Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 17
Eu me deixo ser beijada




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— Podemos parar um pouco. Estou me sentindo meio tonta – falo a verdade, essa mistura de dança, vinho e o perfume de Olivier não podia ser muito boa para o meu equilíbrio.

— Quer tomar um pouco de ar? – ele indagou e eu confirmo com a cabeça, assim nos dirigimos para uma varanda aberta, onde estão alguns fumantes. Não sei se é pior a falta de ar ou a fumaça, mas alguns passos a mais estamos em um ponto isolado, longe do cheiro intenso de alcatrão e nicotina, respiro o ar fresco da noite e me sinto melhor.

— Olivier, você não devia ter vindo aqui – repito, em um sussurro. Dentro de mim, há uma contradição entre o que eu falo e o que eu sinto, pois estou feliz por mais aquelas poucas horas ao lado dele.

— Eu tinha que ver você mais uma vez, Gisele. Principalmente, depois de ontem, no meu apartamento.

— Não diga isso. Não aconteceu nada demais lá, só foi um beijo.

Só o melhor beijo de toda a minha vida, contudo não posso falar isso para ele.

— Mas, poderia ter acontecido. Você queria e eu queria – Sua voz é quente e faz a minha determinação derreter.

— Não podemos. Eu sou noiva e vou me casar.

— No entanto, ainda não se casou ainda. Eu não consigo parar de pensar em você. Isso está me enlouquecendo – Não sei o que dizer, não consigo raciocinar direito, pois a mesma coisa está acontecendo comigo, ele não sai mais da minha cabeça.- Posso fazer uma confissão? – perguntou em tom suave.

— Sim – consenti, curiosa.

— Naquela noite, no hotel em Saint-Antoine, quando disse que você tentou me beijar e eu evitei, era mentira porque eu a beijei e foi a melhor coisa que havia me acontecido nesses últimos tempos.

Continuei calada, simplesmente, olhei direto para ele, pois eu já sabia disso, não era um sonho, aquele primeiro beijo intenso e profundo, tinha sido real.

Entretanto, ele não quer resposta, inclina-se sobre mim, segura meu rosto entre suas mãos e me beija mais uma vez. Eu me deixo ser beijada, sem resistência, suas mãos descem e envolvem minha cintura e as minhas o pescoço dele e nos beijamos e beijamos com a urgência das despidas.

— Vamos embora daqui – ele pediu, junto a minha boca.

— Não posso – estava dividida entre o dever e o desejo.

— Meu carro está lá embaixo. Vamos para um lugar onde podemos ficar sozinhos. Só quero ficar junto a você um pouco mais. – Ele me tentou.

— Sim – sussurrei junto ao seu pescoço.

Então, ele segurou a minha mão e me puxa através do salão, desviando dos outros convidados. Não olho para o lado ou para trás, só para o homem a minha frente, até ganharmos a saída do hotel. Meu coração bate forte, minhas ideias rodam dentro da minha cabeça, sei que não deveria estar ali, ao lado dele, parada, na calçada, no cair da noite, mas estou pronta para entrar no carro, que chega, e partir para algum lugar que desconheço.

Dentro carro, em silêncio, ele segurou a minha mão e beijou as pontas dos meus dedos. Esse simples gesto fez com que eu me arrepie toda e meu coração acelerou ainda mais.

— Para onde estamos indo? – queria saber, enquanto o carro singrava as ruas, passando pelas construções modernas e antigas, sem me importar, consciente da loucura que estava fazendo.

— Para onde poderemos ficar sozinhos.

Vamos para o apartamento dele, estava nervosa e agitada, não sabia como agir, porém, ele não me deixava pensar muito, me abraçava. Suas mãos deslizavam por minhas costas, puxando me contra ele. Senti seu corpo contra meu, sua boca na minha, seu hálito contra a minha pele, suas mãos passeavam pelas minhas costas, parei de pensar durante o resto da noite, envolvida nas danças de pernas e braços, bocas vorazes, mãos ávidas e desejos intensos explodindo em prazer.

No dia seguinte, acordei com a claridade da manhã entrando pelas grandes janelas do quarto, abri os olhos e não precisei virar-me para sentir que ele está ao meu lado na cama, pois notei sua presença, o calor que seu corpo emana. Tentei levantar, mas seu braço me evolveu e me puxou contra si. Notei seu corpo nu contra o meu, com uma intimidade que nunca senti antes, enquanto ele beijava a curva do meu pescoço, então, transamos outra vez com calma.

Acho que poderia passar o dia, a semana, o mês, a vida junto a ele, assim, naquela cama, naquele apartamento, naquela cidade. Nesse momento, percebi que eu estou apaixonada e fiquei apavorada. Não, isso não podia ter acontecido! Não podia me apaixonar um completo estranho, alguém que mal conheço, que não sei o que senti em relação a mim. Um homem que traz na bagagem a culpa de ter abandonado seu primeiro amor e o seu próprio filho. Não posso competir com uma lembrança, já que com o tempo, ela se torna mais e mais perfeita, bem diferente de uma pessoa de carne e osso, que a cada dia de convivência demonstra suas naturais imperfeições. Além disso, há Samuel, o meu noivo, o homem que me pediu em casamento, com o anel que agora jaz na mesinha ao lado da cama, e com quem planejava uma vida juntos, e minha família, minha carreira, existe um oceano imenso entre nós dois. Apesar de toda essa reflexão, continuou dividida em ficar e partir, quando meus olhos pousam em algo que não havia percebido antes no calor da paixão, na parede ao meu lado, há um desenho emoldurado de um belo rapaz de olhar sonhador que reconheço ser o jovem Olivier, que acompanha o meu olhar.

— Sou eu – Como sempre, ele responde à pergunta não feita. – Sarah desenhou.

 - Preciso ir! - disse, levantando como se despertasse de um sonho e trombasse com a realidade.

— Por quê? – Ele me olhou, confuso.

— Tenho que arrumar minhas coisas, meu voo parte hoje à noite – comuniquei, vejo a decepção nos seus olhos, mas sei que será melhor assim.

— Mas, já tão cedo? Pensei que poderia ficar por mais um tempo – ele insistiu, tenho que ser forte para não ceder.

— Não, preciso ir – Levantei-me e comecei a pegar minhas roupas espalhadas em uma trilha que vai da sala para o quarto, tal qual uma versão moderna da garotinha Maria da história infantil. Corri para o banheiro, observo meu rosto, a maquiagem destruída, deixaram pesados círculos escuros sob meus olhos. Tento tirá-los da melhor maneira que consigo, não ficou muito bom, mas terá que servir. Eu me vestir apressada, sabia que o vestido esvoaçante e comprido não condiz com aquela hora da manhã. Sai do banheiro, pronta.

— Eu levo você – Ele afastou o lençol e se saiu da cama.

Sei que devia dizer que não precisava, que pegaria um táxi, no entanto, queria aqueles últimos minutos ao lado dele. Meus olhos eram atraídos por seu corpo nu, tive que lutar comigo mesma, para desviar o olhar, enquanto ele abre o armário tira de lá, um jeans e uma camisa se arruma rapidamente, sempre de olho em mim, talvez, com medo que eu fugisse. Passa a mão pelos cabelos para ajeitá-los. Eu um último ato simbólico, peguei o meu anel sobre a mesa e o recoloquei no meu dedo.

Voltamos para o meu hotel em silêncio, meu peito doía, tamanho era a angústia por nunca mais vê-lo outra vez, e nos despedimos com um terno beijo no rosto.

— Desculpe-me, Olivier. Mas, eu cometi um erro, não desviamos ter feito...  Você sabe? – falei, em voz baixa.

— Não devíamos.

— Adeus, Olivier – Sai do carro. 

— Adeus, Gisele – Ouço ele falar, mas não me voltei, só quando ele partiu sem olhar para trás, virei para ver o seu carro se afastar até sumir na próxima esquina.

Assim que eu voltei para o meu quarto, arrumei minhas malas e vim correndo para o aeroporto, esperar a hora da partida do meu voo, com medo de mim mesma, precisava ir embora, esquecer tudo aquilo.

— Para não mudar de ideia – a senhora ao meu lado completou, com um sorriso benevolente no rosto, confirmei com a cabeça.

— Agora, a senhora, entende porque tenho que ir embora, fugir o mais rápido possível daqui. Não posso abrir mão de tudo por uma paixão desmedida. Nem tão posso competir com um fantasma, com a lembrança perfeita de uma mulher morta, da qual nunca estarei à altura. Eu preciso esquecer esse homem.

— Por favor, querida, nada de senhora, me chame apenas de Mary.  Eu entendo sua dúvida, querida Gisele. Mas, também, não se pode viver o resto da vida imaginando como teria sido, se seguisse o seu coração e se arriscasse. Além do mais, lembranças são péssimas companhias, não nos aquecer na cama nas noites frias – ela declarou olhei para as grandes janelas do aeroporto, para ver que a chuva diminuiu de intensidade, porém, ainda continuava forte e os raios rasgavam o céu. O painel de controle ainda indicava que todos os voos estavam atrasados.

— Ainda teremos uma longa espera pela frente – Mary disse, acompanhando o meu olhar através das janelas. – Então, agora, serei eu que lhe contarei a minha história – Fitei seu rosto com interesse, quando ela dá um sorriso travesso. – Sim, eu também fui bonita e jovem, como você é agora, e vivi a minha grande história de amor, querida.


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Notas finais do capítulo

Oi,
Está percebendo uma mudança nos capítulos?
É porque o capítulo 10 não havia sido publicado, eu percebi agora e corrigir. Se quiser, dê uma olhadinha nele.
Desculpe. Beijos.



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