O Ritual da Sétima Lua escrita por MB Sousa


Capítulo 3
Capítulo 2 - Nocte Perpetua


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, apesar de não ser 13, toda sexta-feira tem capítulo novo d'O Ritual. nesse acho que já vai dar pra vocês ir montando algumas teorias sobre o que aconteceu em São Marcos. Sem mais delongas, boa leitura :)



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10/08/2005

Já deveria ter amanhecido quando acordo dos diversos cochilos que tirei durante a tenebrosa noite, mas não vejo nenhuma luz entrando pelas frestas de madeira. Armado com um pé-de-cabra achado no sótão, junto de uma lanterna e algumas pilhas para a mesma, tentei colocar tudo em meus bolsos. A noite foi assombrada por sussurros que me acordavam o tempo inteiro, como se houvesse mais alguém ou alguma presença no local e apesar de checar várias vezes o lugar, não encontrei nada, simplesmente ouvia como alguém longe, sussurrando coisas que não conseguia compreender, algo que talvez não fosse apenas latim.

Não era um crente de fantasmas ou espíritos e esse tipo de histórias, mas as coisas que presenciei e gravei provam que por mais que vá contra minhas crenças, algo sobrenatural está acontecendo nesse lugar.

Já que a saída pelo sótão está fora de cogitação por simplesmente não existir mais, desço para o segundo andar, com medo de que algo me impedisse de abrir a portinhola novamente e encontro a mesma escuridão da noite passada, as janelas gradeadas dos quartos e corredor não mostram nenhuma luz, ao aproximar-me de uma das janelas, vejo uma plena lua minguante brilhando majestosa no céu, mas isso não faz sentido nenhum pois o sol já deveria estar nascendo, talvez seja um daqueles dias mais demorados para a chegada do amanhecer e espero, apavorado, que alguma luz além da palidez da lua entre por estes espaços nas paredes — que sou impedido de tentar uma fuga por suas barras grossas —, o terror de ficar parado vagando por aqueles corredores, olhando desconfiado para todos os lados faz com que o tempo se arraste, mas já marca 7hrs em meu relógio de pulso e desisto de esperar o sol nascer, fazendo meu coração bater ainda mais rápido e não sei o que fazer, mas ficar parado nesse lugar não é uma opção, tenho de acreditar que há outra saída, então desço cautelosamente os outros degraus para o segundo andar e evito o corredor com a televisão de ontem, não quero descobrir o que se esconde nesses outros corredores que se interligam, então quando estou prestes a descer a escadaria principal que leva ao primeiro andar, onde tenho esperança de achar alguma chance de sair, ouço o grito de pavor de uma mulher. Não parece ser nenhuma alucinação como as vozes que ouço, é a coisa mais crível e real que ouvi desde que coloquei meus pés neste lugar, consigo sentir isso.

Novamente fico sem ação alguma e então é como se o prédio estremecesse com os passos de algo, que com certeza não é uma mulher, estou paralisado com meu pé de cabra pronto para uso e escondido atrás da parede, tentando gravar o que acontece lá embaixo, a câmera se torna meus olhos.

Uma criatura gigante de mais de 2 metros de altura e o rosto deformado com olhos cinzentos, musculoso como um titã, correntes pesadas são cruzadas em seu peito coberto de cicatrizes, apoiadas em cada um de seus ombros, é como se ele tivesse fugido de algum lugar e agora procura uma cega vingança e se move rápido demais para seu tamanho e também se aproxima da escada que estava prestes a descer e estou apoiado na parede em sua lateral direita. Ele pode ter visto minha câmera?

Não espero para descobrir a resposta, apenas corro.

Verdadeira e pura adrenalina e medo correm em minhas veias quando vejo uma dupla de freiras com as gargantas cortadas encarando-me de alguns metros sem empatia alguma, quase caio enquanto grito de espanto e corro no sentido oposto, afinal, esse andar é cheio de quartos e salas onde posso me esconder, apesar de esse ser meu último desejo, depois daquelas... coisas que vi, o que mais posso encontrar, mas continuo na fuga pois não acho que meu perseguidor esteja tão longe, ouço outros passos pelo outro lado da escada e avisto cabelos negros e volumosos passarem como vento em uma das intersecções dos corredores, esse maldito lugar é como um labirinto e vejo a criatura correndo atrás de mim. Com o maior nível de desespero despisto-o vagando pelos escuros e conturbados corredores, certificando de derrubar cadeiras e quaisquer outros objetos que encontro no caminho para atrasar a besta que me persegue, mas não tenho muito tempo, então quando acho uma porta abro-a e me encontro no que parece ter sido um quarto de um paciente, não há muito onde esconder-se então me arrasto para baixo da cama, que apesar de um lugar óbvio, preparo-me para rastejar logo para a saída do quarto caso o monstro me encontre.

Recupero meu fôlego em lufadas de ar que tento manter o mais silenciosas possível, não sei dizer o quão rápido meu coração está batendo, mas enquanto encaro as tábuas da cama acima de mim, uma ponta de papel encontra-se escondida atrás de uma delas.

“Elas vieram do nada e me pegaram.

Me deram chicotadas, uma pobre velha com esquizofrenia. Não sei o motivo, mas há algo nessas marcas que não parecem naturais, as cicatrizes doem e parece que há algo desenhado com essas chibatadas que levei.

O desconhecido me dá muito pavor.

Não conseguia ver o que era, não há espelhos aqui, estava ficando mais louca ainda, mesmo estando tomando todos os malditos remédios que me dão.

Até que quebrei um vidro do meu quarto, o que mais poderiam fazer comigo? Com pouca luz e mal reflexo identifiquei algo como uma silhueta de uma mulher no centro das minhas costas, com braços estendidos para cima até a altura de meus ombros.

Não sei o que isso significa, não sei o que estão fazendo aqui e estou com medo por minha vida.

Maria Rosa”

Outra Maria que não é minha esposa. Estou tão perdido e apavorado nisso tudo quanto a autora dessa carta, que guardo seguramente dentro dos bolsos de meu casaco e antes que possa formar alguma teoria além de “Maria” ser um nome muito comum, é quando ouço as batidas como de um ogro na porta, sei que fui encontrado. O desespero toma conta total de mim quando a porta se abre e o monstro vaga pelo quarto, consigo observar seus grandes pés acinzentados com unhas pretas, ele dá passos lentos pelo quarto e estou com a mão na boca para não fazer nenhum ruído enquanto lágrimas escorregam por meus olhos, ao mesmo tempo pronto para tentar minha grande escapada.

Acho que é o fim quando ele joga o cobertor longe e enfia seu rosto assustadoramente deformado com dentes enormes amarelados e tortos, pronto para me capturar, com um grito começo a rastejar o mais rápido o possível para debaixo da cama e à saída mas a criatura me segura pela perna com mãos que são pelo menos três vezes mais fortes e maiores que as minhas, dou vários chutes com o outro pé em seu rosto, tentando livrar-me, mas nada parece causar-lhe dor e estou preso em suas garras, ele me puxa para mais perto e meus dedos sangram arranhando o chão para que não me leve.

Até que vejo sangue pingando no chão e ainda embaixo da cama, observo sapatos pretos do tamanho de uma pessoa normal e o barulho de uma faca entrando e saindo várias vezes no monstro.

— Você é real? — a mulher de pele negra e cabelos volumosos que saiu do armário do quarto e matou com um facão de cozinha a criatura que nos perseguia veste-se como uma freira depois de um caminhão ter passado por cima dela. Confirmo rápido com a cabeça e ela parece acreditar parcialmente em mim, mas por algum motivo, decide segurar-me pela mão e me guiar para algum lugar, ainda sentindo desconfiança no modo como sempre parece conferir como sou, olhando para trás. — Vamos, não temos muito tempo, não está morto, vai voltar, vai voltar.

Ela fala efusiva enquanto sigo seus rápidos passos, algo não parece estar bem com sua sanidade.

— Qual seu nome? — pergunto.

Ela hesita em responder a pergunta, olhando sempre com os olhos muito arregalados olhando para todos os lados que passamos e por um momento parece não ouvir minha pergunta.

— Irmã Martha. Martha só, acho, não sei. — diz, sem nenhuma vez fazer contato visual comigo. — Por que tem uma câmera ligada o tempo todo?

— Quero ter registros de tudo quando conseguir deixar esse lugar infernal.

Ela gargalha debochadamente.

— Não há saída, estamos presos na noite eterna. — é a primeira vez que me olha nos olhos desde que deixamos o esconderijo, ela tenta seguir algum caminho mas seguro-a pelo pulso, desconfiando que possa ser algum outro ser desse lugar e não um ser humano de verdade, algum espírito talvez, nesse ponto não estou mais descartando nenhuma possibilidade, acho que a mesma coisa passa em sua cabeça.

— Quem é você? — ela para repentinamente assim que a confronto.

— Quem é você? — rebate ela de volta com um olhar furioso nos olhos, sinto que ainda desconfia de mim, assim como eu dela, nada mais justo.

— Meu nome é Fred Almeida, eu vim procurar minha esposa que era paciente aqui. — respondo demonstrando a maior honestidade possível.

Depois de observar-me dos pés à cabeça, ela parece convencida de minha honestidade.

— Eu era uma freira aqui, antes do banho de sangue. — responde ela com a voz vacilante e tremendo. — Mas elas levaram tudo, disseram que só queriam as Marias, mas elas mataram todas nós, todas.


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Notas finais do capítulo

Lindões, espero que tenham gostado, comentem poooor favor o que vocês acham que está acontecendo, pois estou muito curioso sobre suas teorias hahah Até sexta que vem.

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Beijinhos ♥



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