Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 35
Antes do tempo




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Estávamos na semana das últimas provas, antes do começo dos feriados de fim de ano, estava agitada, mal conseguia dormir, acordei no meio da madrugada com uma fina e incomoda dor nas costas, achava que devia ser pela barriga muito grande que não facilitava as coisas, tentei adormecer novamente, rolei de um lado para outro, mas não conseguia uma posição confortável. Levantei e me aprontei para escola, não falei nada para minha mãe, pois achava que não é nada demais. Quando cheguei à escola, a dor havia piorado, vai e volta cada vez mais forte, mesmo assim comecei a fazer a prova de matemática, no entanto, não conseguia me concentrar a dor estava mais forte. Então, sentia como uma faca entrasse e saísse das minhas costas, não consegui segurar o gemido que saiu alto, o professor Baptiste me olhou, alarmado, e correu na minha direção, todas as atenções se voltaram para mim.

— O que houve, senhorita Didier? – Ele sabia do meu estado, não dava para negar.

— Doe muito! – afirmei, mais aliviada, pois a dor passou por um momento.

— A senhorita deve estar em trabalho de parto. – O professor tentava parecer calmo, mas gotinhas de suor se formavam na sua testa alta.

— Não é possível! O bebê é só para o mês que vem – falei, antes de uma outra facada acertar as minhas costas.

— Por favor, alguém vá a diretoria e mandem pedir uma ambulância! – o professor ordenou, ajudando-me a levantar. Nesse momento, um líquido quente escorreu pelas minhas pernas, deixando-me mais assustada ainda.

Uma das garotas correu para fora, Jean-Pierre se aproximou e ajudou ao professor me levar até a enfermaria para esperar pela ambulância lá, estava como muito medo. A escola toda parou ao me ver passar, apoiada nos ombros dos dois homens, que interrompiam o trajeto de vez em quando, durante uma contração.

Estava com muito assustada, deitada na maca da enfermaria com muita dor, Jean- Pierre ficou ao meu lado e segurou minha mão durante todo o tempo, me tranquilizando. Não sei o que faria se ele não tivesse ali comigo.

A ambulância chegou, Jean-Pierre insistiu em ir comigo, apesar dos protestos dos paramédicos, mas ninguém conseguiu dissuadi-lo e eu fiquei feliz com isso, pois ele segurava minha mão sem reclamar, quando espremia seus dedos por causa da dor de mais uma contração.

Quando chegamos ao hospital, foi uma correria, a maca percorreu apressada pelo corredor, estavam todos preocupados devido a minha idade e o bebê ser prematuro. Alguém perguntou se Jean-Pierre era pai do bebê, e antes que ele possa responder, gritei que não. Minha mãe chegou e entrou comigo na sala de parto. Uma enfermeira fez o toque, ela avisou que o bebê está preste a nascer, trocaram minha roupa, as dores estavam mais e mais intensas, quase insuportáveis.

Fui colocada na posição, na mesa de parto, as pernas abertas e apoiadas, minha mãe ficou ao meu lado, incentivando-me, enxugando minha testa molhada de suor, só queria que tudo aquilo acabasse logo, não percebi toda a movimentação a minha volta.  Uma médica estava entre as minhas pernas e me mandou fazer força, tenho vontade de empurrar, expulsar o que está dentro de mim.

— Já estou vendo a cabeça! – a médica disse, só quero empurra o bebê para fora, só quero acabar com a dor. – Ele parou de descer! – ela comunicou em tom aflito, ficou alarmada. – Você precisa continuar fazendo força – ordenou, eu me esforço, mas estou muito cansada.

— Não consigo! – grito, chorosa.

— Vamos, Sarah! – Junto todas as minhas energias e dou um último empurrão. – Nasceu! – Todos respiraram aliviados, estou acabada. – É um menino!

Estou sem forças para me manifestar, contudo, fico preocupada porque ele não chorou.

— Por que ele não está chorando? – indaguei, exasperada.

— Calma, Sarah! É assim mesmo. Ele parece bem – a médica falou, mas não me convenço

A médica passou o bebê depressa para a enfermeira que o entregou para o pediatra que começou a examiná-lo rapidamente, acompanho tudo a distância, quero saber o que está acontecendo com o meu bebê. De repente, ele começou a chorar forte, a pleno pulmões, solto o ar que estava preso no meu peito, relaxada.

— Está tudo bem com ele, apesar de ser pequeno, deixaremos algum tempo na incubadora – o pediatra afirmou, logo em seguida colocaram o meu bebê nos meus braços, envolto em uma manta, só o rostinho estava de fora. – Ele é perfeito.

Pela primeira vez, os meus olhos e os do meu filho se encontraram, por ironia, vejo os mesmos olhos azuis do pai dele, no rosto redondo e rosado, a boquinha abrindo e fechando em caretas engraçadas.

— Ele é lindo! – Minha mãe falou ao meu lado.

— Sim, ele é.

— Já escolheu o nome para ele?

— Sim. O nome dele será David.

— Então, agora, me dê David para levá-lo ao berçário, ele vai para incubadora, você poderá visita-lo depois – a enfermeira o retira dos meus braços, mesmo eu relutando um pouco. – Agora, você precisa descansar, Sarah.

 Ela tinha razão, estava exausta, fui levada para uma enfermaria, colocada em uma cama ao lado de outras mulheres que, também, tiveram filhos, sou a mais jovem de todas.

Permitiram que Jean-Pierre e, para minha surpresa, meu pai entrarem para me visitar. Eles pareciam aliviados ao me ver bem. É estranho, pois pela primeira vez, vejo meu pai e minha mãe lado a lado, depois da separação, eles pareciam muito desconfortável pela situação.

Jean-Pierre ficou ao meu lado o tempo todo, eu compreendia seu olhar afetuoso e fiquei assustada, não podia acreditar que seja verdade. Um pouco depois, a enfermeira expulsou todos dali, afirmando que precisava descansar, fiquei agradecida, porque é o que mais quero agora. Quando fiquei sozinha, meus olhos pesaram e se fecharam lentamente.

— O pai do bebê está mesmo apaixonado por você – a mulher da cama ao meu lado comentou, puxando conversa.

— Ele não é o pai – Fui ríspida.

— Não?! – Ela deu de ombros – Mas parece – disse, com desdém.

Meu coração apertou. Como não havia percebido isso antes? Mas não podia permitir. Eu não podia fazer isso com Jean-Pierre, deixá-lo se prender a uma garota como eu, já com um filho de outro garoto, e estragar todo o seu sonhado futuro por nada. Sabia que terei que ser firme e por mais que eu sofresse ou que ele sofresse, precisaria me afastar, para que ele siga o seu caminho e seja feliz longe de mim. Lágrimas rolaram pelos cantos dos meus olhos, que fechei e, vencida pelo cansaço, adormeci.


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