Minha Alma escrita por Ana21


Capítulo 8
Espelho




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— Eu quero que você volte para Phantomhive!

— Como? – perguntou o rapaz verdadeiramente chocado – O que você acabou de pedir?

— Quero que volte para casa, para junto da sua família, do seu irmão que precisa de você – disse ela exasperada – desde que você foi embora, Ciel... ele começou a ter problemas, ter momento que ele não tinha antes, ele ficou estranho, agressivo, violento, ele não era assim, em alguns casos.... chega a ser cruel.

— Você está me dizendo que meu irmão que me trancou em um quarto e forçava mingau quente na minha garganta até eu vomitar AGORA se tornou uma pessoa cruel? – disse o rapaz tentando apontar a enormidade da idiotice dita pela moça.

— Ele não era assim Soleil – disse ela buscando argumentos – desde que ele voltou, que assumiu os negócios, ele e aquele “agente funerário” ele é outra pessoa, eu... eu não sei mais o que fazer.

— E por que você acha que o meu retorno para casa mudaria alguma coisa? – perguntou devidamente interessado na resposta.

— Quando... quando você estava em casa, ele era o Ciel – disse ela em um tom quase sonhador – meu amado Ciel, ele era delicado comigo, ele era amável com os outros, você trazia estabilidade a ele.

— Certo – disse o rapaz se aproximando de Elizabeth e com um gesto de compreensão e delicadeza ele pegou as duas mãos da moça e as envolveu nas suas para passar calor – eu vou dizer uma coisa, e por favor não pense que é maldade minha, nem falta de empatia com o seu sofrimento, mas precisa ser dito.

Ela o encarou com aqueles enormes olhos azuis e então o rapaz começou em um tom que ele usaria para falar com uma criança de 5 anos.

— Ciel não é uma pessoa boa – disse finalmente – nunca foi e nunca será, o único motivo que eu o mantinha estável quando estava em casa era porque ele descontava toda a sua raiva e frustração em mim.

— Isso não é...

— Elizabeth ele me envenenou durante anos para minha asma ficar pior e me manter preso em casa – disse tentando trazer luz a garota – ele colocou uma restrição no quarto para Sebastian ficar longe de mim, ele demitiu todos os meus criados de confiança, para me torturar sem ninguém intervir. O seu futuro marido é um maldito monstro e você faria um bem enorme a humanidade se cortasse a garganta dele enquanto estiverem dormindo juntos.

— Não! – disse Elizabeth entre o enjoo e a fúria – ele não é assim, você... você não pode falar assim do seu irmão, ele é meu noivo, ele é sua família, você não pode abandoná-lo assim.

— Minha família é o Sebastian – disse o rapaz largando as mãos da moça e voltando a posição inicial – a única família que eu tenho hoje, é a Michaelis.

— Você não pode viver sustentado o resto da vida por ele – disse ela beirando a amarguice – ele não é nada seu, isso não é correto ele... seu lugar é junto aos Phantomhive, quando Ciel recuperar o título de Cão de Guarda da Rainha, Sebastian vai te abandonar, ele só o quer por que a Rainha ainda lhe tem em alta estima, ele vai te jogar fora quando isso acabar Soleil – disparou a moça a beira das lágrimas – depois você será alguém sem título nenhum, sem casa, sem família, volte enquanto é tempo, antes que Sebastian te abandone.

— Ele não vai me abandonar.

— Como você pode ter tanta certeza...

— Por que ele e ama – disse com uma convicção que nem ele sabia que tinha dentro de si, era uma verdade irrefutável, Sebastian o amava e agora ele sabia que os dois iam viver juntos por muitos anos.

— O que disse? – perguntou a moça incerta com a declaração. O rapaz respirou fundo e tentou se explicar.

— Talvez você não entenda agora – começou – mas em um futuro você irá, mas essa é a garantia que ele ficara do meu lado para sempre. Sebastian me ama, e eu o amo de volta e não serão convenções sociais que me farão desmerecer esse sentimento – Elizabeth ainda ficou calada alguns segundos e então um sorriso triste se formou em seus lábios.

— Essa... essa era uma verdade que eu não queria acreditar – disse por fim – sempre esteve lá, mas eu preferi ignorar, pensando que o que ele sentia por você era admiração e o que vocês dois tinham nada mais eram do que negócios, mas... vejo que me enganei.

— Me desculpe – disse ele corando um pouco.

— Por isso não pode deixa-lo? – perguntou cautelosa.

— Você deixaria o Ciel? – rebateu o rapaz e então ela entendeu, não importava o corpo em que o sentimento habitava, amor era amor.

— Eu acho que não – disse ela agora sentindo-se derrotada – eu... eu sinto muito pelo que aconteceu, do jeito que aconteceu.

— Não vamos falar disso – respondeu o rapaz não querendo lembrar dos dias que estava preso em casa – é passado, e minha nova política de vida é esquecer o passado – ela o encarou surpresa para olhar o rosto do rapaz em um meio sorriso – completamente.

Espelho

Era início da manhã quando Francis resolveu cavalgar, ela adorava o poder de se comandar um animal tão elegante quanto um cavalo, e para  sua surpresa os Michaelis tinha animais fantásticos, Edward a acompanhou até os estábulos onde foi recebida do Finnin que explicou tudo sobre cada um dos animais.

Ela olhou estava acariciando uma charmosa égua mesclada quando seu olhar foi detido em um corcel negro. O cavalo estava quieto,  parecia apenas esperar por algo, seus olhos eram escuros e seu pelo brilhava mais que tudo, ele era belíssimo.

— Que belo animal – disse ela se aproximando, o cavalo não reagiu a sua proximidade, ficou parado como se não se importasse com aquela visitante.

— Este é Elfan – disse Finnin – o cavalo do Mestre Ian, apenas ele o monta.

— Elfan – repetiu a marquesa olhando o animal – um belo nome, onde está a sela dele?

— Ele não usa senhora – disse Finnin – só quando vão caçar, e isso é raro.

— O garoto monta esse cavalo sem sela? – questionou abismada – isso é impossível!

— A senhora quer que eu prove Tia Francis? – a marquesa pulou de susto quando voltou-se para a porta do estabulo e finalmente viu a figura que estava escondida desde o início daquela viagem. Ele parecia mais saudável que o irmão, seu cabelo não estava mais longo e menos alinhado do que o do mais velho, beirava a selvageria. Em uma mão sem luva ele segurava uma maça mordida e na outra uma sacola de pano. O rapaz estava com botas de montaria, uma camisa branca e o colete, sua postura relaxada lembrava tanto Vincent que aquela visão deu um aperto no coração da duquesa.

— Mestre Ian – cumprimentou ela – finalmente me deu a honra.

— Desculpe fazê-la esperar – disse o rapaz passando por ela se aproximando do seu cavalo, Elfan finalmente mostrou uma reação chegando perto do portão para receber o carinho do menor que pendurou-se nele para entrar na coxia – olá garoto – começou brincando com o cavalo – estamos disposto a ir para a cachoeira hoje?

— Boochan – disse Finnin interrompendo – Sebastian disse que você se machucou ontem, acha mesmo que ele vai deixar que você vá a cachoeira hoje?

— Sebastian está em reunião com Conde Phantomhive – disse o rapaz sem tirar os olhos do cavalo enquanto tirava alguns agrados na sacola para ele comer – ele nem vai notar que eu sai.

— Mas mesmo assim...

— Eu não vou sozinho – completou o garoto finalmente virando-se para Francis – minha tia vai comigo.

— Como disse rapaz?

— O que foi? – perguntou o rapaz sorrindo – você não veio ao estabulo olhar os cavalos, você veio montar, ou a marquesa só consegue cavalgar pelas terras planas de Phantomhive?

— Ora seu menininho atrevido – respondeu ela entregando seu chicote para Edward e voltando-se para Finnin – você rapaz, me consiga um cavalo agora! Eu vou mostrar para essa criança que ele ainda me deve respeito.

— Sim marquesa.

Ian riu trazendo o cavalo para junto de si e o abrindo a coxia para ele sair, Finnin voltou com um belo cavalo branco para a marquesa, e com duas selas.

— Não preciso de sela – disse o rapaz começando a tirar as botas, mas o ex-jardineiro se desesperou.

— Mestre Ian, por favor, se Sebastian descobrir – começou exasperado.

— É só não contar a ele – disse com um sorriso nos lábios, Francis prendeu sua sela e por fim montou – confortável?

— Sim é um belo animal – disse ela olhando o menor tirar as botas e entrega-las a Finnin – o rapaz tem razão, coloque a sela, não quero ser responsável por um acidente ou coisa pior.

— E isso te deixaria tão triste não é mesmo? – disse o Ian montando no cavalo sem sela e puxando os arreios – tente me acompanhar tia – e com um comando ele partiu como vento sendo acompanhado por Francis que ia logo atrás de ti.

Sebastian olhou para a janela em puro desalento, era quase meio dia e o tempo estava completamente fechado novamente, aquela época do ano era cruel na Inglaterra, ele costumava manter Ian em casa para evitar que o rapaz pegasse chuva, mas à medida que ele foi crescendo e se fortalecendo, essa tarefa se tornou cada vez mais difícil.

— Estou te entediando Lorde Michaelis? – perguntou Ciel a um Sebastian distraído.

— Na verdade sim – confirmou Sebastian sem tirar os olhos da chuva – mas não é por isso minha dispersão, sua tia e Ian saíram para cavalgar mais cedo e ainda não voltaram.

— Nesse temporal? – questionou Edward agora preocupado – pensei que minha mãe estava com Lizzie.

— Finnin me disse que os dois saíram juntos – informou olhando as nuvens negras – esse tempo não é um problema para Ian, mas não sei sua mãe saberá cavalgar no solo irregular.

— Sim ela saberá – disse uma voz a porta chamando a atenção dos três. De pé, completamente encharcada, com os cabelos soltos e suja de lama estava Francis Midford.

Sebastian arregalou os olhos não acreditando na visão.

— Marquesa?

— Mãe?

— Tia Francis? A senhora está bem? – perguntou Ciel ficando de pé horrorizado – o que aconteceu com a senhora?

— Fui cavalgar com Ian... Soleil... com o menino, seja lá como vocês estão o chamando agora – disse ela com um sorriso incrível na face – estou encantada com a sua propriedade, um trajeto magnifico, cachoeiras lindas...

— Ian te levou para cachoeira? – questionou Sebastian tentando conter o sorriso.

— Eu devo admitir que as habilidades de equitação do menino evoluíram muito – confessou – ele consegue transitar por solos irregulares, fazer manobras sem uma sela.

— É mesmo – disse Ciel cruzando os braços interessado – e o que as habilidades de Soleil tem haver com o seu atual estado tia?

— Absolutamente nada – respondeu elegantemente – mas a chuva piorou as condições do solo e fez uma bagunça conosco – continuou – agora se me derem licença eu vou me banhar, eu, ele e Elizabeth vamos aos alambiques.

— O que!? – exclamou Edward chocado.

— Tia Francis... – tentou intervir Ciel cauteloso.

— Ok, nisso eu tenho que discordar... – começou Sebastian sentindo que a coisa estava indo por um caminho que ele não gostava.

— Ora vocês, jovens lordes ingleses que deveriam ter uma visão mais ampla e abrangente do futuro, repreendendo duas damas em seu lazer – rebateu a marquesa em um tom tão severo que calou os três – irei me banhar, caso precise de nós, estaremos desfrutando de nossa juventude juntos – e saiu do escritório batendo a porta deixando os três sem palavras.

— O que aconteceu aqui? – atreveu-se a dizer Edward completamente confuso.

— Eu não sei, mas isso me cheira a dor de cabeça – disse Sebastian esfregando os olhos – se me derem licença, eu vou checar Ian.

— E eu vou ver Elizabeth – disse Ciel ainda tentando entender o corrido.

Sebastian saiu do escritório usando seu audição apurada para ouvir a risada vindo da cozinha, ele desceu pelas escadas até finalmente entrar na expansiva cozinha onde a maioria dos criados estava amontoados, fugindo da chuva ou preparando o almoço.

Sentado na mesa, com cada centímetro do seu corpo coberto de lama estava Ian, o rapaz ria de um jeito que ele Sebastian não ouvia a meses, ele parecia tão relaxado e feliz, que a bronca que estava ensaiando na sua cabeça morreu.

— Você se jogou em uma poça de lama? – perguntou colocando as mãos na cintura adentrando na cozinha, fazendo os criados se alinharem mais.

— Foi a chuva – defendeu-se o garoto verificando a lama do cabelo – começou a chover no caminho.

— A não ser que tenha começado a chover lama, eu não entendo como você se colocou nesse estado – disse o outro – sua tia parece que veio da guerra.

— Como você é exagerado Lorde Michaelis – rebateu Ian erguendo-se e agora fazendo o chão inteiro ficar imundo. Sebastian olhou para o pequeno completamente descrente.

— Como diabos eu vou limpar você sem sujar a casa inteira – perguntou estudando todas as possibilidades eu não envolvessem invocar algum poder demoníaco.

— Está chovendo senhor – disse uma das cozinheiras – faça ele tomar banho lá fora – e a cozinha inteira parecia partilhar da mesma opinião, pois encheu-se de confirmações e expressões de apoio.

— Ele não vai fazer isso – disse Ian para os empregados barulhentos – não quando a chuva está tão fria lá fora, não é Sebastian? – o mordomo respirou fundo e encarou o menor com um pedido de desculpas em seu olhar – Sebastian?

Uma hora depois, um Ian furioso trocava de terminava de vestir suas roupas ainda com o cabelo molhado, o temporal lá fora tinha piorado e ele estava proibido de sair de casa, mas isso não estava nem perto de ser o motivo da sua irá, após uma discussão perdida na cozinha, Ian foi arrastado para o lado de fora da casa onde se geralmente tomava-se o chá da tarde e foi quase afogado pelos empregados em baldes e baldes de agua, tentando remover toda a mala de cima do menino.

Furioso ele tentou dar alguma ordem para Sebastian, mas toda vez que ele abria a boca um novo balde de agua era despejado em sua cabeça, quinze baldes de agua depois, Sebastian decidiu que ele estava pronto para entrar em casa de novo e o levou para o banheiro do casal onde o rapaz praticamente rosnou para que o demônio o deixa-se sozinho.

— Demônio de merda – disse ele saindo do closet para então congelar com a vista de si mesmo sentado na beira da sua cama. O rapaz arregalou os olhos incerto, sentindo agonia em ver finalmente Ciel Phantomhive sorrindo para ele. Sua primeira reação era gritar por Sebastian, mas algo dentro de si o impediu.

Geralmente o sentimento que ele havia aprendido a cultivar ao ver o irmão era medo e agonia, mas algo estava diferente, talvez fosse o ambiente, sua casa ou por saber que Sebastian podia intervir a qualquer momento, mas ele estava ali, de pé, em frente a motivo de seus pesadelos, e cada fibra do seu corpo estava estável.

— Em que posso ajuda-lo conde? – perguntou finalmente em um tom tão firme que ele mesmo se surpreendeu.

— Nada – disse ficando de pé em frente ao outro – Lorde Michaelis me disse que você estava cavalgando na chuva, eu fiquei preocupado com a sua asma.

— Estou me sentindo ótimo – cortou o rapaz – agora se me der licença, eu tenho coisas para fazer.

— O que? – perguntou interessado – até onde eu sei, você nessa casa é apenas a pequena prostituta de Lorde Michaelis – e lá estava ela, a expressão que o menor tanto conhecia e temia, a expressão que só Vincent e Ciel tinham, que ele por mais que tentasse não conseguira reproduzir, a malicia excessiva dos Phantomhive – diga-me Soleil, você se deitava com Sebastian antes ou depois dele virar Lorde? – perguntou aproximando-se do menino – ou quando ele era seu mordomo ele também aquecia a sua cama?

— Saia! – mandou o rapaz em voz firme, mas Ciel parecia não se abalar.

— Ele é incrivelmente sexy devo admitir – continuou – eu não o recrimino por abrir as pernas para alguém como ele, mas o que me faz pensar em outra coisa – ele deu mais um passo para perto do irmão, ficando cara a cara com ele – o que acontece se o seu lorde se cansar de você?

Ian fechou os olhos tentando apagar aquela voz da sua cabeça, mas Ciel parecia longe de acabar.

— O que você vai fazer quando essa fantasia acabar? Sebastian agora é um homem de posses, incrivelmente talentoso e como eu já disse antes, muito bonito. Quando alguém capturar o olhar dele? O que vai ser de você? Você vai continuar vivendo aqui, como um ex-amante, que ele vai usar para saciar os desejos que a sua recatada esposa não conseguir?

— Ciel...

— Você vai continuar nessa casa, sendo reduzido a um maldito pedaço de carne? – repreendeu o rapaz com mais força – você não pode pensar tão baixo, essa não é a vida que você quer para si Soleil, você quer mais e eu posso te dar mais – continuou o rapaz fazendo Ian abrir os olhos pela primeira vez – volte para Phantomhive e eu vou te dar tudo o que você sempre quis em sua vida, assuma seu dever de irmão mais novo fique do meu lado.

— Do seu lado ou na sua cama? – rebateu Ian friamente fazendo o conde se calar, o mais novo o encarou com olhos frios, tão frios que ele próprio parecia um demônio – eu sei o que você quer fazer comigo – começou em voz mansa – demorou um tempo para entender o nível da sua perversão, mas eu consegui... você não me quer do seu lado para ter estabilidade, você me quer do seu lado como um objeto para usar – e um sorriso cheio de malícia começou a brotar no rosto do menor – eu sei disso, por que somos feitos da mesma carne podre que todo Phantomhive é feito.

Ele deu um passo em direção a Ciel, o mais velho não recuou fazendo com que os corpos dos dois quase se colarem.

— Só que uns são mais sincero que outro em admitir seus desejos – continuou olhando o irmão nos olhos – eu queria poder, poder para acabar com todos aqueles que nos maltrataram, e para isso eu fiz um pacto com um demônio.

— E o que eu quero Soleil? – perguntou o rapaz em uma voz igualmente fria, Soleil deixou seu sorriso morrer encarando seu espelho que mantinha e expressão tão fria quanto a sua.

— Aquilo que você não pode ter – respondeu, e antes que conseguisse reagir seu irmão agarrou-se o braço direito, em reflexo ele segurou seu pulso torcendo o libertando do aperto, Ciel encolheu-se com a dor do pulso torcido, ele puxou o braço com força e então Soleil o libertou, Ciel deu dois passos para trás encarando a expressão fria do menor, ele ainda segurava o pulso machucado.

— O que aquele demônio fez com você? – retorquiu furioso – ele te perverteu a ponto de atacar o próprio irmão.

— Eu já pedir uma vez, mas você parece muito obtuso para entender o que eu digo – rebateu o rapaz igualmente furioso – Saia do meu quarto Ciel! – gritou. E antes que Ciel dissesse alguma coisa a porta do quarto foi aberta bruscamente e Sebastian entrou.

— O que está acontecendo aqui? – perguntou contendo a vontade de avançar e quebrar o pescoço do maldito Ciel. Soleil parecia estar a ponto de fazer a mesma coisa, mas havia algo em si que o impedia de avançar no irmão.

— Não é nada Sebastian, Ciel está saindo – disse o mais novo dando uma última olhada para o irmão que mantinha a postura firme e inquebrável, seu pulso ainda envolvido em sua mão, mas mesmo assim não havia um sinal de dor na sua face.

— Sim – informou o outro – vim me despedir, estamos saindo hoje e não queria partir sem me despedir.

— Adeus então – disse o rapaz erguendo o queixo em desafio, Ciel parecia satisfeito com a atitude do outro e lhe deu o maldito olhar de malícia que Ian tanto odiava.

— Até logo Soleil – respondeu, e finalmente saiu do quarto passando por Sebastian sem cumprimenta-lo. Assim que ele saiu, o ex-mordomo fechou a porta do quarto voltando-se para o menor.

— O que realmente aconteceu aqui? – perguntou se aproximando de Ian que relaxou a postura assim que ouviu a porta fechar – você está bem?

— Não aconteceu nada – respondeu esfregando os olhos – eu estou bem, ele apenas veio me irritar.

— E foi bem sucedido na sua empreitada pelo visto – disse o demônio vendo uma aura de puro ódio ao redor do menino – o que ele fez?

— Não precisa de muita coisa para me irritar, você sabe disso – rebateu Ian voltando a secar o cabelo.

— Boochan?

— Apenas tire essas pessoas da minha casa, eu não quero mais nenhuma delas aqui – rebateu frustrado.

— A previsão de ida deles é daqui a dois dias.

— Você não ouviu o líder do covil – rebateu Ian jogando a toalha na cama – eles tão embora hoje, agora vá até lá e certifique-se que nenhum deles fique para trás.

Quando a noite chegou não havia mais nenhum Phantomhive, Midford ou qualquer outro membro da família transitando pela casa. Foi um choque para os demais quando Ciel havia anunciado a partida de todos, informando que os negócios estava finalizados e ele tinha muito trabalho a fazer.

Sebastian não insistiu, ele sabia que isso só melhoria o humor delicado de Ian, então com uma cara fingida de pesar ele se despediu de seus hospedes e deu lugar a calmaria em sua casa. A chuva ainda não havia dado trégua e agora trovões tomavam conta do céu. Finnin e os outros foram para as suas respectivas Villas para verificar se todos os moradores estavam bem mediante o temporal.

Era um temporal forte, e Sebastian sabia o que isso significava. A casa inteira estava mergulhada no breu, apenas restavam ele e uma criada alinhando uma pequena mesa no salão de festa vazio, ele acendeu as velas e agradeceu a ela.

A moça sorriu, aquela era a pequena tradição dos Michaelis, noites de temporal eram sempre assim, devagar uma figura descalça com calça preta e um blusa branca frouxa (provavelmente pertencendo a Sebastian) adentrou no salão, a criada passou por Ian recebendo um sorriso de agradecimento do menor, fechando a porta quando saiu, deixando apenas os dois no grande salão.

— Está chovendo – disse Ian se aproximando da mesa posta, dessa vez Sebastian optou por uma mesa baixa no estilo oriental e futons para os dois sentarem.

— Na verdade um temporal – disse Sebastian que parecia tão relaxado quanto o menor – eu não esperava que a chuva durasse tanto tempo.

— É a forma do mundo dizer que precisamos de um tempo para nos dois – respondeu o outro finalmente chegando ao alcance de Sebastian, o outro o envolveu em seus braços ouvindo os fortes trovões tomarem conta do mundo. O salão era enorme e seguro, e a única luz que iluminava os dois era da vela em cima da mesa.

— Você quer comer? – perguntou Sebastian sentindo os braços de Ian se envolverem mais fortemente a sua volta.

— Não – respondeu encostando a cabeça no ombro do mais alto – eu... eu só quero ficar você, só você – Sebastian sorriu envolvendo os braços na cintura do menor o trazendo para junto de si.

— Se apoie em mim meu amor – sussurrou ao ouvido do outro que prontamente colocou os dois pés em cima dos de Sebastian, e como ocorria toda noite de temporal, os dois começaram uma dança lenta pelo salão escuro onde Sebastian conduzia o pequeno Ian que se agarrava a ele como se fosse sua vida.

Palavras nem juras de amor eram necessárias naqueles momentos, onde apenas a presença um do outro falavam por si.

O tempo parecia congelar quando Ian simplesmente se apoiava nos braços de Sebastian e o demônio plantava beijos castos entre os fios de seu cabelo, o adorando. Eram duas almas que se pertenciam, e que precisavam uma da outra.

Quando a madrugada adentrou, os dois tiraram a vela da pequena mesa e a levaram para o chão próximo a enorme janela que dava uma vista incrível da tempestade lá fora, eles usaram os futons como apoio e Sebastian deitou-se com Ian em seus braços e ficaram assim, assistindo o céu tentar destruir a terra com sua fúria.

— Eu queria que o tempo voasse – murmurou finalmente Ian com os olhos nas luzes no céu – e que nos dois finalmente estivéssemos juntos, para sempre.

— Eu também – respondeu Sebastian acariciando os fios de cabelo do mais novo. Ian fechou os olhos e amando o som rouco que saiu junto a voz de Sebastian era a prova que o demônio estava tão relaxado com ele que até sua voz original tendia a sair.

— Eu te amo – murmurou enquanto se erguia um pouco para encarar o outro nos olhos, e como ele adivinhou, os olhos do outro estava vermelhos, como sempre acontecia quando estavam juntos naquele lugar – faça amor comigo – pediu, e Sebastian abriu a boca impotente, sem conseguir negar o pedido do seu amada, Ian lhe deu um sorriso de compreensão e então retomou em um tom de voz tão baixo quanto um sussurro – não precisamos ir até o fim, apenas... apenas me deixe sentir o seu corpo e sinta o meu, apenas por agora, esqueça a ligação e vamos ser apenas você e eu, dois amantes.

E Sebastian não teve como não sorrir com o pedido do menor, em resposta ele ergueu-se capturando os lábios do menor o envolvendo em um beijo apaixonado e cheio de luxúria. Ian agarrou a nuca do demônio o mantendo junto de si, Sebastian virou os corpos trazendo Ian para baixo de si quebrando o beijo deixando o menor corado e sorridente embaixo de si.

— Meu pequeno menino – disse o outro vendo o outro corar com o apelido – você quer realmente me testar?

— O que eu quero é te amar pelo resto da minha vida – respondeu o outro segurando o queixo de Sebastian o trazendo para junto de si – e você demônio, o que você deseja?

— Eu não preciso de desejos – respondeu Sebastian em um tom baixo tão próximo do pequeno de dividia o ar com ele – eu já tenho tudo o que eu sempre quis, bem aqui em meus braços.

E então, Ian o trouxe para junto de si, e os dois permaneceram a noite entre caricias, beijos e juras de amor quanto o céu lhes dava uma tempestade furiosa como cobertura para aquele amor.

 


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