O Diário do Padre Thomas escrita por Wilmar Oliveira


Capítulo 9
25 de Outubro, 2003


Notas iniciais do capítulo

Thomas terá uma noite de provação... Seria ele capaz de vencer as tentações da carne?



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Um homem pregava a primeira mulher na cruz. Ela gritava, não queria ser a oferenda. Enquanto as pessoas seguravam a segunda, uma garotinha de uns dez anos que chorava em desespero. As pessoas gritavam um nome, acredito que era o de Sasha, mas o barulho infernal do lugar deixava tudo confuso. Olhei para trás, William me segurou pelo pescoço, senti uma falta de ar extrema. Ele então chegou o rosto perto do meu e com um sorriso disse: _Bú.

Acordei cheio de suor na madrugada, estava todo molhado. Fui até a cozinha, bebi um copo enorme de água e voltei para o quarto. Consegui ainda dormir mais um bom tempo, mal sabia eu que esse descanso seria necessário para um dia turbulento e cheio de surpresas como hoje.

Pela manhã eu saí bem cedo, quase correndo. Quando fui interrompido por minha vizinha.

—Onde vai com tanta pressa padre?

—Preciso pesquisar algo na internet, procurarei uma lan house.

—Se quiser meu notebook emprestado, a internet com certeza chega até ao seu apartamento.

Fiquei meio sem jeito em aceitar a oferta. Tentei dar uma desculpa qualquer mas ela insistiu, disse que se sentia feliz em ajudar um amigo. Eu prontamente aceitei a oferta, fui junto com ela até o apartamento. Esperei do lado de fora, quando ela trouxe um equipamento da cor preta, um notebook. Agradeci pela ajuda que eu estava recebendo e ela com um sorriso no rosto:

—Sempre bom ajudar.

Já no meu apartamento, sentei na mesa da cozinha. Antes de abrir o aparelho para pesquisar, fui preparar algo para comer. Era uma receita especial da mamãe, um tipo de sanduíche com ovo frito, mussarela, presunto e alguns ingredientes especiais que não revelarei. Comecei a chorar repentinamente, lembrando de quando minha mãe me ensinou a criar refeições gostosas. Os pratos que ela me ensinava ficavam uma delícia, mas ela era autoritária. Nunca recebi um elogio dela por nada que eu fizesse, pensando melhor agora. Tudo também tinha de ser do jeito dela, mas de qualquer forma acredito eu que ela me amava.

—Chega! - alguém gritou, sentado na cadeira.

Tomei um susto com o grito. Virei-me e percebi que estava vendo eu mesmo, só que em uma forma diferente e aparentemente bem mais novo. Minha fisionomia estava quase irreconhecível e cadavérica. O que era aquilo afinal? Minha versão putrefada de minha pobre adolescência era algo nojento, tinham larvas nojentas em toda a sua pele junto a um aspecto nojento de bolor e sangue. Em seguida, abaixou a cabeça e começou:

—Ela me controlava, eu não podia ser quem sou. Ela me dominava. Eu não quero ser padre, quero mulheres. Meus filmes com mulheres, ela queimou todos. Isto não é do demônio, isto é lindo. Deve ser lindo meter fundo em uma mulher não é?

Me lembrei de quando minha mãe colocou fogo em umas revistas eróticas da qual eu colecionava. Filmes quebrados e muito ódio no olhar de minha mãe enquanto ela me repreendia por tais objetos escondidos. Fui castigado severamente na época, ainda tenho uma marca nas costas, fruto de uma pancada que minha mãe me deu com um vergalhão. Comecei a nutrir certo ódio por tal lembrança, mas me contive. Percebi que eu estava sozinho ali em minha cozinha, resolvi esquecer tudo e voltar a fazer minha comida junto às lembranças boas.

Quando terminei meu lanche, fui fazer minha pesquisa. O primeiro nome que pesquisei foi o de São Armênio. Descobri coisas fantasticas através deste nome. Achei uma descrição básica em um site e acredito eu que é um resumo de tudo o que encontrei. Nele dizia que São Armênio era um ocultista, que escreveu dezenas de livros que não fizeram muito sucesso. Estes livros eram conhecidos por conterem heresias e fórmulas de bruxaria. O mais importante dele, ficou conhecido como A ciência dos Armenitas, que foi datado como escrito no ano 513 D.C. Alguns sites afirmam que formaram-se seitas e religiões a partir deste conhecimento, mas tudo o que eu encontrei foi muito vago. Tinham algumas fotos do mesmo na internet, parecia ser um velho cansado, barbudo, mas que emanava sabedoria e autoridade, na foto ele segurava um livro na mão direita e a cruz de quatro braços na esquerda.

Procurei também sobre os nomes Sasha e Sara relacionados com os armenitas. Encontrei dezenas de teorias dizendo que Sasha foi o primeiro anjo a matar Lúcifer e tomar seu trono. E Sara seria a primeira filha de Caim, cuja mãe seria Sasha. O primeiro assassino da história tendo uma filha com a imperatriz do inferno deu a luz à protetora dos assassinos. Eu mesmo não pude acreditar no que estava lendo, parecia fantasioso e infantil demais, mas era o que estava escrito ali em um site qualquer.

São Armênio no meu entendimento, acabou sendo como um profeta. E aquele velho com a máscara, quem era? Não consegui entender muito bem, era como se fosse algum tipo de ceifador, não sei ao certo. O único registro que achei sobre ele, falava sobre o pagamento dos pecados, seria ele algum tipo de cobrador?

Alguém bateu à minha porta. Pensei ser a vizinha, mas para minha surpresa era alguém que eu nunca esperaria. Meu tio.

Sentados no sofá da sala, estávamos nós dois tomando café e comendo alguns biscoitos. Eu não queria oferecer o lanche apetitoso que eu fiz, afinal tinha muito pouco. Ele começou um assunto indesejado e saiu em meio a discussão que tivemos. O assunto foi mais ou menos assim:

—Diga-me Thomas, como conseguiu ser padre por todo este tempo?

—É minha vocação tio. Minha mãe me ajudou a enxergar isso.

—Correção, sua mãe te empurrou pra isso. Você realmente fez o que queria? Ou ela chegou a dar alguma importância a isso? Não meu caro, te garanto que hoje era pra você estar casado com aquela garota ruiva da qual você era apaixonado.

—O nome dela era Yuli.

—Que seja. Está vendo, eu estou certo. Seu pai era um cara bom, você devia tê-lo conhecido. Já sua mãe era uma vagabunda.

Eu estressei. Eu realmente estressei ao extremo com aquele último comentário.

—Saia da minha casa agora, por favor tio.

—Agora você está tendo algum poder na palavra sobrinho. Mas antes de sair, deixe-me te dizer algo. Sua mãe não era uma santa como ela dizia ser, ela foi pecadora da mesma forma que seu pai, os dois participavam das reuniões juntos. Quando você cresceu ela se arrependeu e fugiu de seu pai e do culto. Como castigo pelo abandono da esposa seu pai foi ameaçado, você deveria ser trazido de volta. Seu pai pediu para que eu procurasse vocês e tentasse algum acordo para tê-los no culto novamente. Eu não consegui sucesso em minha empreitada e com o tempo seu pai foi torturado e morto. O próprio Delorean veio buscá-lo para pagar o que devia.

Meu tio se levantou, eu estava perturbado e confuso.

—Quem é Delorean? Pagar o que?

—A dívida do culto meu garoto. Agora deixe-me dizer uma coisa. Se vire com tudo o que estiver vindo atrás de você, tudo começará a ficar pior conforme os pecados vão aparecendo.

— O que?

Ele começou a rir, foi até a porta e a abriu rindo às gargalhadas com uma das mãos na barriga. Antes de fechar a porta ele lançou um olhar em minha direção e falou: _Que a grande Sasha possa estar contigo meu rapaz. – enquanto a porta foi se fechando aos poucos.

Que conversa foi essa? – pensei comigo mesmo naquele momento.

Sentei-me no sofá, meu mundo girava. Com a mente esgotada para raciocinar algo, eu resolvi apenas fechar os olhos e cochilar ali mesmo.

O cochilo foi mais um longo descanso, do que um cochilo propriamente dito. Olhei para o relógio na parede, já era noite. Corri desesperado para pegar o notebook e entregar à minha vizinha. Bati à porta da mesma, ninguém veio atender. Porém achei ter ouvido um barulho vindo de dentro, como se alguém me chamasse. Novamente tornei a bater, quando ouvi alguém dizer: _Thomas entre e deixe o notebook na sala, preciso de sua ajuda.

Entrei rapidamente e fiz como a voz pediu. Procurei a mulher na cozinha e nada, bati em seu quarto mas também estava sem sinal de ninguém. Pensei comigo mesmo que aquilo era estranho. Quando fui voltar para ver se estava no banheiro, eu tomei um choque. Minha vizinha estava bem na minha frente totalmente nua. Ela tampou os seis com um braço e a parte de baixo com a outra mão. Ela parecia fingir susto, mas ao mesmo tempo tinha uma risadinha intencional no rosto pensando melhor agora.

Tentei me desculpar por aquilo, eu devia ter entendido errado. Ela passou a agir de uma forma estranhamente natural, quando destampou suas partes íntimas. Fazia tempos que eu não via algo assim, a única coisa que posso dizer é que a mesma tinha cabelos pretos e ondulados, cor de pele morena e dona de um corpo muito bonito. Eu não quero descrever sobre suas partes íntimas, pois isso ainda está me causando dores de cabeça.

Continuando de onde parei, assim que ela destampou suas partes, eu virei meu rosto imediatamente. Ela começou a rir.

—Calma Thomas, não precisa sentir vergonha. Isto é natural, eu preciso de um favor seu.

—Não sei em que eu posso te ajudar. – disse ainda com o rosto virado.

—Eu preciso de um homem, eu quero você Thomas.

Expliquei que eu não podia, que eu deveria sair dali naquele momento. Ela me desafiou a olhar e resistir, mas eu não podia, sei que não podia olhar para aquela mulher sem ter pensamentos pecaminosos. Virei meu rosto para frente enquanto fechei meus olhos, tentei andar com as mãos para frente para me situar. Naquele momento, ela se colocou em minha frente e eu pareci tocar algo confortável. Abri os olhos e lá estava minha mão em um dos seus seios. Me afastei um pouco para trás, eu poderia facilmente dizer que estava horrorizado, mas não foi esse o sentimento. Infelizmente não tenho coragem para dar mais detalhes sobre o que mais aconteceu hoje a noite. Eu pequei gravemente e não sei como reparar minha falta. Eu tive uma noite pecaminosa ao lado de uma mulher que parecia querer se aproveitar de mim. Falando dessa forma eu pareço uma vítima, mas devo me confessar que eu realmente não me sinto como uma.


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