Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 22
O ultimato




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 Charles engasgou com a fumaça do cigarro ao escutar a minha pergunta, começou a tossir até ficar sem folego, então acalmou-se e olhou para mim, surpreso com minha atitude tão inesperada.

— Você deve parar de ficar espiando escondida – provocou, com um sorriso torto e o ar cínico.

— Mas, agora, que eu já ouvi, responda-me, por favor – Fui direta, por alguma razão, não me sentia intimidada junto a ele, apesar de mal nos conhecermos.

— Porque eu acho que você não combina com Harold – respondeu, sem rodeios, olhando direto nos meus olhos.

— Você acha que não estou à altura de ser uma boa esposa para o seu primo? – Fiquei ofendida.

— Não, acho que esteja à altura de se tornar uma boa esposa para qualquer homem de sorte, menos para Harold.

— Como você pode saber, se me conheceu há apenas poucos dias atrás? – Estava confusa. Será que ele não gostava de mim?

— No entanto, conheço Harold a minha vida toda, sei que você nunca será feliz ao lado de uma pessoa como ele – Sua voz é branda, ele se fixa nos meus olhos com aqueles olhos verdes intensos, sinto-me terrivelmente embaraçada, porém não desvio o olhar.

— Por que você conhece algum segredo maquiavélico dele que eu desconheço?

— Não, ele apenas não é a pessoa certa para você, Mary. – Nunca estive em uma situação tão íntima com um homem, nem mesmo com o meu noivo.

Meus olhos estão nos deles, nossos corpos estão tão próximos, que sinto o seu calor e seu cheiro, misturado com tabaco. Meu rosto arde, devo estar corada, meus lábios se entreabrem como se pedindo um beijo, ele segura os meus braços e inclina-se sobre mim. Saboreio seu hálito quente na minha boca, os seus lábios macios, suas mãos mornas e firmes tocando a minha pele. Sei que não deveria, mas não quero parar, enquanto, ele me beijava, de uma forma como nunca fui beijada, todos os meus sentidos estavam em alerta, meu ventre queimava, quando nos afastávamos, eu o encarei, assustada.

— Desculpe-me, sei que não deveria ter feito isso. – Ele fica sem jeito, passa as mãos nos cabelos.

— A culpa não é só sua, eu também colaborei para isso. Não devíamos estar aqui fora, sozinhos – falei e me afastei, andando apressada para a casa.

Quando entrei na sala, os jogos já terminaram, Harold me interrogava com os olhos, em um ato reflexo, passei mão nos cabelos para ajeitá-los, respirei fundo, querendo me acalmar.

— Aonde você estava? – ele me perguntou, sem aparentar muito interesse.

— Harold, há algumas coisas que uma dama não deve explicar – respondi em tom de brincadeira, ele me encarou de modo estranho, como se não acreditasse, mas seria melhor não dar muitas explicações.

— Você viu Charles?

— Não – respondi com dissimulada inocência, para logo depois, Charles entrou na sala e vai direto encher um copo com uísque.

Durante toda a note, eu e ele não trocamos nenhuma palavra, mesmo tentando evitar, por várias vezes, pegava-me olhando de soslaio para ele. Em algumas ocasiões, nossos olhares se cruzam furtivamente e eu o desviava para o chão.

— Você está tão calada a noite toda? – Harold observou.

— Uma mulher que fala pouco pode ser uma benção, caro Harold – Lorde Talbot declarou com aquele seu estranho humor.

Nos dias que se seguiram, evitei o máximo estar com Charles no mesmo recinto, apesar de ser praticamente impossível, pois Harold insistia que o primo participasse de todas as atividades em conjunto, como jogos de tênis, cavalgada, passeios a pé, sem dúvida, era sua companhia preferida e fazia questão da sua presença, mesmo que ele não demonstrasse o mesmo entusiasmo. Por muitas vezes, Charles declinou dos convites, para o desapontamento do meu noivo. Em outras vezes, era eu que recusava. No entanto, nossos encontros, frequentemente, eram inevitáveis, nesse momento, meu coração pesava aflito e tinha que lutar comigo mesma para não o olhar. Desconfiava que estivesse apaixonada. E quando nossos olhares se cruzavam, podia ver o espelho dos meus sentimentos nos dele. Estava cada vez mais confusa, pois como poderia casar-me com um homem se estava completamente enamorada por outro.

Naquela noite, após o jantar, não conseguia permanecer na mesma sala esfumaçada com os demais, que se divertiam jogando bridge, precisava de ar fresco, afastar-me dali, ficar só. Então sai, sorrateiramente, para o meu lugar predileto, onde poderia encontrar um pouco de paz. O meu recanto predileto da casa era no jardim, uma pequena área escondida dos olhos curiosos, mergulhada na penumbra, o ar era fresco e tinha o cheiro de flores, alguns insetos voavam atraídos pelas fracas luzes acesas. Vaguei à esmo pelas áleas, sem me preocupar por onde ia, perdida nos meus pensamentos, quando ouvi passos firmes e apressados atrás de mim, curiosa, voltou-me, para ver Charles se aproximando, caminhando direto na minha direção. Sei o que ele vai fazer, mas não me desvio, na verdade, anseio por isso, quando ele segura pelos braços e me beijou com paixão, sem dizer nada. Quase me desfaço nos seus braços, completamente sem forças. Envolvi sua nuca com minhas mãos, mergulhei meus dedos nos seus cabelos, sentindo seu hálito na minha boca, até que ele me afastou, suavemente.

— Eu sabia que você sentia o mesmo por mim, Mary! – Ele sorriu vitorioso.

— Não devíamos nos beijar assim, Charles! Eu sou noiva do seu primo – rebati, hesitante.

— Mary, acabe com esse noivado. Vamos embora daqui! – ele propôs, eu fiquei chocada e tentada.

— Eu vou me casar – disse, querendo convencer a mim mesma.

— Esse casamento é um erro! Você será infeliz!

— Como você pode saber disso?!

— Por que eu conheço Harold. Além disso, nós dois nos amamos!

— Por favor, Charles, eu preciso de tempo para pensar, pois não posso tomar uma decisão tão importante como essa nos seus braços, não conseguiria.

— Quanto tempo você precisa para saber que me ama, Mary?

— Eu sei que o amo, Charles. Mas, eu sou uma moça compromissada. Irei me casar na primavera.

— Eu não quero pressioná-la, mas eu não ficar aqui vendo você subir no altar com Harold. Eu partirei no fim do verão, terá até esse tempo para decidir-se. Enquanto, isso ... – ele se curvou e me beijou mais uma vez com mais intensidade. – Para ajudá-la a se decidir. – Depois, se afastou com os mesmos passos decididos, com que chegou.

Fiquei paralisada no mesmo lugar, vendo-o sumir na escuridão da noite, pois, se fosse pelo meu coração correria atrás dele e proporia para que fugíssemos naquele instante, para bem longe dali. Porém a minha cabeça era mais precavida, tinha receio de me aventurar com um homem que mal conhecia, deixando todo o futuro que imaginava ao lado do meu noivo para trás. Naquele momento, senti o ar frio da noite me envolver, abracei-me a fim de me aquecer.


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