Come Together escrita por lamericana


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Aê aê, galera. Depois do carnaval vem o que? Isso mesmo, atualização. Foi mals o atraso e pelo capítulo pequeno, mas vamos que vamos



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Era estranho ver um passaporte irlandês com meu nome, já que eu passei a vida inteira com documentos americanos. Quando chegou a minha vez na fila, entreguei meu passaporte e a carta dos meus avós pro atendente.

— Cailín, cad atá á dhéanamh agat sa líne sin? Ba mhaith leat a fháil tríd. Téigh! (Tradução: Menina, o que você tá fazendo nessa fila? Era pra você ter passado direto. Vá!)

— Ach buachaill... Rugadh mé sna Stáit Aontaithe. (Tradução: Mas moço... Eu nasci nos Estados Unidos.)

— Mar sin, conas a thugann tú pas Éireannach dom? (Tradução: Então como você me entrega um passaporte irlandês?)

— An raibh mo mháthair ó anseo? (Tradução: Minha mãe era daqui?)

Ele olhou meu passaporte e digitou alguma coisa no computador.

— Cad é an t-ainm a bhí ina n-ógánaigh? (Tradução: Qual era o sobrenome de solteira dela?)

— Brogan. Wilhelmina Brogan.

— Bheadh sé deas dá gcoinnigh sí a hainm agus a chuir sí ar aghaidh chugat. (Tradução: Seria bom se ela tivesse mantido o sobrenome e passado pra você.)

Dei um sorriso amarelo. Não estava afim de discutir com ele se a minha mãe devia ou não ter mantido o sobrenome dela. Ele digitou mais alguma coisa no computador antes de me entregar o passaporte e me mandar passar, me avisando que eu devia ir pra fila dos locais na próxima vez, pra não tomar tempo de quem realmente não era irlandês.

Assim que passei pelos portões, vi os rostos sorridentes dos meus avós. Eles pareciam contentes em me ver. Arrastei as malas até os dois e dei um abraço apertado em cada um.

— Cén chaoi a bhfuil rudaí le d'athair? – vovó Oona perguntou (Tradução: Como estão as coisas com seu pai?)

— Tá siad ceart go léir, seanmháthair. Agus táim go maith ar scoil. Thug mé an bhliainleabhar duit fiú a thaispeáint duit. (Tradução: Estão bem, vovó. E eu estou bem na escola. Inclusive trouxe o anuário pra mostrar pra vocês.)

— Maith go leor, ach déanaimis é a fheiceáil sa bhaile. Táimid ag bagairt ar shlí an phearsanra. – intercedeu vovô Angus (Tradução: Ok, mas vamos ver isso em casa. Estamos atrapalhando a passagem do pessoal.)

Fui com meus avós até a casa deles. No caminho, minha avó me bombardeava com perguntas sobre a escola, de como foi a festa de Halloween e, principalmente, quem era Matt.

— Seanmháthair, an bealach a labhair tú, is cosúil go bhfuil mé ag dul a phósadh air. (Tradução: Vó, do jeito que você fala, até parece que eu vou me casar com ele.)

— Tá a fhios agam nach bhfuil tú ag dul a phósadh air, ach tá sé deacair a bheith cúramach. (Tradução: Eu sei que você não vai casar com ele, mas custa nada ser precavida.)

Respirei fundo.

— Is é a thuismitheoirí ná bosses Daid, rugadh é i mBaile Átha Cliath, ach chuaigh sé chun cónaí sna Stáit Aontaithe lena thuismitheoirí, a fuair bás agus d'fhág sé agus a dheirfiúr é. D'éirigh an deirfiúr freisin agus ghlac na Stuart iad leis. Is é steiréitíopa na Gaeilge é. (Tradução: Os pais dele são os chefes do papai, ele nasceu em Dublin, mas foi morar nos Estados Unidos com os pais, que morreram e deixaram ele e a irmã. A irmã também morreu e ele foi adotado pelos Stuart. Ele é o estereótipo de irlandês.)

— Steiréitíopa, eh? (Tradução: Estereótipo, hein?)

— Yeah, seanmháthair, stéiréitíopáil. Dearg, Caitliceach, labhraíonn an Ghaeilge, tá blas láidir Béarla aige... Mar a chuireann sé é, ní raibh sé ach droch-ádh aige ainm Béarla a bheith aige. (Tradução: É, vovó, estereótipos. Ruivo, católico, fala irlandês, tem um sotaque forte falando inglês... Como ele mesmo diz, só deu azar de ter um nome inglês.)

— Is maith a fhios agam, mo iníon. An gcomhlíonfaidh mé riamh é? (Tradução: Bom saber disso, minha filha. Será que vou conhecer ele algum dia?)

— B'fhéidir, seanmháthair. Níl a fhios agam cathain a bheidh sé in ann teacht. (Tradução: Talvez, vó. Não sei quando ele vai poder vir.)

Quando chegamos na casa dos meus avós, coloquei minhas malas no antigo quarto da minha mãe. Olhei ao redor e vi pôsteres de The Doors, de Joan Jett e do filme De Volta Para o Futuro. Na estante, ainda tinham alguns livros que ela tinha deixado. A maioria estava em inglês e eu reconhecia os títulos das minhas aulas de inglês, como O Sol é Para Todos, O Retrato de Dorian Gray e Morro dos Ventos Uivantes.

Tirei algumas coisas da mala e coloquei no banheiro e mandei uma mensagem pro meu pai avisando que eu já tinha chegado e tinha dado tudo certo no voo e que eu já estava na casa dos meus avós. Fiquei na sala com meus avós, alternando minha atenção entre cochilos e a TV até a hora do jantar.

O jantar foi mais silencioso do que eu esperava e, quando terminei de comer, meu avô me mandou dormir para compensar o jet lag entre Farnsworth e Galway. Agradeci e fui dormir. Quando deitei na antiga cama da minha mãe, percebi que era mais macia do que eu imaginava e logo caí no sono. Parecia que meu avô sabia do quão cansada eu estaria só com essa bagunça de fuso horário.

O dia seguinte pareceu mais que eu tinha me teletransportado pruma cidade do interior. Uma das vizinhas da minha avó conversou por horas enquanto regava o jardim. Fez um milhão de comentários sobre como eu sou muito parecida com a minha mãe quando tinha minha idade, de como eu tinha um irlandês decente. (O último comentário fez os olhos da minha avó brilhar de orgulho.)

De noite, ajudei a fazer o jantar depois de ligar pro meu pai dizendo que estava tudo tranquilo e que tava tudo sob controle.

— Cad ba mhaith leat a dhéanamh amárach? Ag dul chuig na scannáin, chuig an bpáirc...? – minha avó perguntou (Tradução: O que você vai querer fazer amanhã? Ir no cinema, no parque...?)

— Sílim go bhfuil mé ag dul ar thurais. Ní cuimhin liom i bhfad anseo. Agus níl mé ag iarraidh go mbraitheann tú i bhfostú i mo láthair. (Tradução: Acho que vou dar uma volta. Não lembro de muita coisa por aqui. E não quero que vocês se sintam presos a minha presença.)

— Ní chuirfidh tú isteach, mo chroí. (Tradução: Você não nos atrapalha, querida.)

— Maith. Amárach ba chóir dom siúl. (Tradução: Ok. Amanhã devo ir dar uma volta.)

Meus avós começaram a dar sugestões de onde eu podia ir durante as férias. Assim que o jantar acabou, me ofereci pra lavar a louça. Minha avó me mandou tomar banho e ir dormir, porque ela iria querer que eu fosse com ela no mercado amanhã e me mostrar onde eu poderia encontrar “jovenzinhos da sua idade” pra conversar.

Fui pro antigo quarto da minha mãe e separei o pijama. Acabei pegado o diário de Matt junto. Fiquei tentada em abrir e ler o que tinha escrito, mas uma vozinha no fundo da minha mente argumentava contra. Deixei na mesa de cabeceira, ao lado do abajur e fui tomar banho. Quando já estava me arrumando pra dormir, meu avô passou no quarto pra me dar boa noite.

— Tá tú díreach cosúil le do mháthair. – ele comentou (Tradução: Você está ficando igual à sua mãe.)

— Go raibh maith agat. (Tradução: Obrigada.)

— Tá iarratas agam uait. (Tradução: Tenho um pedido para você.)

— Cén ordú? (Tradução: Que pedido?)

— Ní thagann tú do amadán do sheanmháthair. (Tradução: Você não caia nas besteiras da sua avó.)

Concordei com a cabeça sem entender muito o que ele queria dizer. Ele se despediu e caí no sono rapidamente. Quando acordei, minha avó já estava chamando pra tomar café e ir no mercado. Assim que pus os pés na cozinha, vi que ela estava com um vestido florido que nunca imaginava que ela usaria.

— Maidin mhaith. An bhfuil tú ceart go leor? – cumprimentei (Tradução: Bom dia. Tudo bem?)

— Gach ceart, mo dhaor. Réidh don lá atá inniu ann? (Tradução: Tudo bem, minha querida. Pronta pra hoje?)

— Réidh. (Tradução: Pronta.)

— Fuair tú an leigheas sa mhála? (Tradução: Tá com o remédio na bolsa?)

— Ar ndóigh, táim. An daidí a chuir tú ar an misean seo an leigheas a sheiceáil? (Tradução: Claro que eu to. O papai que te botou nessa missão de fiscalizar o remédio?)

— Ní gá dó an tasc seo a thabhairt dom. Déanaim é féin é féin. (Tradução: Ele não precisa me dar essa missão. Eu já faço isso sozinha.)

Levantei as mãos em rendição. Comi a torrada que ela tinha posto na minha frente. Terminamos de nos arrumar em silêncio. O único barulho vinha da TV na sala, onde vovô Angus assistia ao jornal, que estava em inglês. Quando eu e vovó Oona saímos, ela me entregou a lista do que queria comprar no mercado.

Ajudei minha avó nas compras, que pareciam intermináveis. Ela tinha um milhão de coisas pra comprar que parecia que tava indo pruma casa nova. Apesar disso, minha avó parecia animada em me ter por perto, tanto que ela ficava perguntando o tempo todo o que eu preferia. Quando terminamos as compras, minha avó me mandou colocar tudo dentro do carro, dizendo que ela levaria as compras pra casa.

— Agora vá fazer amigos. Os jovenzinhos da sua idade ficam por ali, ó. – ela apontou pra uma lanchonete do outro lado da praça

— Que absurdo, vó! A senhora está falando inglês! – tentei caçoar dela. Em troca, recebi um cascudo doído.

— Deixe de ser besta, Prudence.

— A mão da senhora é pesada! – protestei

— O que eu quero dizer é: vá lá, tente fazer amigos. E use seu nome do meio, pelo amor de Deus. Sei nem pra que você ainda usa o seu primeiro nome. – ela abriu a bolsa, pegou a carteira e tirou uma nota alaranjada de 50 euros – Aqui. Use esse dinheiro pra comprar um lanche pra você. Tá com celular?

— Tô sim. E tá carregado.

— Bombinha? Passaporte?

— Sim pros dois.

— Então vá lá fazer amigos. Porque, por mais que eu te ame, não vou aguentar te ter enfurnada dentro de casa por um mês inteiro.

Acenei pra minha avó e entrei na lanchonete. Considerando o horário, estava vazio até demais. Sentei numa das mesas que estavam desocupadas e esperei, um pouco esperançosa de que alguém viesse puxar assunto. Em pouco tempo, um rapaz não muito mais velho que eu deixou o cardápio na minha frente e disse que, quando eu estivesse pronta, poderia chamar por ele.

Não muito depois, uma menina com o cabelo tingido de roxo sentou na mesa a minha frente fazendo estardalhaço. Duas outras garotas com cabelos tingidos sentaram com ela. O olhar da de cabelo roxo parou em mim.

— Ei, garota! – ela chamou e olhei em volta – Você mesma, com a camiseta vermelha que tá sentada sozinha. Qual teu nome?

Lembrei do que a minha vó tinha dito.

— Aoife Shine. – respondi

— Vem sentar com a gente, Aoife. – ela convidou, abrindo espaço na mesa.

Aceitei o convite.

— Eu sou Emma. – a menina de cabelo roxo se apresentou – A de cabelo verde é Emily e a de azul é Ava. De onde você é?

— Springfield. – percebi os olhares confusos – Estados Unidos. Mas minha mãe era daqui.

— Então você vai ficar? – perguntou Ava

— Só pelas férias. Volto pros Estados Unidos pras aulas.

— Uma pena. Seria legal se você ficasse...

— Também acho, mas tenho meu pai e meu namorado por lá.

— Namorado? – Emily questionou, demonstrando interesse demais

— Emily! – ralhou Emma – Deixa a menina. – ela se voltou pra mim – Foi mal por ela. É que Emily tem o hábito de se empolgar demais.

— Não, tudo bem. – dei de ombros – O nome dele é Matthew. Ele é de Dublin, mas mora com os pais adotivos dele lá nos Estados Unidos.

— Você não consegue fugir daqui, consegue? – Ava brincou

— Aparentemente, não.

As três começaram a me contar um pouco de suas vidas por ali. Emma disse que tocava um tipo de violino numa banda tradicional, Emily era a atleta das três e Ava era o cérebro tecnológico das três.


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