Hoje ela era um rinoceronte.

Para falar a verdade, ela demorou um pouco para decidir o que seria naquele dia. Por algum motivo, parecia que seria um dia especial... Um dia que ela devia estar pronta para encarar de frente um novo desafio.

Para poder encarar tudo e qualquer coisa de frente, o que melhor que um rinoceronte?

Se tornaria o mais plúmbeo dos animais –nada de tristonho- seria de puro chumbo. Não deixaria nada atravessar sua couraça; de tiros de metralhadora à palavras de boca alheia, de uma lamina mortal à uma língua afiada.

Com um balançar de cabeça seria capaz de arremessar longe qualquer ideia que lhe incomodasse (ou qualquer um, caso precisasse).

Eles disseram muitas coisas sobre ela e sobre tudo o que ela já fez na vida naquele dia, tudo batia no mais puro chumbo que ela construiu em volta de si e voltava. Mas ela ouviu claramente quando disseram com o maior tom de escarnio possível que ela “não conseguiria”. Não importava o que, ela não aceitaria ouvir que não conseguiria fazer algo.

Querer é poder e quem vai dizer “não” para um rinoceronte?

Riram mesmo assim e na risada deles ela pois um fim.