— Como você teve coragem de fazer isso comigo? — Perguntava Laura aos berros.

— A nossa relação estava fria... Acabei me envolvendo com a Flávia.

— Relação fria? A nossa relação estava boa! Principalmente nesses últimos dias! Você chegou a falar que me amava!

— Eu pensei que poderia fazer uma relação voltar a ser como antes... Mas não dá!

— Você é um babaca! Te odeio! Te odeio! Saía da minha casa agora! — Ordenou Laura.

Miguel ficou em silêncio. Com dificuldade vestiu sua roupa e subiu na cadeira de rodas. Ele deu uma última encarada na ruiva antes de sair. Laura encostou-se à parede e desabou. Senhor, eu fui uma pessoa tão dedicada... Por que ele fez isso comigo? Eu não merecia essa falta de desconsideração! Não merecia! E o que mais me deixa irritada é que mesmo com tudo isso... Eu ainda o amo demais! Todo esse lugar me lembra ele! Só que tenho que esquece-lo! Ao olhar para o lado esquerdo viu uma carta de origem estrangeira. No CEP estava escrito: “Universty of Oxford”.

Em uma casa não muito longe dali, Michael terminava de fazer duas xícaras de chocolate quente. Sentou-se no sofá e entregou uma das bebidas para Miguel. O professor de biologia suspirou e comentou:

— Existiam outras maneiras de você acabar a relação. O que você fez com a Laura... Foi muita humilhação!

— Não existiam outras formas. Se eu pegasse mais leve... Com certeza ela iria tentar voltar. Quero que Laura me odeie! Só assim para a menina ter uma vida tranquila sem mim.

— A Laura te ama! Você pode estar perdendo uma grande oportunidade de ter uma mulher incrível do seu lado para sempre!

— Ela vai ter outras oportunidades de se apaixonar de novo. De preferencia por alguém que possa lhe proporcionar uma vida melhor. Estou sofrendo demais com tudo isso. Contudo, é melhor para nós dois.

Laura ainda estava encarando a carta. Depois de ler, conseguiu expressar um pequeno sorriso. Era isso que eu precisava! A ruiva pegou sua bolsa e foi correndo para a casa da Renata. Bateu na porta freneticamente até sua amiga abrir. Renata viu a expressão da professora de história e perguntou:

 — Está tudo bem?

— Preciso da sua ajuda!

Depois de algumas horas, Renata voltou para a sala, encarou Laura e disse:

— Consegui comprar sua passagem pra amanhã. Tá marcado para as 14. Tudo bem?

— Ótimo! Quando mais rápido eu sair daqui melhor! E muito obrigada! Neste estado eu não teria cabeça nem pra comprar as passagens.

— Eu imagino. — Afirmou Renata. — Só que é meio estranho acreditar que o Miguel fez isso.

— A gente acha que conhece as pessoas... Mas, no fundo, nunca a conhecemos completamente.

— Tem razão. A gente nunca conhece alguém por inteiro. Aliás, essa carta de aceitação do seu projeto de doutorado veio em boa hora. Sair um pouco daqui vai te fazer bem.

— Com certeza! Respirar novos ares é o que eu preciso por agora. Aliás, posso dormir aqui hoje?

— Claro que pode! Vou arrumar o quarto de hóspedes para você.

— Obrigada!

A noite chegava e o vento soprava frio. O céu estava completamente nublado e não tardou que uma forte chuva caísse sobre a cidade. Miguel observava todo o cenário noturno pela janela embaçada do quarto de visitas da casa de Michael. Não conseguia dormir. Todos os seus pensamentos estavam centrados em Laura. Todas as noites ambos deitavam e dormiam abraçados. Ele estranhou não ter a ruiva ao seu lado. Por que a vida tem que ser tão difícil assim?

A noite nublada e acinzentada deu lugar a um lindo dia ensolarado. Laura acordou mais cedo do que o habitual e correu para a sua casa. Abriu o guarda roupa e colocou suas roupas nas malas. Um novo começo! Ao fechar o guarda roupa viu algumas roupas de Miguel. Pegou uma das peças e cheirou. O cheiro do seu delegado era gostoso demais. Era para seremos felizes para sempre! Por que fez isso comigo?

Eduardo esperava Laura no lado de fora. Ao ver sua amiga trancando a casa ele perguntou:

— Tem certeza que quer partir sem avisar para o Miguel?

— Absoluta! Não devo satisfação para aquele filho da mãe!

— O que eu faço com a chave da sua casa?

— Depois que eu for embora, dê para o Miguel. Tem vários pertences dele aqui ainda. Peça para ele recolher tudo e trancar quando sair. — Ordenou Laura séria.

— Farei isso. — Afirmou Eduardo. — Vai voltar para a casa da Renata?

— Sim. Ela vai me levar ao aeroporto.

— Entre no carro que vamos partir! — Exclamou Eduardo guardando as malas da ruiva e abrindo a porta do carro.