...
Primeiro: desculpe a demora pra postar, sou estudante do último período da faculdade e realmente preciso passar o que está sendo bem difícil rsrsrs e devido as provas e trabalhos me encontrei impedida de escrever.
Tive certa dificuldade em escrever esse capítulo, pra mim ele foi um dos mais intensos e devido as detalhes foi preciso muito de mim, espero realmente que gostem.
Nunca tive a ideia de fazer de Passos uma long, estão teremos mais um capítulo e o epílogo.
Começarei a escrever assim que superar esse fim que não foi planejado e logo que concluir eu posto, prometo!
Desculpem os erros de português que acharem pelo caminho!
O capítulo ficou monstrinho kkk bem grande, espero que não seja um incômodo! Ele realmente ficou maior do que eu esperava, o maior que escrevi na vida!
Esqueci de avisar anteriormente mas estou usando da licença poética na parte do direito e da Renée internada, não sei como funciona nos Estados Unidos e resolvi fazer assim porque me favorecia ao escrever rsrsrs
Acho que é isso.
Espero realmente que gostem.
Qualquer coisa é só falar comigo.
Beijinhos...Até o Passo V.



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