Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 14
Um jogo perigoso




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Logo após o término do jantar pré-nupcial, o grupo de convidados ganhou a rua se despedindo, cada um tomando seu rumo. Luana perguntou se eu queria uma carona até o meu hotel. Digo que não é necessário, não queria incomodá-los, principalmente, nessa noite. Então, ela me lembrou que preciso chegar cedo para me aprontar para a cerimônia, na qual serei uma das damas de honras, sem desviar os olhos de Olivier, parado ao meu lado, quase como uma advertência.

Alguns minutos depois, vejo-me sozinha com Olivier, no meio de uma rua de Londres, e não queria me despedir.

— Quer andar um pouco? – ele me perguntou, com gentileza. Eu o encarei, preocupada. – É seguro – completou, não sei em qual sentindo. Mesmo assim, confirmei com a cabeça e damos o primeiro passo noite a dentro.

Andamos pelas calçadas regulares, ladeadas por prédios baixos e antigos.

— É uma bonita cidade – afirmo.

— Eu gosto daqui. É o que mais se aproxima de um lar para mim – ele confessou.

— Você já viajou muito? – Estava curiosa sobre a vida daquele homem andando ao meu lado, com as mãos nos bolsos.

— Sim, desde muito jovem, por causa do trabalho do meu pai.

— Por isso foi morar na França? -  perguntei, mesmo imaginando a resposta, ele nega com a cabeça.

— Nessa época, eu só queria me afastar dos meus pais, já que era difícil conviver com eles. Fui com a desculpa de aprimorar meu francês.

— E foi bom para você, todas essas viagens?

— Não, quando se é um muito jovem, essas mudanças me deixavam inseguro, não criava vínculos, até conhecer Sarah. – Relembrou seu amor do passado mais uma vez, percebi que tenho um certo ciúme do que ele sentia por ela. - Ela mudou minha vida em muitos sentidos. E você e seu noivo?

— O que que tem?

— Ele mudou sua vida?

— Com assim? – indaguei, confusa pelo atrevimento dele.

— Ele seria o grande amor da sua vida? 

Reflito por alguns segundos.

— Sim, ele é o grande amor da minha vida. E tenho certeza, que será um bom marido e pai para nossos filhos – respondi, sem muita segurança, Olivier me observou pelos cantos dos olhos, descrente da minha afirmação. Isso me deixou enfurecida, pois de algum modo, sei que ele estava certo.

— Isso basta?

— Não deve bastar? O que devemos esperar da vida, um amor arrebatador, que nos tire do sério e nos leve a loucura?

— Seria uma boa possibilidade.

— Contudo, seria quase impossível conciliar esse tipo de amor com um futuro seguro e promissor – rebati.

— Por que não?

— Porque seria bastante improvável, um amor como esse durar para sempre.

— E quem quer o para sempre, se podemos viver intensamente alguns minutos, horas ou meses.

— Eu quero o para sempre! – falei, enfática. – Quero estar segura ao lado do homem que amo, sem sobressaltos ou medo que amanhã ele deixe de me amar.

— Todo mundo quer, no entanto, ninguém está seguro quanto a isso, não podemos controlar os nossos sentimentos ou muito menos os alheios. Veja a literatura e as músicas estão cheias de amores não correspondidos e desilusões.

— O que isso? Alguma espécie de sessão de psicanalise? – conclui, furiosa pelo rumo que aquela conversa está levando, não temos nenhuma intimidade para discutir minha vida amorosa e minhas decisões quanto ao casamento.

 Naquele momento, na nossa frente, o horizonte se abre, mesmo no escuro, vejo o rio Tâmisa, e suas embarcações, a enorme roda-gigante iluminada mais adiante. Passamos a caminhar acompanhando sua margem, meu vestido fino não é o bastante para a brisa fresca, que me deixa arrepiada, abraço-me para aquecer-me, Olivier percebe, despe o paletó e joga sobre meus ombros.

— Obrigada – disse, aconchegando-me, sinto seu perfume e o calor do seu corpo.

— Podemos encontrar um lugar aquecido – ele sugeriu, mas a noite estava aprazível, o lugar era lindo e não queria ir para nenhum local cheio e barulhento, tipo um pub.

— Prefiro continuar andando se não se importa, está agradável aqui – pedi e ele concordou com a cabeça. - Por que veio tão rápido trazer o meu anel?

— Achei que ficaria bastante preocupada, e como tinha que retorna a Londres, só adiantei a viagem.

— Obrigada, eu fiquei realmente preocupada, tentei ligar, mas caiu na caixa postal.

— Devia estar no avião, depois passei em casa para deixar minha bagagem, tentei ligar, mas você não atendia, pensei que fosse pelo o que aconteceu nessa tarde.

— Meu telefone estava descarregado, por isso, deixei no meu quarto no hotel.

Queria continuar andando ao lado de Olivier a noite toda, mas meus pés, dentro das sandálias de salto alto, tinham uma outra opinião, eu necessitava parar um pouco, entretanto, insisti em prosseguir, começo a tropegar.

— Tem certeza que não quer se sentar um pouco? – ele quis saber, estava dividida quanto a reposta. – Eu tenho uma proposta a fazer, sei que pode não aprovar – Eu o interroguei com o olhar. – Meu apartamento fica aqui perto. – Devia ter feito uma cara de espanto. – Não se preocupe, serei um completo cavalheiro – diz com um ar travesso. E, mesmo sabendo que não deveria, aceitei o convite.

Andamos mais alguns quarteirões, a todo momento pensando em dar meia volta e retornar para o meu hotel, mas não fiz isso, apenas segui em frente, até chegarmos a um desses edifícios modernos, que contrastava com as construções mais antigas, entramos no elevador e fiquei me perguntando qual seria sua profissão, pois nunca falamos sobre isso e morar em um lugar como aquele deveria ser bem caro.

— Eu moro aqui, há pouco tempo, ainda estou me adaptando, esse apartamento é da empresa. Sou consultor de negócios – ele explicou, odeio essa maneira que ele parece ler meus pensamentos, mas, apenas, sacudi a cabeça concordando, enquanto abria a porta e me dava passagem, para o lugar mergulhando na penumbra.

Diante de mim, gigantescas janelas, tal qual vitrines, mostra o rio e as luzes da cidade. Vou direto até lá, admiro, boquiaberta, a paisagem através delas, ele gentilmente não acendeu as luzes para não acabar com o encanto.

— A vista é linda! – disse, com sincero entusiasmo.

— Sim, é mesmo – percebi um certo tom de indiferença, quando ele parou ao meu lado – Bebe alguma coisa. Tenho uísque, conhaque, vinho.

— Só água, por favor – queria ficar bem lúcida, consciente que não deveria estar ali, ele me deu um sorriso cínico.

— Sua inofensiva água – Olivier me entregou o copo de água gelada, notei um certo sarcasmo na sua voz, e eu me sentei no sofá de couro preto, as luzes da sala ainda estavam apagadas, mas a luzes lá de fora, que entravam pelas janelas, davam um certo ar fantasmagórico ao lugar. Ele também se sentou ao meu lado, em uma distância segura, tinha um copo com uísque na mão e jogou a cabeça para trás, apoiando-se no encosto. – É bom relaxar um pouco, depois de tudo que aconteceu nesses últimos dias.

— Nem me diga – completei, tomando um gole de água, que desceu refrescante.

— Você me deixa assim, relaxado. Não precisamos de joguinhos ou subterfúgios de conquista – continuou.

O que ele quer dizer com isso? Não sei se devo ficar ofendida por ele não ter nenhum tipo de atração por mim, aquilo me perturbou bastante.

— Como assim? – De repente, vejo-me perguntando, sem disfarçar minha irritação.


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