Histórias Cruzadas escrita por calivillas


Capítulo 12
O que está acontecendo comigo afinal?




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Durante o resto do trajeto, com o suave chacoalhar do trem, Olivier e eu mantivemos uma conversar mais amena e educada sobre fatos do dia a dia, não falamos mais nada comprometedor ou pessoal. Olhei para o meu relógio, faço as contas de cabeça, fico satisfeita, pois, se tudo der certo, chegarei a Londres a tempo para participar do último jantar, antes do casamento amanhã de manhã.

 - Você chegará a tempo – Olivier confirma, mais uma vez, adivinhando meus pensamentos, aquilo já está ficando muito desagradável. Felizmente, em pouco tempo diremos adeus e cada um irá para o seu lado. Mas, eu não sei porque aquela ideia me deixou um tanto melancólica.

— Se tudo ter certo... não estou tendo muita sorte ultimamente.

— O que pode dar errado? – ele perguntou e, nesse instante, lentamente, o trem vai reduzindo a velocidade até parar por completo. Fico assustada, imaginando o que teria acontecido. Em resposta, o alto-falante comunicou algo que não entendi, ouço exclamações de raiva e surpresa e alguns palavrões a minha volta, Olivier me olha desolado e me informa. – Há uma interrupção na linha.

— Algo grave? – Fiquei agitada, com medo de não conseguir chegar a tempo para o jantar de hoje à noite.

— Não. – Ele se esforça para segurar o riso. – Há uma vaca na linha. – E começa a rir sem parar, me deixando ainda mais irritada.

— Uma vaca?! – Não posso acreditar, estou desolada, ele olhou para minha expressão aborrecida e parou de rir. – Como uma vaca foi parar na linha de trem?

— Essa é uma zona rural, ela deve ter escapado de alguma propriedade aqui perto – explicou com a voz mais firme que conseguiu.

— Então, por que não tiram essa vaca do caminho? – falei um pouco alto e com raiva demais, uma senhora ao nosso lado me olhou assustada.

— Estão tentando, mas parece que é uma vaca muito teimosa.

Uma hora depois, ainda estávamos lá, sem sair do lugar, já considerava mandar mais uma mensagem para minha amiga dizendo que chegaria atrasada no seu jantar, quando de repente, o trem voltou a se mover. Gritos de alegria e alivio foram ouvidos, tudo parecia que ia dar certo agora. Relaxei até chegarmos a Paris, já no começo da tarde, pegamos um táxi da estação para o hotel dele, dessa vez, sem desvios.

Estava com fome, pois mal toquei no meu café da manhã e tinha muita sede por causa da ressaca por ontem à noite, mas sabia que não teria muito tempo para comer.

— Você não quer comer alguma coisa? Eu estou com fome – Mais uma vez, ele conhecia os meus pensamentos. – O restaurante do hotel é excelente.

Sabia que não deveria, precisava pegar minha mala e meu anel e ir embora, sem olhar para trás.

— Sim, também, estou com fome – aceitei o convite.

Agora, estamos sentados no restaurante com algumas mesas ocupadas, cujas grandes janelas nos mostram a praça e vida lá fora, sei que deveria ter partido. Por que estava lá e não indo embora? Mas, estava perdida em pensamentos, observando sua boca se mover, explicando-me os pratos do cardápio.

— Então, o que vai querer? – Olivier perguntou, finalmente.

— Ah! O quê? – Voltei a realidade. Não me lembrava de nada do que ele disse, escolhi qualquer coisa para ele não perceber minha distração.

O almoço estava excelente e se arrastou por mais tempo que deveria, para a minha segurança, só bebi água mineral, mas não parávamos de falar, olhei para o relógio novamente, precisava ir.

— Está na hora – ele avisou, em tom sério. - É melhor pegarmos a sua mala.

Concordei com a cabeça. Ele pede para pôr a conta na despesa do hotel, apesar de eu insistir em dividir.

— É o mínimo que podia fazer depois de arrastá-la nessa viagem insólita – admitiu, com cortesia, enquanto saíamos do restaurante e entrávamos no elevador, onde ficamos em silêncio. 

Sentia-me estranhamente triste pelo iminente adeus, sem entender o porquê, pois não concordávamos com nada desde que nos conhecemos, ele me deixando sempre brava e exaltada, como jamais ninguém fez antes.

Olivier abriu a porta do seu quarto e entrou, eu esperei do lado de fora, não querendo ultrapassar os limites da sua vida. Acho que ele entendeu, foi até um canto do quarto, pegou minha mala e me entregou.

— Aqui está! É o fim da sua aventura.

— Obrigada. Não esqueça de pegar a sua mala no guarda-volumes.

— Pode deixar, não vou esquecer.

 Durante o diálogo, percebi que estávamos bem próximos, a somente alguns centímetros um dos outros, nossas vozes saíram quase em um sussurro, meus olhos fitavam os deles. Não consegui desviar, quando ele se aproximou ainda mais, nossos lábios se roçaram, em um beijo suave, quase uma carícia. Apertei mais minha boca contra dele, não posso me separar, até que uma porta do corredor bateu e nos afastávamos depressa.

— Preciso ir, agora! – exclamei, ao perceber o que acabamos de fazer e sai correndo, sem olhar para trás, mesmo quando ele chamou pelo meu nome.

Cheguei ao elevador, corri pela recepção, entrei em um táxi parado na frente do hotel. Só me senti segura, novamente, quando ganhei distância, sem conseguir ver a cidade passando por mim, pois minha visão estava embaçada pelas lágrimas que insistem em cair. Não me recordo muito bem como cheguei no aeroporto, comprei a passagem e entrei naquele avião, tudo se passou em um turbilhão e, em alguns minutos depois, estava colocando os pés em solo londrino, sentia-me mais segura e salva. No entanto, uma sensação esquisita, como um vazio, assolava o meu peito. O que estava acontecendo comigo afinal?

Minha primeira ação foi mandar uma mensagem para a minha amiga Luana informando que cheguei e estava tudo certo para o jantar de hoje à noite. Depois, telefonei para o meu noivo Samuel, com o coração pesado pela culpa.

— Oi! – falei, com exagerada animação, logo que atendeu.

— Oi, Gisele. Tudo bem? – Seu tom é meio desconfiado, sério e baixo.

— Sim, só estava com saudades – disse, mantendo um tom falsamente alegre.

— Eu também estou com saudades – Sua voz é controlada, deve haver alguém junto a ele, por isso contêm suas emoções. – Gisele, estou no meio de uma reunião, preciso desligar.

— Tudo bem – Sentia-me um tanto perdida. – Então, até mais. Um beijo.

— Até mais, Gisele – desligou.

Respirei fundo, encarando o aparelho na minha mão. Peguei o trem de volta para o meu hotel, arrastando a mala causadora de toda aquela confusão atrás de mim.

Finalmente, depois de uma longa jornada, que tenho que reconhecer, um tanto perturbadora, estou de volta ao meu quarto de hotel, atirei-me sobre a cama e, pela primeira vez no dia, sinto um pouco de paz. Porém, olhei para o relógio, não tinha tempo para relaxar, senão me atrasaria para o jantar, por isso precisava me arrumar urgentemente.

Corri para o banheiro, tomei um banho, peguei o meu vestido, que deixei pendurado no armário, verifico que não está muito amarrotado, me arrumo correndo, faço minha maquiagem, ajeito meu cabelo, por fim, confiro meu visual no espelho, até que para alguém que tomou um porre ontem não está mal. Agora, só falta um detalhe, não tão pequeno assim, peguei a mala de mão, coloco sobre a cama e a abro. Percebi que seu conteúdo estava um tanto remexido, mas Olivier falou que procurou pelo nome da proprietária, então, comecei a buscar a caixa de veludo preto do meu anel, levantei as roupas uma a uma, não a encontro. Repito a operação e nada. Até que desesperada, virei o conteúdo da mala sobre a cama e procuro, meu anel não estava lá, passo a mão na cabeça, tenho vontade de chorar, pois nem imagino o que possa ter acontecido.


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Notas finais do capítulo

Notas finais do capítulo
Oi,
Está percebendo uma mudança nos capítulos?
É porque o capítulo 10 não havia sido publicado, eu percebi agora e corrigir. Se quiser, dê uma olhadinha nele.
Desculpe. Beijos.



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