O Ritual da Sétima Lua escrita por MB Sousa


Capítulo 11
Capítulo 10 - Luna Septima


Notas iniciais do capítulo

Enfim, atrasado como sempre, mas finalmente chega o dia da nossa SÉTIMA LUA e dia de despedir-se também do Ritual, espero que tenham gostado e bom, eu vou postar um agradecimento nas notas finais, mas desde já, muito obrigado e uma boa leitura.



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17/08/2005

            Minha sanidade mental queria acreditar que tudo isso não era real, que simplesmente não era possível estar realmente acontecendo. Chega a ser tolice ter me agarrado a alguma esperança neste lugar onde apenas o mal é semeado.

            Não tento fugir agora, não me resta muito mais forças, enquanto o dia avança e caminhamos por estradas de areia com vastos pastos em ambos os lados, até que adentramos uma mata.

            — Vocês são bruxas, não poderiam simplesmente ter nos transportado para cá? — pergunto irônico, já que irei morrer, pelo menos esses malditos irão ouvir.

            — Calado, humano. —Tituba me silencia com superioridade, — Você deveria se sentir honrado. Sua ideia de magia parece bem distorcida.

            Como irei ficar feliz sabendo que uma entidade maligna tomará conta de meu corpo? E para ser sincero, as opções de alguma fuga parecem ser muito pouco prováveis. Não tenho chance contra essas criaturas em campo livre aqui sem nenhuma ajuda então continuamos seguindo em frente floresta adentro enquanto a noite cai e a maldita e majestosa lua minguante brilha no céu.

            Em uma conversa com Ravena antes de saber que era uma traidora, ela me revelou que nem sempre era noite com uma lua minguante no céu, isso era apenas um encanto em São Marcos para que me capturassem, os dias continuaram normais, nunca houve de fato uma noite eterna.

            Ouço barulhos de tambores a distância e meu coração dispara mais veloz que sua batida, agora sei que estou me aproximando cada vez mais de minha morte, na verdade, algo pior que isso.

            — Quer saber porque foi escolhido antes de morrer? — Tituta pergunta-me enquanto continuamos caminhando em direção ao som. Não respondo, mas a curiosidade dentro de mim permanece grande. Em minha mochila, a câmera grava o áudio disso tudo já que consegui mais pilhas na casa de Ravena. — Foi o seu amor pela sua Maria. Sentimentos fortes assim tem um poder muito importante em cerimônias assim. Sabe, você enfrentar tudo aquilo e ainda não desistir dela. Isso é amor verdadeiro.

            Parece que há certo rancor em sua voz.

            — Algo que nunca teve na sua vida, não é? Não conseguiu comprar isso. — rebato petulante e ela me fuzila com o olhar e tão rápido quanto um vulto suas unhas enormes e afiadas cortam atrás de minha orelha esquerda, fazendo-me gritar de dor enquanto tento estancar o pouco fluxo de sangue enquanto sou empurrado, obrigado a seguir em frente.

            Então enquanto minha cabeça ainda lateja por conta do corte, encontro a cena mais tenebrosa de todas e sinto uma tontura por vivenciar o maior dejavu de minha vida. Meu sonho está se tornando realidade.

As sete estacas em forma de cruz com as Marias amarradas enquanto outras mulheres — que também imagino serem bruxas — com vestidos brancos e leves dançam com lanternas de fogo nas mãos. Em um canto dois anões tocam os tambores que ouvi de longe, mas algo em mim diz que são muito mais que isso.

            Então reconheço Maria, minha esposa, com seus cabelos castanho-escuros compridos e ondulados, os olhos verdes ainda a mantém bela apesar de tudo que pode ter sofrido, sua boca está amordaçada, lágrimas brotam de seus olhos assim que nosso olhar se cruza, corro institivamente até ela. ,as antes que consiga alcança-la, os escravos monstruosos das bruxas me contém e grito para que me soltem.

            — Fred, Fred, nós temos o lugar perfeito para você. — Tituta me obriga junto à outros de seus serventes a me sentar na direção oposta dos anões tocadores de tambor de forma que possa ver tudo.

            Outras duas bruxas que dançam se juntam à Tituta e todas elas fazem cortes profundos com suas próprias garras em seus braços, fazendo espirrar muito sangue, e com esse sangue elas começa a desenhar um pentagrama em volta do círculo de estacas, assim que isso está pronto e elas parecem satisfeitas, aparentemente sem sentir dor alguma, mãos fortes me arremessam para o meio do pentagrama e tento correr inutilmente, já que sou parado e empurrado com um soco de volta ao chão.

            As outras mulheres de vestidos brancos soltam as mãos das Marias e puxam pregos grossos e martelos.

            — Não! — grito em plenos pulmões usando toda minha força para livrar-me, o que é inútil, assim como o esforço das mulheres, que nem ao menos gritar podem por estarem amordaçadas. E a primeira é completa, meus olhos se fecham e meu coração parece parar a cada martelada nas palmas das mãos grudando-as à madeira e as outras fazem o mesmo enquanto sou obrigado a observar de joelhos, me sinto a pessoa mais impotente do mundo, e no momento, provavelmente sou.

            — Você deve entender. — sussurra uma voz rouca em meu ouvido, uma velha bruxa que dança com as outras. — O sangue é sempre necessário.

            Por mais que quisesse, entendo o que quer dizer, depois de tudo posso ter ideia do tamanho do sacrifício que terão que dar para receber o que tanto desejam. O retorno do tão poderoso Cucurpita, ser cujo nunca obtive tantas informações além de sua história enquanto ainda era um ser humano.

— Maria! — grito olhando para minha esposa. — Eu te amo! Te amo mais que tudo nesse mundo, nunca se esqueça disso. Se meu amor é tão forte assim, nós vamos encontrar o caminho de volta um para o outro.

            — Que lindinhos. — Tituba debocha sarcástica e acerta um soco em minha face, fazendo escorrer uma linha de sangue de meu nariz. Ela completa, enfurecida. — Eu iria ser legal com você, Fred.

            As outras duas bruxas e ela começam a cantar palavras e de repente raízes começam a se prender em meus pés e caio de joelhos novamente, sem conseguir sair do maldito círculo e então as três começam o ritual.

            Os tambores se aceleram e Tituba com seus cabelos ruivos que se juntam à chama do fogo formando a cena mais maligna do mundo, junto de suas companheiras magras e de cabelos negros e louros, com certeza ela é a espécie de líder, sua roupa também é diferente. Quanto mais a música fica acelerada, mais seus cantos se tornam mais altos e poderosos, como se algo tomasse cona de seu corpo.

            Elas proferem palavras estranhas que não consigo captar nenhum significado além do latim básico que conheço, mas suas palavras se misturam e sei que estão proferindo palavras de línguas antigas e esquecidas, mas de imensurável poder. Algumas outras bruxas acendem tochas à nossa volta e uma grande fogueira que é acesa automaticamente no meio de gravetos no chão, e então com essas tochas começam a queimar as Marias e só avisto suas faces aterrorizadas, até mesmo uma criança no meio — a Mari, da carta que li, presumo—, as bocas escancaradas com seus gritos abafados pelas mordaças enquanto o calor derrete suas peles e queima seus órgãos.

            — Eu não ia obrigar você a fazer isso, mas você merece. — Tituba anuncia e apesar de não entender no momento, segundos depois sei o que está me dizendo. As raízes em mim ficam mais fracas, mas por algum motivo eu não quero sair, é mais forte que eu, sinto algo estranho que me conecta à essas bruxas, e elas também sentem.

            Sei que meu corpo está sendo possuído por outra entidade agora, sinto ela dentro de mim, mas ainda estou aqui, ainda estou assistindo à tudo, apenas me sinto fraco dentro de meu próprio corpo, incapaz até mesmo de gritar.

 Tituba então chega ao meu lado com uma tocha acesa e me entrega, involuntariamente a pego, mas fico parado. Sei o que quer que eu faça e algo dentro de mim quer fazer e tento lutar, mas é tão difícil, com passos lentos, lágrimas escorrendo dos meus olhos, me encaminho para a única Maria que ainda não foi queimada viva. Minha noiva.

            Seu olhar quebra o restante que tenho de coração, mas ela fecha os olhos e tenta ser forte, enquanto incendeio seu corpo e a vejo morrer em minha frente, ainda sentindo toda a dor de tamanha atrocidade cometida por mim mesmo com a pessoa que mais amei no mundo.

            Meus sonhos não eram simplesmente isso, eram visões do que aconteceria.

            — Viva a morte do amor verdadeiro! — as bruxas gritam e os tambores recomeçam a tocar, todas se animam e continuam com seu mantra satânico para completar o ritual debaixo da luz da lua. Não há forças em meu ser para lutar mais, não fui capaz nem de lutar e salvar minha noiva, então fico de joelhos sentindo as últimas sensações que sentirei, culpa por ter matado minha própria noiva. Dor imensurável. Até que meu corpo começa a sofrer espasmos e contorcer-se. Vento forte começa a nos rodear e as bruxas entoam seus versos mais alto do que nunca, gritando palavras repetidamente enquanto o vento fica mais forte quase levantando-nos no ar e a dor em mim só aumenta, como se algo tivesse sendo arrancado dentro do meu corpo e meus ossos sendo quebrados, contorço-me de dor no chão gritando pela tortura.

            Até que sinto uma pontada muito forte em meu peito e uma dor como se espremessem minha cabeça e penso que ela irá estourar e vou morrer, mas nem ao menos desmaio, abro os olhos e todo o vento e palavras param. Abro meus olhos para o novo mundo.

            A última gravação e mais curta achada por mim durante essa investigação mostra Fred, agora como Gabriel Bragança — o Cucurpita, filho de Ravena Boraal — e toda a fúria de seu ser maligno em um corpo humano. Nesse último registro, Cucurpital sabia que havia uma câmera que Fred gravava tudo escondido, porque acredito que ainda há algo de Fred dentro dele, e são apenas alguns segundos os quais ele aproxima a câmera de seu rosto, abrindo um meio sorriso tornando os olhos completamente negros, em seguida jogando a câmera longe — o que a quebrou — mas não destruiu as evidências nelas, assim como as cartas encontradas também na Casa São Marcos.

A pergunta que me tira o sono todas as noites é se isso aconteceu a mais de dez anos atrás, onde está Cucurpita agora?


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Notas finais do capítulo

AGRADECIMENTOS
Eu nunca fui bom com isso, então vou tentar ser breve mas há algumas coisas que gostaria que todos que acabaram meu livro agora soubessem.
Começando por uma grande curiosidade: O Cucurpita e sua lenda, se for pesquisar, tem origem no folclore brasileiro, chmada "Cabeça de Cuia" e aí surgiu o foco principal para essa historia, junto com, claro, algumas adaptações de terror e magia que acabaram saindo um pouco do controle, e aí eu agradeço às brilhantes mentes que me apoiaram durante toda essa trajetória, sem vocês esse livro nunca teria ficado do jeito que ficou, muito obrigado Eduarda Andrade e Gabriel Coelho por sempre me inspirarem, me dar ideias maravilhosas (foi a Duda que criou o nome!) e acreditarem em mim durante todo esse tempo, eu devo muito à vocês.
Para quem acompanhou, votou, comentou e também me encorajou ao longo dessa jornada eu só tenho agradecimentos também. Cada comentário encheu meu coração de alegria nos momentos que mais precisava, então, muito obrigado por deixar eu contar a minha história, eu espero que tenha gostado dela tanto quanto eu.
Nos vemos em breve, leitor.
Abraços.



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