Sentei-me no lugar de sempre, afinal não estava atrasada, mas o frio não dava sossego e eu sentia como se estivesse congelando, então eu o vi sentado em um dos bancos do outro lado do vagão. Ele parecia novamente perdido em pensamentos enquanto lia um livro, fiquei imaginando em que ele está pensando? 

Respirei fundo e recostei no banco novamente com os olhos fechados, meu dia havia acabado de começar e eu já estava exausta? Ninguém merece, vai ver que tenha sido por causa de ter dormido tarde noite passada.  

Quando abri os olhos pude jurar que o peguei me olhando, mas ele havia sido mais rápido e voltado os olhos para as paginas do livro...

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     No dia seguinte foi à mesma coisa, ele estava lá sentado lendo aquele livro... E como podia? Eu nunca o havia visto ou então notado ele até aquele dia quando eu quase havia caído.

   Quando o olhava me sentia inquieta, não como se eu o temesse, ou como se sentisse algo ruim vindo dele. Era como se eu o conhecesse de algum lugar... Sentia-me nostálgica enquanto o observava...

   Havia momentos que ele desviava os olhos das paginas e me olhava, mas tão rápido quanto seus olhos chegavam a mim eles voltavam até o livro.

  Senti vontade de ir até lá e puxar assunto, mas eu não tinha coragem, talvez nunca tivesse... E continuei observando-o de longe mesmo.

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    Quando cheguei em casa Sabrina já me esperava inquieta enquanto via televisão. Ela não parava de falar sobre a biblioteca nem quando em fui tomar banho e quase bati a porta na sua cara ou quando eu tomei meu café da tarde.

Ai estava uma coisa que eu não entendia... Desde quando garotas de onze anos gostam de bibliotecas? Mesmo que fosse por causa de um trabalho e tal... Ai estava um lugar que poucos adolescentes gostavam de frequentar.

Mas assim que cheguei lá eu entendi...

Lá estavam alguns de seus amigos parados esperando por ela ou por quem ainda havia de chegar.

— Você não me contou que iria fazer seu trabalho em grupo. – disse distraída.

— Você não me perguntou. – disse atrevida.

— Porque precisa de mim? – agora sim eu queria saber porque me enfiou nisso.

— Nós não tínhamos nenhum adulto responsável para nos acompanhar ai eu disse para o pessoal que você ia se responsabilizar pela gente. – disse com um sorriso tímido – Se não tiver problema, claro? – e terminou em voz alta para que todos seus amigos pudessem ouvir.

 Droga! Essa garota sabia manipular as pessoas e muito bem. Sem saída eu respondi:

— Tudo bem, mas todos se comportem. – disse derrotada.

— Obrigado Sthefany! –falou toda animada enquanto me abraçava.

 Agora sim eu estava perdida...

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A biblioteca era um lugar grande, o prédio tinha dois andares e a decoração era toda em creme. Eu não vinha até esse lugar fazia muito tempo, anos talvez...  Não que eu não gostasse de ler, mas a ultima vez que eu peguei em um foi há muito tempo.

Todos eles se sentaram em uma mesa grande que ficava no fim de um imenso corredor, na verdade havia mesas por todo lugar, mesas pra uma ou duas pessoas e mesas para grupos como essa que eles estavam. Enquanto eu os observava senti o tedio tomar conta de mim e decidi dar uma vasculhada pelo lugar, afinal tinham muitos livros, alguns dos quais eu nunca nem ouvi falar. Isso sem contar que eles não iriam a lugar algum não sem mim a dona responsável...

Comecei a olhar as prateleiras havia livros desde William Shakespeare à Jane Austen fazia muito tempo que eu não pegava um desses livros nas mãos, na minha adolescência eu sempre fui muito reservada diferente de Sabrina então eu passava a maior parte do meu tempo na companhia de livros. E agora que pensei nisso... Quando foi que eu parei de lê-los?

  Enquanto eu pensava na resposta me deparei com uma cena muito improvável pelo menos para mim de se imaginar, lá estava o mesmo rapaz do metro o qual eu não sabia nem o nome.

   Peguei o primeiro livro que encontrei na minha frente “Orgulho e Preconceito” e comecei a folheá-lo enquanto tentava disfarçadamente me aproximar, ai meu Deus agora eu estava parecendo uma perseguidora! Enquanto me aproximava das mesas li uma das frases que havia nas paginas abertas.

“Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e a amo ardentemente.”

 Admito que corei violentamente ao ler a frase e isso foi bem estranho, o que havia de errado comigo? Pensei confusa.  Enquanto tentava me aproximar fui surpreendida por Sabrina.

— Terminamos por hoje! – disse animada e alto demais.

Sai rapidamente de onde dava para ver a mesa que ele sentava, caramba ela havia me assustado de verdade.

 - Já? – perguntei perplexa.

— Sim, nos só viemos separar a matéria principal e dividir quem ia fazer o que.

 - E quem disse que eu vou voltar aqui amanhã? – perguntei com raiva, meu coração ainda batia rapidamente.

— Ah! Sthefany, por favor? – disse implorando, então desviei meu olhar para as mesas à frente... Então se ele estivesse aqui amanhã eu iria poder vê-lo e quem sabe criar coragem para falar com ele.

 - Tudo bem, mas só amanhã. – disse apertando o livro contra o meu peito.

Ela sorriu e correu até os outros. Encarei as mesas à frente novamente, mas ele já não estava mais sentado lá...