O Preço da Verdade escrita por George L L Gomes


Capítulo 7
Capítulo 07




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Quando Josi, Sérgio e George decidiram sair em busca da única coisa que poderia salvar a vida de Joyce, agiram apenas pela emoção. Não poderiam ver a amiga definhar sem que eles fizessem nada! Contudo, uma vez que estavam novamente dentro da mata daquela serra, sentiram uma vez mais o terror consumir suas mentes e foram inundados com as memórias do que haviam vivido nas últimas horas. Ainda que nunca tivessem desejado, haviam sido tragados para uma realidade sobrenatural a qual não tinha mais volta!

O trio sabia que ciência e religião tentaria explicar tudo aquilo que eles vivenciaram, mas sabiam muito bem qual era verdade e uma vez que a viram, jamais enxergaram o mundo da mesma forma de antes. Enfrentaram até ali mais coisas do que poderiam imaginar e provaram-se capazes de feitos pela pura sobrevivência.

Aquela era a segunda noite do que deveria ser três dias de diversão e confraternização entre amigos, no entanto, já tinham perdido Letícia, não sabiam o paradeiro de Marcos e Joyce estava à beira da morte ou de algo pior. Enquanto caminhavam em passos apressados, tentavam seguir a trilha ao qual o Saci os orientou, pois segundo ele se tivessem sorte evitariam outras criaturas sobrenaturais indesejadas. O que eles menos queriam era ter que fugir de outro lobisomem ou de outra Cuca.

A lua cheia iluminava os passos dos três que andavam bem próximos na tentativa de se sentirem protegidos. Se Josi estivesse certa, já estavam andando a mais de uma hora e deveriam estar perto do final da trilha que os levaria de volta ao local onde a Cuca tinha sido morta por Marcos. A lembrança automaticamente trouxe novamente as imagens do massacre que foi a morte da bruxa e como se conseguisse ler os pensamentos da amiga, George segurou a mão da garota e apertou com carinho. −Vamos acha-lo! Vamos encontrar todos eles. − sussurrou, tentando transmitir um pouco da sua própria confiança para a amiga. Ele sabia bem o quanto ela estava preocupada com o namorado e que se esforçava para se manter forte.

Josi assim como ele tentava se manter otimista, mas não conseguia parar de pensar em tudo que poderia acontecer no futuro próximo! Agora um pouco mais calma a garota percebeu que desde que eles fugiram da caverna da Cuca ela sentia uma sensação estranha dentro do seu peito, que fazia o corpo gelar como se estivesse congelando suas entranhas e mesmo que tentasse com todas as suas forças extinguir aquela sensação, não conseguia evitar o presságio que lhe dizia que as coisas ainda iriam ficar pior!

Tudo aquilo que eles estavam vivendo mudaria por completo suas vidas. Marcos havia virado um lobisomem, uma criatura sobrenatural amaldiçoada, violenta e incontrolável. Joyce poderia se transformar em um espectro que solta gritos e uivos tenebrosos ou em uma bruxa e nada disso lhe parecia um bom futuro.  

Depois de mais alguns minutos de caminhada, os três chegaram ao espaço repleto de rochas onde antes poderia ter existido uma pequena cachoeira, mas que agora talvez devido à época do ano, encontrava-se completamente seca. Todavia, o solo argiloso em alguns pontos e enlameado em outros comprovava que em algum momento houve água naquele local.  −E agora, o que fazemos? − Sérgio perguntou, quebrando o silêncio que já durava certo tempo. A voz do rapaz, mesmo que tenha sido proclamada em um baixo tom, pareceu ecoar pelo local assustando os outros dois que olharam para o garoto com visível repreensão. Sérgio, por outro lado, pareceu não se incomodar.

−Segundo o Saci, a tal criatura, o Bradador, deve surgir nos primeiros minutos da meia-noite. −George respondeu, desejando ter um relógio ou qualquer outro meio de saber com precisão o tempo.

−Acho que não deve demorar muito. − Josi completou, olhando para o céu, guiando−se através das estrelas. Embora tivesse na infância aprendido alguns truques com o avô que era pescador, não se recordava de ter recebido em algum momento tal conhecimento, mas estava segura da informação que acabara de repassar para os amigos.

Não haviam conversado exatamente como fariam para conseguir o fio de cabelo do Bradador, mas sentiam que quando chegasse a hora saberiam como agir. A energia que ligava o grupo e os fazia compreender o outro com uma simples troca de olhar ainda estava presente mesmo que estivessem somente em três agora!

George caminhou pelo local vendo em vários pontos as marcas da batalha que haviam travado ali. Os corpos dos lobos que morderam Joyce jaziam entre algumas pedras, agora mais ressecados do que estavam quando os jovens estiveram ali da última vez e por impulso o garoto os reuniu, agrupando-os em um buraco que foi coberto de terra e pequenas pedras. Josi e Sérgio não questionaram os motivos do amigo, apenas o ajudaram calados! De mãos sujas, o garoto voltou a caminhar pelo local e encontrou próximo a rocha a qual Josi e Joyce ficaram presas o livro da Cuca que ele havia levado de dentro da caverna. Com o calor da batalha ele havia deixando-o cair e esquecera-se dele até aquele instante. Voltou a pegar o objeto e o guardou no saco de pano preso à sua cintura onde estava a água e comida que o Saci havia separado para o trio. Se eles tivessem sucesso e o garoto acreditava que teriam, o livro poderia ser útil para sua prima, afinal, toda bruxa precisa de um livro das sombras! Quem sabe ali no meio daqueles encantamentos Joyce não encontrasse uma cura para a maldição de Marcos.

Estavam quase distraídos quando escutaram o primeiro grito que fez com que calafrios percorressem suas colunas, arrepiando os pelos do corpo e fazendo com que imediatamente o coração atingisse um ritmo acelerado. As lamúrias surgiram antes mesmo de eles avistarem a criatura. O ar ao redor ficou mais pesado e foi difícil manter a respiração regular. O trio sentia que o Bradador estava ali e que ele trouxera o frio junto consigo.

Os três trocaram olhares se perguntando onde exatamente estaria a criatura e Josi foi a primeira a vê-la. −Ali! − gritou e apontou em direção a duas pedras que facilmente poderia ter sido, décadas atrás, uma só e que com a ação da natureza havia aberto uma fenda dividindo-se em duas. Sérgio e George encararam o local, estreitando os olhos, mas nada viram por alguns segundos até que perceberam uma figura flutuante, tremeluzindo. Era quase como se tentassem enxergar com um plástico transparente na frente dos olhos! Contudo, à medida que o Bradador se aproximava deles, gritando incessantemente, tornava-se mais visível sob a luz da lua cheia.

A criatura passou entre os dois garotos e ambos sentiram como se estivessem próximos a um ar-condicionado muito potente, mas não sentiram a mesma ameaça que outrora dominara seus corpos quando estiveram diante do lobisomem e da bruxa. Ainda assim, não executaram qualquer movimento para conseguir o elemento que precisavam.

Josi que estava logo atrás se surpreendeu com o fato de não ter medo da criatura. Em toda a sua vida teve medo de qualquer elemento ligado ao terror e o Bradador encaixava-se perfeitamente nesse contexto. Apresentando-se como uma mulher nua, a criatura tinha um corpo esquelético, coberto apenas por uma fina camada de pele pálida que contrastava com os cabelos longos e negros que esvoaçavam com os movimentos do ser sobrenatural. Os olhos eram apenas dois orbes brilhantes e pareciam enxergar os segredos mais profundos da garota que não conseguia desviar o olhar do Bradador.

Os gritos que cada vez tornavam-se mais altos estranhamente soavam para Josi como um clamor e quando o espectro sobrevoou sua cabeça ela escutou um uivo, como o assobio causado pelo vento. A garota tentou ainda esticar a mão, mas logo que tocou os cabelos do Bradador sentiu o mesmo voltar à forma espectral e foi como se tivesse mergulhado a mão em um balde de gelo. Em instantes os gritos cessaram e os três não viram mais a criatura. A temperatura ainda permaneceu baixa por um tempo, mas logo tudo pareceu voltar à normalidade. −Não está mais aqui! − Josi declarou, olhando para os outros dois que ainda procuravam pela criatura. −Ela já lamentou a morte da Cuca. − ainda que não soubesse explicar, a garota sabia que o Bradado cumprira com o seu dever.

−Como assim? Você conseguiu pegar? Perdemos a chance? − Sérgio disparou as perguntas, olhando espantado para a outra.

−Não consegui. Ela mudou de forma logo que eu a toquei! − explicou, deixando a frustração clara no tom de voz. −Mas, ainda temos uma chance. Ela está indo para a clareira, para o Lobisomem.

George notou que não havia qualquer vestígio de dúvida vindo da melhor amiga e a olhou curioso. A expressão que viu no rosto de Josi o fez compreender que nem mesmo ela entendia como tivera conhecimento daquelas informações, mas estava segura de que estava certa. Ele não duvidaria! −Vamos atrás dela então! − declarou, segurando a mão do namorado, puxando-o na direção em que Josi seguia. Quando passaram pelas pedras onde a Cuca havia sido morta, George percebeu que não havia mais vestígios do corpo da bruxa e isso o preocupou.

Correram pelo meio da mata por dez minutos e sem toda a adrenalina que o perigo os proporciona, o corpo pouco acostumado com a atividade física já se mostrava cansado demais. Os três estavam suados e ofegantes e Sérgio quase não conseguia falar quando decidiu questionar se Josi sabia que direção estava seguindo. −Não estão ouvindo? Eu estou seguindo o assovio do vento que o Bradador faz! − declarou a garota, o que fez o rapaz trocar olhares com o namorado, que acenou com a cabeça sussurrando um “confie nela”.

E de fato ela estava certa. Logo que chegaram ao limite das árvores avistaram a clareira na qual o lobisomem havia sido morto. Do ponto onde estavam já era possível escutar novamente os gritos e uivos do Bradador que chegava a perturbar a cabeça dos dois rapazes. Josi era a única que parecia não se incomodar com a lamúria! Sua face triste mostrava que assim como o ser sobrenatural ela também ressentia a morte daquele ser, ainda que isso tivesse significado a sobrevivência dela própria e dos amigos. −Ele também era apenas um pobre amaldiçoado. − deixou as palavras escaparem.

Os três se entreolharam e souberam o que fazer. Lentamente deixaram o abrigo atrás das árvores e seguiram em passos lentos tentando não chamar a atenção do espectro que flutuava sobre o cadáver do homem lobo, separando-se, tentando cercar a criatura que se manteve alheia a presença do trio que a encarava com total atenção. A cada passo que davam sentiam o frio aumentar e foi Josi quem percebeu uma sutil mudança não no clima, mas na criatura. Os olhos, antes esferas de brilho intenso e amarelado, transformaram-se em dois orbes vermelhos! Quando a menina abriu a boca para alertar os outros dois já era tarde demais, os garotos saltavam na tentativa de capturar a criatura.

Sérgio foi quem mais chegou perto de conseguir, sentiu até os dedos entrelaçarem nos cabelos do Bradador, mas não pôde arrancar nenhum fio já que o espectro mudou para a forma não corpórea. Diferente de antes os três sentiram novamente o estado de alerta, aquele que lhes diziam que eles estavam em perigo! Josi mais uma vez sentiu que algo ruim iria acontecer!

O Bradador partiu na direção dos garotos e com suas garras arranhou o peito de ambos que sentiram a roupa e a pele rasgar como se tivessem sido atingidos por navalhas! O grito de dor dos dois misturou-se com os gritos do espectro que eram agora mais agressivos e fazia com que os três sentissem como se suas cabeças fossem explodir a qualquer momento.

A criatura carregou o corpo do lobisomem que logo desapareceu no meio de uma névoa e logo em seguida voltou a atacar os garotos, mas Josi se colocou na frente deles e antes que as garras da criatura tocassem o seu corpo parou subitamente. Flutuando à frente da menina o Bradador a encarou com os olhos vermelhos e proferiu um grito que pareceu fazer tudo ao redor deles tremer e sumiu como fizera da última vez.

Os dois garotos encararam as costas de Josi que se virou lentamente, olhando-os com preocupação. Não entendia o que havia acabado de acontecer! −Você tá machucada? − George levantou-se, averiguando a amiga de perto.

−Estou bem! − a voz dela estava trêmula, mas não tinha qualquer machucado no corpo. −Ele foi para o açude! Temos que alcançá-lo.

Os três correram agora com mais dificuldade do que antes. O frio aumentava cada vez mais à medida que se aproximavam do açude. Tinham estado lá na noite anterior e no limite daquelas águas eles haviam conseguido livrar-se da Cuca por alguns minutos, mas pagaram um preço muito alto para isso. Não entendiam porque o Bradador havia seguido para aquele lugar já que a criatura somente aparecia em lugares onde sobrenaturais tinham sido mortos, até que avistaram a casa onde encontraram o lobisomem. Imediatamente Josi lembrou-se do cheiro que fizera Joyce ficar para trás quando estiveram ali. −A casa tem vários seres sobrenaturais mortos lá dentro. − a garota falou para os meninos que já não se perguntavam como ela poderia saber daquela informação.

Não demorou muito e novamente eles escutaram os gritos de lamúria do Bradador. A criatura em pouco tempo atravessou as paredes da casa velha e seguiu em direção ás águas iluminada pela luz da lua. A visão teria sido bela se os três não estivessem tão apavorados com a possibilidade de não conseguirem concluir sua missão ou ainda de morrerem tentando. Não precisaram, contudo, atacar o Bradador que logo que se deu conta da presença dos seus perseguidores, voltou a brilhar os olhos em vermelho, fazendo soar por toda a serra o seu grito de fúria. Vendo a transformação da criatura o trio entendeu o que o Saci os havia dito sobre o Bradador não ter uma conduta agressiva até que alguém mexer com ele. Também pudera, qualquer ser ficaria irritado com três pessoas a todo o momento tentando puxar-lhe os cabelos.

−Nós não queremos machucá−lo. − Josi tomou a frente, gritando na tentativa de chamar a atenção da criatura. −Precisamos da sua ajuda! − a menina sabia que a criatura conseguia compreendê-la da mesma forma que os seus gritos de resposta eram entendidos por ela. O Bradador, no entanto, não era uma criatura que gostava de ajudar. Existia unicamente para cumprir com o seu dever com o mundo sobrenatural.

−O que ele disse? − George perguntou, olhando apreensivo para a amiga que parecia mais assustada do que antes.

−Ele disse que não ajudaria assassinos de sobrenaturais como nós e que seu dever era unicamente lamentar mortes e recolher corpos de criaturas para que os humanos não encontrem provas da existência deles. −ainda assim, Josi sabia que havia mais na mensagem da criatura que logo voltou a gritar ameaçadoramente.

O Bradador investiu contra os dois garotos que reagiram contra-atacando. Eles tentaram de todas as formas arrancar ao menos um fio de cabelo da criatura que apenas tomava forma corpórea para lhes ferir o corpo. As tentativas renderam-lhes mais cortes e o espectro parecia ter preferência pelos garotos uma vez que Josi não era atacada e parecia até que o sobrenatural evitava enfrenta-la. −Não sei quanto mais vou aguentar esses gritos! − George declarou tapando os ouvidos com as mãos, sem conseguir qualquer alívio.

O grito invadia os ouvidos e fazia até a alma paralisar de medo. Há muito já estavam cansados e sabiam que o tempo que tinham estava se esgotando. A criatura que agora tinha completa consciência da intenção deles parecia também desejar mata-los e por mais que o trio dedicasse todos os esforços para conseguir o que tinham ido buscar nada parecia funcionar.

−Que merda! Sobrevivemos até agora para morrer por isso?! − Sérgio gritava, olhando assustado para os outros dois ao seu lado, à medida que caminhavam de costas até estarem encurralados pela criatura. Um novo grito estrondou por todos os cantos, fazendo-os se encolherem e esperarem pelo novo ataque. Mais uma vez, Josi sentia que chegava a hora do fim. A garota fechou os olhos e viu claramente o corpo dos amigos estendidos no chão, cobertos de sangue e sentiu como se o chão sob os seus pés desaparecesse.

Abriu os olhos procurando pelos dois ao seu lado e colocou-se à frente deles. Não deixaria que a criatura tirasse mais uma pessoa que ela amava. Já havia perdido muito naqueles dias e não estava disposta a perder mais ninguém. Sentia confiança de que a criatura não a atacaria. No entanto, o Bradador envolveu as mãos no pescoço da garota e a jogou para bem longe! Como se o seu corpo não pesasse nada, Josi sentiu o vento tocar o seu corpo com rapidez e por segundos sentiu a sensação de voar e embora esse seja um sonho da maior parte das pessoas, não era o da garota.

O coração quase lhe sai pela boca quando sentiu a força da gravidade agindo sobre o seu corpo puxando-a para terra, mas o Bradador não pretendia machucá−la! O ataque havia sido consciente e Josi caiu no açude! Pouco a pouco o seu corpo foi afundando, sendo engolido pela gélida água que lhe envolvia como um manto. Ali de baixo escutou o grito dos amigos e o grito do Bradador! Já começava a nadar para superfície quando viu algo que fez seus olhos arregalarem. Logo, ela não escutava mais grito algum!

Sérgio e George viram com completo espanto o Bradador segurar Josi e a arremessa-la longe, logo que a garota se colocou na frente deles. Sabiam que a única maneira de se salvarem seria com ela e logo essa esperança lhes foi tirado. Deram as mãos no momento em que a criatura se aproximou com garras e dentes à mostra, o grito lamuriante proclamando o fim dos dois. Evitaram olhar para o seu carrasco, fixaram os olhos um no outro, trocando palavras de amor, até escutarem o canto.

Por um momento acreditaram que haviam morrido, sem dor e sem sofrimento. A música que invadia os seus ouvidos era doce e encantadora! Alguém cantava uma melodia que no mesmo segundo que escutavam era esquecida, o que alimentava ainda mais a vontade de continuar ouvindo-a eternamente e seguir em sua direção. George sentiu−se familiarizado com aquele timbre, mas não conseguia lembrar-se de onde o conhecia. O Bradador que parou para escutar o canto foi o primeiro a seguir na direção do som, sendo acompanhado pelos dois meninos. Os três caminharam em direção ao açude e logo que as nuvens deixaram a luz da lua iluminar mais uma vez o local, viram a figura que parecia brilhar sob o luar.

Os cabelos pareciam mudar de cor à medida que se aproximavam, como se um arco−íris estivesse presente nos fios que cobriam parcialmente os seios expostos. Os olhos eram de um verde perturbador e sobrenatural e qualquer criatura que os encarasse estava condenada a ser prisioneira de toda aquela beleza!

O Bradador seguiu flutuando sobre as águas em direção a Sereia, sendo seguido de perto pelos dois garotos que como qualquer outro ser não conseguiram resistir aos encantos da criatura das águas. Estavam com água no meio das pernas quando Josi conseguiu segurá−los. Não teria conseguido se não fosse os tampões de aguapé, também conhecido como jacinto−de−água, que inseriu em ambos os ouvidos dos amigos, inibindo o som da canção. Ela mesma estava com os ouvidos tampados e por isso resistia aos encantos da Sereia.

Como se o som do mundo houvesse sido roubado, George e Sérgio recobraram o domínio sobre o próprio corpo e sobre suas ações. Demoraram alguns segundos para compreender o motivo do sorriso largo de Josi, até voltarem a encarar a criatura no meio das águas. A Sereia, como se para impressionar ainda mais os seus observadores, saltou das águas do açude com esplendor no momento em que o Bradador estava próximo o suficiente.

Com o salto o trio pôde observar a cauda multicolorida da mulher que era um espetáculo à parte. A Sereia segurou o Bradador e o arrastou para o fundo do açude! Os três ficaram por quase um minuto parados, apreensivos, esperando qualquer movimento acontecer, até verem a deusa das águas ressurgir e ir de encontro ao trio. À medida que deixava a água que escorria como pedras de diamante pelo seu corpo, Letícia deixava para trás sua forma de Iara e assumia novamente a forma da amiga que eles conheciam. Ela sorria e movimentava os lábios, mas eles não a escutaram até que se lembraram dos tampões. Josi que os recebeu ainda no fundo do açude foi a primeira a retirá−los e ouviu que Letícia não cantava mais. Logo que os garotos também voltaram a ouvir, escutaram a pergunta da garota que se sacrificara para dar mais tempo a eles e que agora os salvara da morte certa.

−Sentiram a minha falta?! − perguntou, erguendo uma das mãos na direção dos três, mostrando um punhado de cabelo do Bradador. −Acho que vão precisar disso e só para constar, acho que ele passa bem!


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