Her Wealth & His Misery escrita por UnknownTelles


Capítulo 9
Boas Notícias, Más Notícias


Notas iniciais do capítulo

Queria ter publicado esse capítulo mais cedo, mas tive uma pequena crise de bloqueio artístico.
Gostaria que ouvissem Für Elise durante todo o capítulo, vou deixar um link do youtube que tem um loop de uma hora da música (link no primeiro parágrafo).

Boa leitura!



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Für Elise

Eu sentia como se estivesse me perdendo dentro daquelas esmeraldas únicas. 

Aiden ainda estava com a mão esticada esperando que eu a apertasse como sinal de aprovação do meu mais novo cargo na empresa. A verdade era que eu estava em pânico por dentro. Como ele podia me dar um cargo tão importante e de tanta responsabilidade se eu nem mesmo tinha treinamento na aérea?

Suspirando, ele recolheu a mão um pouco impaciente e a pôs no bolso da frente da calça. Parecia ser algo que fazia com frequência.

— Se o que a impede de aceitar a proposta é devido ao perigo que estará exposta, não precisa se preocupar, pois assim que for nomeada para a função, terá seu próprio guarda-costas. O Sr. Connor também terá direito a um.

Eu nem mesmo havia considerado aquele um cargo perigoso, era uma implicação que não havia passado nem de longe pela minha cabeça.

— Esse não é o motivo, na verdade — respondi franzindo o cenho. — Eu não acredito que esteja capacitada para tamanha responsabilidade, Sr. Blackwood. Ter sido bem sucedida naquele dia não era resultado de experiência e destreza, mas apenas sorte.

Os olhos dele brilharam e um meio sorriso se esboçou em seu rosto. Ele pegou uma pasta parda em cima da mesa e me entregou. Quando eu a abri, tirei o papel que havia dentro li e o que era. Quase tive um ataque do coração.

— Graduação em Cyber segurança em Harvard? — Li em voz alta.

Dentro da pasta havia mais folhas. Passei o olho rapidamente por cade uma delas: eram documentos para aplicação de vaga. O mais assustador é que continha todas as minhas informações como endereço, número de identidade, etc.

— A A&A Banks está sempre buscando formas de aprimorar seus serviços aos nossos clientes e a melhor forma de fazer isso é lapidar o talento dos nossos próprios funcionários. É óbvio que nesse momento você não está totalmente preparada para assumir o cargo como chefe de segurança, mas você tem o talento para isso. 

Eu ainda estava boquiaberta com aquilo tudo.

— Isso quer dizer que todos os meus gastos referentes ao estudo seriam arcados pela empresa? — Tudo parecia bom demais para ser verdade. Eu já tinha apanhando bastante da vida para saber que nada vinha de graça. E se quando eu terminasse tudo eu acabasse com uma dívida maior do que a que meu pai tinha com os agiotas? Estudar em Harvard gastaria uma fortuna. — E como foi que todos os meus dados foram parar nesse formulário?

— Como eu disse, Srta. Connor, é a empresa que busca aprimorar seus serviços, logo é a própria que arca com as despesas — respondeu sentando-se na cadeira atrás da mesa de novo. — Quanto às suas informações, creio que não seja uma ideia absurda fazer uma pequena pesquisa no background de meus próprios funcionários, ainda mais os que estão ligados à segurança da minha empresa.

Eu abri a boca para responder quando ouvi uma batida na porta. Sem desviar os olhos do meu, ele ordenou:

— Entre — apenas uma palavra, mas sua voz demonstrava irritação por ter a nossa conversa interrompida. — O que você quer, Hellen?

Ela sentou na cadeira ao lado da minha, cruzou as pernas e acendeu um cigarro.

— Talvez você não saiba, já que não é um mero mortal como nós, ó Poderosos Chefão, já que é capaz de passar dias enfurnado nesse escritório sem comer e beber nada além de café, mas Keith aqui ficou dois dias no soro e precisa de alimento sólido. Por isso, queira você ou não, querido primo, eu vou sequestrá-la para que coma algo decente.

Tive que morder o lábio inferior e baixar a cabeça para impedir que eu explodisse em risada. Então algo que ela disse estalou na minha mente.

— Primo? — Perguntei confusa.

Ela estava prestes a dar uma tragada no cigarro quando seus olhos arregalaram como se tivesse lembrado de alguma coisa. Sem cerimônia jogou-o em uma cesta de  metal vazia que havia ali perto. Não entendi bem suas ações, mas não passaram despercebidas. 

Pigarreando, ela respondeu:  

— Pois é, quando comecei a namorar Adam não sabia que o primo dele era um arrogante e prepotente e que viria no pacote familiar, afinal eles são totalmente apostos.

Assim que ela terminou de falar Aiden deu uma risada forçada.

— Vocês estão casados há dois anos e até agora ainda não conhece o marido que tem? Adam era pior do que eu antes de vocês namorarem, Hell-lem.

Eu assistia o debate deles impressionada. Nunca havia imaginado que existiria alguém que pudesse se comportar tão informalmente com Aiden e ainda lhe falar umas boas verdades na cara. Se eu já gostava de Hellen antes, passei a adorá-la naquele momento.

— Não vamos entrar em algo do qual não vamos sair tão cedo. O que importa agora é que Keith coma alguma coisa antes que desmaie de hipoglicemia.

Dito isso ela levantou e começou a me puxar para fora do escritório. Ele não contradisse e isso me deixou um pouco pensativa. 

Antes que saísse do cômodo, eu disse:

— Ainda tenho muitas perguntas pra fazer.

Ela apenas lançou um olhar de lado como se estivesse tentando me decifrar.

— Você pode fazer isso depois de comer — e como se a palavra dela fosse ponto final, arrastou-me para fora do escritório. — Você também deveria sair da caverna e vir comer alguma coisa, Flintstones — gritou do corredor para Aiden. — Não precisa estudar medicina por seis anos para saber que café ainda não é o suficiente para substituir uma refeição!

Não consegui mais conter a risada. O bom humor dela era sem dúvida, contagiante. Talvez se eu não levasse a vida tão a sério eu fosse capaz de me estressar menos. Tinha a impressão de que ainda aprenderia muito com a pequenina mulher.

Após alguns segundos chegamos até uma espécie de cozinha empalhada em aço inox. Havia uma ilha no meio com um fogão de oito bocas — eu nem sabia que existia mais de seis! —, e uma senhora rechonchuda que balançava o quadril ao som de blues. Definitivamente não era uma cena que eu esperava encontrar na cozinha do famoso bancário Aiden Blackwood.

A avantajada mulher virou inocentemente em um de seus passos para acompanhar a música e se deparou com uma plateia de duas pessoas a observando curiosamente. Hellen foi até ela e segurando as mãos uma da outra começaram a dançar e cantar juntas quando entrou o refrão. Era impossível não se contagiar pela alegria que traziam ao ambiente. 

— Completamente loucas, não acha? — Aiden disse enquanto cruzava os braços.

Olhei para o lado um tanto supresa pela sua chegada silenciosa e me perguntei se isso fazia parte dele ou se havia desenvolvido a habilidade com a prática de falsos roubos ao próprio banco. Seus olhos estavam focados nas duas mulheres que dançavam alheias a nós dois. Ele parecia cansado, mas seus lábios não falharam em esboçar um meio sorriso disfarçado.

Voltei a minha atenção para frente sorrindo também. Queria ter aquele tipo de alegria na minha casa todos os dias. Com certeza isso teria me dado mais ânimo para levantar e trabalhar do que lembrar da minha mãe que havia nos abandonado por alguns milhares de dólares.

— Loucas, mas felizes — murmurei para mim mesma um pouco melancólica.

— Hey, os dois chatos aí do canto, venham comer! — Chamou Hellen.

Sem esperar por Aiden, fui em direção a ela, mas antes que pudesse chegar à cadeira do balcão fui engolfada por braços fofos, enormes e bem fortes.

— Menina, não está em uma dessas dietas loucas dos jovens de hoje em dia, não, né? Ai, ai, ai eu não sei o que passa na cabeça das moças de hoje em dia. Vou te dizer, na minha época os homenes gostavam mesmo era de pegar em mulher bem carnuda! — a forte senhora me apertava contra o seu peito me deixando sufocada, já estava prestes a perder o ar enquanto Hellen morria da rir no canto.

— Cristina, tenho certeza que a Srta. Connor não está interessada nos seus conselhos nutricionais — seu tom tentava ser repressor, mas nem mesmo eu estava acreditando.

— Você fique quieto, mocinho. Eu ainda não te perdoei pelo que fez! 

Ela parecia realmente chateada pois evitava olhá-lo. Hellen aproximou-se devagar como uma cobra que dá o bote.

— Hey, Cris, o que foi que que o Poderoso Chefão fez dessa vez?

— Te conto depois quando estiver passando a novela — ela respondeu em um tom de fofoca.

Desde de que entrara na cozinha não conseguia para de observar como as duas interagiam tão naturalmente.

Nós quatro jantamos a maravilhosa lasanha preparada pela doce Cristina. Eu não sabia quanto tempo fazia que havia comido algo tão saboroso e preparado com tanto carinho. Porém quando ela tentou me empurrar um terceiro prato cheio daquela delícia de queijo derretido, tive que recusar. Tinha até pensado que a minha tortura havia acabado, mas ela ainda tentou me forçar a comer pudim de leite condensado. Meu estômago já estava pedindo espaço emprestado ao intestino.

De repente um alarme estridente soou no ambiente. Eu quase pulei da cadeira de susto.

— O qu-

Hellen puxou o celular do bolso, a fonte da poluição sonora. Ela arregalou os olhos e amaldiçoou alguma coisa. Em menos de um segundo já tinha disparado para o corredor. Fui atrás dela preocupada que fosse alguma coisa grave. Nunca quis estar tão errada porque senti meu coração parar de bater por longos e dolorosos segundos quando vi onde ela entrara.

O quarto do meu pai.

Com passos lentos e temerosos, passei pela porta entre aberta e vi Hellen debruçada sobre a cama onde ele estava fazendo força com as mãos no peito dele. Tive que escorar na própria porta para não cair, meus joelhos começaram a fraquejar e meus músculos estavam prontos para ceder completamente. Segurei a maçaneta com tanta força que tinha medo de quebrar meus próprios ossos. 

Eu podia enfrentar um quase estupro, eu podia andar pela beirada do prédio do sexto andar de um hospital, sobreviver a um assalto ao banco e a um tiro no peito, mas tinha uma coisa que eu jamais poderia enfrentar. 

Perdê-lo.

Comecei a fazer meu caminho até o leito, mas quando estava na metade do cômodo ouvi Hellen berrar sem virar:

— Aiden, tira ela daqui!

Eu não sabia quando ele havia chegado no quarto, nem mesmo como havia me alcançado, mas os braços de aço que envolveram a minha cintura me puxando para fora do quarto eram de verdade e pertenciam a ele.

— Não! Eu preciso ficar com ele! — Gritei, meu corpo começou a tremer, então supliquei: — Hellen, por favor.

— Aiden, agora! Saiam daqui!

Se alguém assistisse a cena de fora teria parecido que eu nem mesmo estava tentando me soltar visto que todos os meus esforços eram inúteis, mas isso estava longe de ser a verdade. Eu me esperniava como uma criança de cinco anos, arranhava os braços dele como se fossem cordas tentando me imobilizarem. Àquela altura eu estava pouco me importando de que ele era meu chefe e de que eu provavelmente perderia meu emprego devido à todos os arranhões que deixei marcados em seu corpo ou dos hematomas que tatuei na sua canela com os meus coices.

Eu só tinha um pensamento que me consumia.

Chegar até ele, chegar até ele.

Eu precisava estar ao lado do meu pai, precisava segurar a sua mão. Dizer que tinha que fazer força e lutar. 

— Srta. Connor — Aiden tentava me distrair me puxando para mais e mais longe do quarto. Eu ainda não entendia como ele conseguia lidar com todo esperneio que eu estava impondo sem nem mesmo suar. — Keith, pare!

Ao ouvir meu nome parei de me mexer imediatamente. Estava surpresa por ele ter cortado a formalidade, mas naquela hora me rendi simplesmente porque eu sabia que nunca seria capaz de disputar forças com ele. Quando olhei a minha volta, reparei que estava sentada em um pequeno sofá de couro marrom dentro do escritório.

Ouvi um sonoro clique indicando que ele havia trancado a porta.  Éramos só nós dois ali de novo, e se fosse em algum outro momento eu provavelmente teria ficado muito nervosa, mas eu só conseguia pensar no meu pai. Minhas mãos começaram a tremer e eu tive que morder o lábio inferior para imepedi-lo de fazer o mesmo. Eu fitava o chão com os olhos cheios de lágrimas piscando excessivamente para contê-las. Eu não podia desistir ainda, eu precisava acreditar que tudo daria certo, que o meu pai ficaria bem. Todos os problemas financeiros estavam resolvidos, eu havia conseguido um emprego fixo em uma das melhores empresas bancárias do mundo. A dívida com os agiotas estava paga — algo que eu ainda não tinha tido tempo hábil para pensar, muito menos em como pagaria Aiden por isso. Eu iria começar o próximo semestre em Harvard. Ainda não tínhamos uma casa, mas iríamos dar um jeito. 

Sempre demos.

Nada mais importava naquele momento, dinheiro, problemas, dívidas. Eu só queria que meu pai estivesse bem de saúde e que tudo, no final, desse certo.

Largas e calorosas mãos entraram em meu campo de visão tocando as minhas. Levantei a cabeça lentamente percorrendo os braços com os olhos e lamentando a série de arranhões que deixei em sua pele, alguns estavam até mesmo sangrando. Aiden estava agachado à minha frente. Outra cena que eu jamais poderia imaginar se não fossem as atuais circunstâncias. Parecia uma posição estrangeira, uma pessoa como ele devia estar acostumada a olhar os outros sempre de cima, mas naquela hora, nossos olhos estavam na mesma altura. 

— Eu sinto muito — desculpei-me referindo aos arranhões.

Ele apenas me fitava de volta. Tentei tirar suas mãos da minha, estavam me causando diferentes sensações que eu não sabia nomear, mas foi em vão. Eles as apertou ainda mais contra as suas.

— Keith, eu... — ele franziu o cenho, como se estivesse pensando muito sobre o que falar. — Eu não sei o que você está passando, não posso dizer que entendo a sua dor — seus olhos mostravam o quão perdido estava naquela situação —, mas eu sei que precisa se acalmar e ser forte para o que quer que venha a acontecer.

Suas palavras não eram as que eu queria ouvir. Eu queria que alguém me abraçasse e dissesse que tudo ia dar certo, que foi tudo um susto, mas que logo meu pai estaria recuperado. Isso só fez com que eu tivesse que redobrar meus esforços para não desabar na frente dele.
Enquanto ficamos ali no escritório Aiden permaneceu em silêncio e isso estava me fazendo beirar a loucura. Ele tentou me oferecer café, mas o mero pensamento de colocar qualquer coisa na boca, fosse bebida fosse comida, quase me fazia vomitar.

Não sei por quanto tempo ficamos assim, provavelmente por horas. A falta de notícias estava prestes a me fazer arrancar os próprios cabelos. Uma batida fraca na porta fez com que eu virasse a cabeça rápido demais e em dois segundos já estava em frente a ela. Aiden também correu e abriu-a. Hellen usava roupas cirúrgicas complementadas com touca e uma máscara que pendia no pescoço. A dúvida do porquê estarmos na casa de Aiden em vez de em um hospital surgiu brevemente em minha cabeça de novo, mas foi logo ignorada. Aquele não era o momento para ter nenhuma pergunta respondida senão uma apenas:

— Como ele está? — Minha voz estava rouca e embargada.

Hellen olhou para Aiden por um segundo e então voltou os olhos para mim. Parecia cansada e destratada como se todas as suas energias tivessem sido consumidas.

— Eu sinto muito, Keith.


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Notas finais do capítulo

CALMAAAAAA, NÃO ME MATEM! (Especialmente aqueles que também acompanham a minha outra história, Silent Pain. Eu não esqueci de vocês, vou postar o próximo capítulo logo!)
Eu não posso dizer o que vai acontecer com o pai de Keith porque seria o mesmo que dar spoiler, mas eu vou apenas dizer uma coisa (quem for esperto vai entender): Nem tudo é o que parece.
Espero que tenham gostado de mais um capítulo.
Boa semana!



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