O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 15
Capítulo 15




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Nelson sentou na borda da piscina, mexendo as pernas dentro da água. Ele encarou as pequenas ondas que criava, observando-as desaparecer com uma expressão vazia.

— Ei — disse uma voz calma.

Nelson sabia que era a voz de Cris, mas não se virou para o assistente.

— Ei — disse com a voz distraída.

— Como está se sentindo? — Cris sentou ao lado dele, também colocando as pernas dentro da água, criando mais ondas.

O nadador pensou antes de responder. Ainda sem olhar para seu assistente, ele suspirou.

— Vulnerável. Acha que é uma boa palavra?

— É… uma honesta — disse Cris com o mesmo tom.

— Acho que é a melhor pra me descrever agora. Uma cara honesto e normal — riu ele.

— Você diz como se fosse uma coisa ruim. Eu gosto disso, sabia?

— Fico feliz em saber que ao menos alguém goste… — Nelson não disse nada mais. Cris também ficou quieto, esperando. — Como sabia que eu estava aqui?

— Eu gostaria de dizer que é um dos poderes que conseguimos quando viramos assistentes. Achar nossos nadadores e ficar ao lado deles sempre que precisam, mas, infelizmente, não destranquei essa habilidade ainda — disse Cris com a voz animada costumeira, balançando a cabeça. Nelson virou-se para ele e não conteve o riso. O assistente fechou os olhos e mostrou um sorriso alegre. — Você finalmente riu.

— Você sempre sabe como me fazer rir. — Nelson riu e sorriu. — Então seu trabalho aqui está feito?

— Sem chances. Não vai se livrar de mim tão fácil. — O sorriso do assistente aumentou.

— Fico aliviado em saber disso. — Nelson encarou a água de novo, mas, dessa vez, com um sorriso nos lábios.

Cris olhou para Nelson de perfil. Antes que notasse, suas bochechas estavam vermelhas e ele olhou para a água.

— Não foi tão difícil encontrar você — disse antes que o silêncio imperasse de novo. — Com uma busca rápida, descobri que era a única piscina sem um treino agendado agora.

— Conferiu meu quarto? Eu podia ter ido para lá.

— Não nos conhecemos há muito tempo, mas sei que não iria pro seu quarto limpar a mente. Você iria pra algum lugar com água, mesmo que não entrasse. Só ficar perto dela te acalma.

Nelson estava prestes a responder, mas desistiu e soltou um suspiro em vez disso.

— Acho que sou bem fácil de entender…

— Você diz isso de novo como se fosse algo ruim.

— E não é? Bom, acho que discordamos em algo.

— Não é algo ruim — repetiu Cris com a voz firme. — Eu gosto de caras que são honesto e não guardam segredos.

— Que bom que alguém gosta. — Nelson respirou fundo e olhou para o teto. — A entrevista foi tão ruim quanto me lembro?

— Nem um pouco. — Cris negou com a cabeça e mostrou um sorriso gentil. — O pessoal da TV ficou feliz. Todo mundo adora uma entrevista sincera como a sua. Eu também gostei.

Nelson suspirou.

— Isso não faz chorar nas notícias locais menos embaraçoso.

Os lábios de Cris curvaram enquanto ele tentava conter o sorriso. Apesar de se esforçar, o assistente não conseguiu conter a felicidade no rosto.

— Não é que eu queira chutar quem está caído, mas era rede nacional.

— Massa. Muito melhor. — Nelson esfregou os olhos, soltando uma risada fraca. — Mal posso imaginar o que todo mundo vai dizer quando voltarem de Londres e assistirem.

Dessa vez, Cris não escondeu seu sorriso.

— Se ajudar, eles provavelmente vão assistir hoje.

— Bem o que eu precisava. Pensei que era açúcar, tempero e tudo que é de bom. Não uma pitada de humilhação.

— Não fique assim. Mostrar emoções não o torna menos homem.

— Eu sei, mas chorar é…

— O repórter perguntou coisas delicadas. Do acidente, o coma, todo o trabalho que você esteve tendo pra voltar… Chorar depois de falar de tudo isso não o torna fraco. O torna humano.

Nelson virou a cabeça e olhou Cris nos olhos.

— Obrigado… Eu precisava ouvir isso. Mas não só isso… Eu… Eu… não sei explicar…

— Tente. Eu vou escutar o que quer que seja. — A voz de Cris mal era acima de um sussurro.

— Eu… queria estar em Londres com todo mundo — admitiu Nelson, sem olhar nos olhos do agente. — Ainda que precisasse trocar de lugar com alguém. Eu queria estar lá, me esforçar por uma medalha de ouro. Não entenda mal. Estou torcendo por eles, mas… Eu sinto inveja… Quem sabe até ódio… porque aconteceu comigo…

Cris colocou uma mão no queixo de Nelson e fez o nadador encontrar seus olhos gentilmente.

— Eu disse que você é honesto e não esconde as coisas. Mas esqueci de dizer que é um cara legal também — disse, com um sorriso gentil.

— Obrigado… Eu acho… — Nelson tentou virar a cabeça, mas Cris não deixou. — Mas o que isso tem a ver com…

— Não tem nada de errado em sentir isso. — Cris não sorriu. Não havia felicidade no rosto dele. Havia apenas uma determinação forte em seus olhos.

— Ainda parece errado… — Nelson corou.

— Todos temos alguma coisa feia por dentro. Mas você não disse ou fez nada de errado. Para ninguém. Nunca. Você não fez nada de errado.

— Obrigado por dizer isso. — Nelson fechou os olhos e inclinou a cabeça no peito de Cris.

— Estarei lá sempre que precisar de mim. — O assistente envolveu o nadador em seus braços gentilmente.

Nelson não desfez o abraço. Ele ficou onde estava, sentindo o calor vindo do assistente. Ele é tão pequeno, mas parece tão confiável, pensou o nadador, escutando aquelas batidas do coração.

— Me sinto melhor depois disso — disse Nelson, quando quebrou o abraço e levantou-se. Ele passou uma mão pelo rosto. Não acredito que quase chorei de novo, pensou com um sorriso amarelo. — Obrigado por lidar comigo.

— Sempre que precisar. — Cris sorriu e levantou-se também. — Se precisar de mais alguma coisa, só me avisar.

— Vou me lembrar disso. — Nelson mostrou um sorriso malicioso. Mas, quando finalmente notou o que o assistente vestia, ele ficou surpreso, o sorriso sumindo dos lábios na hora. — O que você está vestindo?

Cris inclinou a cabeça e olhou para as próprias roupas. Quando olhou de volta para Nelson, tinha um sorriso malicioso no rosto.

— Que tal? — perguntou o agente, virando-se lentamente para mostrar suas roupas de cada ângulo.

— Eu… ah… — Nelson não tinha o que dizer. Ele limpou a garganta e desviou o olhar muitas vezes antes de finalmente conseguir falar. — Está usando… algo… debaixo disso…?

Cris usava a jaqueta da delegação do Brasil. Mas com o zíper fechado até o topo e só as pernas nuas aparecendo da barra da roupa, não dava para dizer se o assistente usava ou não algo por baixo.

— Está interessado no que está debaixo da minha roupa? — O sorriso de Cris ficou ainda mais malicioso. Ele se aproximou de Nelson, inclinando o corpo para frente, quando estava perto o bastante. O assistente colocou uma mão na barra da jaqueta. — Se estiver, posso te mostrar.

— Eu… ah… — O nadador ficou vermelho e desviou o olhar. Mas, não importa o quanto tentasse, seus olhos acabavam indo para o assistente.

Cris levantou a barra um pouco. Não era o bastante para revelar se usava algo por debaixo, mas era o bastante para deixar a respiração de Nelson rápida e superficial, e seu rosto vermelho.

— Ou melhor ainda. — Cris soltou a barra e pegou a mão do nadador, levando até o zíper perto do pescoço. — Se estiver interessado, pode conferir por conta própria.

Engolindo em seco, a mão do nadador congelou. Ele olhou para o rosto do assistente e o zíper. Antes que pudesse se impedir, suas mão trêmulas se moveram. Muito lentamente, sob o sorriso malicioso de Cris, Nelson puxou o zíper todo o percurso para baixo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Me digam o que acharam



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