Her Wealth & His Misery escrita por UnknownTelles


Capítulo 8
Proposta


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente!
A foto do capítulo é do quarto onde Keith acordou.
Espero que gostem desse capítulo.
Boa leitura!



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— P-pai... Pai... — de alguma forma consegui recuperar a voz e aos poucos, forças foram alcançando meus músculos e pude me mover novamente. Levantei o mais rápido que pude e fui até onde o único homem que eu amava estava estendido no chão. — Pai!

Coloquei as mãos nos bolsos em busca do meu celular, mas lembrei que havia perdido junto com a minha bolsa no beco. Busquei pelo celular do meu pai no bolso da bermuda dele e achei. Tentei desesperadamente digitar os três números da emergência para chamar a ambulância, mas meus olhos estavam turvos de lágrimas e meus dedos estavam trêmulos e sujos de sangue.

— O socorro já está vindo — a voz de Aiden era tão suave, quase um sussurro. Ele tirou o celular da minha mão com delicadeza e pôs a mão no meu ombro. — Ele vai ficar bem.

Por algum motivo, talvez por ter sido com tanta confiança, senti-me um pouco confortada, mas não consegui trazer meus olhos aos dele. Meu pai era a minha única preocupação no momento.

Alguns minutos se passaram e eu estava quase totalmente alheia a tudo. Ouvi Aiden falando com Rosa alguma coisa, mas não sabia o que era. Eu me sentia uma tremenda covarde e ingrata, por minha causa ela havia se metido em toda aquela confusão e o mínimo que eu deveria ter feito era pedir perdão, mas eu não conseguia sair de onde estava. Apesar de ainda estar um tanto desconfiada do verdadeiro caráter de Aiden, por hora, eu estava grata por estar cuidando de tudo o que era minha responsabilidade. 

— Mais um pouco e eu pensaria que tinha ido fabricar a ambulância você mesmo, Carl — repreendeu Aiden.

— Eu sinto muito, Sr. Blackwood. Houve um contratempo, mas já está...

Antes que o tal Carl pudesse terminar de falar, ouvi uma voz conhecida entrar na sala e começar a dar ordens aos paramédicos.

Só então eu levantei a cabeça.

— Hellen — sussurrei, minha voz parecia rachada e vacilante.

Eu estava muito feliz por vê-la, mais feliz do que eu podia compreender. Tentei levantar, mas minhas pernas fraquejaram. Senti mãos fortes virem de encontro aos meus braços tentando me sustentar. Mais uma vez, covarde como eu era, não fui capaz de olhá-lo, nem agradecê-lo.

Ao ouvir chamá-la, Hellen veio ao meu encontro enquanto outros três homens vestidos com paramentos médicos moviam meu pai com cuidado para uma maca.

— Keith! — Ela abriu os braços para mim e não resisti, desabando em cima da pequena mulher. 

A presença dela ali me confortou mais do que esperava e me surpreendi mais uma vez por ter desenvolvido tamanha consideração por Hellen em tão pouco tempo. O pensamento de antes me ocorreu, sobre sermos amigas tão rápido e foi com um fraco sorriso nos lábios que senti a minha visão turvar e meus braços tremerem novamente. Dessa vez, entretanto, eu não resisti. Sabendo que meu pai estava em boas mãos, eu podia muito bem morrer em paz.

*******

Contudo, morrer não foi exatamente o que aconteceu, apesar de que o lugar no qual eu acordei podia muito bem ser uma espécie de paraíso se comparado com a minha casa.

Minha visão estava de volta ao normal, meu músculos estavam, ao contrário de antes, muito bem relaxados. Nunca havia me sentido tão bem quanto me sentia naquele momento. Após um breve check up próprio, sentei na enorme e macia cama na qual estava e olhei ao meu redor. Tive que piscar algumas vezes para acreditar no que via. A cada piscada eu pensava que as coisas iriam voltar ao normal e eu acordaria na minha cama velha de solteiro, pois tudo teria sido um sonho.

Eu estava claramente em um quarto, mas não parecia pertencer a ninguém pela falta de objetos pessoais. A cama da qual levantara era king size com edredom ocre e lençóis brancos. O chão era de tacos escuros de madeira e o tapete que ficava no meio do quarto era mesclado de vermelho, verde musgo e laranja ferrugem. Do meu lado esquerdo estava um pequeno criado mudo com um abajur branco e uma sacola que parecia de grife, mais a frente tinha a porta do que parecia ser a saída do quarto. Do outro lado direito da cama uma abertura que dava para a sacada mostrava uma paisagem hipnotizante de toda a cidade. Eu nunca havia visto tanto luxo em um lugar só, quem quer que fosse o dono ou a dona daquele apartamento tinha muito dinheiro. 

O que eu estou fazendo aqui? O que aconteceu? Onde estão as minhas roupas?

Eu usava uma calça cinza de moletom e uma camisa branca simples de algodão que eram estranhamente do meu tamanho.

Tentava forçar as memórias de antes de apagar, mas não conseguia lembrar de nada.

Uma batida na porta me despertou do transe. Eu estava no meio do quarto sentindo o tapete de veludo em meus pés descalços enquanto processava todas as informações que sabia até o momento. 

— Entre — respondi, irônico era o fato de que eu estava dando permissão para entrar e o lugar nem era meu, mas imediatamente relaxei quando vi aquela figura conhecida que me trouxe calma. Expirei longa e profundamente: — Hellen — então todas as lembranças caíram sobre mim como uma bigorna de uma tonelada me fazendo ficar tonta.  — Meu pai...

Ela sorriu condolente, como se sentisse a minha dor e apertou as minhas mãos.

— Está tudo bem, Keith. O tiro pegou no ombro, perfurou o ápice do pulmão direito o que nos deu um pouco de preocupação devido à hemorragia, mas já conseguimos conter o sangramento e retirar a bala. 

— Eu posso vê-lo? — Perguntei ainda preocupada.

— Claro. Ele ainda está sob o efeito dos sedativos, mas deve acordar dentro de algumas horas. 

Saímos daquele quarto dos sonhos apenas para dar em um corredor dos sonhos — pode soar estranho, afinal ninguém sonha com um corredor, mas aquele dali era de tirar o fôlego — era muito longo e largo, todo trabalhado em mogno — e quando eu digo todo, é todo: teto, paredes e chão de mogno. Várias portas de — Ó que surpresa — mogno deviam dar em outros cômodos. Havia vasos enormes de porcelana e mesas altas com vasos menores, mas nenhum tinha qualquer flor.

Observei Hellen me lançando olhares de relance, mas sem nunca falar nada. Paramos em frente à uma porta ao final do corredor e ela me fitou por alguns segundos. Aquela não parecia a porta de entrada do apartamento, mas sim uma que dava em outro cômodo.

— Eu pensei que me levaria para o hospital. Não disse que ele ainda está sob sedativos? 

Ela sorriu de uma forma estranha, como se soubesse de algo interessante que eu não.

— Ele vai te explicar tudo — respondeu.

Antes que eu pudesse perguntar quem era ele, ela abriu a porta.

E a cena que eu vi era a que eu menos esperava.

Meu pai.

Aiden.

Juntos.

Rindo.

Meu corpo paralisou no lugar, apenas meus olhos moviam alternando entre os dois homens. Eu tinha tanta coisa para conversar com o meu pai e talvez mais ainda com Aiden, mas tudo pareceu esvair da minha mente quando os vi juntos como se fossem amigos de longa data. 

— Pai? — Eu chamei hesitante.

Os dois desviaram os olhos para mim, ainda com resquício de um sorriso nos lábios pelo que estavam falando.

— Key Key — ele respondeu suavemente abrindo os braços.

Não sei como, mas em apenas seis largas passadas consegui cruzar o enorme quarto e chegar até ele. Abracei-o o mais forte que pude, como se ele tivesse morrido e acabado de ressuscitar. 

Ele gemeu de dor e então riu.

— Eu acho que você é mais perigosa do que aquela bala.

Sentei na cama rindo, mas o riso morreu logo quando meus olhos encontraram os dele.

— Desculpa, pops — abaixei a cabeça e segurei suas mãos.

Ele sabia que meu pedido de desculpas ia muito além de tê-lo apertado mais do que devia. Eu sentia muito que tivesse acabado naquela situação e de que eu não tivesse conseguido protegê-lo. Ele levantou o meu queixo e sorriu sinceramente. Minha vida com o meu pai era muito estressante, sempre brigávamos por causa dos jogos de azar que consumiam todo nosso dinheiro e por como a vida era tão difícil sem a minha mãe, apesar de nunca mencionarmos o nome dela diretamente. Porém, eu o amava mais do que a mim mesma, ele era a minha única família e não sei como viveria sem ele. 

Tantas coisas aconteceram nos últimos dias, e ele não tinha nenhuma ideia de nada do que passei, mas mesmo após meu quase estupro e quase morte no hospital, ainda assim, a ideia de perder meu pai era muito mais assustadora.

— Key Key, qual é o nosso acordo?— Apesar do tom de repreensão em sua voz, seus olhos estavam cheios de ternura.

Sorri e beijei sua bochecha.

— Sempre olhar pra frente — sussurrei para que apenas ele pudesse ouvir.

Ele apertou meu nariz e suspirou, parecia cansado.

— Minha menina já virou uma mulher...

Tive que me conter para não revirar os olhos. 

Voltei minha atenção para o cômodo pela primeira vez e me surpreendi ao vê-lo vazio. Sem perceber, Hellen e Aiden saíram para nos dar privacidade, não pude conter um sorriso de se espalhar pelo meu rosto. Eu não tinha palavras para agradecê-los, não sabia nem mesmo por onde começaria. E apesar de não saber como Aiden estava envolvido em tantas situações estranhas, incoscientemente minhas suspeitas sobre o caráter dele começou a se esvair. Ele salvou a mim e ao meu pai, além de aparentemente conhecer Hellen. Ainda que tivesse que passar a minha vida toda pagando por tudo que fizera por nós eu o faria de bom grado.

— Do que estavam falando quando eu entrei? — Perguntei ao meu pai.

Ele tentou deitar novamente e eu o ajudei, ajustando o cobertor.

— Nada demais, apenas algumas bobagens.

Levantei da cama e beijei-o na testa.

— Tudo bem, descanse um pouco. 

Eu estava planejando sentar em uma poltrona que tinha ali ao lado e esperá-lo cair no sono para sair, mas ele dormiu quase que imediatamente. A respiração pesada o denunciou.

Não precisei ter muito cuidado com os meus passos para não acordá-lo, pois eu ainda estava descalça. Abri a porta devagar e a fechei atrás de mim. Deixei-me apoiar nela por alguns segundos enquanto encarava o teto. 

A minha vida estava uma bagunça, nada se encaixava com nada e eu não fazia ideia aonde tudo aquilo ia dar, mas de uma coisa eu tinha certeza: meu pai estava vivo e bem, só precisava de um tempo para se recuperar. O lado bom de tudo aquilo era que ele teria que ficar sem jogar e sem beber querendo ou não. 

Minha mente começou a rodar com tudo o que eu tinha que resolver: precisava de uma casa nova e de um atestado médico para os dias que elei ficaria sem trabalhar — isso se já não o tivessem demitido. O atestado seria o mais fácil, tinha certeza que Hellen poderia me ajudar com isso, o problema seria a casa... Não havia a menor condição de ficar na antiga. Só de pensar em voltar lá para pegar as nossas coisas já me dava calafrio. Se não estivéssemos em uma situação financeira tão ruim, talvez deixaria tudo para trás sem me importar, mas não podia me dar aquele luxo. Também precisava conversar com Rosa, saber como ela está. Talvez nem queira mais olhar na nossa cara depois de todo o trauma que a fizemos passar.

Fechei os olhos deixando a dor de cabeça me inundar.

— Está se sentindo bem, Srta. Connor? — Um jovem de uns vinte e sete anos estava vestido com um uniforme de mordomo e parecia genuinamente preocupado.

Sorri sinceramente e balancei a cabeça.

— Estou, sim. É só uma dor de cabeça leve — menti. — De quem é este belo apartamento?

Ele pareceu surpreso com a minha pergunta, como se fosse óbvia a resposta.

— Do Sr. Blackwood, senhorita.

Tentei esconder a surpresa suspirando. Por que Aiden havia trazido a mim e ao meu pai para sua própria casa?

— Por favor, me chame de Keith.

— Eu jamais poderia, senhorita.

— Qual é o seu nome? 

— Jason, senhorita.

Estendi a mão em sua direção, ele a pegou hesintante.

— Meu nome é Keith, Jason, e não senhorita. Por favor.

Ele parecia embarassado e suas bochechas imediatamente ficaram vermelhas. 

Fofo.

— Há algo que eu possa fazer pela, senhorita?  

Suspirei, ele não iria mesmo desistir da formalidade.

— Sim, gostaria que me levasse até o Sr. Blackwood.

Andamos por toda a extensão do corredor até chegarmos a uma porta dupla de pelo menos dois metros e meios de altura. Desenhos entalhados no mogno adornavam-na. Jason bateu duas vezes antes de ouvirmos Aiden falar:

— Entre — sua voz era tão grave e cheia de poder que me fez estremecer.

Jason sinalizou para que esperasse e entrou.

Fechei as mãos em punhos sentindo as palmas suando. Eu estava prestes a ficar a sós com o homem que havia sido meu exemplo desde o ensino médio. Fazia seis anos que eu o admirava sonhando entrar para sua empresa e agora não somente eu tinha o emprego como misteriosamente havia acabado dentro da casa dele.

— A Srta. Connor deseja falar com o senhor — Jason explicou.

— Peça-a para que entre.

Ele saiu e moveu as mãos em um gesto extremamente formal para que entrasse. Depois que passei e fechou a porta atrás de mim, um silêncio pesado caiu ali. 

Não me atrevi a olhar para nenhum lugar, foquei minha atenção total nele apenas para encontrá-lo me encarando de volta. Desde o que acontecera na minha casa eu apenas estava me acovardando e evitando encontrar seu olhar, mas havia chegado a conclusão de que não importa o quão intimidador fosse, eu precisava encará-lo. Mesmo assim, seu olhar era tão intenso que me fazia querer coçar toda a minha pele.

— Sente — curto e grosso.

Engoli um nó que se formou em minha garganta, mas tentei manter a compostura sem querer demonstrar o quanto toda a sua áurea me assustava. Sentei cuidadosamente na cadeira que estava em frente a mesa e cruzei as pernas para que não tremessem e por breves segundos eu pensei tê-lo visto observando o mover delas

— Acredito que tenha muitas perguntas para me fazer — constatou.

Eu estava prestes a balançar a cabeça concordando, mas decidi tomar uma postura mais madura e com a voz o mais firme que consegui, respondi:

— Sim. 

Aiden recostou na cadeira de couro e sinalizou com a mão para que continuasse — parentemente era um homem de poucas palavras. Pensei por alguns segundos em qual das mil e uma perguntas que tinha na cabeça deveria fazer primeiro. Apesar de tudo o que havia acontecido, sem dúvida tinha algo que atiçava a minha curisosidade e arranhava minha mente em busca de resposta.

— Por que assaltou o próprio banco? — Perguntei em um tom casual, como quem discute o tempo.

Ele abriu a boca imediatamente como se tivesse uma resposta na língua, mas então fechou a boca de novo. Era como se ele estivesse me esperando perguntar uma coisa e eu tivesse perguntado outra totalmente diferente. Eu entendia a reação dele, na verdade eu mesma ficara muito surpresa quando percebi que o homem que estava na minha sala de estar era o meu chefe e assaltante do banco dele mesmo. Quando ouvi a voz dele me cumprimentando em minha casa, percebi que se assemelhava muito a do líder dos assaltantes, mas o que realmente o denunciou foram os olhos esmeraldas. Não acreditava ser possível que duas pessoas no mundo pudessem ter o mesmo tom e intensidade no olhar como os de Aiden.

Recuperando aos poucos do susto que eu lhe dera com a minha pergunta inesperada, ele gargalhou tão sinceramente que me fez paralisar ali mesmo com o queixo levemente caído e os olhos piscando freneticamente sem acreditar no que estava vendo e ouvindo. Ele tinha os pares de dentes mais certos e brancos que eu já vira, eram simplesmente perfeitos. O som da sua gargalhada era tão bela que me fez sentir coisas estranhas no estômago e desejar ouvir esse som mais vezes.

Acho que eu devo finalmente estar perdendo alguns parafusos com toda a loucura que é a minha vida.

Depois de recuperar aos poucos de sua súbita explosão, ele tomou um gole do que quer que fosse que estava em uma caneca em cima da mesa — tinham três canecas ali, três! — enquanto me fitava de uma forma que eu não conseguia decifrar.

— Direto ao ponto — falou, parecia mais uma conversa interna em voz alta do que realmente direcionada a mim. — Simplesmente perfeita.

Engoli em seco e descruzei as pernas apenas para cruzá-las ao contrário. Ele seguiu cada movimento meu com os olhos me fazendo querer sair dali correndo. De repente ele pareceu acordar de um transe e sua atenção voltou para o meu rosto.

— Talvez você não saiba, Srta. Connor — disse, ainda não havia me acostumado com a sensação que tinha quando pronunciava o meu nome, e nem era o primeiro nome, — mas a pergunta que fez de fato gira em torno de tudo o que aconteceu depois disso.

Talvez a confusão estivesse muito obviamente estampada na minha cara porque ele deu um sorriso de tirar o fôlego antes de continuar: 

— Vou tentar resumir tudo do início e se ao final tiver qualquer dúvida, não hesite em perguntar — apenas balancei a cabeça rápido para que ele retomasse a narrativa. De alguma forma a minha atitude parecia diverti-lo. — Sendo estagiária da minha empresa já há algumas semanas, provavelmente já ouvira falar, em algum momento, sobre tentativas de assalto na empresa pelo menos uma vez a cada... determinado tempo, correto?

Balancei a cabeça confirmando, mas um pouco relutante. Eu havia escutado a conversa das três mulheres que trabalhavam na mesma agência que a minha, mas na hora não levei nada a sério pois pensava se tratar de boatos inúteis.

— Gostaria que respondesse em alto e bom som quando lhe dirigir a palavra, Srta. Connor — sua voz era autoritária e havia descido uma oitava tornando ainda mais intimidante.

— Já ouvi falar, senhor — respondi firmemente.

— Ótimo. De fato, isso não é apenas um rumor infundado, mas o que talvez poucos saibam é que toda semana há tentativa de assalto em pelo menos uma das minhas agência em todo o país — arfei surpresa com aquele fato. Não deveria ser fácil manter o nível de segurança do banco. — E apenas uma vez a cada 40 meses, conseguem ser bem sucedidos. E por coincidência o grupo de assaltantes que consegue essa proeza é sempre liderada por mim.

Eu permanecia imóvel e muda, ainda sem entender onde ele queria chegar. Ele levantou da cadeira e foi até uma cafeteira automática que tinha ali perto. Por que ter uma cafeteira dentro do escritório na própria casa?! 

Enquanto enchia a caneca com café me ofereceu uma também, mas recusei.

— Sabe quantos assaltos a banco ocorrem em New York todo ano? 

Eu ia apenas balançar a cabeça, mas lembrei de não fazer isso no último segundo.

— Não, senhor.

Ele deu um gole no café fumegante e sentou de novo na cadeira. O cheiro encheu toda a sala tornando o ambiente confortável.

— Segundo o FBI, o índice de assaltos no estado não aumentou desde os últimos cinco anos, mas temos por volta de quinze tentativas de assalto todo ano. Com certeza não é um número alarmante como em Los Angeles que tem mais de duzentos — Aiden se calou por alguns segundos, apenas me fitando, e isso me deixou desconfortável. Suspirando, ele tomou outro gole do café e continuou: — O ponto de tudo isso é que não há forma mais eficiente de saber suas próprias falhas sem testá-las você mesmo. A A&A Banks gasta cerca de cem milhões para pagamento de todos os  funcionários mensalmente, mas investe quinze vezes esse valor com tecnologia para segurança das agências.

Nesse ponto já era impossível manter meu queixo no lugar. Ele falava daqueles valores como se fossem trocados de três dólares na carteira. Ele gastava cem milhões vezes quinze... 1,5 bilhão só em manutenção de segurança?!

— Por que está me contando isso, senhor? — Minha língua perguntou antes que meu cérebro a parasse.

Seus olhos brilharam quando falei.

— Srta. Connor, sabe o que é mais eficiente do que um sistema de 1,5 bilhão de dólares capaz de detectar bandidos totalmente preparados para quebrá-lo?

— Não, senhor. O que é?

— O ser humano. Nesse caso, mais especificamente... — Ele pausou e tive que engolir em seco para continuar sustentando o seu olhar. — Você.

Eu fiquei muda de novo, totalmente imóvel. Nem mesmo o meu cérebro, que há pouco me perturbava com um turbilhão de perguntas sobre toda a situação, parou de funcionar por completo.

— Eu não acho que entendi, senhor.

— Me responda uma pergunta, Srta. Connor: um grupo de bandidos com preparo e estudo sobre a segurança de um banco por meses finalmente desenvolve o plano infalível para quebrar o sistema e roubar tanto dinheiro quanto possível e ainda fugir antes que a polícia seja acionada e chegue no local. Nesse cenário, o que poderia dar errado para esse grupo?

Eu pensei por alguns segundos e então respondi:

— Se algum refém conseguir acionar o alarme silencioso* ou ligar para a polícia sem que os bandidos saibam.

Aguardei pela resposta imediata dele, mas não veio. Aiden recostou na cadeira e cruzou os braços com um meio sorriso no rosto.

Aos poucos as peças foram se encaixando na minha cabeça e finalmente entendi o que ele queria dizer.

— Eu? — Perguntei ainda embasbacada, era mais uma pergunta retórica.

— Sim, Srta. Connor. Após meses de planos e estratégias traçadas, você conseguiu destruir tudo apenas com um pouco de lábia, confiança, determinação e coragem — ele levantou lentamente da cadeira, deu a volta na mesa e veio parar do meu lado. Ele já era muito mais alto do que eu em pé, estando sentada então só fazia me sentir uma anã. Ele tirou um pequeno pedaço de papel familiar do bolso da calça e estendeu-o em minha direção. — Esse é o motivo pelo qual eu lhe entreguei esse bilhete.

Prendi a respiração involuntariamente ao ver o bilhete em sua mão. Ele havia revistado toda a minha roupa depois de alguém ter posto aquelas em mim? Preferia pensar que ele havia mandado alguém mudar as minhas roupas em vez de sequer considerar que tenha feito isso ele mesmo.

Peguei o bilhete de suas mãos e sem saber explicar o porquê, senti uma urgência em levantar da cadeira.

Estando a apenas poucos centímetros de distância, a respiração de Aiden mandava pequenos arrepios por toda a minha pele. A presença dele era tão masculina e potente que me faziam ficar com os joelhos fracos.

— Obrigada, Sr. Blackwood. Há muito tempo eu desejava trabalhar na A&A Banks. Naquele dia eu apenas fiz o que qualquer funcionário faria, dada as vantagens que tinha em mãos. Saber que isso foi o que o levou a me contratar oficialmente na empresa me faz ser eternamente grata, mas eu dou a minha palavra que vou continuar dando o meu melhor todos os dias para ser digna dessa vaga no RH. Eu não sei como expressar o quão grata sou por essa oportunidade, se houver qualquer coisa que esteja ao meu alcance que eu possa fazer para ajudar, por favor, me fale.

Um sorriso de tirar o fôlego começou a se desenhar nos lábios de Aiden e ele arqueoou uma sobrancelha.

— RH? — Repetiu com um tom divertido. — Você não vai trabalhar no RH, Srta. Connor. O motivo de eu a ter contratado é outro.

Confusão devia estar escrita na minha cara porque o sorriso dele se alargou.

— Não entendo, senhor.

— Srta. Connor, acredito que haja um trabalho que traga mais utilidade para a sua capacidade mental do que apenas organizar alguns arquivos em uma sala fechada — ele pegou uma folha dentre tantas outras que estavam espalhadas em cima da mesa e me entregou. No cabeçalho lia-se: "Departamento de Segurança", logo embaixo estava escrito "Chefe de segurança" e ao lado, o nome da pessoa encarregada era... Eu?! Arregalei os olhos relendo aquela linha e então os voltei para o homem tão misterioso à minha frente.

Aiden estendeu a mão em minha direção e ainda com aquele sorriso devastador disse:

— O que me diz, Srta. Connor? Aceita a proposta?

 

*Alarme Silencioso: está diretamente conectado com a central de polícia e quando acionado não dispara nenhum barulho. Se ninguém ver a pessoa acionando, nunca se saberá que foi ativado até que a polícia chegue no local.


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Notas finais do capítulo

Eu ainda estou meio perdida com a nossa agenda de capítulos. Pode ter demorado muito para publicar esse aqui, mas eu dei o meu melhor para terminar o mais rápido que pude.
Por enquanto ainda não posso voltar àquele nosso acordo de um capítulo por semana, mas vou continuar me esforçando.
Boa semana!



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