Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 9
Sem mais opções




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— David! – Olivier gritou e parou diante de um dos jovens, que eu reconheci, imediatamente, como o seu recém descoberto filho e começou a falar um monte de coisas em francês, seu tom é duro e seco. O rapaz que levava uma garrafa a boca, parou no meio do movimento, e encarou o homem a sua frente com os mesmos olhos azuis desafiadores.

— Merde! – David ficou de pé, em um pulo, com os olhos ainda grudado no outro homem, tinha quase a mesma altura do pai, ficaram frente a frente – respondeu na mesma língua, de um modo ríspido, ergueu o queixo e cerrou os punhos pronto para briga.

Só entendia quando Olivier falou o nome de Sarah, sustentando o olhar, contudo sua voz ficou mais branda.

David o encarava com desdém e um sorriso irônico, escutei o nome de Jean-Pierre e distingui um monte palavrões, Olivier ficou vermelho, receei que fizesse alguma besteira, mas ele respirou fundo, contendo-se, respondeu em tom mais gentil. No entanto, o garoto rebati, com ar de sarcasmo, Olivier falou novamente o nome de Sarah no meio de uma frase, com a voz branda, fiquei orgulhosa dele, contudo David tinha os olhos cheios de ódio, em um gesto violento, atirou a garrafa no chão de pedra da praça, que se espatifou em mil pedaços, sob os protestos dos outros garotos, que não entenderam o que estava acontecendo ali. Pensei que o rapaz iria agredir Olivier, entretanto, ele somente se virou e foi embora, pisando firme, respirei aliviada com aquele desfecho. Os outros garotos ficaram atônitos, fiquei com medo da reação deles, então, puxei Olivier para longe dali, querendo evitar confusão.

— Vamos sair daqui, Olivier.

— O que posso fazer para ajudá-lo? - Olivier estava desolado, andando do meu lado, enquanto, eu o puxava pela manga do paletó. – Eu quase falei que era o pai dele. Eu perdi a cabeça, estava errado – reconheceu em voz baixa, enquanto andávamos em direção a estação de trem.

 - O que disse para ele? – Estava curiosa sobre a conversa que não entendi.

— Eu disse era amigo da mãe dele e sabia que ela não gostaria de vê-lo assim, bebendo no dia do enterro dela. – Deu um sorriso triste. – Ele falou que eu era muito esquentadinho, por causa do soco que dei em Jean-Pierre,

— E o que você respondeu?

— Que estava errado, que não devia ter feito aquilo.

— E você acha, realmente, isso mesmo? – queria saber, no entanto, ele não respondeu.

— Ele me perguntou o que sabia sobre a mãe dele. David está com muita raiva, por ter perdido a mãe e não sabe o que fazer em relação a isso.

— Deve ser muito difícil uma pera igual a essa, principalmente, assim tão jovem. – Ele concordou com a cabeça.

— Eu contei que conheci Sarah, há muito tempo atrás, que sabia que ela era uma pessoa maravilhosa e o amava muito. Ele rebateu dizendo que eu nem conhecia mãe dele direito e que nunca me viu antes. – Os seus olhos brilhavam pelas lágrimas.

— Você fez bem em não ter dito que era o pai dele, por enquanto. Não era o momento certo, poderia piorar a situação e ter deixado ele mais confuso ainda. Acho que você precisa ir com calma, se aproximando aos poucos e, quem sabe, Jean-Pierre o ajudará nisso – considerei, então ficamos em silêncio por algum tempo.

Andamos um pouco mais pelas ruas sem movimento até chegarmos à estação e para o meu total desespero, que estava deserta e as bilheterias fechadas. Um rapaz que limpava o chão informou algo para Olivier.

— Já passa na meia-noite, não tem mais trem a essa hora – ele traduziu para mim. Quase cai em prantos.

— Eu preciso voltar para Londres!

— Não temos como resolver essa situação, vamos arranjar um lugar para comer e passar a noite.

— Como passar a noite?! Eu não tenho roupas! – exclamei, irritada.

— E essa que você está usando? – respondeu, erguendo sua sobrancelha de um modo irônico. Aquilo me irritou ainda mais.

— Elas não estão limpas!

— Mas terão que servir, ou você pretende chegar a pé em Paris, são cerca de 200 quilômetros – Informa-me de um jeito despretensioso, e eu percebo que estou agindo como uma criança birrenta.

— Eu não gosto de improviso, gosto de saber o que vai acontecer na minha vida, e desde que deixei aquele avião em Londres, tudo se tornou uma bagunça, não tenho mais controle de nada, estou fazendo coisas que nunca imaginei que faria. Agora, eu só quero sair daqui e retomar o controle da minha vida – Lágrimas de desespero brotaram dos meus olhos, então, respirei fundo para me acalmar.

— Eu lamento ter arrastado você para isso tudo, Gisele. Desculpe-me, mas estou passando um período muito confuso na minha vida. – Olivier era sincero.

Não tinha mais o que dizer, balancei a cabeça afirmativamente, resignada.

— Eu estou com fome e cansada, meus pés estão me matando. Só preciso comer algo e dormir um pouco, amanhã estarei melhor.

Então, ele se voltou para o rapaz que continuava a varrer o chão, ignorado nossa presença, e perguntou algo, que ele respondeu, ao mesmo tempo, que ergueu o braço apontou em uma direção, Olivier agradeceu.

— Ele disse que tem um hotel a umas duas quadras daqui. Você consegue andar mais um pouco?

— Eu tenho outra escolha? – Dou de ombros.

Sem mais opções, saímos da estação de trem, entramos por uma ruela, acompanhamos um grande muro de pedra, até depararmos com uma construção de dois andares de pedras de tom dourado, a grande porta dupla de madeira pesada estava aberta e era ladeada por lampiões de ferro preso a parede e grandes vasos de cerâmica cada um contendo um arbusto aparado simetricamente, presa a parede uma placa dourada indicava que ali era um hotel. Ao passar pela porta aberta, respirei fundo, encantada com o lugar, com poltronas de vimes com almofadas brancas, os grandes vasos de cerâmica decorada com exuberantes folhagens, o chão de pedra recoberto por um tapete de cores fortes e tantos outros detalhes que levaria horas para conhecer cada um. Atrás do balcão, um rapaz sonolento deu um pulo da cadeira, onde estava sentado quase a cochilar, para nos atender sorridente. Olivier tomou a frente, notei que o rapaz demorou entender que precisávamos de dois quartos separados e não tínhamos bagagem, finalmente, depois de passar o meu cartão de crédito, recebi a chave do meu quarto, um problema estava resolvido, mas, ainda restava o outro.


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