Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 6
Capítulo 6




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Gina bem que tentou elaborar alguma coisa sozinha.

Tentou, mas não adiou nenhum de seus planos para fazê-lo. Foi ao treino de quadribol e alimentou os testrálios com Luna, tudo conforme o combinado. Achou que ficaria muito esquisito desmarcar seus compromissos de última hora. Porém, acabou distante e pensativa durante quase o dia todo.

Assim que terminou tudo que tinha para fazer, Gina correu pelos corredores até a biblioteca, na esperança de encontrar um livro ou alguma informação que lhe ajudasse. Pelo horário pensou que não encontraria mais ninguém lá, porém se desapontou ao se deparar com Harry e Hermione, que pareciam discutir alguma coisa, escorados á uma das enormes e empoeiradas estantes de madeira.

A menina gesticulava enquanto sussurrava alguma coisa para Harry, que não poderia parecer mais interessado. Gina girou os olhos nas órbitas e presumiu que deviam estar falando sobre Você-sabe-quem, para variar. Foi se aproximando dos dois o mais discretamente que pôde, com aqueles malditos sapatos barulhentos que aprendera a detestar.

Hermione virou-se para ela e deu um sorriso aliviado, como se, de todas as pessoas do castelo, Gina fosse a única que poderia chegar sem soar ameaçadora. A ruiva retribuiu e acenou simpaticamente, olhando para Harry logo em seguida, que continuava perdido nos pensamentos, como se as palavras da amiga ainda circulassem por sua cabeça.

Então Gina resolveu que, já que Hermione estava ali mesmo, talvez fosse uma boa hora para conversarem. Afinal, embora quisesse muito resolver tudo sozinha, sabia que precisava dela.

— Hermione, posso falar com você?

Hermione arqueou as sobrancelhas e arfou, soltando os braços ao lado do corpo, como se perguntasse “sério? ” Ao que Gina respondeu com um suave aceno da cabeça, um pouco desencorajada de prosseguir com aquela ideia de contar para a amiga o que estava acontecendo.

Gina culpava-se mentalmente por ter mentido para o Malfoy, uma vez que ele lhe confiara aquele importante segredo. Não que houvesse sido por muita boa vontade, mas que seja, estavam combinados a seguir com aquilo, certo?

Hermione olhou para o garoto, que pareceu despertar de seus pensamentos e sacudiu a cabeça positivamente, saindo da biblioteca como se estivesse enfeitiçado. Gina ficou olhando enquanto ele se afastava, temendo que a sanidade mental do “Eleito” houvesse ido pelo ralo. Passara por ela como se nem existisse e a Weasley sabia perfeitamente que Harry costumava nutrir sentimentos por ela.

Ou será que, mesmo a parte mais humana de Harry Potter estava indo para o brejo? Suspirou enquanto o via sumir pelo corredor não muito bem iluminado. “Afinal de contas, não deve ser fácil ser o menino que sobreviveu”, Gina concluiu.

— Está tudo bem com Harry?

Gina perguntou enquanto voltava sua atenção para Hermione, que ainda encarava o caminho que Harry fizera para sair da biblioteca. Ela começou a caminhar lentamente para uma das mesas de madeira, porém, pela primeira vez, se sentaria ali sem nenhum livro em suas mãos. A ruiva a seguiu, ainda aguardando por uma resposta.

— Am... Ele anda com a cabeça cheia. Você deve compreender...

Hermione falou meio sem jeito, olhando para Gina como se esperasse sua compreensão. A ruiva assentiu e sentou-se em uma das cadeiras que rodeava a larga mesa de madeira. Hermione sentou-se logo ao seu lado e suspirou baixinho, apertando os dedos enquanto parecia frustrada por estar ali perdendo seu tempo.

— Hermione, eu não sei por onde começar, mas preciso muito que prometa que isso vai ficar só entre nós duas.

Hermione apertou as sobrancelhas e deu uma risada nervosa. Ajeitou-se na cadeira e apoiou o cotovelo na mesa, como se já esperasse pelo que Gina iria dizer e a tentasse encorajar com aqueles grandes olhos castanhos, já não tão apressados. A Weasley suspeitou que o assunto esperado seria sobre Harry, mas temeu que desapontaria a amiga.

— Prometo, Gina.

 A Weasley suspirou e escorou suas costas na madeira da cadeira, tomando fôlego para começar a falar, mas sem saber ao certo qual frase dizer primeiro. Parecia que qualquer coisa que elaborasse ia fazer Hermione sair para trás e começar a persuadi-la de contar tudo para Harry e Rony. E Gina definitivamente não estava com vontade de fazer isso.

— Ok... eu... meio que descobri que haverá um ataque de comensais da morte em Hogwarts, provavelmente em alguns dias...

Hermione arqueou as sobrancelhas e ouviu com atenção, mantendo-se ilegível. Não dava para saber se estava ou não acreditando em tudo aquilo, mas Gina permaneceu em silêncio, esperando que a menina se manifestasse para, então, dizer a parte realmente chocante da situação. Até por que não queria matar ninguém do coração.

— Como descobriu isso? Tem certeza?

Quando ela finalmente perguntou, Gina corrigiu a postura e se aproximou de Hermione, delicadamente colocando as mãos nos ombros da amiga e a olhando bem no fundo dos olhos, como se estivesse ensinando alguma coisa para uma criança.

— Tenho. Draco Malfoy me contou.

E Hermione riu, como se Gina houvesse contado a piada mais engraçada do mundo. Jogou as costas para bater na madeira da cadeira e fechou os olhos, com o barulho de seu riso preenchendo os vazios corredores da biblioteca. A Weasley, por outro lado, não achava a menor graça e continuava olhando com seriedade para a amiga.

Quando Hermione percebeu que Gina não acompanhava sua risada, foi murchando aos pouquinhos, até que arregalou seus olhos e ficou encarando-a como se fosse a lula gigante. A Weasley girou uma das mãos no ar, como se dissesse para que a outra continuasse rindo. Porém não tinha mais graça.

— Já acabou? Podemos conversar agora?

— Oh Merlin, você está falando sério.

Hermione constatou arregalando os olhos. Gina suspirou e começou a falar. Contou sobre a primeira vez que falou com o Malfoy, na Sala Precisa. Dos armários sumidouros, do Lago Negro e do último encontro que tiveram na torre de Astronomia. Falou do bilhete de Voldemort e dos comensais, mas também ressaltou que aquilo não soava convincente e que precisava de ajuda para saber o que fazer com o tempo e liberdade que o sonserino lhe dera.

Hermione levou algum tempo para digerir a informação. Pareceu um pouco atordoada, olhando de Gina para a mesa da biblioteca repetidamente. Por fim, após um longo período em silêncio e raciocinando, finalmente pareceu ter bolado algo inteligente para dizer, enchendo a Weasley de esperanças de que alguma genialidade saísse por seus lábios.

— Não sei o que dizer.

Gina suspirou decepcionada. Passou a mão pelos cabelos avermelhados e ficou de olhos fechados. Nunca pensou que concordaria com o Malfoy, mas estava começando a pensar que não devia ter contado nada. Perdera quase uma hora ali explicando tudo para Hermione e ela nem conseguia raciocinar para lhe dizer algo útil. “Mas que bela bosta...” pensava antes de ser brutalmente interrompida.

— Eu sabia! Sabia que tinha algo estranho com essas porcarias de armários! Argh!

Por um instante, Gina foi quem quase caiu da cadeira ao ouvir a empolgação inesperada da Granger. Hermione girava o punho no ar, como se houvesse solucionado um dos grandes mistérios da humanidade. Porém, não contou para a Weasley de onde já havia ouvido falar naqueles estranhos armários sumidouros, apenas seguiu com seu raciocínio.

— Você confia nele, Gina? Lhe pareceu como se fosse verdade?

Ao ouvir a pergunta de Hermione, Gina lhe encarou e suspirou baixinho, recostando a cabeça na quina da cadeira e lhe encarando como se já estivesse cansada de pensar.

— Acho que sim. Acho que o Malfoy não ia querer ir tão longe só para curtir com a minha cara, sabe? Fora que ele parecia bem perturbado na Sala Precisa, acho que não estava lidando bem com a pressão...

Gina falou com a voz baixa e arrastada, sem desviar o olhar da amiga por um segundo. Hermione assentiu levemente, parecendo concordar. Então apoiou os dois cotovelos na mesa e cruzou os dedos, encostando o queixo nas mãos e olhando para frente, como se estivesse tentando fazer o cérebro pegar no tranco, em uma posição que quase fez a Weasley rir.

Porém, aparentemente, funcionou. O rosto de Hermione se iluminou de uma forma que nem uma lâmpada conseguiria fazer.

— Vocês vão se encontrar amanhã na torre de Astronomia, certo?

Gina assentiu suavemente, prestando atenção e não se atrevendo a interromper a linha de raciocínio que poderia salvar sua vida. Agora se arrependia de quase ter dado razão ao Malfoy. Hermione era brilhante, como é que pôde duvidar disso nem que por um segundo que fosse?

— Você precisa saber o plano todo, Gina. Acredito que você só sabe um pedaço, deve ter outra coisa para esses comensais quererem aqui. Não iam apenas vir para fazer uma visita...

Hermione concluiu, gesticulando enquanto falava e, vez ou outra, mordiscando o lábio inferior. Parecia estar elaborando alguma coisa ao mesmo tempo em que compartilhava com Gina suas ideias. E a ruiva assentia, incentivando-a a continuar.

— Mas quero que seja cuidadosa! Não vou me perdoar se essa barata nojenta e repugnante fizer alguma coisa a você. Tem certeza que não podemos contar...

— Para mais ninguém, Hermione, por favor!

Gina uniu as duas mãos e as puxou para a frente de seu rosto, em uma clássica expressão de alguém que implora. Hermione não parecia muito contente em manter o segredo, mas torceu o nariz e assentiu, bufando baixinho.

— Está bem, não falo nada! Merlin, será que todo Weasley é cabeça-oca?

A ruiva sorriu e voltou a relaxar na cadeira, tamborilando com os dedos sobre suas pernas enquanto encarava Hermione, esperando que ela lhe dissesse mais alguma coisa. A menina assentiu e ergueu o indicador, como se recordasse de algo muito importante.

— Não deixe que ninguém veja vocês! Seja cuidadosa, pois se algum sonserino souber disso, a coisa vai ficar feia e duvido que Malfoy não vá tirar o dele da reta para que você se ferre sozinha.

Gina assentiu lentamente, sentindo-se como uma criança que é advertida pela mãe a tomar cuidado com o lobo mau que a espera na estrada. Sacudiu a mão, como se querendo apressar Hermione de dizer logo o que mais de importante tinha em sua mente.

— Amanhã, depois que você falar com ele, me conta o que descobrir e vamos bolando juntas alguma coisa. E não diga que estou te ajudando...

— Não sou burra, Hermione.

Gina riu e ficou de pé. Apoiou a mão no ombro de Hermione carinhosamente, como havia feito com Malfoy pela manhã, olhando em seus olhos para transmitir que tudo ficaria bem. Então virou-se de costas para ela, saindo pela porta da biblioteca como se houvesse tirado um milhão de quilos de sua consciência.

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Acho que era assim que Errol se sentia”, Gina pensou. Por anos a coruja não tão inteligente assim se metera em diversas enrascadas e acidentes para entregar os recados e correspondência da família Weasley. Por fim, podia compreender como aquele bicho maluco se sentia, indo de um lado para o outro tentando transmitir informações.

Entretanto, Errol não precisava ficar mentindo sobre o remetente das correspondências. Gina, por outro lado, não podia dizer que ia levar todo aquele conhecimento que adquirisse com Malfoy para Hermione e ainda tinha que ser discreta quando fosse conversar com a amiga, pois se o garoto descobrisse, provavelmente não confiaria nela novamente.

Estava esperando por Malfoy na torre de Astronomia aquela manhã, conforme o combinado, com sua bolsa transversal de couro pendurada com descuido no ombro esquerdo. Andava de um lado para o outro, impaciente e morrendo de medo de alguma outra pessoa surgir ali sem ser o garoto. Ou pior: que ele levasse companhia para aterrorizá-la e jogá-la de lá de cima.

Decidira já ir carregando seus materiais escolares para não precisar voltar correndo ao dormitório e para o caso de precisar anotar alguma coisa que Malfoy dissesse. E esse, aliás, era outro aspecto que lhe preocupava. O garoto havia se responsabilizado de pensar em algum lugar mais discreto para se encontrarem e sentia seus pelos arrepiarem de medo quando pensava em algumas sugestões que poderiam sair da boca dele. Como a floresta proibida, por exemplo.

Começava a se irritar com a demora de Malfoy, que estava já quase meia hora atrasado, quando viu a cabeleira loira dele surgir e vir subindo pela escada caracol. “Ok, Gina. Seja boazinha”, pensou enquanto alinhava a saia e a blusa do uniforme, sem conseguir esconder a ansiedade.

Draco surpreendeu-se por ver que Gina já estava lá, mas o que lhe assustou mesmo foi o sorriso forçado que ela botou nos lábios, sem a menor vontade. Foi como ver Snape tentar achar graça de alguma coisa, bem bizarro. Ele colocou as mãos no bolso e se aproximou da Weasley sem muita pressa, pronto para se divertir às custas dela.

— Você sempre está de bom humor de manhã, Weasley?

O sorriso que tremia nos lábios de Gina foi se desfazendo enquanto ela tentava inutilmente não deixar o clima entre eles como algo insuportável. Mas esse era justamente seu problema, não conseguia aturar aquele menino. Toda vez que o via em sua frente tinha vontade de sair correndo.

— Você está atrasado.

— Ah, foi isso que te deixou feliz então?

Gina desistiu de tentar ser simpática e coçou a bochecha, olhando para Draco em silêncio enquanto se munia de paciência. Umedeceu os lábios e, ao reparar que ele não carregava seus materiais, decidiu perguntar.

— Não vai para a aula?

— Você foi subitamente promovida a monitora, Weasley? Acho que não...

Draco cruzou os braços e Gina grunhiu. Os dois ficaram se encarando por um momento, em silêncio, e dava para sentir os raios elétricos que um lançava para o outro através daquela pausa dramática em seu diálogo.

— Podemos falar do que realmente interessa?

Era tão chato que o Malfoy preferisse que as coisas continuassem sendo desagradáveis, mas Gina resolveu não relutar. Afinal de contas, ia ser mesmo muito chato ter que ficar fingindo que gostava de estar ali, quando na verdade queria mesmo era dormir. Ou fazer qualquer outra coisa que não fosse ficar de papo com aquele ser repugnante.

— Tudo bem, você pode começar dizendo se achou algum lugar para...

— Claro que eu achei algum lugar, que pergunta idiota, Weasley.

A ruiva respirou fundo enquanto fechava os olhos e apertava os punhos. Odiava ser interrompida, mais que tudo na vida, e parece que o Malfoy havia feito essa importante descoberta. Além de lhe irritar, agora também ia ficar lhe cortando. “Que ótimo”, Gina pensou, “nada nunca é de graça, não é mesmo?

— Onde vai ser?

Draco tinha que se conter muito para não rir. Mantinha o rosto tranquilo, com o mesmo ar irônico de sempre, mas a verdade é que estava achando tanta graça em irritar a Weasley que pensava ter sido abençoado por Merlin. Além de se safar de toda aquela situação com Voldemort, de brinde, ganhava uma cabeça vermelha para atormentar.

— No meu quarto. Como eu sou monitor, não vamos ser incomodados se você chegar nas horas certas.

Gina arregalou os olhos e recuou um passo, olhando para Draco sem acreditar no que havia acabado de escutar. Não podia ser verdade, tinha que ser mais algum tipo de piadinha idiota, ou talvez sua audição estivesse afetada, por que acabava de ouvir um Malfoy convidar uma Weasley para seu quarto?

— O que você disse?

Gina perguntou quase em um sussurro, segurando firme na alça de sua bolsa enquanto apertava os olhos e encarava Draco com estranheza. Malfoy bufou e revirou os olhos, colocando as mãos na nuca e torcendo o nariz.

— Mas que inferno, Weasley, você lava essas orelhas imundas ou só quer mesmo ficar ouvindo minha voz?

Chega.

Gina apertou os olhos de uma forma que Draco ainda não havia visto. Ela deu-lhe um empurrão tão forte que o fez cambalear e cair sentado enquanto a encarava, assustado, sem ter percebido que ela já estava tão irritada assim.

— Quer saber? Que se dane você e sua família e Hogwarts e toda essa merda, eu estou fora! Não consigo aturar você! Merlin me livre!

Draco ficou tão assustado que, quando pensou em fazer ou dizer alguma coisa, Gina já estava descendo as escadas da torre de Astronomia com aquele sapatinho irritante fazendo “plec, plec” conforme ela caminhava. A ruiva nem olhava para trás, só caminhava toda nervosa, sacudindo os cabelos e bufando.

— Ei, Weasley!

Draco chamou, mas quando se apoiou no corrimão viu que Gina já estava bem mais à frente e não parecia ter humor para conversar. Então arregalou os olhos e arfou, passando os dedos entre os cabelos e sentindo o coração bater no peito com intensidade, quase como se fosse ter um ataque cardíaco.

Lá se ia sua única chance de salvação.


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