Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 55
Sem futuro.




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Acordei com o sol na minha cara e alguém cutucando o meu ombro, abri uma fresta de olho e dei de cara com um guarda.

— Você não pode dormir aqui, garoto. O que houve você bebeu?

Levantei, sem dizer nada, estava todo dolorido, louco para urinar, meio tonto e sai andando para longe dele, antes que fizesse mais perguntas. Em um canto escondido entre as plantas do jardim, depois olhar para um lado e para outro, me aliviei com prazer.

E agora, para onde ir? O que fazer? Eu não tinha nada, nenhuma esperança, nenhum destino, não via futuro. Talvez, só precisava me despedir da única pessoa que se importou comigo, que me amou, podia ir até lá só bastava me localizar, pois não sabia onde estava, comecei a andar por qualquer caminho, há muito tempo não vinha por aqui. Andei, andei, até sentir o meu estômago roncar, estava com bastante fome, peguei minha carteira só tinha 20 euros, não podia gastar muito. Por isso, entrei em uma lojinha comprei um saco de salgadinhos e um refrigerante, comi sentado no meio fio, levantei e continuei andando. A minha volta a cidade de se movia rápido, tanta gente andando de um lado para outro, muitos turistas tirando fotos, idiotas!

Comecei a perguntar a um e a outro a direção correta do meu destino, muitas informações confusas, andei de um lado para outro, por fim, estou no caminho certo. Vou andando sem prestar atenção em nada a minha volta, o mundo não me interessa, mas, não sei porque, naquele momento, olhei para o lado e vi aquela pequena livraria especializada em livros infantis e, em um canto da vitrine, estava ele, o príncipe Olly, aquela história idiota que minha mãe inventou para justificar o sumiço do meu pai, quando eu era uma criança boba. Não resisto, entro na livraria e pego o livro para folheá-lo, reconheço os desenhos da minha mãe, leio a história que já sei de cor.

— É um livro muito bom, ainda hoje é bastante procurado pelas crianças – uma velha, que deve ser a dona, se aproxima e começa a falar, não respondo nada, só coloquei o livro no lugar e vou de volta para a rua.

Estava cansando de andar, já passava do meio-dia, quando cheguei naquela rua arborizada, onde havia passado há dois dias atrás, mas não me lembrava de nada. Entrei pelo portão, tentando me achar, não sei o caminho, fico andando de um lado para outro querendo reconhecer alguma coisa, passei por umas pessoas meio tristes, algum enterro havia acabado de terminar, e alguns turistas idiotas, tirando fotografias daqueles túmulos velhos. Que graça tem ver um nome de pessoas que você nem conheceu, gravado em uma pedra, só porque foram famosas. Então, de repente, eu me lembro do homem que deu um soco na cara de Jean-Pierre, consigo recordar o que via quando olhei para ele, a estátua, o túmulo do seu lado. Refiz o caminho, observando em volta, procurando algum sinal.

— Mãe, cadê você? – perguntei para o vazio e foi como ela respondesse porque, de repente, eu vi, bem ali, só a alguns passos à minha frente.

Eu me aproximei do túmulo recém-fechado, nome dela ainda não está lá, só dos avós de Jean-Pierre. Ele não devia tê-la colocado junto com gente estranha.

Fiquei ali olhando, sem saber o que fazer. É estranho falar com uma pedra, mesmo sabendo que lá, no fundo, está o que sobrou da minha mãe. Sentei no chão ao seu lado, me encostei na pedra fria, coloquei os braços sobre os joelhos e abaixei a cabeça, fiquei ali calado e chorei outra vez, não encontrava uma saída. Talvez só uma, ir até o rio, subir no parapeito de uma ponte, dar um passo para frente e voar até mergulhar naquele mundo escuro, frio e silencioso, seria só alguns minutos e, depois, me esquecer, só haveria paz. Talvez, me deixasse ficar ao seu lado, para sempre. Abaixei a cabeça, esperaria até o sol se pôr, enquanto isso ficaria ali, junto a ela. Essa decisão me deu muita tranquilidade, uma razão, daqui a algumas horas estaria tudo acabado. Acho que dormir com o mormaço da tarde, sonhei sonhos estranhos e confusos.

Acordei, de repente, com uma sombra sobre mim, abri os olhos e olhei para cima, vi o vulto de um homem ofuscado pelo sol.

— Alguma coisa me dizia que ia encontrar você aqui – reconheci o homem que socou Jean-Pierre, o tal amigo desconhecido da minha mãe. Eu só queria que ele fosse embora, então o ignorei, abaixei a cabeça e apoiei nos meus braços e encarei o chão, mas, ao invés de ir, perguntou: – Posso me sentar aqui? – Antes de eu responder que não, ele se sentou ao me lado.

Ficamos calados por um longo tempo, olhando o nada, eu tentando ignorar a presença dele.

— O que você está fazendo aqui? – perguntei, vencido pela minha curiosidade.

— Jean-Pierre me ligou, ele estava desesperado atrás de você, precisava de toda a ajuda possível?

— Ele está muito preocupado?

— Bastante. Ele ama você, David.

— Mas, por que ele ligaria para você?

— Porque sua mãe me pediu para ajudá-lo a cuidar de você, quando precisasse.

— Por que ela faria isso? – Olhei para o túmulo como se esperasse uma resposta dela, já desconfiava qual seria e não queria ouvir, não queria saber.

— Você é um garoto inteligente, por isso, deve imaginar o porquê – ele olhou bem nos meus olhos e eu sustentei o olhar. Se ele pensa que iria me intimidar, estava muito enganado.

— Sim, eu imagino – Não conseguia esconder a minha raiva.

— Eu sei que você tem todos os motivos para me odiar, o que eu fiz foi abominável, sei que não mereço o seu perdão, mas sua mãe me perdoou.

— Isso era bem típico dela – falei com sarcasmo.

— Sim, Sarah era uma pessoa muito especial.

— Não diga o nome dela! – gritei, levantando-me em um pulo, podia socar a cara daquele idiota.

 - Tudo bem, eu não falarei mais, mas, por favor, se acalme.

Respirei fundo, mas, não relaxei, fiquei reto, os punhos fechados ao lado do corpo, pronto para a briga, ele se levantou e ficamos cara a cara.

— Você pode me odiar, mas, não deve fazer isso com Jean-Pierre, desaparecendo desse jeito. Ele está igual um louco atrás de você.

— Ele vai ficar melhor sem mim, além disso, ele tem Cecília.

— Quem?

— Minha irmãzinha, ela tem três anos.

— Mesmo assim, ele ama você, como amava sua mãe.

— Iremos fechar em quinze minutos – Um funcionário do cemitério passou por nós, anunciando.

— David, vamos sair daqui. Talvez, possamos ir para a casa da sua avó.

— Não, eu não quero ir para lá! – Não estava a fim de ver aquela mulher que me odiava.

— Está com fome? Porque eu estou. Podemos jantar juntos.

— Não pense que podemos ser amiguinhos – rebati, desafiador.

— Eu não penso nisso...ainda, mas pelo menos, podemos dividir uma refeição.


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