STEY escrita por S Nostromo


Capítulo 1
Subentendido


Notas iniciais do capítulo

Espero que tenha dado pra entender a mensagem que eu quis passar



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Começava a amanhecer, mas eu já estava pronto para mais um dia no inferno de adolescentes, conhecido como escola. Joguei a mochila nas costas e parti.

No ponto de ônibus eu ficava longe dos outros estudantes. Todo mundo me conhecia na escola, ninguém de mim. Eu era motivo de chacota e constantes humilhações por praticamente todos que estudavam comigo. Ao subir no transporte, sempre sentava perto do motorista. Ele não gostava de brigas, então ninguém poderia mexer comigo ali dentro.

Enquanto prédios passavam diante dos meus olhos, fiquei pensando como daria uma desculpa de que meus pais não puderam assinar uma advertência. Eu não podia mostrar aquilo para os meus pais, iam me chamar de lixo, burro, que eu deveria ser como meu irmão mais velho. Tudo isso porque ele tem um emprego atrás de um balcão de uma loja de conveniência. Ele mal aparece em casa. Um dia tentei contar a ele sobre uma das infinitas coisas ruins que me acontecem na escola, ele mal ouviu. Já os professores sempre me viam como vítima, alegando que eu devia ter feito algo errado para ter apanhado ou ter minha cabeça era mergulhada no vaso sanitário. Ou diziam que iam falar com os outros alunos, e meus pedidos de ajuda e reclamações iam para o limbo.

Mesmo odiando a escola, era melhor do que ficar em casa, que é uma herança que minha mãe ganhou. Meu pai é um ladrão, vendedor de drogas e várias coisas ruins. Minha mãe não se importa que ele esconda estranhos em casa, que quebre coisas, que xingue a mim ou até mesmo bata nela, desde que traga um maço de cigarros e cerveja, para ela está tudo bem.

O ônibus sacolejava, meus olhos pareciam inchados e ardiam. Não pelo sono, mas porque havia chorado. Estava tão cansado da vida... Entramos em um túnel. Achei estranho, porque não havia túneis na cidade. Tudo ficou um breu. Então no banco, do meu lado, uma luz azul acendeu. Assustei e caí para o lado. Uma criatura estranha estava sentada ali. Corpo de mulher, cabeça de holofote. Virou para mim, protegi os olhos da luz azul.

— Sinto muito – ela disse, abaixando a cabeça-holofote.

Então pude ver melhor seu corpo: não tinha um braço e as pernas iam afinando até se tornar um par de pregos. Ouvi ruídos metálicos atrás de mim. Era outro, esse parecia um homem, era alto e andava muito curvado para caber no ônibus. Os braços eram mais compridos ainda e arrastavam pelo chão, os pés eram quadrados e metal. A cabeça também era um holofote, mas a luz era roxa.

— Não se assuste – ele disse. – Eu sou o Med.

— E eu sou a Tris – disse a cabeça de holofote azul.

— E o que querem?

— Tirar você daqui – disse Tris, me iluminando de azul.

Estava totalmente escuro, eu só enxergava nas direções que Tris e Med olhavam, embora não entendesse como podiam ver ou falar se suas cabeças eram apenas uma lâmpada.

— Existem diversos caminhos para acabar com este mundo escuro – comentou Tris. – O topo dos prédios, algumas farmácias, até a delegacia.

Med apontou para um lado, sugerindo um prédio, mas sua luz roxa não alcançava. Concordei. Seguimos os três pelas ruas. Estava tudo abandonado, o único som eram os passos metálicos de Tris e Med.

— Onde foi parar todo mundo?

— Não sabemos – disse Tris. – Mas vamos te ajudar e tudo vai terminar bem.

— Exceto se encontrarmos Esper.

Tris parou e apontou sua luz azul para Med, estava olhando para ele. Med retribuiu. Não havia olhos ou expressos, eram dois holofotes apontados um para o outro. O que estariam pensando? Ficaram imóveis, o que começou a me assustar.

— Gente?

— Desculpe – disse Tris. – Med tem razão, Esper é perigosa.

— E como sabem que ela tá por aqui? – perguntei.

Uma luz branca iluminous nós três e depois sumiu.

— Falando no Diabo – disse Tris.

Corremos entre os carros da rua, Med arrastando seus longos braços pelo chão e Tris causando um som diferente com seus pés de prego no asfalto. A luz branca aparecia em forma de vulto, as vezes entre uma janela de um pequeno prédio, ou por baixo de um carro.

Em certo momento parei para olhar para trás. Preto. Não podia ver nem a um palmo de distância. Então surgiu uma luz branca, espantando toda a escuridão, dando forma a carros e postes. Branco, a mistura das cores, a mistura de Tris, Med e todas as outras coisas.

— Dom? – ouvi as vozes de Tris e Med me chamarem.

Ao olhar para frente, já não estava mais na rua, e sim no prédio em que queriamos chegar. Estava no topo, na beirada. Tris estava ao meu lado e Med do outro, ambos davam cor ao meu rosto ao olhar para mim. Olhei para trás mais uma vez e finalmente vi Esper. Tinha traços femininos, alta, muito magra, não tinha cabeça, uma das mãos era o holofote.

— Basta pular – disse Tris, me puxando a atenção, – e tudo acabará, querido.

— Estaremos com você – confortou Med.

— Não! – gritou Esper. – Não faça isso.

A escuridão dava a impressão de ser uma queda livre.

— Existem tantas outras saídas... – ouvi Esper dizer.

— Não, não tem – disse Tris, para mim.

Tris e Med diziam que aquela era a saída e que tudo terminaria. Esper dizia que havia outros meios bem melhores.

— Parece o caminho mais fácil, mas também é muito doloroso. Venha comigo, por favor – Esper disse.

— Não confie nela, fomos nós quem o ajudamos – rebateu Tris.

— Estivemos sempre ao lado, e estaremos até o fim – continuou Med.

— Você me abandonou – disse Esper.

Olhei para ela mais uma vez.

— Mas eu continuo aqui, sempre vou estar aqui para você, Dom. Venha comigo, você não vai se arrepender. Eu prometo.

Ninguém se importava comigo, Tris e Med pareciam me entender muito bem, poderia confiar neles e saltar do prédio e acabar com aquele mundo. As palavras de Esper eram boas, mas não eram o suficiente. Queria segurar nas mãos de Tris e Med, e juntos partiríamos de uma vez por todas. Fechei os olhos e respirei fundo. Dei um único passo. Não caí em uma queda livre, porque no último segundo decidi ouvir Esper. Caminhei em sua direção. As luzes de Tris e Med foram sumindo, não olhei para trás. Segurei na mão normal de Esper. Toda a escuridão começou a se dissipar. Era estranho, mas com Esper ao meu lado, eu sentia que podia superar tudo.


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