Passos escrita por Nyna Mota


Capítulo 4
Passo III


Notas iniciais do capítulo

Pessoas fiz referência no capítulo passado ao livro A colina, ele pertence ao enredo da fic Dez anos da Lola Royal e tinha esquecido de colocar o link kkk, todos os direitos referente à essa obra pertencem a Lola. Segue o link:
https://fanfiction.com.br/historia/709045/Dez_Anos/
Leiam DA é ótimo!
Boa leitura!



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Passo III
Antes de sair do hospital, todas as enfermeiras que cuidaram de mim foram me
dar um abraço e me desejar força. Aquilo me tocou de forma profundo. Elas se
condoeram com minha dor, cuidaram e torceram por mim.
Meu médico, Dr. Walter, chegou para assinar a tão esperada alta. - Como vai minha paciente mais bonita? – Ele bagunçou meu cabelo.
Dr. Walter foi o médico que me atendeu, sempre bondoso e atencioso, aparentava
ter uns 40 anos, seu cabelo começava a ficar grisalho, duro quando era preciso ser, mas eu o admirava, ele não
desistiu, ele não me olhou com pena, ela me olhou com determinação.
Um dia, durante uma de suas visitas, em um dos momentos de depressão ele
disse: – não desista de você Isabella, eu não vou desistir– Sorriu e me
deixou só.
Mais uma vez o destino me provou que eu não estava só, que tinha alguém
disposto a lutar por mim.
Uma alma ferida e destroçada pode ser reestruturada, foi o que pensei, não
completamente, mas uma parte sim. Existem cicatrizes profundas demais, que
sequer o tempo era capaz de apagar.
Ele se tornou uma pessoa constante, sempre me visitando, algumas vezes
assim como Lily não falava nada, só sentava, lia um pouco ou cochilava, outras
vezes perguntava do futuro, nunca do passado. – O passado Isabella, é pra servir de aprendizado para o futuro, então pense no
seu futuro, não se esqueça do passado, mas não viva nele. Viva o presente, e
sonhe com o futuro.
De certa forma, me ajudou mais que a psicóloga com a mania de encarar os
fantasmas do passado – Irei te visitar, eu ainda não desisti de você! – dito isso, assinou a alta, piscou
pra mim e se virou pra sair. Seria mais fácil tê-lo deixado ir, mas eu não podia,
ele fez mais por mim do que um médico por sua paciente, ele se preocupou
com a alma ferida, não apenas com o corpo marcado.
— Dr. Walter? – chamei baixinho, antes que ele saísse da sala. – Ainda temos muito que conversar sobre o futuro, por favor, não demore a me
visitar – Ele me deu aquele sorriso calmo, de alguém que sabia mais da vida do que eu poderia imaginar e me abraçou. – Sim Isabella, temos muito que
falar sobre o futuro.
Demorei muito tempo pra perceber que ali, conquistei mais uma pessoa pra
chamar de família.
Apenas Lily tinha ido me buscar, Rose deveria estar na escola.
Eu não voltaria pra casa que cresci, iria pra casa que era meu refúgio, pra casa
de Lily e Rose. O caminho até lá foi feito em silêncio, mas um silêncio bom,
calmo, cheio de expectativa para o que o futuro me reservava. Seria uma nova
etapa em minha vida, e na de todos ao meu redor.
— Pronta pra recomeçar? – Lily me perguntou assim que viramos na rua em
que ela morava.
— Recomeçar soa bem – Sorri pra ela, um sorriso de verdade, onde mostrava a
expectativa dessa nova realidade.
Após estacionar desci do carro de forma lenta, ainda absorvendo o fato de que
não voltaria pra Renée.
Lily segurava sua bolsa e a minha que continha algumas coisas que usei
durante minha estádia no hospital.
— Abra porta pra mim querida – Obedeci prontamente.
Qual não foi minha surpresa ao encontrar uma faixa enorme, escrito em lilás
“SEJA BEM VINDA”.
Rose com um sorriso gigante, e um ruivo que imaginei ser seu primo ao seu lado.
Ela correu pra me abraçar – Bem vinda Bella, é tão bom te ver fora daquele hospital, eu e mamãe planejamos muita coisa e tudo agora vai ser
diferente você vai ver!
— Rose pare de sufocar a Bella, e não seja má educada, apresente seu primo
preferido pra sua amiga – Ele disse de forma divertida. Sorri timidamente, e
estendi minha mão, seu toque era quente e macio.
Ele tinha salvo minha vida, ainda não sabia se era grata ou se o culpava por
estar viva.
Isso era tão conflitante!
—Bella, esse é meu primo Edward Masen, residente em medicina em Nova Iorque, ele não é tão
chato quanto parece, nem tão velho. E se toca garoto, quem te disse que é o
preferido!
Mas ele sequer a olhava, seus olhos verde como esmeraldas me encaravam
como se pudessem ver minha alma, ou o que havia sobrado dela, ele sabia da
dor, provavelmente o motivo que me levou a tentar me matar, mas não tinha pena ali, eu não consegui o encarar mais, abaixei o olhar, senti minhas
bochechas corando. Ele pressionou minha mão um pouco mais forte, então a
soltou.
— Bem vinda Isabella, espero que sua estadia aqui seja reconfortante, e que
minha prima não te deixe louca no processo! – ele abraçou a prima e se
afastou de mim.
Ele tinha uma voz grave, meio enrouquecida e totalmente sexy. Não me era
muito comum me atrair por ninguém, mas Edward Masen me atraiu, de uma
forma totalmente diferente do que já fui atraída por Mike Newton.
Rose era empolgada com tudo, com a vida, então minha festa de boas vindas não seria diferente, tinha direito a tudo, desde salgadinhos, a brigadeiro e um bolo simples, mas muito saboroso.
Foi um momento ímpar, me senti acolhida, mas ainda era estranho estar ali, com Edward principalmente, e eu fiquei contente, mas no fundo, algo em minha mente me alertava que eu não merecia aquilo, que não era boa o bastante para ter um bom momento, que merecia apenas dor, tristeza e solidão.
Apesar do sentimento devastador de insuficiência me mantive firme, mantive a droga de um bom sorriso em meu rosto e deixei para sofrer depois.
Edward era um homem lindo, ênfase no lindo, alto, cabelos cor de cobre, e aqueles olhos verdes.
Me lembrei do hospital, vultos azuis e verdes, azuis
como safiras, como os olhos de Lily e Rose, verdes como esmeralda, como os olhos de Edward.
Ele tinha me visitado no hospital, não era algo que alguém precisava me dizer, era um fato. Para mim era bem óbvia a motivação dele, um quase médico, um ato movido pela profissão escolhida por ele para ser exercida pelo resto de seus dias.
Meus pensamentos foram interrompidas por Lily – Bella agora que você é uma membro da casa Stark e está sob nossa proteção temos algumas regras a serem seguidas. — Sorri para o mais novo vício das duas loiras, game of thrones, e pelo que percebi, eu também embarcaria nessa loucura.
— Na verdade, uma única regra querida, ser feliz, você tem o dever de ser feliz nessa casa, depois de tudo que você viveu minha ordem é que se empenhe pela sua felicidade — Tentei impedir as lágrimas de caírem, mas não foi possível, não era um choro
de tristeza, era felicidade, era amor.
A festa de boas vindas foi divertida e aconchegante, mesmo sendo meu primeiro momento ali, foi a primeira vez que senti o que é ter um lar.
A única coisa estranha era a presença constante de Edward ali, ele sempre estava me observando, o que me deixava de certa forma constrangida e excitada. Eu nunca havia recebido atenção, sequer da minha mãe, então fiz o que sabia fazer, evitei.
— Tia, acho que a Isabella deve descansar, ele teve alta mas ainda não pode
fazer estripulias — Ele dizia olhando pra mim, e não para Lily.
— Bella, apenas Bella — Eu disse olhando de relance pra ele, fazendo com que meu coração acelerasse. – Você tem razão Edward, você levar pode levas as coisas da Bella lá pra
cima? – Ele assentiu dessa vez sem me olhar, pegou a pequena bolsa que
continha um pouco das minhas coisas e subiu.
— Bella suba e descanse, mais tarde irei ver como está — Lily me deu um beijo na testa, e foi arrumar as coisas que foram usadas na festa, enquanto Rose me acompanhava pro quarto.
Após um bom banho, daqueles de lavar a alma, entrei no quarto de Rose, na
verdade nosso quarto a partir de agora.
Eu moraria com minha melhor amiga, aquilo era algo grande, minha irmã de coração não abriu apenas as portas do seu coração pra mim, abriu as portas
da sua casa. Eu não tinha como agradecer.
— Mamãe vai providenciar uma beliche sabe, pra gente não ter que dividir a
cama – Ela me olhava com um sorriso de lado.
— Não precisa Rose, já dormimos juntas diversas vezes, isso não me incomoda — Dei de ombros, elas já haviam feito muito por mim. – É bom estar em casa — Suspirei e deitei na cama, olhando o teto de Rose, cheio de estrelas, algumas descolando devido a quantidade de tempo em que já se encontravam afixidas ali.
Rose deitou ao meu lado. E ficamos assim por um tempo, em silêncio, apreciando aquele raro momento de paz, ao menos pra mim.
— Já pensou que ano que vem tudo muda Bella? — Sim eu já havia pensado naquilo, ano que vem era uma incógnita.
— Sim Rose tudo muda, na verdade, tudo já mudou. – Realmente mudou. Mas qual é Bella, logo estaremos na faculdade, temos
que pensar pra onde vamos, porque vamos juntas você sabe! – Ela falou
animada em tom conspiratório – Bella, acho que quero fazer psicologia na NYU.
O sonho dela era ser psicóloga há algum tempo, no fundo eu sempre achei que fui um dos motivos que a fizeram tomar essa decisão, ela seria ótima nessa profissão, depois de tudo que ela e Lily fizeram por mim eu daria a vida por elas
. – Então será NYU Rose. E eu me decidi. - Ela sentou de repente. Até uma
semana atrás eu apenas era o fantoche da Renée.
Agora eu era dona da minha vida, eu estava viva, eu precisava vive-la.
— Eu só realmente não sei o que vou fazer! — Ela me encarava. — Ainda, eu vou descobrir o que fazer— Ela sorriu, me abraçou. Era um grande passo pensar no futuro.
Eu sabia que não seria uma utopia, sabia que ainda precisava aprender muito sobre mim pra decidir o que fazer, mas estava determinada a tentar, a descobrir, a fazer algo.Eu precisava agir.
A única coisa que eu sabia era que eu queria ser forte, e mais, queria ajudar as pessoas, só não sabia como.
O primeiro dia com as Halle tinha sido tranquilo, almoçamos tarde e fomos ver filmes de romance, Edward fora conosco sem reclamar, assistiu à todos os filmes, comentava as partes que achava interessante e implicava com a prima.
Ele era um homem intrigante, e dava uma sensação boa olhar pra ele, mas nem toda sensação boa superava a dor e a decepção, elas ainda martelavam no fundo da minha mente.
No meio da noite acordei me sentindo sufocada, levantei, calcei as pantufas que Rose havia me emprestado até eu ir na casa de Renée buscar minhas coisas, desci as escadas devagar e sai pra varanda, precisava de ar, sentir o vento no meu rosto, me sentir livre.
Aos poucos a sensação de sufoco foi passando, e então passei a sentir que tinha alguém me observando. Um calafrio percorreu meu corpo e senti a pessoa se aproximando.
— Sabe, você não deveria sair no meio da noite —Edward disse com um sorriso
no rosto.
— Aqui é Forks, a coisa mais perigosa aqui pra mim sou eu mesma – De forma não intencional minha voz saiu sem vida, o que o fez me encarar.
— É acho que você tem razão — Ele deu de ombros. – Hoje o céu está tão bonito!
Ele admirava as estrelas e eu o admirava, até ele voltar seu olhar sobre mim e me deixar vermelha.
— Aproveite o céu estrelado menino da cidade, isso é raro por aqui.
— Aproveite a vida Bella, ela é rara e única – Ele retrucou sem me olhar, continuava a
olhar pro céu. – Aprecie cada detalhe pequena, nos momentos ruins ache algo de belo a que se apegar. Olha pra esse céu lindo Bella, isso me faz querer
viver, ver as belezas do mundo, ver a bondade. Todos os dias pequena, naquele hospital, vendo tragédias, vendo pessoas morrerem – ele suspirou — O que me faz seguir são pequenos detalhes, um pôr do sol, um sorriso de uma criança, uma flor desabrochar, a beleza traz luz.
Não falamos mais nada, fiquei pensando no que ele me falou, pequenos detalhes, beleza, era algo estranho, mas se tinha aprendido algo era a ouvir.
Eu ainda não sabia, mas foi ali que me apaixonei por Edward Masen, mesmo passando um bom tempo me negando a enxergar isso.
O dia seguinte foi chuvoso, o que me fez ficar retraída e deprimida então eu olhei pro Edward, aqueles olhos verdes, aquele sorriso, eram belos, pequenos detalhes, grandes belezas. Algo de singelo nascia ali.
Em uma das vezes em que eu o olhava, ele olhou de volta, sorriu e piscou.
Meu coração traiçoeiro acelerou, e eu voltei minha atenção para o filme que eu não fazia ideia qual era. Olhei para o lado contrário e Lily nos observava, ela
tinha visto, corei novamente fazendo ela me dar um sorriso encorajador.
Nosso sábado foi assim, calmo, tranquilo, regado a pizza e filmes.
Logo o domingo chegou, e com ele Edward partiria para Nova Iorque. De volta a sua residência médica, a sua vida, longe de mim, aquilo me entristeceu e me -assustou, afinal eu mal o conhecia, mas a presença marcante e intensa faria falta pra mim.
Após o almoço todas nos arrumamos para leva-lo em Port Angeles, onde ele pegaria o avião.
Eu tinha gostado de Edward, ele era calmo, tê-lo por perto me trazia uma sensação de segurança, talvez por ele ter literalmente salvo a minha vida ao
ligar para a emergência.
Eu sabia que nada na minha vida era eterno, ou perdurava, então simplesmente ignorei aquele sentimento bom, e me agarrei a minha eterna
companheira, a tristeza.
Pode parecer idiota mas ela eu conhecia como uma velha amiga, me agarrando à ela eu não precisaria sofrer mais uma decepção. Era algo involuntário e inconsciente. Era simples, eu não deixava as pessoas se aproximarem por medo de perde-las, de uma forma ou de outra, era mais fácil
não ser amada do que ter quem você ama tirado bruscamente de você ou simplesmente ser abandonada, ignorada.
Antes de sairmos Edward me encontrou sozinha na sala, eu não era vaidosa como Lily e Rose que se arrumavam com esmero e dedicação, calça jeans e
camiseta estava ótimo pra mim.
Ele me olhava atentamente, eu não conseguia desviar o olhar até ele soltar um suspiro audível e passar uma das mãos pelos revoltos fios cor de cobre. – Nosso tempo foi curto pequeno cisne, mas saiba que pode contar comigo ok,
pra qualquer coisa – Ele me olhava em expectativa e estendeu o celular. – Tome, anote seu número, eu não vou deixar você se livrar de mim assim tão
fácil.
Era impossível dizer não à ele, e a presença dele me intimidava, de uma forma
agradável, fazendo com que eu apenas digitasse meu número há muito decorado e bem pouco usado, escrevendo Bella Swan como nome do contado enquanto ele olhava fazendo careta o que me fez rir. Lhe devolvi o
celular com um pequeno sorriso, ele me fazia sorrir, ele despertava em mim
coisas desconhecidas.
— Pronto, agora está melhor! – Ele virou a tela do celular onde estava escrito
“cisne” e um patinho estranho ao invés do que eu havia colocado. Era engraçado, mas era tenro e delicado.
Aquele gesto, um pequeno gesto mas que balançava toda a minha estrutura.
Pequenos gestos, grandes belezas. Edward tinha
grandes gestos e uma beleza gigantesca, interna e externa, as duas mexiam comigo de forma absurda e foi por isso que me joguei nos braços daquele homem doce e inquietante, maior foi o meu espanto quando me vi dizendo algo que nem sabia que sentia.
— Vou sentir sua falta Edward – A declaração o fez me apertar mais em seus braços.
Ele tinha um cheiro maravilhoso, algo refrescante e totalmente masculino, algo único, algo dele.
— Também vou sentir a sua cisne.
Era tão bom estar ali, em seus braços, parecia que ali era meu lugar. Me deixei iludir por mais alguns instantes, apenas mais alguns instantes e me afastei. Não era saudável me apegar.
— Sabe pequena, vou te encher de mensagens e acho bom você me retornar na mesma quantidade — Ele disse enquanto me soltava de forma relutante, mas sorria, Edward sempre sorria.
—Eu também vou receber mensagens Edward, ou apenas o pequeno cisne ai? — Rosalie nos olhava de forma engraçada, o que me fez ficar vermelha e me afastar de ambos.
— Eu já te encho de mensagens loira, mas fique despreocupado, as duas vão receber muitas mensagens!
E assim chegou a hora de irmos. A hora dele ir.
Nos despedir dele de forma concreta no aeroporto fez uma ferida pequena se abrir em meu coração, era doloroso, mas suportável.
—Em breve vejo vocês em Nova Iorque, as três! - Ele abraçou nós três em conjunto, depois uma de cada vez enquanto várias pessoas passavam por nós sem realmente nos ver.
Mais uma vez pude sentir seu cheiro, as batidas do seu coração, ele se afastou olhou em meus olhos de forma intensa, aqueles olhos esmeraldas tão lindos, beijou minha testa e sussurro em meu ouvido antes de partir. —Se cuida cisne, fique viva pra mim — Uma piscadela e ele entrou pelo portão de embarque me deixando surpresa e sem palavras.
Eu fui sincera quando disse que sentiria a falta do ruivo, em dois dias ele tinha conquistado um pequeno lugar na minha vida e no meu coração.
Não era um amor tórrido de fazer tremer o mundo, era calmo, inocente, puro, era o início de algo que prometia ser muito mais do que ousei sonhar.
No dia que o ruivo partiu, sai pra varanda das Halle de madrugada, chovia, não era uma noite estrelada e ainda sim me senti confortada ao saber que o Ruivo, ainda que à km de distância estava embaixo do mesmo céu que eu.
A vontade de tê- lo ali me motivou a mandar lhe uma mensagem.
“o céu hoje não tem estrelas”
Guardei o celular no bolso sem esperar por resposta, não sabia qual seria a hora em Nova Iorque, e me arrependo, por não querer atrapalhar ele.
O sentimento de culpa me tomou, me arrependi. Eu era uma tola. Assustei me com o celular vibrando, com uma nova mensagem.
“Aqui não da pra ver as estrelas cisne, mas eu sei que elas estão lá, e por ora, isso basta”
Senti um frio na barriga, ele realmente havia me respondido! Eu realmente fiquei empolgada.
Eu não me incomodava com os apelidos que ele me dava, de todos cisne realmente me deixava encabulada, e me remetia à meu pai, o sobrenome que dele era cisne em francês, a referência não me passou despercebida e tocou meu coração de forma profunda.
“Chegou bem em NYC? As meninas já estão sentindo sua falta”
Eu queria saber se ele já tinha chego, se estava bem. Não só Rose e Lily sentiam a falta dele, eu também sentia, mas esse detalhe era melhor ocultar.
Esperei ansiosa sua resposta, que não demorou.
“Cheguei sim. Também estou sentindo a falta de vocês, da comida então”
Eu ri. Eu realmente ri. Aproveitando a sensação leveza que me envolvia, entrei e me deitei, mas não antes de ver um vulto na rua, como se alguém se escondesse.
Sonhei com olhos verdes.
Dormi tranquilamente e acordei com medo.
Hoje voltaria pra escola. Sabia que não seria fácil, mas ainda era incômodo todos me encarando. Os sussurros. Os olhares de pena. Até mesmo dos professores.
Realmente seria um inferno passar mais um ano no High School.
Antes que eu esperasse, Rosalie grudou seu braço no meu e fomos em direção às nossas aulas.
—Não vejo a hora de irmos pra Nova Iorque, Edward disse que vai nos mostrar tudo! — A menção ao ruivo prendeu minha atenção me fazendo esquecer tudo.
Planejavamos ir pra Nova Iorque no próximo feriado.
A simples perspectiva de rever Edward fez meu coração acelerar.
Lembrar dele me fez pegar o celular, tinha uma mensagem.
“Boa aula pequena. Ignore seus colegas, adolescentes são idiotas”
Não consegui não rir. Fazendo Rose me olhar curiosa e tomar o celular da minha mão e bufar.
—Aquele ingrato não me mandou uma mensagem! — A loira estava brava com o primo, mas não se incomodou com nossa aproximação me deixando aliviada.
Aquela família com todos os seus componentes haviam me adotado, me fazendo parte de algo. Eu podia ter uma família, eu sonhava com isso, sonhava com a faculdade uma vida nova com Rose, longe daqui e das lembranças.
A gente sonha, porque a realidade da vida é dura demais. Sonhar me impulsionou a lutar por aquilo, a me empenhar à realizar. Era o que me movia. O que afastava a depressão.
Tinha dias que eu estava bem, conseguia sorrir de forma natural, conseguia ser quase normal.
Outros dias a depressão estava à todo vapor. Eu não conseguia entender como as pessoas podiam agir normalmente, eu queria gritar que eu tentei me matar, que eu quis morrer, que nada naquele mundo valia a pena.
Eu pensei em me cortar, e pensei em voltar a tentar acabar o que não terminei antes.
Nada fazia sentido.
Eu não tinha controle emocional.
Uns dias preenchida. Outros o vazio.
Rose e Lilian eram pacientes, cuidavam, conversavam, as vezes apenas ficavam ali me apoiando.
A terapia ajudava um pouco, mas nada era capaz de apagar o que vivi.
Existem marcas na vida que nada apaga, e a luta pelo controle é diária.
Os meses foram passando, visitas de psicólogos e assistentes sociais devido ao processo pela minha guarda.
Toda vez que marcavamos de ir pra Nova Iorque algo nos impedia, nevascas, entrevistas, a loja, alguém doente.
Edward compreendia, nunca cobrava, sempre me apoiava. Eles foram o motivo da minha sanidade.
Ele sempre manteve contato comigo, sempre interessando em saber de mim, nunca pressionando pra nada, nunca forçando sua presença. Era um bálsamo.
Mas nem ele conseguia me acalmar para o que estava por vir, a audiência à repeito da minha guarda.
Eu seria ouvida pelo juiz, Renée também. Aquilo me apavorava. Com todos os meus traumas e surtos eu me sentia bem com as Halle.
Eu não queria voltar. O destino era cruel e imprevisível, eu tinha medo do que ele me reservava.
Meu emocional já desestabilizado piorava, eu ficava mais deprimida à medida que a audiência se aproximava.
Rose e Lily também estavam tensas, era agora ou nunca.
Na noite que antecedeu a audiência nós três estávamos extremamente nervosas, nada nos acalmava, mas tentamos aplacar a tensão assistindo seriado. Tenho certeza que nenhuma de nós viu nada.
Já era por volta da meia noite quando Lily falou nos assustando.
— Vão buscar colchões e roupas de cama. Vamos dormir na sala, juntas — Esse era o meio dela de demonstrar apoio.
Eu não preguei o olho aquela noite e duvido muito que qualquer uma delas o tenha feito.
— Eu estou com medo — Susurrei. —Tenho medo de voltar pra lá, de perder as esperanças, de voltar pra escuridão.
Ouvi Rose fungar e Lily segurou minha mão.
— Nós também temos medo Bella, mas não vamos desistir de você! Você faz parte dessa família — Sua voz estava embargada. Ela também chorava.
Levantamos cedo naquele dia,fazia um silêncio sepulcral, era estranho ver elas tão sérias e tristes pois até mesmo no pior dos momentos Rosalie e Lilian Halle tinham um sorriso no rosto, sempre vendo o lado bom da vida.
Nos dirigimos para o fórum local, eu tremia, meu coração estava tão acelerado, achei que fosse parar.
Chegamos uma hora antes da audiência, o advogado contratado por Lily já nos aguardava.
—Bom dia! Sei que é um momento delicado, mas preciso dar algumas instruções. Hoje somente Isabella e Renée serão ouvidas, sua filha não poderá ficar na sala Lily, e há uma chance remota de você ser chamada a depor, coloquei seu nome por precaução mas se achar desnecessário a dispensarei — Ele nos olhava atentamente, mas parecia tenso. —A juíza poderá fixar a sentença hoje, ou aguardar 30 dias, pode querer mais provas, ouvir mais pessoas, pode até pedir pros psicólogos que acompanharam vocês testemunhe. Então ainda não é definitivo, e se nos for desfavorável nós recorremos — Ele parou de falar hesitante — Isabella, você não vai precisar encarar sua mãe, a menos que queira isso. E vai ficar tudo bem ok?
Eu assenti. Eu entendi tudo que ele quis dizer mas as palavras não saiam da minha boca, eu tinha receio do que me esperava no fim dessa audiência.
Faltando alguns minutos pra audiência eu fui levada pra uma sala adjacente para aguardar, eu realmente não me sentia pronta pra encarar Renée. Os minutos se arrastavam e eu não conseguia me manter quieta. Rose havia ficado do lado de fora aguardando. Eu realmente queria ela aqui comigo.
Já havia perdido a conta de quanto tempo havia passado quando uma funcionária veio me chamar. Lily não estava mais ali, apenas Jenks, um homem moreno com uma 50 anos e uma mulher de uns 40 anos e aparência singela.
Me aproximei do advogado, sem coragem de encará los.
— Olá Isabella, meu nome é Mônica Stanton e eu sou a juíza que vai decidir sobre sua guarda —Ela parou uns instantes mas logo continuou com as apresentações. — Esse aqui é o Dr Steve Howbar, promotor que também acompanha o caso — Ela falava de forma serena, enquanto ele estava sério, me dando apenas um pequeno sorriso encorajador.
— Isabella você precisa entender que ações que têm por fundamento a guarda de um menor são sempre delicados — Dr. Steve tinha uma voz grave e firme, ele não titubeava, sabia o que falar. — Em casos assim sempre levamos em consideração o que é melhor pro menor, e não o que ele quer. Seu caso é ainda mais delicado devidos as circunstâncias que te levaram a sair efetivamente da sua casa.
— O que ele está querendo dizer Isabella, é que não basta o fato da mãe não querer o filho ou vise versa pra que tiremos uma guarda, você compreende? — Eu assenti para a pergunta da juiza, não sabia o que dizer.
Tinha chances de ficar com Renée, era o que eles diziam, que se entendessem que Renée era o melhor pra mim eu voltaria pra casa dela.
— Precisamos que você nos responda uma coisa Isabella. É muito importante — O promotor me avaliava, aqueles olhos negros e ferozes, treinados pra detectar mentiras. — Você quer morar com Lilian Halle?
A pergunta me surpreendeu, não era o que eu esperava. Esperava perguntas sobre o suicídio, sobre como Renée me tratava.
Eu hesitei por alguns segundos enquanto me recuperava do susto. — Sim, eu quero, eu quero muito Dr — Houve uma troca de olhar entre eles, eu tinha perdido algo ali.
— Dra agora que já obteve a resposta da Isabella, acho que não tem mais o que decidir — Ela lançou um olhar afiado para o advogado, acho que o tratamento dispensado à mim não era o mesmo que à ele.
—Dr Jenks eu bem sei a hora de proferir minha decisão — Ela se voltou pra mim com a voz serena. — Isabella sua mãe abriu mão de sua guarda, na verdade ela estava desesperada pra que você ficasse com a Halle, que você seria mais feliz com ela — Eles me avaliavam e eu estava em choque. — Por isso queríamos saber se não quer mesmo ficar com sua mãe.
Depois de tudo era bom saber que Renée não ia brigar pela minha guarda, e ainda sim era ruim, eu não era importante o bastante pra ela me querer. Um nó se formou na minha garganta, senti as garras da depressão bem próximas, ameaçando me afundar.
— Eu realmente quero ficar com a Lily, se for possível. — Era o que eu queria. Meu lar era com elas.
— Você tem mais uma opção — Mais uma opção? Hoje realmente era o dia de me surpreenderem. Jenks rosnou ao meu lado. —Excelência, não acho que isso…
— Calado Dr Jenks, ela tem direito de saber! — Dr Steve cortou Jenks, ele tinha poder de comando em sua voz me deixando admirada. — Isabella, você pode requerer sua emancipação.
— Minha o que? — Minha voz soava exasperada. Era como me sentia. — Desculpe, eu não sei o que é isso.
— Você mesma cuidar de si, sem precisa de ninguém, responder por si mesma, cuidar do dinheiro e coisas assim — Seria bom, era bom mas eu não queria isso, eu queria ser cuidada e Lilian era boa cuidando de mim.
— Eu prefiro ficar com a Lily. — Surpreendidos eles acataram minha decisão.
Minha guarda ficaria com Lily, eu voltaria pra casa com elas, ela iria gerir a pensão que eu recebia, eu não estava pronta pra me virar só, não ainda, não quando pela primeira vez após tanto tempo eu tinha alguém.
O mais importante, eu não precisaria enfrentar Renée, álcool, solidão.
Alívio era a palavra que mais me descrevia naquele momento. Eu estava aliviada e me sentindo liberta.
Ao sair dali, duas loiras me esperam com expectativa, minha família.
Eu não procurei saber de Renée, eu não queria, no fundo eu me importava mas eu tinha aprendido a me amar, me colocar em primeiro lugar, depois eu iria saber da mulher que me colocou no mundo.
Essas pessoas haviam me ensinado sobre me amar, mas eu aprendi mais, eu aprendi que eu também posso ser amada, que eu também posso ser querida.
O terceiro passo é perceber que você merece ser amada. Que você merece alguém que cuide, que te ame, que se preocupe.
Que não precisa viver na solidão, a escuridão não é a única saída.
O terceiro passo é deixar alguém te amar mesmo achando que não merece, que não é o bastante.
Se deixar ser amada também é ser forte.
Mais uma lição foi aprendida naquele dia, eu descobri o que queria fazer na vida, eu queria ajudar as pessoas, mas eu queria ter a força do Dr Steve e bondade da Dra Mônica. Eu seguiria para o direito. Algo que aprendi a amar e que também salvou minha vida de ser vazia.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Espera ansiosa a opinião de vocês.
Não sei quando posto novamente, assim que conseguir escrever eu posto.
Lembrem-se Passos vai ser bem pequena, só mais uns dois capítulos.
Preciso mais uma vez agradecer a Lola e Chloé que quando penso em desistir me motivam a continuar.
Desculpem qualquer erro ortográfico.
Beijinhos
Até breve!



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