Alexandria era a bela princesa de um reino estrangeiro. Cabelo loiro claro, macio, curto e cacheado. Olhos cinzas, que mais pareciam feitos de prata. Pele clara. Destoava bastante com a presença de nosso grupo. Eu e meus amigos, todos de pele e cabelos escuros, como são as pessoas do nosso país.

Eu fiquei encantado quando a vi. Encantado com seu sorriso gentil e olhar melancólico. Com a graciosidade com que se movia, e a delicadeza com a qual mexia as mãos.

Cecil, ao meu lado, empurrou seu ombro contra o meu, tirando-me de meus devaneios enquanto Brenda, a única de linhagem nobre entre nós, dirigia-se à princesa.

Mais tarde Geórgia comentou sobre isso. É claro que ela tinha notado. Brenda ficou animada com a ideia de seu amigo estar apaixonado pela princesa de um reino rival.

Apesar da diferença social entre nós dois, eu tentei me aproximar dela. Encontrar uma oportunidade para conversar com ela, trocar ao menos algumas palavras.

Os nobres e oficiais do país dela não ficaram felizes com isso. Perdi a conta de quantas vezes ouvi algum aviso ou ameaça para ficar longe “do príncipe”.

Nunca entenderia aquelas pessoas que se recusavam a aceitar que tinham uma princesa, e não um príncipe. Quero dizer, às vezes as pessoas não se identificam com o sexo com o qual nasceram, como a Princesa Alexandria. E às vezes não se identificavam com gênero algum, como Cecil. Isso era completamente normal, pelo menos no meu país. Mas parece que o país de Alexandria não encarava com tanta naturalidade.

Apesar dos desencorajamentos, eu contava com a coragem natural do meu povo e o apoio incondicional dos meus amigos. (Vocês são os melhores, pessoal)

Alexandria era bastante inteligente. Ela sabia falar minha língua fluentemente, e com uma pronúncia admirável. Não era raro vê-la com um livro. Isso me lembrava um pouco Geórgia, essa paixão pelos livros. Me perguntei se ela também gostava de escrever.

Ao conversar com ela, descobri que, sim, ela também gostava de escrever. Mas, enquanto minha amiga escrevia prosa, Alexandria preferia a poesia.

Era natural que ela fosse ligada à literatura, eu suponho. Seu reino era conhecido por seus grandes autores e obras clássicas.

Ainda assim, sua paixão era admirável. Era poderia falar e devanear sobre seus escritores favoritos, ou sobre uma poesia específica, por horas seguidas. E eu igualmente poderia ouvi-la falar por horas sem me cansar. Não que fosse fácil conseguir esse tempo da princesa herdeira.

Alexandria quase sempre mantinha seu sorriso gentil, porém triste. Sua risada, por outro lado, era muito mais rara. Eu amava ouvi-la rir.

Alexandria é brilhante, genial. Eu posso falar. Eu convivo com a escritora prodígio Geórgia, Kevan, que estuda estratégia militar antes de aprender a andar direito (sim, seus pais eram meio excêntricos), a criativa Brenda e Cecil, especialista em enigmas e mestre do raciocínio rápido.

Apesar disso, Alexandria tinha uma autoconfiança assustadoramente baixa. Eu não precisava ser inteligente como meus amigos para entender o porquê. E eu odiava isso. Odiava a visão intolerante do país dela.

Eu adorava a companhia dela. Apenas me encontrar com ela por acaso em um corredor já me alegrava.

Além de poesias, ela também gostava de flores. Seu reino era coberto de neve boa parte do tempo, ela lamentou sobre isso. Disse que preferia ter nascido no meu país, onde o solo é fértil e a flora, abundante. Embora eu ache que não é só por isso que ela queria ter nascido no meu país.

Apesar das barreiras, nos aproximamos de uma forma quase natural. Geórgia afirmava que Alexandria sentia o mesmo que eu, e Brenda dizia que éramos adoráveis juntos. Um casal adorável.

Sabia da rivalidade entre nossos reinos. Do preconceito existente no reino dela. Eu sabia disso tudo. E ela nunca disse em voz alta, mas estou certo de que ela também estava consciente disso. Ainda assim, nunca falávamos abertamente sobre isso. Sobre proibições. Sobre como seria o futuro.

Essa é uma questão difícil de responder, mas um futuro sem ela não soa mais como uma opção para mim. Parece errado pensar nessa possibilidade. Eu gostaria de perguntar a ela se soava assim para ela também.

Tudo o que quero é um futuro com ela.