Dust and Gold escrita por Finholdt


Capítulo 14
XIII. Don't let go yet


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente: FELIZ ANIVERSÁRIO, YUKI!!!!!!
Esse capítulo é o seu presente de aniversário, e quem o ler, por favor deixa o seu "Parabéns, Yuki" para ele.
Yuki foi literalmente o primeiro leitor dessa história, então achei digno o homenagear tomando vergonha na cara e escrevendo de uma vez, mesmo que eu já esteja com saudades dessa fic que está na reta final.



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Ravena estava meditando quando Superboy arrebentou a janela da sala comunal da Torre Titã. Imediatamente, alarmados pelo barulho, Mutano e Estelar vieram ver o que estava acontecendo.

Todos visivelmente pausaram para absorver a cena diante deles.

Porém Superboy não estava no clima para explicações, em seus braços estava um corpo chamuscado que Ravena duvidou muito que a pessoa ainda estivesse viva. Desesperado, ele praticamente voou para cima de Ravena.

— Você tem que curá-lo! — Exigiu.

Ravena abriu a boca para argumentar que seja lá quem for, ela não achava que poderia ajudar muito, mas ele continuou.

Por favor! Isso não pode ficar assim, simplesmente não pode! N-nós ainda temos t-tanto para resolver e-e-e-

— Tudo bem, Jon. — Rachel disse, contra o seu bom senso.

Não seria agradável, mas ela iria pelo menos tentar.

— Ravena... Você tem certeza? — Perguntou Estelar, preocupada.

A amiga sabia que curar não era exatamente um passeio no parque.

Rachel olhou mais uma vez para o rosto desolado de Jon, o rosto completamente manchado de lágrimas e os olhos vermelhos. A pessoa mais poderosa daquele cômodo estava praticamente em frangalhos.

— Tenho.

Ela o direcionou para a ala hospitalar da Torre e observou o óbvio carinho que Jon sentia ao colocar o corpo daquela pessoa na cama.

Como empata, Ravena sentia todas as emoções das pessoas ao seu redor. E quanto mais forte o sentimento, mais alto parecia que a pessoa gritava o que estava sentindo para ela. Observando Jon junto do corpo, parecia que ele estava berrando aos quatro ventos toda a montanha russa que estava sentindo. A fúria, a preocupação, o carinho, o anseio, a decepção e o mais forte de todos: o desespero. O fato de ela sentir absolutamente nada vindo do corpo deitado já era um fator deveras preocupante, mas ela não iria assustar Jon ainda mais do que ele já estava.

— Não sei se ele vai aguentar. — Ela disse lentamente.

Jon olhou para ela como se ela tivesse sido a responsável pela peste negra.

— Você tem que tentar! — Gritou.

Colocando as duas mãos na cabeça do corpo queimado, Ravena sentiu a projeção astral dentro dele. Isso a surpreendeu. Tudo levava a crer que era para esta pessoa estar morta. Puxando sua magia demoníaca para curá-lo, Ravena foi arrebatada com uma sensação estranha. Essa pessoa, seja quem for, possui magia.

E pelo que ela está sentindo, ele a conseguiu pelo preço de sua alma.

Nem tudo estava perdido, então. Ela precisava conectar a sua própria magia com o finíssimo fio da vida que ele ainda tinha e então começar a curar dali. Havia muitos danos que provavelmente seriam irreparáveis, mas pelo menos ele não ia morrer.

Dick certa vez brincou dizendo que ser curado por Ravena era como tomar um banho de água gelada no meio do inverno. Ela sabia que sua cura não era exatamente agradável, estamos falando de magia negra, afinal. Gar nunca escondeu as caretas enquanto ela o curava. Por mais que ela remova os machucados e cure as feridas, o processo não é indolor. Para nenhum dos lados. Ela usava a própria essência para acelerar a cura, o que trazia desconforto e algumas vezes até dor para o paciente.

Entrando cada vez mais dentro da projeção astral dele, Ravena começou a ficar preocupada de não conseguir trazer a pessoa de volta á vida. Era como se o corpo fosse apenas uma casca vazia.

— Olha pra ele, está praticamente morto. — Gar se intrometeu

— Se não vai ajudar, saia daqui. — Ela sibilou em seu corpo físico.

Subitamente, ela sentiu sua conexão diminuir cada vez mais. Ravena deve ter demonstrado alguma reação em seu corpo físico, pois imediatamente ela ouviu Estelar implorar:

— Não, não, não! Ei! Você precisa lutar, tudo bem? Sei que dói, mas você precisa lutar!

Jon grunhiu, tão desesperado que Ravena sentiu em seu corpo físico o calor irradiando dele.

— Você não pode morrer, seu desgraçado! Tem noção de quanta coisa ainda temos que resolver? Desde quando você é um covarde, Damian?

Ravena pausou por um segundo, absorvendo a informação de que o corpo em seus braços é ninguém menos que Damian, o antigo Robin e desertor.

E então.

Uma palavra.

Berço.

Foi uma palavra tão aleatória vindo do fundo da alma de uma pessoa, que o corpo físico de Ravena não conseguiu se impedir de repetir.

— Berço?

Houve algum movimento no plano físico, mas Ravena não poderia prestar atenção a isso nem se quisesse. Ela sentia entrando cada vez mais dentro dessa pessoa, tanto que ela ficou preocupada por estar tão fundo e ainda nem ter começado a sentir as emoções dele. Absolutamente nada. Se a mente dele não tivesse sussurrado mais cedo, Ravena já teria anunciado sua morte.

Ela curava as feridas em seu corpo no plano físico, mas quanto mais em silêncio sua alma ficava, mais preocupação ela sentia de estar curando os ferimentos de um morto.

Saia da minha cabeça

Ravena ficou tão assustada com a súbita ordem que quase parou sua entrada. Quase.

Estou aqui para ajudar você

Ela precisava que ele continuasse falando para então o obrigar sentir algo. Assim que ela tiver acesso a suas emoções, ela poderá devorar as dores da alma e assim o ajudar a se curar completamente.

Não preciso da sua ajuda

Tudo bem, ela precisava mudar de estratégia.

Não seja egoísta, Jon quer mesmo salvar você. Você tem magia, certo? Por que você não me ajuda então?

Silêncio. E então...

Jon?

Uma explosão de emoções arrebatou Ravena tão violentamente que ela sentiu seu corpo físico recebendo o impacto. Foi a fagulha necessária que ela precisava para acessar a alma dele, aproveitando o caleidoscópio de sentimentos girando em seu corpo astral para curar o máximo que podia daquela alma quebrada.

Até que ela foi violentamente jogada para fora do plano astral.

Eu falei fique fora da minha cabeça

~*~*~*~

Primeiro, o nada.

Então, uma explosão gelada vindo diretamente de seus ossos.

— Não sei se ele vai aguentar.

— Você tem que tentar!

— Olha pra ele, está praticamente morto.

— Se não vai ajudar, saia daqui.

Fogo o consumia de dentro para fora. Gelo ardente lutava pelo seu caminho de dentro do seu ser. Ele só queria que tudo acabasse, ele só queria paz.

Pare

Pare com isso

Dói muito, por favor

Por favor me deixa em paz

Me deixe morrer!

— Não, não, não! Ei! Você precisa lutar, tudo bem? Sei que dói, mas você precisa lutar!

Lutar foi tudo que ele fez na vida. Só por um segundo, ele só queria não ter que lutar.

— Você não pode morrer, seu desgraçado! Tem noção de quanta coisa ainda temos que resolver? Desde quando você é um covarde, Damian?

Damian?

Quem é Damian?

Espera... Quem é ele?

Então uma dor profunda vindo diretamente de sua cabeça ameaçou rachar seu crânio ao meio com as memórias e emoções que estavam sendo praticamente sugadas.

O Berço!

Sim, ele não podia morrer. Não antes de resolver a questão da Liga das Sombras que agora está em ruínas.

Gritou enquanto lutava para conseguir recuperar a consciência. Ele podia sentir as águas do poço de Lázaro correndo em suas veias como sanguessugas escaldantes. Sabia que era isso que o estava mantendo vivo ao mesmo que o matava lentamente.

O seu corpo inteiro parecia em brasas enquanto ele sentia sua pele sendo costurada. Mas ele não poderia desistir agora, precisava sair da prisão astral que a magia construiu para si mesmo em uma tentativa desesperada de sobrevivência.

A magia em um mortal era um parasita. Mais tirava do que dava, mas pelo menos se importava o bastante com o hospedeiro para o obrigar a sobreviver. De um jeito ou de outro.

Ele precisava de espaço. Havia gente demais dentro dele.

Saia da minha cabeça

A presença estranha era gelada. Ela em si não era exatamente dolorosa, mas também estava longe de ser agradável. Ele sentia-se cada vez mais sufocado.

Estou aqui para ajudar você

Se ele tivesse forças, zombaria disso. Quem em plena consciência o ajudaria?

Não preciso da sua ajuda

O que era verdade, por mais que as intenções sejam boas, ele poderia muito bem lidar com isso sozinho.

Não seja egoísta, Jon quer mesmo salvar você. Você tem magia, certo? Por que você não me ajuda então?

Isto o fez dar uma pausa. Jon? Como ele... Por que ele... Jon?

Choques elétricos correu por todo o seu ser, como se ele estivesse sendo exorcizado. Se pudesse, gritaria. Sentia-se sendo invadido, revirado e violado de dentro para fora. Chamas o queimavam e tudo que ele pensava era que ele precisava que esse invasor saísse.

Eu falei fique fora da minha cabeça

~*~*~*~

Ibn despertou com um susto. Tentou sentar-se e sentiu o corpo inteiro gritar em protesto. Sentia sua pele em carne viva e considerou por um segundo simplesmente ceder ao esquecimento perpétuo. Mas não.

Ele ainda tinha questões a resolver.

— Eu não sei o que você aprontou, mas pode sentar essa bunda de volta para a maca. — Resmungou Ravena, levantando-se.

Ibn pestanejou, hesitando. Ele estava... Na Torre Titã? Então isso significa que quem estava dentro dele era Ravena. Mas como ele sequer veio parar aqui? Estava do outro lado do mundo quando-

Quando-

Boom

Forçou o corpo a cooperar e evitou olhar as feias cicatrizes que cobriam o seu corpo e os trapos de roupas. Ele estava na explosão. Deveria ter morrido, Ibn tinha bastante certeza de que morreria ali.

Então olhou para frente assim que ficou de pé e o viu.

Ah.

Estúpido, tolo Jon.

— Seu... Seu imbecil! — Gritou Jon, fazendo Ibn arregalar os olhos. — Que ideia foi essa de me atirar longe no meio da explosão? Eu sou invulnerável! Tive que voar o mais rápido que pude para te tirar de lá mas você já tinha sido pego pelo fogo e- e- eu achei que você fosse morrer!

— Sem querer quebrar a tensão sexual entre vocês — Interrompeu Ravena, entediada. —, mas se eu fosse você Damian, deitava de volta na maca. Você não deveria ter quebrado a conexão no meio da cura. Se eu não terminar o serviço logo, vai ter sequelas.

Ibn visivelmente recuou, assustado e irritado.

Não me chame assim. — Avisou, trêmulo.

— Ei, eu literalmente estive dentro da sua alma. No fundo você-

— Cale a boca agora, ou eu vou fazer você se calar.

— Cacete, você é mesmo um merdinha ingrato, hein! —  Gritou Mutano, se aproximando até onde eles estavam.

Ibn abriu a boca para retrucar e parou. Ele estava perdendo tempo. Olhou para as mãos em carne viva e enrugadas, com cicatrizes mal formadas, por toda a extensão dos braços. Era claro que ele interrompeu um processo de cura, no entanto, ele tinha assuntos mais urgentes para lidar. Teria que simplesmente aguentar.

Empurrando Jon para fora de seu caminho, que, surpreso, acabou dando passagem, Ibn andou até a janela mais próxima da ala hospitalar da Torre. Ignorando completamente os avisos que os outros gritavam, Ibn preparou-se para pular até sentir seu corpo ser fisicamente impedido pela sensação gelada que o atormentava mais cedo.

Ravena.

Bem, dois poderiam jogar esse jogo.

Todos os seus instintos gritavam para simplesmente voltar para a maca e deixar-se ser curado e não fazer aquilo que Ibn faria. Infelizmente, senso de autopreservação nunca foi o forte dele.

Murmurando um contra feitiço para a magia demoníaca da empata, Ibn a prendeu em uma barreira de contenção, quebrando a força que ela tinha em seu corpo. E então, sem parar para ver a reação dos outros, pulou.

[...]

Assim que Damian pulou, a magia que ele havia usado para prender Ravena se desfez. Por um minuto inteiro, ninguém se mexeu. Todos nós estávamos nos olhando assustados, esperando alguém se mexer primeiro. E, não sei eles, mas eu só estava repassando as últimas horas na minha cabeça, paralisado demais para conseguir me recompor e então ir atrás daquele idiota.

Então todos os comunicadores da Torre berraram em alerta. Kory pareceu assustada, mas foi mesmo assim até o computador principal ver o que estava acontecendo.

Não precisei nem ir atrás dela para ouvir. Em alto e bom som, a voz de Barbara Gordon ecoou em todos os alto falantes da Torre:

Atenção: Superboy está desaparecido. Suspeitamos que ele possa ter tentado resgatar o novo Ra’s al Ghul – se alguém o vir, nos mande uma mensagem imediatamente. Ele pode ser um traidor.

Todos os olhos dos Titãs viraram-se para mim.

Repetindo: Superboy está-

Kory desligou o monitor, acabando com o barulho.

Ninguém se mexeu, todos tensos. Comecei a me perguntar se poderia lutar contra todos ao mesmo tempo para então conseguir fugir. Traidor? Isso é um pouco demais...

Se todo mundo simplesmente parasse por um minuto, então eu conseguiria resolver toda essa bagunça. Eu só quero o meu amigo de volta! Eu sei que ele ainda pode ser salvo, por que ninguém simplesmente me escuta?!

— Bem, o que você está esperando? — Foi Rachel quem quebrou o silêncio. — Um convite formal para sair daqui logo antes que outros venham procurar por você?

Hesitei, incerto se estava ouvindo direito.

— É, guri, vaza logo! — Disse Gar, parecendo aborrecido. — É melhor você buscar aquele cadáver ambulante antes que outra pessoa o ache.

— M-mas... — Minha voz falhou por um segundo. — Eu-

— Jon. — Chamou Kory com a voz doce, se aproximando de mim. — Tome esse comunicador. Mantenha-se escondido, use as nuvens para voar despercebido. Acreditamos em você.

Era difícil acreditar que ainda havia lágrimas dentro de mim para serem derramadas, mas fui rapidamente provado errado quando as senti escorrendo pelo meu rosto. Um dia nunca foi tão emocionalmente desgastante quanto esse, e parece que ele nunca terá fim.

Apertando o comunicador em minha mão, olhei para os Titãs restantes, tão agradecido pela confiança deles em mim que mal podia respirar.

— Obrigado gente... Sério.

E disparei a voar atrás daquele cabeça dura.

~*~*~*~

Estava trêmulo e havia perdido a sensibilidade dos braços havia um tempo. Ibn sabia que o seu corpo estava movendo puramente em adrenalina, mas não parou. Não. Ele precisava voltar para o exato lugar mais perigoso para ele, precisava tirar as crianças de lá, descobrir o que aconteceu com os seus ninjas e a mãe. E acima de tudo, ele precisava ter algumas palavras com o avô, que agiu tão estranhamente no minuto que eles foram atacados.

Mesmo em um dia bom, Ibn já era uma das pessoas mais procuradas do globo. Agora? Ele teria que ter muito, muito cuidado para não ser visto enquanto navegava pelas cidades. Para conseguir voltar até o que restou de Nanda Parbat, ele precisava fazer aquilo que jurou jamais fazer nessa nova vida.

Ele precisava invadir a Batcaverna.

[...]

Conhecendo Damian como conheço, ele deve estar sendo extra cuidadoso por onde anda. E como não quer ser seguido por mim – porque obviamente eu iria atrás dele – ele deve estar pegando caminhos que esteja cercado de chumbo. Mas... Onde? Túneis? Havia centenas, eu demoraria dias até checar todos.

Frustrado, abri o comunicador, tentando conectar na frequência que Barbara estava usando antes. Precisava saber o que eles fizeram desde que tudo foi pelos ares.

“...anças... custódia... escapou...”

“...Talia al Ghul assim como... são fugitivos...”

“...ninjas sobreviventes estão sendo levados para a Torre de Vigilância...”

“Mantenham-se atentos para o novo Ra’s al Ghul, se ele sobreviveu, provavelmente tentará libertá-los. Devemos supor que Superboy está com ele, se é contra a vontade ou não, devemos nos preparar.”

Ugh, fala sério. Assim que tudo isso acabar, eu terei uma séria conversa com os outros sobre confiança e lealdade. Sem falar que, o quê eles estão pensando? Que Damian conseguiria me obrigar a fazer qualquer coisa que eu não queira? Por favor!

Estava prestes a desligar o comunicador por ter sido absolutamente inútil quando um pequeno alarme apareceu na tela.

ALERTA: SEGURANÇA QUEBRADA. MANDANDO REFORÇOS PARA A BATCAVERNA

Te peguei.

~*~*~*~

Ibn sabia que tinha apenas segundos até algum herói de Gotham aparecer. Sua magia estava em frangalhos com todo o estresse que ele forçou nas últimas horas, e Ibn sentia que estava a dois passos de desfazer-se a qualquer segundo.

Enquanto entrava no avião a jato de Batman, Ibn fazia força para não pensar demais sobre o pai e a sua antiga vida. Ele só podia pensar em uma coisa agora: O Berço.

A adrenalina estava começando a esvair em seu corpo, deixando Ibn preocupado. Tudo em seu ser gritava para ele dar meia volta e deixar Ravena terminar o serviço, porém Ibn manteve-se firme em sua decisão. Todos esses anos de armações, esquemas, e missões foram em prol disso, sua vida não teria mais sentido se falhasse nisso. Ele não pode falhar nisso também. Simplesmente não pode.

Voando alto, Ibn usou toda a sua concentração em não ser pego. Sabia que era procurado por toda a maldita comunidade heroica a essa altura e ele simplesmente não tinha nem tempo e nem energia para ter que lidar com mais lutas. Tudo que importava era chegar até o Berço antes que os idiotas quebrem os sistemas de segurança e peguem as crianças.

Em seu íntimo, Ibn sabia que as crianças ficarem sob custódia da Liga da Justiça não seria o fim do mundo. No entanto, se a ação de desmembrar o Berço não viesse do próprio Ra’s al Ghul, nada impediria a Liga das Sombras de se refazerem seguindo esses mesmos passos. E isto, Ibn simplesmente não pode tolerar.

Se estiver atrasado e a Liga da Justiça já estiver com todas as crianças, bem, Ibn só terá que roubá-las de volta.

Ibn viu a fumaça antes mesmo de chegar perto do território de Nanda Parbat. Quietamente, amaldiçoou Luke Fox por tão tolamente ter quase posto tudo a perder. Se aquelas crianças estiverem nem que seja com um fio de cabelo fora do lugar, Ibn faria Batwing pagar severamente por isso...

Aumentando a velocidade, Ibn grunhiu frustrado por não conseguir ver nada por dentro daquela fumaça negra que não parava de subir pelos céus. Lentamente, Ibn checou o perímetro em busca de algum herói voando por ali e ficou satisfeito e preocupado ao ver ninguém mais. Jogando a precaução pela janela, Ibn pousou.

[...]

Quando eu tinha chegado na batcaverna, cheguei quase que junto com outros seis heróis que também receberam a notificação sobre a invasão. Xingando baixinho, me escondi logo. Sabia que assim que alguém mais me visse, eu jamais alcançaria Damian de novo.

Me afastando o mais quietamente possível dos outros, com meu coração rugindo em meus ouvidos, não notei que ao me esconder no primeiro quarto livre que encontrei na mansão, acabei dando de cara com Alfred Pennyworth.

Fazia tantos anos desde a última vez que o vi que por um minuto inteiro, apenas o encarei, sem saber o que dizer.

— Sr. Kent, devo dizer que é uma surpresa. — Alfred disse, tranquilamente.

— Humm... É... Bem...

— Suponho que você não esteja com os outros ali embaixo?

Alarmes soaram em minha cabeça. Se Alfred souber que sou um suspeito como traidor... Decidi dizer nada, apenas o encarar. Não consegui tirar o pânico dos meus olhos enquanto o olhava, silenciosamente implorando para entender.

— Oh bem. Nesse caso, devo supor que você está mais interessado em ajudar o jovem patrão que honestamente já viu dias melhores?

Meus olhos quase caíram das órbitas.

— Alfred! V-você o viu? E não fez nada? Não ficou com medo?

Alfred realmente fez um muxoxo, zombando de mim.

— Por favor. Conheço o Patrão Damian mais do que ele próprio, se ele está do outro lado, certamente há um motivo. E quando ele estiver pronto, sei que voltará para casa. Foi unicamente por isso que permiti que ele roubasse o avião a jato ao invés de o obrigar a tomar um pouco de morfina diretamente na veia. Ele está tão desorientado que mal notou que eu também estava na caverna. — Ele revirou os olhos. — Jovens.

Eu poderia beijar o Alfred se não desconfiasse que ele carrega kryptonita por aí. Me contentei com um abraço surpresa, tomando cuidado para não o esmagar.

— Finalmente alguém que também acredita nele! Oh, Alfred!

— Ca-ham... Sr. Kent, eu acredito que você tenha outros lugares para ir... Como atrás do patrão Damian, por exemplo. — Alfred disse secamente, mas notei que ele parecia constrangido pelo súbito abraço.

— Certo! Você tem razão, claro. Sabe onde ele poderia estar planejando ir? Ele deixou alguma coordenada?

— Nanda Parbat. Ao menos foi as coordenadas que ele colocou no avião.

Isso me fez pausar, lívido. Aquele absoluto idiota! Eu arrisquei absolutamente tudo para o tirar de lá, e então ele volta para a cova dos leões?! Bem, agora eu estava furioso. Vou amassar aquele maldito avião assim que o ver e o jogar de volta para os Estados Unidos com ele chutando e gritando, estou nem aí!

Murmurando um agradecimento pela informação, discretamente sai pela janela da mansão, usando as nuvens como camuflagem.

Demorei para o alcançar, mas felizmente ele teve a mesma ideia que eu de usar as nuvens como vantagem.  Assim que o vi pousando dentro da fumaça espessa, voei em toda velocidade para o arrancar de lá. Que idiota inconsequente!

Assim que entrei dentro da fumaça, ouvi o barulho de baque surdo.

Não estávamos sozinhos.

~*~*~*~

Ibn cambaleou para fora do avião a jato assim que pousou. Tossindo por causa da fumaça, Ibn olhou ao redor, tentando achar-se.

— Então, você voltou afinal. — Uma voz se fez presente, alarmando Ibn.

— ... Avô. —Ibn cumprimentou, procurando alguma coisa que poderia usar como arma. — O que está fazendo aqui?

— Queria ver se o meu neto era mesmo um rato traidor ou apenas um tolo.

Ibn congelou.

— O que quer dizer com isso?

— Tsc, tsc... Eu sabia que o seu casamento seria invadido por aqueles tolos coloridos. Estava testando-o, meu neto. Qual seria o seu jeito de lidar com a crise assim que se tornar-se Ra’s al Ghul? Quais seriam as suas prioridades?

O antigo Ra’s aproximou-se pela fumaça, tomando forma frente a Ibn. Ele estava completamente vestido, como se não tivesse nem sequer participado na batalha por Nanda Parbat. Isso, mais do que a espada apontada em sua cara, foi o que mais enfureceu Ibn.

— Se ao menos você não tivesse voltado para , Ibn. Se ao menos eu tivesse visto você destruindo a Liga da Justiça para pegar nossos irmãos de volta. Mas não, você voltou por eles. — Apontou para um ponto atrás de si. Ibn forçou a vista e viu... O contorno do Berço. — Achou que eu tinha comprado a sua subida mudança de opinião sobre o trono? Que eu nunca tinha desconfiado das suas reais intenções?

— Bem, agora você sabe. — Rosnou Ibn. — Eu vou desfazer tudo o que você criou, e serei um Ra’s melhor do que você jamais foi, avô.

— Você será nada, pirralho insolente. Morrerá aqui com o seu precioso Berço!

Ibn pôde ver seu avô levantando a própria katana de forma que apenas um rápido deslize da lâmina pelo vento pudesse cortar sua cabeça. Não poderia ser, o filho do demônio não poderia ser destronado naquele momento. No entanto, o silêncio que ele esperava ouvir na morte nunca chegou. Na verdade, ele havia ouvido um alto “fzzt”, um raio laser disparado de uma média distância, atingindo o velho Ra’s no ombro e quase tirando a katana de suas mãos.

— Damian! – uma voz familiar para o novo Ra’s gritou, descendo rapidamente dos céus e afastando um pouco da fumaça negra com o impacto de seu pouso.

— Até nisso você me decepcionou, neto. — Arfou Ra’s, olhando para algo acima de Ibn. — Envolvendo-se com esse alienígena. Bem, o seu cachorrinho está aqui agora.

— Não sou cachorro de ninguém! – Retrucou o garoto, se aproximando a passos lentos, seus olhos sendo preenchidos por um quente vermelho.

Jon? — Ibn tentou olhar para trás, mas sentiu um calor estranho emitido pela katana de seu avô, e seu corpo tremeu, fazendo com que voltasse os olhos para o velho. – Kryptonita...

Jon percebeu a luz verde formando listras na lâmina e forçou-se a recuar, seus olhos esfriando. Tomando um pouco de altitude, chegou a uma distância segura. Ele parecia frustrado por não poder ajudar muito, constatar isso quase fez com que Ibn risse da careta dele.

Aproveitando a distração do antigo Ra’s, que olhava para cima, Ibn procurou mais uma vez por uma arma que pudesse usar, e encontrou uma espada abandonada no chão, ao lado de um corpo morto, um de seus ninjas que perderam a vida na explosão. Fez seu maior esforço para conseguir pegá-la do chão rapidamente, e quando o fez, virou-se e tentou golpear o avô, mas o único som que ouviu foi um “cling”. Seu golpe havia sido bloqueado, e a única coisa que havia no rosto do avô era desprezo.

— Você nunca seria um Ra’s al Ghul digno, você é apenas mais uma decepção, assim como a sua prima. — Cuspiu. — Considere esta morte rápida como a minha misericórdia.

— Bem, quanta a parte de um Ra’s al Ghul indigno, vou ter que concordar, avô. — Uma nova voz apareceu logo depois de uma espada atravessar o peito do antigo Ra’s. O avô de Ibn arregalou os olhos e abriu a boca, em choque, porém apenas sangue saiu.

A espada foi subitamente retirada do peito dele e antes mesmo que qualquer um deles pudesse reagir, a espada decapitou o corpo de Ra’s. Aproximando-se, a figura por trás do ataque revelou-se sendo ninguém menos que Mara al Ghul.

— Olá, marido.

Por um minuto inteiro, ninguém se mexeu. Mara, analisando o estado deplorável que seu marido se encontrava. Jon, perplexo ao ver o corpo decapitado. E Ibn, preparando-se para o caso de Mara quiser arrancar a sua cabeça também.

Que inferno, ele só precisava descobrir onde estava todo mundo-

— Mara. — Cumprimentou, frio. — Acredito que você esteja esperando um agradecimento.

— Seria bom. — Ela disse docemente, com um sorriso que não combinava com o tom da voz.

Ibn olhou para Jon, que parecia totalmente incerto do que fazer até por fim notar ele olhando para algum ponto acima, horrorizado. Preocupado, Ibn virou-se, apenas para dar de cara com a última pessoa que desejava ver.

Superman.

— Nós podemos fazer isso do jeito fácil, ou do jeito difícil. — Superman declarou, impassível.

Ibn arreganhou os dentes, pensando o quanto seria suicídio atacar o odioso herói no estado que se encontrava e que se pelo menos tinha chances de fazer algum estranho. Jon, provavelmente prevendo o que a linguagem corporal de Ibn queria dizer, falou:

— O que você pretende fazer com a gente?

Superman olhou o primogênito com tristeza.

— Vocês três estão presos. Vic? Pode os levar.

Então uma sensação horrível de ter os seus órgãos revirando-se por dentro atingiu Ibn, quase o fazendo vomitar. Mas não pelo desconforto, e sim pelo o que significava. Assim que pontos pretos pararam de dançar nos olhos de Ibn, ele olhou ao redor, tendo a confirmação do seu maior receio.

Estamos na Torre de Vigilância... E não do lado certo das celas de contenção.


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Notas finais do capítulo

Segundamente: MIL OBRIGADAS pro @UnderTheRedHood por ter me ajudado na cena de luta final, esse capítulo me MATOU talkei, eu fiquei travada no embate por HORAS



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