EU NÃO IRIA FAZER a cirurgia. Mas isso não me impediu de ficar doente. Não iria enfrentar uma trepanação de jeito nenhum. 

Mas não tinha jeito. Eu tive que ficar internada. Não teve outro jeito, estava fraca e debilitada. Ninguém podia cuidar de mim vinte e quatro horas, afinal todos tinham uma vida. Então eu preferi dar trabalho para o hospital. 

Já era quase Natal, faltava três semanas apenas. Quem diria que há um ano atrás, eu, apenas vivendo os meus vinte e três aninhos iria morrer de câncer em um ano. Não me arrependo de absolutamente nada que fiz enquanto estive aqui, mas eu assumo, se soubesse que iria viver tão pouco teria vivido mais. E com viver eu não digo respirar, comer, beber. Eu digo VIVER.

Teria dito mais eu te amo e abraçado mais pessoas, teria usado todas as roupas que queria usar, teria comido sem me importar com o peso e bebido o máximo de vinho possível!

— Não se preocupe Caio... - comi uma tangerina que o mesmo tinha descascado. - Você não vai precisar cuidar de mim por muito tempo.   

— Como se eu fizesse por obrigação. - ele descascava mais algumas. - Eu te amo Ana.