Conluio escrita por Lina Limao


Capítulo 12
Capítulo 12




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Inacreditável.

Gina mal pôde acreditar quando finalmente se deitou em sua cama e sentiu a maciez do travesseiro sob sua cabeça. Os fios ruivos molhados esparramaram-se pela fronha branca e ela soltou um suspiro baixo enquanto se ajeitava no colchão, tentando ficar confortável. Decidiu que se dedicaria a se esforçar para conseguir dormir, aproveitando que o dormitório estava praticamente vazio.

Os beliches que se aglomeravam pelo quarto gigantesco estavam sem os alunos. Permaneciam todos na sala comunal, se confortando e chorando juntos. Porém, Gina nunca foi do tipo que gosta de aglomerações e decidiu guardar sua dor para si mesma. Até por que, nem tinha mais forças para se lamentar ou lágrimas para derramar.

Colocou o braço esquerdo por baixo do travesseiro e apoiou a cabeça no ombro, dando um abraço apertado sobre a fronha branca e ficando em uma posição semelhante à de uma criança enquanto roçava suavemente a bochecha no tecido geladinho. Um suspiro escapou por seus lábios ao perceber que estava sem um norte.

De fato, Dumbledore estava morto. Professora Minerva assumira temporariamente a direção do colégio e ela perguntava-se aterrorizada se Dolores Umbridge poderia ser escalada novamente para o cargo. Por Merlin, seu sangue gelava só de pensar em tal possibilidade. Credo, até mesmo Você-sabe-quem daria um melhor professor que aquela megera.

Estava tão profundamente triste com a morte do diretor e tão morta de medo com o que seria de Hogwarts dali para frente que quase não conseguia pensar em nada além de sumir. E sabia que, se pudesse, desapareceria mesmo, o mais rápido possível. Porém tinha ciência que não tinha a menor possibilidade de fazer isso com sua família, com Hermione, com Harry e com Luna. Por Merlin, só de imaginar o desespero que isso causaria se sentiu uma pessoa ruim só por cogitar.

E mesmo com a cabeça tão cheia de pensamentos, não conseguia não pensar em onde Draco estaria naquele momento. Certamente já estava debaixo da saia da mãe, tendo um ataque de pelanca por ela ter dito o número de comensais errado. Ela devia estar preparando alguma guloseima para o filho e lhe mimando, como uma boa dona de casa. Ao menos era o que Gina imaginava, especialmente por nunca ter visto Narcisa Malfoy em sua vida.

Mas ao mesmo tempo se preocupava com ele. Draco era sempre tão discreto em relação à sua vida pessoal e seus conflitos internos que duvidava que ele pudesse se abrir com a própria mãe. Talvez ele só estivesse sentado em seu quarto, atordoado demais com tudo o que aconteceu e sem coragem o suficiente para conversar com o pai, que devia estar bem bravo e quebrando uma parte considerável da mobília.

Ou talvez ele estivesse naquele exato momento sentado de frente para Você-sabe-quem, em uma sessão torturante de inconveniência mental que ele tanto gostava de fazer em suas vítimas. Draco provavelmente seria humilhado e colocado para baixo, no nível de um capacho, por não ter colaborado para a invasão, mesmo que a morte de Dumbledore tenha sido executada com sucesso. E possivelmente seria torturado por essa falha.

Gina se arrepiou ao pensar na maldição de tortura. Não desejava aquilo para ninguém, mesmo que para um ser repugnante como Draco Malfoy. Não havia na terra bruxo ou trouxa que merecesse sentir aquela dor, e talvez esse fosse o motivo de ser imperdoável.

— Essa cara não combina com alguém que estuporou mais de três comensais com sucesso.

A voz de Hermione quebrou o silêncio e Gina ergueu os olhos para a amiga, que dava um sorrisinho triste enquanto se aproximava de seu beliche. A Weasley foi se sentando no colchão devagarzinho e suspirou, estendendo os braços para a morena, que logo a abraçou demoradamente.

— Ah, Mione...

Ela falou baixinho, sem saber o que dizer ou fazer. Era bem complicado lidar com alguém que estava tão destruída quanto a si própria e talvez por isso Gina tenha preferido ficar sozinha. Mas a companhia de Hermione era sempre algo irrecusável, pois lhe ajudava a reconfortar o coração e organizar os pensamentos. Sempre fora assim.

— Eu sei, Gina, eu sei...

Os dedos de Hermione acarinharam sua nuca suavemente enquanto Gina apertava os braços em volta de seu corpo e apoiava a cabeça em seu ombro. Os cachos dos cabelos soltos da amiga faziam cócegas em seu nariz, mas Merlin sabia como ela precisava daquele abraço. Após um tempo em silêncio, ela foi afrouxando um pouco o corpo e se afastou, encarando a Granger nos olhos.

— O que será de nós agora?

Hermione ergueu as sobrancelhas e piscou os olhos algumas vezes, respirando fundo antes de soltar o ar todo de uma vez só, sacudindo a cabeça negativamente. Ajeitou-se sentada no colchão ao lado de Gina e dobrou as pernas sobre a cama, enquanto descalçava os sapatos. Os olhos castanhos da ruiva lhe encararam atentamente por um tempo, aguardando por uma resposta que ela não tinha.

— Queria ter essa resposta.

Hermione se sentia muito mal por não saber ao certo o que dizer para Gina, mas preferia se calar a dizer uma frase clichê e mentirosa de como deviam continuar com fé que as coisas iriam melhorar. A tendência era piorar e a Granger era inteligente o suficiente para saber que isso não precisava ser mencionado àquela altura do campeonato.

Porém sentia-se responsável por Gina de uma forma distorcida e maluca, uma vez que via a Weasley como parte de sua família. Especialmente por que ultimamente tinha mais contato com ela que com seus próprios parentes, e naqueles tempos de guerra sabia que podia se apegar ao otimismo e a incrível energia de vitória que sempre emanava daquela menina sardenta.

Mas decidiu que não queria ficar falando sobre Voldemort, guerra e qualquer diabos que fosse. Queria uma solução e sabia que Gina podia ter exatamente o que precisava, especialmente depois da brilhante ideia de fazer um conluio com Draco Malfoy. Mais genial que aquilo impossível, certo?

— Onde está o Malfoy?

Perguntou com casualidade. Geralmente quando fazia a Gina esse questionamento, a ruiva se estendia por volta de meia hora em um discurso que detalhava as frases malucas que o loiro dizia ou algum detalhe dos planos de Voldemort. Porém, àquela madrugada, apenas teve uma bufada como resposta.

Hermione ergueu as sobrancelhas e encarou Gina, que fitava os próprios pés. Ela torceu o nariz salpicado de sardas antes de resolver responder à pergunta, pois lhe incomodava muito admitir que seu plano de união com aquele moleque nojento havia sido um completo fracasso.

— Ele disse que ia embora do castelo junto com o Snape. Honestamente não faço a menor questão de saber.

E fez um gesto de descaso com a mão enquanto erguia os olhos para Hermione, meio arredia por não ter completa certeza da reação da amiga. Porém, a morena apenas assentiu enquanto lhe olhava com compreensão, logo desviando sua atenção para a barra de sua saia, que tinha uma pequena linha desfiada. Ficou brincando com pequeno pedaço de fio com a ponta dos dedos por um tempo antes de começar a falar.

— Harry estava lá quando aconteceu.

A ruiva ficou olhando para Hermione, que ainda enrolava o fio da saia nos dedos. Ela parecia meio sem jeito de tocar no assunto, como se não quisesse que Gina a levasse a mal, porém queria mesmo falar sobre aquilo. Estava ainda meio atordoada com tudo que Harry lhe contava e queria confirmar com a Weasley se suas suspeitas eram reais ou não.

— Ele disse que foi Snape quem matou Dumbledore, não o Malfoy.

Gina assentiu suavemente, olhando diretamente para os olhos castanhos de Hermione, que parecia ainda incerta sobre o que dizia. Resolveu que iria pontuar direitinho para ela que a parcela de culpa de Draco não se devia somente ao assassinato que não cometera, mas sim à covardia que não o abandonava em nenhum momento crítico de sua vida.

— Não interessa que ele não matou. Ele não fez nada para impedir.

Disse categoricamente, o que fez um silêncio incomodo se estabelecer entre as duas. Hermione pensou em esperar um pouco, procurar as palavras certas para não irritar ainda mais Gina, que parecia já estar nervosa o suficiente com aquele assunto. Porém apenas bateu com a língua nos dentes e inclinou o rosto para o lado, apertando as sobrancelhas.

— Não acha que estava esperando um pouco demais dele?

Perguntou de uma vez. E foi a segunda vez aquele dia que Gina sentiu como se houvesse levado uma facada. Se dobrou um pouquinho, colocando as mãos sobre a barriga. Será que era isso mesmo? Estava colocando expectativas em um Malfoy?! Por isso se sentia tão desapontada, por que ele não correspondera! Por Merlin, onde estava com a cabeça? Viu então Hermione girar a mão no ar, como se dissesse para que ela tentasse ver o outro lado da história, e seguiu com seu raciocínio logo em seguida.

— Quero dizer, Malfoy nunca foi nenhum exemplo de coragem e dedicação, além disso, Harry disse que ele estava completamente perturbado.

Gina suspirou e baixou lentamente os olhos, assentindo logo em seguida com um movimento suave e desatento, como se a cena de Draco na sala de Dumbledore estivesse sendo minuciosamente montada peça após peça em sua mente, como um quebra-cabeça. Hermione decidiu esperar pela resposta da ruiva, que não demorou a falar.

— Foi por causa do que aconteceu com Rony, nós brigamos.

A frase saiu como um sussurro pelos lábios de Gina, que suspirou lembrando-se da briga e de como algumas palavras que dissera haviam soado maldosas. Começava a rever um pouco como as coisas ocorreram e pensava que talvez, e somente talvez, tivesse sido muito malvada na escolha de suas palavras.

— Uma baita de uma briga, se quer saber. 

Ela acrescentou ainda encarando os próprios pés. Um suspiro escapou pelos lábios de Hermione, que se apoiou nos braços e ficou inclinada na cama, com a cabeça pendendo para trás. Fechou os olhos castanhos por um tempo enquanto parecia pensar em algo para dizer. Gina se perguntou se ela estaria zangada por não a ter consultado antes de decidir se continuaria de combinação com o Malfoy após aquele grande deslize.

— É engraçado.

Disse por fim, ficando em silêncio por mais um tempo, como se tomasse ar e deixasse os pulmões encherem antes de continuar. Gina ergueu uma sobrancelha e, quando Hermione abriu os olhos, deparou-se com uma cara de desconfiança da ruiva que chegava a ser engraçada.

— Não a morte de Dumbledore, não tem a menor graça nisso.

Disse como se tentando contornar algum motivo de raiva de Gina. Tudo que não precisava é que a menina levasse a mal alguma frase descuidada e gerasse uma discussão desnecessária. Se havia algo que Hermione aprendera em todos aqueles anos em Hogwarts era que Weasleys tinham uma terrível tendência a entender tudo errado, tirar as próprias conclusões e mover meio mundo por causa de um orgulho besta de admitir os próprios equívocos. E por mais que gostasse daquela grifinória, não podia simplesmente ignorar que ela também era uma cabeça de fogo temperamental.

— Mas como Harry contou as coisas. Ele não conseguiu achar uma conexão em tudo que Malfoy disse para sequer cogitar que vocês estavam de acordo.

O nariz sardento de Gina se torceu quase que automaticamente e ela voltou a desviar o olhar, como se aquilo mais lhe incomodasse do que orgulhasse. E, de fato, uma vozinha na cabeça da Weasley dizia que, mesmo sem Você-sabe-quem na história da humanidade, Draco jamais deixaria alguém saber que estavam armando um plano juntos por pura vergonha da pobreza dela.

— Duvido muito que Malfoy quisesse que alguém ficasse sabendo disso. Mesmo que esse alguém fosse Dumbledore, no leito de morte.

Respondeu com um pouco de amargura, o que fez Hermione arfar, tentando conter uma risada. Ela deixou a cabeça pender e ficou olhando para Gina como alguém que está tentando ensinar o cachorro a pegar a bolinha. Só que, desta vez, o bendito cachorro era temperamental e a bolinha uma nojenta ingrata e covarde.

— Ele fez muito mais do que se esperava dele, Gina. Uma pena que não tenha tido vontade de fazer mais.

Falou querendo colocar um fim àquela argumentação. Então Gina apertou uma perna na outra e começou a enrolar uma mecha vermelha de seu cabelo entre os dedos suados, olhando para Hermione com as sobrancelhas franzidas dignas de alguém que acabou de aprontar alguma coisa.

— Então, na verdade, eu que não quis mais a ajuda dele.

— O que?!

A resposta de Hermione veio um pouco mais alta que o planejado. Ela automaticamente mudou o semblante calmo para uma cara de quem está prestes a cometer um assassinato e Gina arregalou os olhos, começando a gesticular freneticamente enquanto falava, desesperada em transmitir alguma credibilidade para convencer a pessoa mais inteligente que conhecia de que aquilo havia sido uma excelente ideia, completamente honrada e esperada de uma grifinória. O que, na verdade, não passava de uma grande mentira. 

— Quando ele me contou que Dumbledore estava morto fiquei maluca. Ele sabia como significava para mim e mesmo assim, a primeira coisa que quis fazer foi ir lá mata-lo só para se vingar de mim.

Hermione apertou os dedos na testa e começou a massagear as têmporas, deixando-se cair de costas no colchão com os olhos fechados enquanto ouvia aquelas explicações malucas sobre orgulho ferido que ela já estava tão habituada a escutar vindas da boca de Rony. “Não é possível, Merlin, que ela realmente pense que foi uma ótima jogada não continuar com o acordo”, a morena pensou enquanto lutava para encontrar em sua mente alguma coisa útil para fazê-la se convencer a voltar atrás nessa decisão estúpida.

— Gina...

Começou, mas a ruiva lhe interrompeu e continuou falando. Hermione sabia que toda vez que Gina ficava nervosa ou sem muitos argumentos convincentes ela simplesmente começava a falar feito uma maluca, pontuando razões inconsistentes para suportar uma teoria falha de que estava mesmo corretíssima em agir como uma idiota. E decidiu que não ia deixa-la falar por muito tempo antes de interrompê-la.

— Então chegou a hora e ele simplesmente amarelou, como ele sempre fez. Isso não o dignifica nem um pouco, Hermione.

Os braços de Hermione foram se dobrando conforme Gina falava e logo ela se apoiou nos cotovelos para encarar melhor a ruiva enquanto tagarelava sem parar. Por fim, perdeu a paciência e resolveu que era a hora de mostrar o tamanho da cagada que aquela Weasley havia feito.

— Ele nos ajudou, Gina! E estava disposto a continuar com isso mesmo após ver que você estava apenas seguindo-o por interesse.

Novamente a voz de Hermione saíra um pouco mais alta do que o planejado. Gina ficou com as bochechas vermelhas e ergueu o nariz, apontando para a porta do quarto como se Draco estivesse ali, em pé, ouvindo a conversa dela.

— Ele se ajudou, Hermione. Não foi a mim e muito menos a você.

— Foi uma via de mão dupla, certo? Você também não estava ajudando ninguém além do seu interesse.

Hermione rebateu, sentando-se novamente no colchão. Odiava ter discussões enquanto estava deitada ou desajeitada pois parecia que sua cabeça não funcionava muito bem. Gina, por outro lado, parecia cada vez mais afiada e ofendida conforme ouvia as argumentações da amiga.

— Onde quer chegar com isso?

A voz de Gina soou baixa e seguida de um suspiro, como se já estivesse cansada das rebatidas precisas de Hermione. Afinal de contas, o que ela esperava que fizesse? Simplesmente o perdoasse pela covardia? Impossível, não dava para ter qualquer tipo de acordo com alguém que não possuía o mínimo de coragem em se impor e fazer a coisa correta.

— Agora não adianta mais, mas acho que você perdeu uma carta importante neste jogo do Voldemort.

Hermione disse erguendo os ombros e sacudindo levemente, como se demonstrasse descaso pela possível remediação da besteira que Gina e seu temperamento descontrolado haviam feito. Porém a Weasley simplesmente não conseguia se ver mais fazendo qualquer tipo de acordo com aquele crápula repugnante que não merecia uma gota de confiança.

— Não adiantava. Como ia ficar confiando nele se a qualquer desilusão ele podia se bandear para o outro lado?

Questionou achando que havia, por fim, conseguido um ponto importante para lhe dar razão naquele caso. Porém, Hermione apenas ergueu as sobrancelhas e levantou as mãos, como se numa expressão de incompreensão que Gina logo percebeu que viria seguida de alguma importante questão que não saberia responder.

— Ué, ele não corria o mesmo risco com você?

Silêncio. Odiava quando tinha razão a respeito da esperteza de Hermione. Era chato, ela sempre seguia pela lógica e acabava conseguindo as respostas mais óbvias, vendo as coisas com mais clareza e fazendo com que se sentisse uma perfeita idiota.

Embora tivesse plena convicção de que nada podia explicar a maldita covardia de Malfoy, começava a concordar de que devia ter aceitado sua proposta. E lhe irritou um pouco ver que a amiga tinha tanta veemência em proteger aquele maldito ser repugnante, egocêntrico e narcisista do fato de que ele não merecia ser salvo.

— Por que você está defendendo ele?

Sua voz saiu um pouco magoada demais para aquela situação. Hermione chegou a achar graça, mas preferiu não rir ou comentar sobre a cara de criança emburrada que Gina assumia quando estava sendo contrariada.

— Não estou defendendo o Malfoy, Gina. Estou defendendo uma possibilidade de dianteira que você tinha na palma de sua mão.

E então Gina ficou oficialmente irritada. Ergueu-se da cama e começou a caminhar pelo dormitório, completamente inconformada com a facilidade de Hermione em aceitar aquele tipo de comportamento em prol de um bem maior. Até onde devia ir para ter uma pequena e remota possibilidade de vantagem sobre Você-sabe-quem? O que a tornaria tão diferente do lorde das trevas e de Draco Malfoy se cogitasse unir-se a alguém que lhe decepcionara daquela forma?

Além de toda a decepção desnecessária que o Malfoy conseguira causar, havia o fato de sua inconstância e de como ele poderia ser igualmente perigoso quando contrariado, pois nada o impedia de bandear-se para o lado de Você-sabe-quem e acabar levando informações preciosas para ele! E, por Merlin, aquele moleque cogitou assassinar Dumbledore por causa de uma briga! O que não faria caso a coisa realmente esquentasse?

Gina bufou algumas vezes durante seu caminhar de passos pesados e olhou indignada para Hermione, apontando o indicador para o próprio peito enquanto apertava os olhos e franzia as sobrancelhas. O rosto da Weasley estava numa coloração de vermelho que a Granger jamais havia visto.

— Está dizendo que eu devia simplesmente ignorar o fato de que se não fosse por ele, Dumbledore estaria vivo?

— Estou dizendo que não devia ignorar o fato de que se não fosse por ele, poderíamos estar mortas também.

Foi com bastante ênfase e dureza que Hermione finalmente pontuou aquele debate inútil em que ela e Gina se meteram. A ruiva calou-se diante da excelente resposta e sentou-se na cama novamente, um pouco emburrada por começar a reconhecer que havia cometido um grande equívoco que poderia causar danos desnecessários não só para elas, mas para toda a Ordem da Fênix, Hogwarts, e quaisquer outros alvos que Voldemort pudesse ter.

No entanto, sabia que não adiantava deixar Gina preocupada com aquilo. O mal feito já havia sido feito e não havia nada que pudesse remediar aquela situação. Porém, Hermione ficou satisfeita com a percepção da Weasley de que as coisas poderiam ser diferentes.

— Não adianta ficar se culpando agora. Não tem como se comunicar com ele mesmo...

— Mesmo que tivesse, Hermione, não acredito que me prestaria a isso.

Os olhos castanhos de Hermione rolaram até Gina com um pouco de impaciência. A Weasley sabia, em seu íntimo que a amiga tinha razão e que não devia ter permitido que suas emoções a guiassem com relação ao acordo que Draco lhe propusera, porém jamais daria o braço a torcer e bateria o pé de que tinha razão até seu último suspiro.

— Você sabe, Gina, não é Voldemort o verdadeiro vilão dessa guerra.

A frase de Hermione rompeu seus pensamentos como o estouro de uma bombinha. As sobrancelhas ruivas se estreitaram e Gina inclinou a cabeça para o lado, demonstrando sua incompreensão da frase maluca que acabara de sair dos lábios da Granger. Tudo o que pôde fazer foi questionar:

— Como assim?

Hermione ergueu a cabeça por um momento, olhando para o teto do quarto enquanto bolava uma maneira rápida de explicar para Gina sua mais recente (e decepcionante) teoria a respeito dos bastidores daquela guerra que não servia para porcaria nenhuma.

— Voldemort é apenas uma figura, sabe? Um símbolo, assim como Harry. Nenhum dos dois é o real vilão ou mocinho, são apenas os símbolos.

Explicou com paciência, gesticulando suavemente e deixando sua mão dançar no ar por alguns momentos, enquanto mantinha seu tom de voz dócil e suave. Gina ficou em silêncio, tentando apenas acompanhar o raciocínio de Hermione, acreditando que qualquer que fosse a conclusão daquele pensamento, lhe tomaria mais de uma semana para compreender com perfeição.

— São símbolos. De um lado há preconceito e arrogância, do outro há preconceito, força e princípios. Mas, no fim das contas, não é sobre Harry e Voldemort.

— Como pode dizer isso, Hermione?

Uma risada curta escapou sem querer pelos lábios de Hermione, que assentiu suavemente e apoiou uma das mãos no ombro de Gina, tentando soar um pouco mais “didática” em relação à sua teoria maluca. A Weasley, por sua vez, esforçava-se para entender sob qual perspectiva a Granger enxergava os fatos para poder chegar àquela conclusão.

— Se não houvesse Tom Riddle, o lado de Voldemort, com todas aquelas pessoas voltadas para um mesmo pensamento errado, iam acabar se unindo a outra cabeça que os liderasse. E o mesmo se diz do lado oposto.

Os olhos de Gina se arregalaram vagarosamente conforme ia digerindo a informação que Hermione transmitia com tanta maestria. Por fim, concluiu seu pensamento com um sorriso triste e distante nos lábios.

— O verdadeiro vilão desta guerra, Gina, é o preconceito.

Então Hermione se levantou e espreguiçou demoradamente, virando-se de costas para Gina e caminhando até as escadas que levavam à sala comunal. Antes de descer, ela virou-se e quase riu ao ver a expressão abobalhada no rosto da Weasley. Então disse em tom maternal antes de se juntar aos outros alunos:

— Pense sobre isso, tá?


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