Minha Alma escrita por Ana21


Capítulo 9
Astaroth, Astarte, Samael e Guayota – parte I




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— Eu já disse que não precisamos de tudo isso – disse Sebastian pela decima vez, mas Ian apenas lhe deu um olhar mal humorado e continuou arrumando as malas – vamos ficar pouco tempo lá.

— Eu não me importo – disse o rapaz fechando a segunda mala – Finnin, meu casaco azul está limpo não está?

— Ian! – tentou novamente Sebastian, mas o rapaz apenas acenou para ele sair. O demônio parecia realmente furioso com a falta de consideração do rapaz – me escute, você nunca foi até lá, você não sabe como é o clima de lá.

— Eu saberia se você ao menos me dissesse alguma coisa – rebateu Ian pegando o casaco entregue por Finnin – já terminou as suas malas, ou eu tenho que fazer isso por você?

— Não preciso de mala – respondeu Sebastian cruzando os braços – tecnicamente estou indo para casa, então minhas coisas ainda estão lá.

— Está voltando para a casa dos seus pais você quer dizer – retrucou Ian repassando mentalmente tudo o que tinha colocado lá – por falar nisso, você tem pais?

— Não vai querer ouvir a resposta disso – respondeu Sebastian surpreendendo o menor.

— Sebastian você tem família?

— Não seja ridículo Boochan, nenhum demônio tem família – disse finalmente.

— E o que demônios tem?

— Associados – explicou fazendo o rapaz rir.

— Muito bem então, você tem associados?

— Mais do que eu e você gostaríamos – explicou arrancando uma camisa branca das mãos do menor chamando sua atenção – você tem vinte minutos para transformar essas três malas em uma, ou quando chegarmos na travessia eu jogo duas delas no rio.

— Você não se atreveria! – rebateu Ian, mas os olhos de Sebastian ficaram rubros de malícia com o desafio.

— Teste-me pequeno, eu quero ver até onde vai a sua confiança em mim – Ian ainda parecia disposto a comprar a briga, mas logo recuou imaginado que não era uma boa ideia, faltaram dois dias para seu aniversário de 18 anos e o demônio estava cada dia mais enfurecido e impaciente, ele não podia brincar com ele assim.

— Ok – disse contragosto – Finnin me ajude a refazer isso.

— Boa escolha – respondeu Sebastian voltando a cor normal – estarei lá embaixo te esperando – e saiu porta a fora. Ian ainda trocou olhares com Finnin antes do loiro quebrar o silencio.

— Isso foi por pouco – comentou – semana passada ele atirou na perna do Bard, o tirou pegou de raspão, mas foi assustador.

— É só até a gente finalizar a ligação – explicou o rapaz fazendo uma careta por lembrar do grito de dor que o cozinheiro soltou com o tiro – ele precisa relaxar, apenas isso.

— Você vai ficar bem? – perguntou preocupado.

— Sim – disse imediatamente – ele não vai me machucar.

— Tem certeza Boochan? – perguntou Finnin verdadeiramente preocupado – ele não parece o Sebastian que a gente conhece.

— Tenho – confirmou Ian – ele é a única pessoa nessa vida que eu sei que não vai me machucar.

— É bom saber que vocês dois ainda confiam um no outro – disse o jardineiro finalmente relaxando – então vamos reorganizar suas malas.

— Vamos – confirmou Ian.

Astaroth, Astarte, Samael e Guayota – parte I

— Estou preocupado com o tempo – disse Ian olhando pela janela de dentro da carruagem, fazia um dia e meio de viagem, amanhã seria seu aniversário de 18 anos e ele não queria passar no meio de um temporal – eu acho que vai cair um temporal novamente.

— Estamos quase chegando ao local da travessia – disse o demônio passando os braços ao redor do menor o aquecendo – não se preocupe, do outro lado o tempo é menos instável.

— Do outro lado – repetiu Ian rindo um pouco – parece que vamos morrer.

— Não – começou o demônio pensativo – vamos apenas atravessar para o mundo dos demônios, e quando chegarmos lá você vai entender o que eu digo.

— Certo – confiou o rapaz – alguma dica para eu me dar bem com a sua família?

— Eu não tenho família Boochan.

— Seus associados – corrigiu rapidamente, mas a carranca na face de Sebastian piorou – o que foi?

— Não precisa se dar bem com nenhum deles – explicou – você é meu escolhido, apenas meu, então o que eles pensam não é importante.

— Ora, ora – disse Ian virando-se para Sebastian surpreso – todos esses anos eu achando ser o único com problemas com a família, e você esse tempo todo me escondeu essa pequena informação.

— Não é um problema – começou o demônio – nem chega a ser uma discussão.

— Por favor, me ilumine – pediu o rapaz com um sorriso na face – alguém te chateava na infância? Um amor não correspondido?

— Eu... – pela primeira vez Sebastian parecia inseguro na sua fala, e então finalmente soltou – eu esqueci de mencionar uma coisa, não é importante, mas acho que já que estamos indo para lá é inevitável que você saiba.

— E o que seria isso?

— Minha classe demoníaca – disse o outro mostrando o selo do contrato dos dois – eu vou de uma classe alta.

— O quão alto?

— Muito alto – respondeu Sebastian imediatamente – muito alto mesmo.

— Você é um lorde dos demônios? – perguntou Ian curioso.

— Se colocarmos no mesmo nível da hierarquia inglesa, eu seria um príncipe.

— VOCÊ O QUE?

— Não grite – pediu Sebastian – nós temos um imperador do mundo dos demônios, Hades, ele tem três demônios que saíram dele, e um desses demônios me deu a vida, logo eu sou um príncipe, sou criação de um dos três reis.

— E VOCÊ SÓ ME DIZ ISSO AGORA! – rebateu Ian exasperado.

— Você era um conde e eu não me intimidei – defendeu-se.

— Você sabe quantas posições os condes estão abaixo de príncipes na realeza seu idiota? – retorquiu furioso – aposto que você sabe, seu principezinho de merda.

 - Sim eu tenho ciência disso – respondeu – mas você tem que saber que a nossa realeza não é igual a sua, civilizada. Nós somos um pouco mais... exóticos, então tente controlar sua língua, e não me chame de demônio de merda na frente deles.

— Essa conversa tinha que ter acontecido há anos atrás quando saímos de Phantomhive – rebateu o rapaz contento a raiva entre os dentes.

— É só um título inútil – tentou remediar Sebastian – não fique nervoso por causa disso.

— Não estou nervoso – disse Ian recolhendo-se – eu apenas... você devia ter me dito mais cedo.

— Me desculpe por isso – pediu imediatamente, o silencio reinou entre os dois. Depois de algumas horas, o coche parou e Sebastian fez sinal estendendo a mão para ajudar Ian a descer. O rapaz assustou-se quando viu a floresta. Era escura e negra, e Ian sentiu sua espinha arrepiar com a perspectiva de entrar naquele lugar.

— Por que paramos aqui?

— Por que temos que ir caminhando daqui – disse Sebastian pegando as duas malas, Ian olhou para o demônio chocado. Ele não andava mais com toda o aparato que costumava andar na época que era conde, não hoje apenas um sobretudo preto e luvas eram o suficiente para o jovem, mas mesmo assim caminhar naquela floresta negra e escura não parecia uma boa ideia.

— Por isso insistiu em trazer apenas uma mala – resmungou para si, quando Sebastian dispensou o cocheiro e começou a andar floresta a dentro, preocupado em arranhar-se Ian puxou o capuz do sobretudo seguindo o demônio. Ele tinha certeza que seria arranhado assim que pisassem lá dentro, no entanto, assim que seus pés entraram na floresta, a folhagem espinhenta se afastou – como...?

— Essa floresta é a passagem para o rio da morte – disse Sebastian calmamente – a floresta abre-se para a realeza entrar.

— Realeza – repetiu Ian olhando os galhos se torcerem para evitar encostar nele – não consigo me acostumar com isso.

— Vai levar um tempo, mas você consegue – disse Sebastian voltando a andar, levou alguns segundos até os dois finalmente chegarem a uma espécie de rio, quase não se dava para ver a agua, pois a neblina tomava conta de tudo. Temeroso Ian ficou ao lado de Sebastian quando o demônio ergueu a mão e jogou o que o rapaz acreditou ser duas moedas.

O silêncio cobriu o ar por alguns segundos e logo um gondola enorme, negra se aproximou. Ian teve se suprimir o grito quando a criatura que ficava na ponta se moveu. Era feio, muito feio, seu olhos esbugalhados e sua mão cadavérica parecia surreal em seu corpo magro e deformado, era uma visão grotesca, mas para a surpresa do menor, a coisa lhe mostrava o que seria o sorriso mais feio da humanidade.

— Astaroth é você? – perguntou a voz extremamente fina, Ian franziu o cenho quando Sebastian agarrou a sua mão fazendo menção de se aproximar da beirada do rio, em reflexo Ian o segurou com força tentando impedi-lo, mas o demônio envolveu o braço em sua cintura o arrastando para junto do barco.

— Barqueiro – cumprimentou Sebastian – vejo que ainda cumpri sua pena.

— Ainda me restam dois mil anos – disse em uma risada tétrica, ele então parou a gondola do lado do rio e Sebastian lhe estendeu a mala, ele a pegou como se fosse feita de ar e colocou ao seu lado – vejo que os boatos são verdadeiros, você trouxe um escolhido.

— Sim – respondeu Sebastian animado fazendo Ian entrar no barco com ele – este é Ian, Ian este é Caronte, o barqueiro que leva almas e demônios para o nosso mundo. Ele desafiou meu pai há séculos atrás e perdeu, por isso cumpre pena até hoje como barqueiro.

— Um trabalho muito chato – disse o outro mal humorado – as pessoas vem, as pessoas vão e eu sempre fico aqui, entediado. Uma lastima.

— Entendo – disse Ian meio tímido – me parece um trabalho bem importante – começou o rapaz quando o barco se moveu.

— Não muito – continuou Caronte – as pessoas não usam mais o rio para chegar no mundo dos demônios, elas simplesmente invocam os demônios e eles vão ao mundo dos humanos, não existem muitos vivos por aqui.

— Menos trabalho para você então – tentou remendar Ian sentindo-se completamente fora de contexto.

— Menos trabalho para mim – concordou o barqueiro – mas me diga Astaroth, por que veio a esse mundo agora?

— O pequeno fará 18 anos amanhã, então vamos completar a ligação – esclareceu.

— Entendi – refletiu o barqueiro – uma ligação de demônio e humano, realmente não pode ser feita no mundo dos humanos, não, não é certo, tem de ser feito aqui, fez uma ótima escolha, para você e para o pequeno.

— Ian – disse o rapaz sentindo uma irritação tomar conta de si – meu nome é Ian não pequeno.

— Realmente – disse Caronte em tom de conversa – por que o chamar de pequeno, ele não me parece menor do que eu, sua estatura perece confortável.

— Quando eu o conheci ele era bem menor – informou Sebastian passando o braço ao redor de Ian – bem menor e mais frágil – aquilo arrancou uma risada satisfeita do barqueiro.

— Frágil, que humano não é frágil nas mãos de um demônio?

— De frágil eu só tenho as formas senhor barqueiro, acredite-me – interviu Ian fechando a face para o ser, Caronte pareceu perceber o desconforto do menino e logo apressou-se em se desculpar.

— Me perdoe vossa graça – disse o barqueiro – esse humilde servo não teve a intensão de ofende-lo, pelo contrário, todos nós ficamos felizes com o retorno de Astaroth, o nosso príncipe está em casa.

— Astaroth – repetiu Ian virando-se para Sebastian e o demônio apenas acenou negativamente como se pedisse que ele não abordasse esse assunto agora. Ian apenas revirou os olhos e encostou a cabeça no ombro do maior, esperando a travessia acabar. Demorou quase duas horas quando o outro lado finalmente apareceu.

A nevoa se dissipou mostrando o céu mais escuro que Ian já vira, era negro, não havia lua nem estrelas, apenas a escuridão, mas alguma coisa iluminava o solo, pois ele conseguia ver o que estava a sua frente.

Era um castelo, enorme, provavelmente a maior construção que o rapaz já vira na vida. O palácio de Buckingham não chegava aos pés dele, era tão grande que mal se via o topo das torres, ele conseguiu ver que existia um porto que dava acesso ao mar e ao castelo, como se fosse um local para desembarque particular.

— Astaroth – começou o barqueiro – preciso de autorização para adentrar no porto real.

— É mesmo – lembrou Sebastian se pondo de pé erguendo a mão livre do contrato e então, o barco avançou por algo que mais parecia uma parede transparente, Ian estremeceu quando passou por ela sentindo um frio na espinha.

O barqueiro passou por uma espécie de ponte onde Ian viu vultos correndo olhando para ele, aquele lugar era assustador, o maldito mundo dos demônios.

— E chegamos – disse o barqueiro quando parou a gondola – seja bem-vindo ao lar meu príncipe.

— Obrigado barqueiro – disse Sebastian voltando-se para Ian – Boochan, venha comigo – pediu estendendo a mão para o menor. Ele segurou sua mão firme saindo do barco, o barqueiro ajudou os dois com a mala e eles caminharam até um portão, não havia ninguém, parecia que ninguém estava esperando por eles, só quando eles atravessaram duas portas enormes dando acesso a um sala imensa que Ian percebeu que não estavam sozinhos.

Ele tentou tirar o capuz, mas Sebastian o deteve puxando-o mais profundamente para esconder seu rosto, como se não quisesse revela-lo.

— Astaroth? – perguntou a voz máscula se aproximando, Ian viu de relance os saltos vermelhos se aproximando, uma túnica negra se arrastando pelo chão então a figura se aproximava.

— Guayota?

— Não acredito que o rio te trouxe – disse Guayota horrorizado – pensei que iria ficar no mundo dos humanos para sempre, seja bem-vindo ao lar meu irmão.

— Irmão? – questionou Ian sem conseguir se conter erguendo a face para Guayota, Sebastian fechou os olhos impaciente, mas já era tarde, Ian havia capturado a atenção do demônio.

— E você é...? – ele parou alguns segundos, como se quisesse adivinhar a função de Ian ali – o lanche da viagem?

— Não – respondeu Sebastian paciente – este é Soleil Phantomhive, ou como é chamado agora, Ian Michaelis. Boochan, esse é Guayota – o maligno, o demônio aborígene do vulcão, meu... meu irmão.

— O que aconteceu com associado?

— Não comece.

— Esse é o seu escolhido? – cortou Guayota agora mostrando-se muito animado – Astaroth você veio completar a ligação?

— Sim, nos dois viemos – respondeu Sebastian polidamente, e Guayota parecia que ia explodir de ansiedade.

— E não se preocupou em dizer a ninguém? – rebateu – devemos dar uma festa, avisar ao castelo inteiro, ao mundo inteiro.

— Guayota... – começou Sebastian, mas o demônio não o ouviu, ele deu as costas para Sebastian e bateu palmas alegremente, logo as luzes do salão se acenderam mostrando a enormidade do lugar.

— Atenção membros da casa real – gritou e seu grito ecoou pelo ar – Astaroth está de volta e ele trouxe o seu companheiro para finalizar a ligação.

E isso foi o suficiente, antes que Sebastian conseguisse protestar sombras negras surgiram das paredes e centenas de demônios se materializaram no salão. Ian sentiu o braço forte de Sebastian o envolver pela cintura o trazendo para junto de si.

— Não saia do meu lado – mandou e o rapaz só conseguiu acenar antes de todos virem até eles. Foi tudo um turbilhão, ele apenas se viu sendo conduzido por Sebastian pela multidão, os demônios falavam entre si animados, cumprimentavam Sebastian/Astaroth, tentavam falar com Ian, mas o rapaz era interrompido antes de responder. Sebastian agora segurava o capuz firmemente para evitar que ele fosse puxado e Ian mantinha a cabeça baixa como se tivesse medo de ver o que estava fora do capuz.

Eles caminharam pôr o que pareceu vinte minutos, entre gritos, risadas, cumprimentos. Sebastian esquivou de qualquer um que tentou tocar em Ian, e o levou consigo em segurança ao pé de uma escada.

— Vamos subir – ele ouvir a voz de Sebastian, mas o rapaz mal conseguia ver seus pés. Imaginando isso Sebastian o colocou nos braços e começou a subir a escada, sendo aplaudido por o que ele achava ser milhares de pessoas. Quando eles chegaram ao topo da escada, o demônio começou a andar rápido e antes de Ian pedisse para ser colocado no chão, eles atravessaram uma porta, Sebastian a fechou com o pé e então colocou Ian no chão.

— O que diabos foi isso? – perguntou o rapaz arrancando finalmente o capuz para olhar um Sebastian exausto com olhos vivamente vermelhos o encarando – Sebastian?

— Me desculpe por isso – pediu se recompondo – eles podem ser... inconveniente as vezes.

— Quem eram todas aquelas pessoas?

— Demônios – corrigiu o outro – eram membros da casa real – disse pacientemente – eu não avisei a ninguém que viria, logo quando eu apareci de surpresa, eles assumiram que era hora de festejar. Você vai perceber que tudo aqui é motivo para festejas.

— Maravilhoso – brincou o menor dando uma olhava ao redor. Eles estavam em um quarto. Bom, ele achava que se tratava de um quarto, pois a coisa era enorme. Ele tinha certeza que era quase do tamanho da Mansão Michaelis, tinha tanto luxo, tantos adereços que com certeza era um quarto real – que lugar é esse?

— Meu quarto – disse o demônio indiferente – é o único lugar seguro nessa casa.

— Seu quarto – repetiu Ian caminhando por ele – esse lugar é enorme, parece mais uma casa.

— Por favor, não se prenda a esses detalhes – pediu o demônio removendo seu casaco de viagem – eu estou exausto, todos aqueles demônios me cansam. Podemos tomar um banho?

— Onde está minha mala?

— Eu tive que sacrificá-la – informou o demônio fazendo Ian arregalar os olhos – eles devem trazer logo, e você pode usar qualquer coisa minha, o que você quiser.

— Você não vai reclamar por que está ficando sem camisas?

— Dessa vez não – informou – escolha o que quiser e use, eu vou adorar ver o seu traseiro lindo caminhando pela casa nas minhas roupas.

— Possessivo – brincou Ian ainda andando pelo quarto desabotoando o sobretudo o jogando em cima da cama ridiculamente grande de Sebastian – você dormia aqui?

— Dormir não é o termo certo – brincou o demônio e Ian parou no ato de sentar-se voltando para ele agora furioso.

— Você trepava com demônios nessa cama? – perguntou em um tom tão acusatório que Sebastian teve de rir.

— Demônios não dormem realmente Boochan – começou tentando se defender – eventualmente eu me deitava na cama e descansava minha mente, ou refletia sobre algo. E respondendo a sua pergunta, sim eu usei essa cama para ter relações sexuais com alguns indivíduos.

— Eu não quero ela no quarto – informou Ian enfático, surpreendendo o outro.

— Boochan é minha cama – lembrou Sebastian.

— Eu não vou perder a minha virgindade em uma cama onde você fodeu ‘alguns indivíduos’ – retorquiu o outro quase vermelho de raiva por dizer aquelas palavras – eu vou tomar um banho, livre-se dessa coisa – o garoto agarrou o seu sobretudo e saiu por uma porta que ficava próxima a cama, cinco segundos depois ele saiu constrangido – onde fica o banheiro.

— Do outro lado – explicou Sebastian e Ian seguiu pela porta a batendo no processo.

Alguns meia hora depois, Ian conseguiu terminar de se banhar. O banheiro era tão grande quanto tudo ali, e tão luxuoso quanto a expectativa do local. Ele vestiu um conjunto de vestes que Sebastian lhe passou, ele vestiu a camisa negra dobrando as mangas até os cotovelos, o colete feito com um tecido que ele desconhecia, ela escuro com bordados negros, e uma calça branca, ele tentou protestar sobre a calça, mas Sebastian explicou que a camisa iria cobrir qualquer indiscrição que a calça poderia revelar.

Contra gosto o rapaz a vestiu e em seguida vestiu a coisa mais horrível da roupa, um conjunto de botas negas, elas não tinham salto, mas iam até metade da coxa onde eram fechada por dois botões pratas de cada lado. Não era desconfortável, mas tão pouco parecia com suas roupas. As botas apertadas em sua coxa lhe davam uma sensação estranha e a calça branca, parecia apertar nos lugares certos. Ele entendia agora por que a camisa negra era tão longa, para evitar que qualquer saliência fosse vista.

Saindo do banheiro enxugando o cabelo, ele viu uma cama nova, em madeira clara e uma jovem de cabelos loiros arrumando os lençóis, de pé conferindo o trabalho estavam Sebastian, Guayota e uma mulher, tão alta quanto Sebastian, magra, de cabelos longos, sua cor era indefinida, parecia pender de um azul para um verde. Ela tinha os olhos vermelhos e uma expressão seria na face, só quando seus olhos pousaram em Ian que ela suavizou o olhar.

— E finalmente eu tenho um rosto – disse ela caminhando até o menor, mas a mão firme de Sebastian a deteve – qual é o problema.

— Ele está à poucos minutos de completar 18 anos, eu não faria isso se fosse você – explicou Guayota, a mulher virou-se para Ian, lhe deu um sorriso e deu um passo para trás.

— Olá Ian – cumprimentou a distância – eu sou Astarte, deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da guerra.

— Deusa – zombaram Sebastian e Guayota suprimindo a risada. Astarte de repente virou-se em algo que mais parecia Nina Hopkins quando errava um desenho.

— Sim uma deusa, seu bando de demônios sem criatividade – rebateu.

— Os fenício não são o povo mais inteligente do mundo – começou Guayota – vamos concordar, eles eram ótimos nessas coisas de pecuária, plantar, explorar, mas para escolher quem adoravam eles não acertavam uma.

— Você está com inveja – rebateu ela – rapaz do vulcão, o demônio que vive em um vulcão. Guayota – o maligno, se eles te vissem quando você acorda, ninguém nunca te chamaria de maligno.

— Isso de novo não – resmungou Sebastian voltando-se para Ian, o menor se aproximou dele sendo acolhido pelos braços do outro, os dois demônios continuaram brigando entre si, enquanto Sebastian conduzia Ian para a cama – melhor?

— Sim – disse sentando dela sentindo o colchão afundar – muito macia.

— Algum problema com isso?

— Não – respondeu deitando-se – eu poderia dormir agora, ela é tão confortável.

— Ainda não – pediu Sebastian – você não comeu nada, temos comida para humanos aqui.

— Sim – disse a voz de Astarte – temos um cozinheiro humanos, ele quase não trabalha, mas ele sabe fazer comida para você.

— Ok – disse Ian sentando-se na cama para conversar com os outros, mas algo em si só queria ficar agarrado a Sebastian, ele pegou a mão do demônio entrelaçando os dedos dos dois encostando a cabeça no tronco dele – o que fazemos até o jantar?

— Podemos falar sobre amanhã – sugeriu Guayota – quem ficará com ele quando acabar.

— Pensei que Astarte e Samael pudesse fazer isso – pediu Sebastian e então Ian atentou-se.

— Você não vai ficar comigo?

— Acredito meu amor, quando eu acabar a última pessoa no mundo que vai querer ver serei eu – informou fazendo Ian franziu o cenho.

— Quando isso acabar eu vou querer socar a sua cara não vou? – perguntou conformado.

— Quando isso acabar, eu vou querer que você soque minha cara – corrigiu, Ian soltou um resmungo cansado e se jogou na cama de novo, ele arrastou-se, pegou um travesseiro na pilha e escondeu sua face – você quer dormir um pouco?

— Não – disse o menor querendo apagar o incomodo em seu peito – eu só quero que amanhã chegue logo e essa espera acabe.

— Estou assombrada como ele é decidido – comentou Astarte chamando a atenção do grupo para si – eu esperava uma virgem assustada e inocente.

— Não chegou nem perto – disse Ian sentando na cama de novo, dessa vez ficando de pé.

— Só a parte da virgem – corrigiu Sebastian ganhando um beliscão do menor – Boochan!

— Isso é informação demais – repreendeu o rapaz, mas Astarte teve de rir – o que foi?

— Não é informação demais – corrigiu ela – amanhã quando acabar, eu vou ser a única coisa entre você e uma dor imensa, então toda a noção de intimidade que você tem vai embora – Ian engoliu em seco, voltando-se para Sebastian que pareceu entender o recado.

— Ian tem razão, é muita informação – interviu – por que vocês dois não vão buscar algo para ele comer.

— Ok então – disse Astarte cautelosa e saiu da sala puxando o irmão consigo, assim que a porta bateu o rapaz esfregou a face com as duas mãos.

— Quer desistir? – perguntou Sebastian vendo o estresse evidente na face do rapaz.

— Não – disse respirando fundo – eu só preciso me concentrar um pouco, entender como isso vai ser feito.

— Não acho que pensar muito sobre isso vai ajudar alguma coisa.

— Vai ter que ajudar em alguma coisa – respondeu enfático – nós podíamos ter uma palavra de segurança, algo que eu diga quando for demais.

— Gritar pare não é o bastante? – sugeriu Sebastian sentando na cama ao lado dele.

— Não – disse o rapaz – eu posso deixar escapar pare sem nem sentir, e você parar e tiremos que começar de novo, tem de ser algo que eu diga quando não aguentar mais, quando estiver acabado.

— Que tal ‘Ciel”?

— Não! – cortou o menor – o nome de ninguém além do nosso vai ser dito nessa cama – decretou – podemos usar ‘vermelho’, como código.

— Vermelho – repetiu Sebastian – certo então, mas eu não garanto que eu vou conseguir parar.

— Eu vou me esforçar para levar você de uma vez, o mínimo que você pode tentar fazer é tentar parar quando eu pedir – e pela primeira vez em anos juntos, Sebastian fez uma careta, como se fosse uma criança mal criada que tem seu doce tirado a força – Sebastian?

— Você não tem ideia como é difícil para mim não pular em você agora e acabar com isso – disse o demônio respirando fundo.

— Eu devo imaginar...

— Não, você não tem a menor ideia – enfatizou o demônio chamando a atenção do menor para si – desde que você tinha 13 anos eu descobri que você era meu companheiro, eu esperei cinco anos por esse momento, vendo você crescer, me provocar e eu estamos tão perto agora, eu apenas... eu quero acabar com isso logo, quero que essa ligação seja firmada, por que eu não consigo mais pensar claramente, a única coisa que vem na minha cabeça é que de alguma forma você vai se afastar de mim, e eu te perderei, essa... essa ligação é a certeza que eu tenho que você será meu para sempre, e... eu serei seu para sempre.

Ian encarou o companheiro pela primeira vez desde que chegaram, Sebastian tinha o semblante em pura agonia, ele estava sofrendo, era evidente, mas o que doida mais é que ele sofria calado e só agora que estava no limite ele finalmente externara seus sentimentos.

— Amor – disse Ian pela primeira vez pegando o queixo do demônio para fazê-lo encarar – é por isso que você não queria que ninguém me tocasse quando chegamos?

— É por isso que eu não quero que alguém olhe ou pense em você – respondeu sentindo a mão delicada em seu rosto – eu te amo tanto, eu apenas quero você só para mim.

— Eu sou apenas seu – reforçou o rapaz sentindo o pânico se formar em seu peito, ele adiantou-se e subiu no colo se Sebastian para ficar cara a cara com ele, o demônio virou o rosto, mas Ian agarrou o seu queixo com força para encará-lo – Sebastian...

— Boochan isso é uma péssima ideia...

— Que horas são? – perguntou enfático, o demônio ergueu os olhos rubros e brilhantes para ele com pesar na face.

— Eu não sei – murmurou em voz falhada, Ian adiantou-se e procurou nos bolsos do casaco do homem achando o relógio de bolso, o relógio marcada 23:45.

— Faltam quinze minutos – disse mostrando o marcador ao demônio – quinze minutos, eu vou trocar de roupa e você vai trancar a porta e vamos acabar com isso.

— Não pode ser feito assim – defendeu-se o demônio exausto de lutar – você não se preparou e... precisamos...

— Sebastian! – cortou Ian em tom decidido chamando a atenção do outro para si – tudo o que eu preciso é você, e tudo o que você precisa sou eu – ele puxou a gravata do outro com força fazendo seus lábios se encontrarem em um beijo cheio de urgência e exigente. Ian o agarrou pelo queixo os separando e mandou como se estivesse dando uma ordem – você disse que me queria, então faça isso, eu sou seu para sempre, apenas me leve demônio – o demônio apenas assentiu entregando finalmente ao o seu controle nas mãos do menor.

 


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