O nadador e o assistente escrita por phmmoura


Capítulo 14
Capítulo 14




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— Então você é Nelson, o atleta do qual escuto muito esses dias — disse a mulher, olhando o nadador da cabeça aos pés enquanto caminhava em volta dele.

— E você é Marina, a maquiadora de quem só ouvi falar meia hora atrás — disse Nelson.

— Pode me chamar de Mari. — Ela riu e eles se cumprimentaram com um beijo na bochecha. Após terminarem, a mulher se virou para Cris com uma expressão brava. — Então meu priminho não falou nada de mim… Não acredito nessa traição.

— Escutar isso de uma rainha do drama famosa tem pouco efeito em mim — disse Cris, rolando os olhos de forma exagerada.

— E isso vindo de você soa como sarcasmo. — Mari olhou para o primo com uma expressão desafiadora.

Cris estreitou os olhos e manteve-se encarando ela, nenhum deles fazendo qualquer som.

Antes que pudesse impedir, Nelson riu. Ele fingiu tossir para esconder, mas foi tarde demais. Ele mostrou um sorriso enquanto os primos se viravam para ele. Então Mari e Cris sorriram e riram ao mesmo tempo.

— Vocês dois são parecidos — disse Nelson, olhando de um para o outro. — Tem certeza de que não são irmãos?

— Já ouvimos isso antes — disseram juntos e os três riram.

— Sem querer me gabar, mas o motivo pra isso é porque eu meio que fui a heroína dele durante a infância. — Mari colocou a mão no peito e mostrou uma expressão humilde falsa. Ela fez um gesto para Cris. — Tudo isso é graças a mim.

— Ah, então quer dizer que posso colocar a culpa em você?

— Senta aqui, Nelson. — Mari olhou para o primo por um momento e então se virou para o nadador.

— Ei, me responda.

A maquiladora ignorou Cris enquanto virava sua cadeira na frente do espelho para Nelson.

— Não temos tempo pra rir. Embora não precise de muita maquiagem, preciso conferir as cores que vão combinar contigo antes.

Nelson olhou para a cadeira com o rosto vazio. Então sua expressão azedou quando ele olhou para o kit de maquiagem na mesa. No fim, virou-se para Cris.

— Isso é mesmo necessário?

— Sim — disse Cris, fazendo um esforço para esconder o quanto adorava a situação. — Precisa de maquiagem se quer aparecer na TV. É senso comum.

— De quem?

— De todo mundo, oras.

Apesar de sorrir, Nelson não encontrava nenhuma mentira nas palavras de Cris.

— Ainda assim… É mais a sua praia do que a minha…

— Quê? — Mari perdeu qualquer traço de alegria. Ela caminhou para trás do primo e colocou as duas mãos no ombro dele com uma expressão indignada. — Está dizendo que só porque o Cris é gay que maquiagem e outras coisas de meninas são a praia dele? Tudo bem para um gay usar maquiagem, mas não para um hétero? É isso mesmo?

Nelson olhou sem expressão para a mulher, o completo oposto dela.

— Não — disse, com uma voz sem emoção. — Eu disse que é a praia dele porque, quando nos conhecemos, ele estava de maquiagem. E vestido de garota. E ele também disse que você o usou pra treinar desde que eram pequenos. Daí assumi que ele estava acostumado a usar maquiagem e não tinha problema com isso.

Mari encarou ele por um segundo, o silêncio preencheu o recinto. Depois ela virou e estalou a língua.

— Droga. Cris me contou que você é um desses que não fica nervoso com essas conversas. Que sem graça.

Nelson se virou para o assistente, inclinando a cabeça. Cris riu e mostrou um sorriso desconfortável.

— Minha prima aqui gosta de deixar as pessoas desconfortáveis com discursos de minorias e pá.

— Não é culpa minha se é divertido ver o povo todo nervoso em tocar nesses assuntos — disse ela, soltando uma risada maldosa. — Tem pessoas que congelam, outras que começam a cuspir desculpas e dizem que nunca queriam dizer aquilo, rezando para que ninguém pense que são preconceitos… É bem divertido.

— Certo… — Nelson se virou para Cris e sussurrou alto o bastante para Mari escutar também. — Sei que acabei de conhecer sua prima, mas ela tem um hobby estranho.

— Ei, eu ouvi isso. E qual é, não seja assim. Você me faz parecer uma pessoa ruim — disse Mari com um sorriso amarelo. Depois ela balançou a cabeça e acenou a mão para deixar aquilo de lado. — Melhor, sente aqui e vamos começar.

Nelson fez outra careta para a cadeira.

— Quando dissemos maquiagem, não é como se fôssemos colocar batom em você e obrigá-lo a se transvestir — disse Cris, tentando não rir da ideia. — Ninguém quer isso.

— De alguma forma, escutar você dizendo isso com essa expressão não me faz sentir melhor. — Nelson suspirou e olhou para a cadeira de novo. — É mesmo necessário? — Quando Cris assentiu, o nadador suspirou de novo e sentou na cadeira. — Tá bom, confio em você.

— Ótimo. — Os dois primos sorriram e falaram ao mesmo tempo. Entretanto, Nelson tinha a impressão de que o sorriso de seu assistente foi levemente diferente que o da prima.

Enquanto a maquiladora começava seu trabalho, um celular tocou. Cris se afastou um pouco antes de pegar.

— Oi? Sim, sou eu. Certo, só um instante. — Ele colocou uma mão no celular e se afastou deles. — Preciso atender.

— Então, Nelson, o que você acha do meu primo — perguntou Mari com um tom casual quando ficaram sozinhos.

— Ele é um cara legal. Só ficar perto dele já é divertido. Embora eu devo dizer que ele é que nem você. — Nelson riu. A maquiadora tinha uma cara confusa quando ela encontrou os olhos dele pelo espelho. — Ele gosta de deixar os outros desconfortáveis com piadas gays — explicou ele.

O rosto de Mari se iluminou, tendo entendido. Então ela riu.

— Que bom, acho. Faz tempo desde que meu priminho tem tido tanto trabalho. Mas quando perguntei o que você pensava dele, eu me referia a ele como assistente.

— Ah. — Nelson cerrou os olhos um pouco. Ele pensou no trabalho de Cris como assistente por um instante, mas as palavras escaparam dele com um sorriso. — Até o momento, ele foi excelente. Embora tenha sido só dois dias, ele se certificou de organizar tudo. Se não fosse por ele, hoje teria sido um desastre graças a minha desorganização. Mas também, ontem… Se ele não estivesse comigo, eu estaria um trapo.

— É um alívio ouvir isso. — Mari suspirou e continuou o serviço. — Não sei se ele mencionou, mas ele está no meio de uma briga com a família.

— Sim, ele disse algo do tipo… parece que era mais complicado do que ele contou…

Mari ficou quieta por um tempo.

— Ser um assistente é mais como um trabalho de meio período. Muita gente faz para conseguir experiência, dinheiro rápido e referências do clube. Mas o Cris… está nisso faz tempo já. Normalmente, ele deveria ter ido pra faculdade, ou ao menos tentado entrar em uma, mas ele não tem ideia do que fazer, aí continuou como assistente.

— Ele mencionou isso…

— Sim, mas ninguém queria que ele continuasse como assistente. Mesmo sem a faculdade e tudo mais, ser um assistente tem sido… complicado pra ele.

— Como assim?

— A última pessoa de quem ele cuidou era essa menina religiosa, e ela era… horrível. Uma daquelas protestantes devotas e, sempre que podia, fazia comentários cruéis e piadas sobre homossexuais e como iam parar no inferno. Cris tentou o melhor que podia pra ignorá-las sem dizer nada pra gente. Só pra fazer o trabalho dele. Ele aguentou sem reclamar, se esforçou pra ajudar a menina. — Mari parou de trabalhar e respirou fundo, como se tentasse controlar a raiva. — Mas a pior parte foi quando ela mentiu pro Cris. Convidou ele para a igreja dela, dizendo que ia rezar para o Senhor por sucesso. Mas na verdade era um daqueles encontros anti-gay feito especialmente para ele.

— Quê? — Ainda que tenha acabado de conhecer Cris, Nelson ficou com raiva. — Como ela teve a coragem de fazer isso com ele?

— Fanáticos… Aquele dia… Realmente machucou ele. Mais do que ele deixa transparecer… Escutar de gente que nem conhecia que ele ia pro inferno por ser quem era, que a própria existência dele era errada…

Nelson pensou em todas as vezes em que Cris sorriu para ele.

— Eu não fazia ideia…

— Meu primo gosta de fazer graça, mas não quer incomodar ninguém. Ele sempre se esforça. Só que, depois daquele dia, ele desistiu de ser assistente. Porém, quando a família começou a pressioná-lo sobre o futuro, ele decidiu trabalhar de novo. Então fiquei preocupada que ainda estivesse sentido pela última menina, mas fiquei mais preocupada sobre o cara que ele ia ajudar.

Nelson ficou em silêncio por um tempo, pensando em tudo que Mari contou a ele. Ele olhou para ela pelo espelho.

— Não sei do passado, mas prometo que não vou fazer nada pra machucar ele.

— Ótimo. — Mari mostrou um sorriso alegre e continuou seu trabalho. — Então acho que posso deixar o Cris em suas mãos.

Antes que Nelson pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu e Cris entrou. O assistente olhou entre o nadador e a maquiadora.

— Foi mal, levou mais tempo. Do que vocês falavam?

Mari e Nelson trocaram olhares.

— Nada — disseram em coro, trocaram olhares de novo e riram juntos.

— Hein? Me contem.

— Não foi nada — disse Mari, contendo o sorriso.

— É, nada — disse Nelson, sem olhar nos olhos do agente.

Cris pressionou os lábios, mas então balançou a cabeça.

— Vou perguntar depois, mas, agora, você tem mais do que tratar, Nelson. O pessoal da TV chegou.

— Perfeito. Porque já acabei. — Mari deu o toque final.

Nelson olhou para seu reflexo.

— Eu… não sabia o que esperar… ao menos não é o que eu esperava.

— O que você esperava? Uma drag queen? — perguntou Cris, sorrindo.

— Isso chegou a passar pela minha mente…

— Permita-me dizer. Você tá um arraso. Mas fica mais gostoso no natural. — O sorriso de Cris ficou malicioso.

— Seria narcisista se eu concordasse?

— Bastante, mas vou permitir — disse Cris. Mari riu e eles se viraram para ela. — Que foi?

— É só que vocês dois parecem amigos que se conhecem há anos em vez de duas pessoas que se conheceram faz alguns dias só.

Nelson e Cris olharam para ela e então um para o outro e riram ao mesmo tempo.

— Parem de flertar. Podem fazer isso depois — disse Mari, sorrindo. — Estão esperando você.

— É… — Nelson se levantou com grande esforço. Ele virou-se para a porta e então encarou seu reflexo.

— Você tá ótimo — disse Cris, caminhando para perto do nadador. — Não tem por que se preocupar. É sua primeira grande entrevista depois de muito, muito tempo.

— É disso que eu precisava. Um pouco mais de pressão. — Apesar do que dizia, Nelson soltou uma risada cansada.

— Faz parte do meu trabalho. — Cris sorriu.

Nelson encarou aquele sorriso e depois suspirou, fazendo a mesma coisa antes que notasse.

Mari assistiu a tudo em silêncio, cobrindo seu próprio sorriso.


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