Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 14
Capítulo 14




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Ânimo.

Gina perdeu as contas de quantas vezes repetiu a mesma palavra enquanto se ajeitava dentro do vestido de festa que era obrigada a usar para o casamento de Gui. Afinal de contas, não era nada bonito a irmã do noivo ficar com cara de poucos amigos em uma cerimônia tão especial.

Ela até que gostava de Fleur, inclusive parara com a bobagem de chama-la de Fleuma. A moça era muito bonita, charmosa e educada, como toda descendente de veela devia ser. Sua mãe mal podia acreditar que Gui havia fisgado uma sereia daquelas, com aquele belo par de olhos azuis profundos e um sorriso digno de uma boneca de porcelana. Toda a família da noiva estaria ali e o mínimo que Gina podia fazer era ser uma boa anfitriã.

Porém, após todos os ocorridos, não tinha certeza se queria mesmo saber de festa e música. Não havia porcaria de motivo nenhum para ficar feliz naqueles tempos, por mais pessimista que isso pudesse soar. Queria que pudesse viajar no tempo para um futuro onde Harry já houvesse derrotado Você-sabe-quem e tudo estivesse tranquilo novamente, como costumava ser quando era criança.

Finalmente quando conseguiu se enfiar dentro do vestido, decidiu sair de seu quarto e ir descendo para auxiliar nos preparativos. E preocupou-se com o que poderia acontecer com aquela bela peça de roupa. Era simples, bem cinturado, um tanto transparente e terminava na altura de seus joelhos. As alças grossas formavam como se fosse uma regatinha toda trabalhada em um tecido cinzento não muito revelador. Logo sobre os seios alguns detalhes rendados tornavam-no um pouco mais requintado, seguido de várias pequenas florezinhas negras que se estendiam até a barra.

Deu uma última olhada em seu quarto, todo brilhante pela claridade que o invadia sem dó nem piedade. As paredes de madeira e as janelas estrategicamente mal colocadas lhe faziam sentir tão aconchegada, por notar que não era necessário ser perfeito para funcionar bem. Sua cama estreita de madeira, tão simples e pequena, coberta pelo lençol de retalhos que a mãe fizera no último verão também aqueciam seu coração, trazendo agradáveis memórias da infância que tanto desejava reviver.

Também tinha a pequena prateleira de madeira onde Gina colocava seus livros e acessórios, como a varinha, por exemplo. Tinha plena ciência que aquilo estava ali há tantos anos que poderia despencar a qualquer momento, porém não parecia se importar de verdade. Seu guarda roupa era pequeno e abarrotado de roupas, com apenas duas portas e uma gaveta na parte inferior e a Weasley fazia mesmo magia para conseguir entulhar todas suas coisas ali dentro, pois a mãe detestava qualquer tipo de bagunça.

Gostava de ficar de lá olhando para o pomar, que brilhava com a luz do sol batendo nas folhas verdes das árvores frutíferas, e contemplando aquele belo local que seus ancestrais escolheram para montar aquela casinha torta e maluca, mas que trazia a Gina um sentimento de lar tão forte e grande que tinha certeza que nenhum luxo poderia substituir. Talvez os pôsteres dos Weird Sister e da famosa jogadora do Holyhead Harpias destoassem um pouco a paz que Molly pretendia quando decorou o quarto da filha, mas a Weasley preferia daquele jeito, pois deixava o cômodo com sua assinatura.  

Tinha tentado fazer algum penteado bem elaborado, mas todos soavam muito inapropriados para a ocasião. Acabou decidindo deixa-lo solto mesmo, com uma florzinha branca presa sobre sua orelha direita para dar um charme. Mas, de verdade, Gina estava era com preguiça de ficar se embonecando toda para um evento de família. Seu nível de aleatoriedade ao que acontecia era tão grande que acabou esquecendo de fechar a porcaria do zíper do vestido.

Como seu quarto era no primeiro andar, Gina não precisou descer correndo as escadas para chegar logo na cozinha em busca de sua mãe. Porém, foi surpreendida por Harry, que parecia meio alheio a toda movimentação que acontecia no quintal naquele exato momento. Molly havia feito todos se mobilizarem em uma enorme limpeza para o casamento e agora estava lá fora, se metendo no meio dos outros que tentavam erguer a tenda onde a festa iria ocorrer.

— Bom dia, Harry.

Gina disse ainda um pouco contrariada, enquanto apanhava uma xicara de porcelana sobre a enorme mesa de madeira com oito lugares para beber um pouco de suco de abóbora. Isso era algo que lhe irritava, eventualmente. Aquela casa, por mais aconchegante que fosse, era muito cheia! Não dava para simplesmente transitar por ela sem dar de cara com um de seus irmãos ou com os convidados deles.

O que era bem incomodo, pois Harry e Hermione, por mais queridos que fossem, pareciam mais moradores d’A Toca que ela. Não que Gina se incomodasse em dividir o quarto com Mione, mas ficava se perguntando até quando aquela situação iria durar, pois os membros da Ordem também vinham para jantar quase todos os dias e parecia que uma festa melancólica se estendia, dia após dia, conforme as notícias de Você-sabe-quem iam saindo nos jornais.

Também não ficava brava por ter Harry ali, mas era meio chato ficar vendo todo dia o cara que lhe dera um ponta pé e não queria assumir um relacionamento com ela por causa daquela besteira inútil de comensais, guerra e blábláblá. Soava bem como uma desculpa para a infantilidade dele de não querer se comprometer só para teoricamente não ter algo que o segurasse daquela maldita jornada que ele, Rony e Hermione estavam elaborando há tempos.

Harry virou-se para a ruiva e ficou encarando-a por um tempo, o que a fez sorrir. Ele estava completamente normal, com uma camisa social azul marinho que realçava seus olhos verdes e um colete sobre a peça, porém Gina se orgulhou de si mesma ao não o desejar da mesma forma que teria feito há um ou dois anos atrás. Tinha convivido tanto com o garoto e se decepcionado de tal forma que agora percebia que não o queria mais.

Enquanto colocava o suco na xícara, Gina sorria. A melhor coisa que tinham feito era não terem assumido mesmo um relacionamento e deixado as coisas tomarem seus rumos aos poucos. Agora a Weasley percebia que não se importava mais tanto com qual garota ele iria escolher para dançar na festa ou para onde iria após a comemoração acabar. Tinha se cansado de ser sempre a segunda opção e agora estava tranquila por não o ter como sua prioridade.

Não era burra, entendia perfeitamente que Harry tinha inúmeras responsabilidades, talvez até mais do que devesse ter com tão pouca idade, mas tinha certeza que agora que ele não possuía mais o rastreador, nada o impediria de correr o mundo com sua dupla de amigos favorita no encalço enquanto Gina tinha de ser contentar em ficar em casa e ir para Hogwarts, por que é isso que a mãe esperava dela, que concluísse os estudos com honra e dedicação mesmo que o mundo estivesse desabando.

Como Hermione havia lhe dito uma vez, Harry era um símbolo. O ícone de uma guerra que estava cada vez mais eminente, a figura que trazia força e esperança para os demais bruxos. E não era justo esperar dele algo além disso, da mesma forma que não era certo ficar perdendo sua juventude cheia de esperanças até o dia em que não fosse somente “o menino que sobreviveu” e finalmente tivesse um tempinho para olhar para ela.

O ar entrou mais leve em seus pulmões enquanto Gina digeria essa nova e maravilhosa descoberta a seu respeito, assimilando que agora não era apenas a menina que estava apaixonada por Harry Potter. Era uma Weasley, mas acima de tudo era Ginevra! A jogadora de quadribol, a mais brava de sua família, aquela que teve coragem e boa-fé o suficiente para se relacionar com o inimigo e proteger Hogwarts.

— Gina, seu zíper...

Harry comentou apontando para a ruiva, que riu um pouco desajeitada, sendo bruscamente tirada de seus pensamentos, tateando as costas em busca do zíper. Ao notar que estava aberto, puxou para cima de uma só vez, fazendo um barulho fininho ao concluir o caminho do fecho e deixando sua roupa como devia estar, um pouco mais justinho sobre os seios, mas perfeitamente correto.

Gina estava tão ocupada em suas próprias reflexões que achou melhor afastar-se um pouco, deixando alheio na cozinha da mesma forma que o encontrara, e a ideia de tentar chegar a uma conclusão fascinante da pessoa que se tornara lhe entorpeceu. A ruiva sacudiu a mão com um pouco de descaso, afim de dar o assunto por encerrado.

— Puxa, nem percebi! Estou tão avoada que só queria que o dia de hoje acabasse logo.

E saiu pela porta da cozinha com aquele sorriso iluminado, indo até o quintal para observar os preparativos do casamento enquanto tomava tranquilamente seu suco de abóbora, sujando um pouco a parte superior de seus lábios de laranja enquanto Harry a observava da cozinha, sem dizer uma palavra ou sequer piscar, como se hipnotizado com a naturalidade e leveza que emanava de Gina. Sem perceber, suspirou baixinho lamentando-se por não ter assumido um relacionamento com a ruiva quando tivera chances e agora temia perde-la para sempre.  

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Ânimo.

Gina insistia na ideia de manter-se animada durante a festa de casamento do irmão, mas estava bem difícil! A começar pelo fato de que a coisa mais legal que arrumara para fazer foi se enfiar no meio de uma dança desengonçada de Luna e o Sr. Lovegood, que agiam como se não houvesse mais ninguém no local e davam alguns passos bem esquisitões, chamando toda a atenção para eles, usando aquelas roupas amarelas e reluzindo como borboletas encantadas. Mesmo assim era melhor que perder seu tempo com Lino Jordan, amigo de Fred e Jorge com quem dançara um pouquinho para não fazer desfeita.  

Depois que, como sua família quase toda estava ali (exceção ao maldito Percy), decidiu que não era uma boa ideia se aventurar pelo alcoolismo, pois se algo ali lhe caísse mal e acabasse fazendo cena, não ia ficar nada bem, correto? Preferiu então revezar entre a dança maluca e uma cadeira ao lado do irmão, que encarava Hermione sem nem piscar. Ela dançava confortavelmente ao lado de Viktor Krum com graça e um sorriso bonito, que Gina raramente via.

Enquanto Rony olhava para Hermione com ares de cachorro abandonado, Gina não conseguia deixar de achar bem feito. Quer dizer, quanto tempo ele esperava que ela fosse ficar ali, aguardando uma brecha? Por Merlin, a Granger era bonita, ainda mais naquele vestido vermelho chamativo que estava usando, também era inteligente e se Krum havia tido a perspicácia de notar isso antes, sorte a dele, não?

Por algumas vezes Gina tentou conversar com Rony, mas o irmão não estava muito aberto ao diálogo. Ficava ali, calado, com seus próprios pensamentos e comentários estúpidos a respeito do bigode de Krum, praticamente ignorando sua presença. A Weasley também tentara se aproximar de Harry durante uma meia dúzia de vezes, pois pelo menos era alguém com quem poderia ter uma espécie de diálogo, mas ele estava ocupado demais conversando com uma porção de velhos que ela nem sabia que haviam sido convidados.

Tentou se enturmar um pouco com seus irmãos, mas estavam todos muito preocupados com suas próprias conquistas amorosas. E não havia nenhum rapaz ali que chamasse sua atenção. Gina estava cansada de todos esses meninos que lhe teciam uma lista de elogios, mas não pareciam acreditar de verdade no que diziam ou simplesmente não lhe passavam veracidade. Preferia não perder mais seu tempo com paixões passageiras e focar agora em organizar suas prioridades.

Sim, Gina tinha planos para seu retorno à Hogwarts. Olhava para Luna de rabo de olho enquanto a loira dançava, totalmente despreocupada, e a ruiva se sentia como uma espécie de vilã extremamente caricata de algum filme trouxa da década de 1950, alisando uma mão na outra enquanto sua risada maléfica preenchia o ambiente. Por que o que planejava envolvia profundamente a Lovegood e o tapado do Longbottom. Iam enviá-la para Hogwarts contra sua vontade, certo? Pois faria de tudo naquele colégio, menos passar nas provas finais!

Um sorriso maroto brotou em seus lábios enquanto planejava silenciosamente manter a Armada de Dumbledore ativa. Ia armar esquemas, fazer planos e virar a noite aprendendo feitiços, mas sairia de Hogwarts sabendo se defender, pois, na verdade, era só isso que interessava em tempos de guerra. E se dependesse de Harry ou seus irmãos, ficaria sempre imaculada, dentro de casa, enxugando os pratos. Por fim decidiu voltar sua atenção novamente para o salão e deixar para elaborar suas ações mais tarde, com calma e precisão.

A decoração da tenda havia ficado realmente esplêndida. Tinha que admitir que os tons de lilás com os detalhes em prata que se espalhavam pelas toalhas de mesa, lustres cheios de contas e tecidos que decoravam os arredores da pista de dança eram realmente magníficos. Isso sem falar em Fleur, com aquele maravilhoso vestido branco, cheios de detalhes negros que lembravam as plumas de um cisne, dando um efeito fascinante quando ela rodopiava pelo salão em algum passo de dança que Gui arriscava testar.

Não que o irmão não estivesse bonito, claro que estava, sua mãe havia se certificado uma dúzia de vezes se Gui tinha tomado banho, penteado o cabelo e escolhido cuecas limpas. E ele usava um terno elegante, não muito chamativo e que lhe delineava o corpo de forma charmosa. Porém era inegável que todas as atenções caiam sobre a beleza magnífica e exuberante de Fleur, que realmente parecia um cisne enquanto todo o resto comparado a ela lembrava apenas um bando de patinhos feios.

Até mesmo a irmã caçula de Fleur, Gabrielle, estava incrível! Muito mais bonita que Gina, mesmo que as duas usassem o mesmo vestidinho simples e que, na opinião da Weasley, era comprido demais. Os pais dela também estavam impecavelmente vestidos, como se fossem parte da realeza, enquanto Molly só faltava colocar um avental para servir os convidados com fervor, daquela maneira que ela não conseguia deixar de ser.

Por tanto, Gina estava sentadinha em seu canto, apenas observando toda aquela música, risadas e conversas que aconteciam bem no jardim de sua casa, mas sentindo-se uma perfeita estranha. Preferia estar em seu quarto, ou no pomar brincando com as galinhas do que ali, toda emperiquitada servindo para a decoração da festa, sabendo que um vaso de flores teria a mesma presença de espírito que ela naquele momento.

Já estava calculando uma forma educada de se retirar da festa quando um patrono em forma de lince invadiu o local, colocando-se bem no meio do salão e chamando a atenção de todos os convidados. Formou-se uma roda em torno do feitiço iluminado e nem ao menos uma palavra foi ouvida além daquelas que proferidas pela voz do próprio Kingsley Shacklebolt:

“O Ministério caiu. Scrimgeour está morto. Eles estão vindo”.

E foi assim que tudo começou.


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