[Antes de tudo e qualquer coisa, eu gostaria de lhes pedir um mínimo favor. 

Abracem seus pais hoje. Mostrem uma música, falem do livro que estão lendo. 

Olhem nos olhos deles. 

Façam isso hoje, se eles estiverem aí do seu lado. 

Façam não só hoje, mas todos os dias. 

E não só seus pais. 

Abracem seus tios, seus avôs e avós de ambos lados da família. Irmãos mais velhos, primos de segundo grau, o cachorro, o gato. 

Todos. Apenas os aproveitem. 

Enquanto estão por aí. 

Por favor, sim?] 

    Bom, este é para ser um texto de lamentações. Estou sim, muito triste. Não me faltaram lágrimas ou soluços esta tarde. Sei que meu cérebro não entendeu ainda o que aconteceu e, em algum momento, isso vai me atingir como a verdade sempre faz e sempre fez (Com um direto e um cruzado, bem no meio da fuça). Mas apanhar da verdade é um Bullying com o qual temos que lidar, e, tardiamente, fazer as pazes (mesmo que à contragosto); 

    No fim das contas, a morte não é de maneira alguma um "ponto final". Muitos se enganam sobre isso. Não existe um fim para uma vida. Nunca existiu. 

    Batimentos cardíacos param, sim. 

    Respirações pausam, claro. 

    Mas a sua vida não se resume a neurônios e sangue, concorda? Você é muito mais que isso. Você é um chá gelado numa chuva de São Paulo, dentro do apartamento sem luz com a sua família. É um bichinho de pelúcia que doou ao exército da salvação quando tinha seis anos ou, aquela nota alta que conseguiu depois de muitas sofridas tardes estudando. Nós somos os que fazemos. O que deixamos por aqui. Meu pai não acabou. Ele não respira mais, mas ainda vive. Ele ainda é as coisas que me ensinou todo esse tempo. "Ele se foi, mas ainda estará em nossos corações" - uma pinóia.

    Corações bombeiam sangue. Corações param de bater. Mas lembranças, sorrisos e chimarrão? 

    Eles nunca cessam 

    E não pense que este texto vai acabar em um ponto, amigo Porque assim como a morte de meu pai

    Este texto é uma vírgula 

    Uma dolorosa, bela, intensa e magnífica vírgula 

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