Girls and Blood — Reimagined Twilight escrita por Azrael Araújo


Capítulo 6
Five




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Depois do acidente, a minha paz — quase inexistente — se esvaiu. Taylor Crowley se tornou mais uma das minhas seguidoras superchatas mesmo que eu a tenha desculpado e repetido, milhares de vezes, que não havia sido nada grave. Mike e Erica não pareciam estar gostando dessa nova adição à nossa mesa de almoço — não pude deixar de notar, também, um olhar afiado e um sorriso de deboche lançado pela garota Riley.

Em contrapartida, todos continuaram evitando Edythe do mesmo jeito de sempre. Os Cullen e os Hale sentavam-se à mesma mesa de sempre, sem comer, conversando entre si. Nenhum deles voltou a olhar na minha direção.

Quando Edythe se sentou ao meu lado na aula, o mais distante possível, como sempre com uma maldita expressão de superioridade-desinteresse lhe mandei um aceno rápido e um sorriso nervoso — o qual ela ignorou completamente.

Okay, já que ela quis assim...

E esse foi o último contato que tive com ela, apesar de ela estar ali, a trinta centímetros de distância, todos os dias. Eu fazia o máximo possível para não olhá-la por mais que meus olhos queimassem de desejo às vezes. Ainda assim, eu pude observar cuidadosamente os olhos dourados ficarem perceptivelmente mais escuros dia após dia — e depois dourados de novo, de repente. Aí, a progressão lenta começava de novo.

E os sonhos continuaram.

Ela desejava não ter me tirado do caminho da van de Taylor.

Eu não conseguia pensar em nenhuma outra explicação. Como ela me preferia morta, estava fingindo que eu estava morta.

Ela era pragmática, eu tinha que admitir.

Apesar das minhas mentiras casuais, o tom de meus e-mails deixou minha mãe preocupada — o que fez ela me ligar algumas vezes, querendo saber se eu estava bem. Tentei convencê-la de que era só a chuva que me deixava desanimada.

Lauren e eu havíamos trocado mais dois e-mails; basicamente enquanto eu contava sobre o acidente, ela ria e desejava estar ao meu lado para ter presenciado isso — apesar do tom descontraído, eu podia sentir sua preocupação pesando em cada palavra.

A única pessoa que parecia satisfeita com a frieza evidente entre mim e minha — estranha — parceira de laboratório era Mike. Talvez ele achasse que o trauma compartilhado nos aproximaria.

Ele foi ficando mais confiante, sentando-se na beirada da minha mesa para conversar antes que começasse a aula de biologia, ignorando Edythe completamente, como ela nos ignorava.

Em contrapartida, Riley continuava me acompanhando sempre para as aulas — e batendo de frente comigo durante os jogos na Educação Física. Não posso negar que eu adorava esses momentos.

Eu poderia facilmente afirmar que a garota de sorriso descontraído e olhos castanho-claros era a minha pessoa favorita nesse buraco verde e úmido. Ela me fazia sorrir de forma fácil e não parecia se importar em passar um braço em volta do meu pescoço — ou de roçar nossas mãos vez ou outra, enquanto estávamos distraídas.

A neve desapareceu de vez depois do fatídico dia. Mike estava empolgado porque logo seria possível fazer a viagem à praia. Porém, a chuva continuava pesada, e as semanas se passaram.

Eu não percebi que tanto tempo tinha se passado. A maioria dos dias era igual, cinza, verde e mais cinza. Meu mais novo padrasto — Phil — sempre reclamava que Phoenix não tinha estações, mas, pelo que eu conseguia perceber, Forks era bem pior. Eu não fazia ideia de que a primavera estivesse perto de aparecer até estar indo para o refeitório com Jeremy em uma manhã chuvosa.

— Ei, Isabella — disse ele.

Eu queria sair logo da chuva, mas Jeremy estava andando bem devagar. Fui mais devagar também, para acompanhá-lo.

— Oh, oi, Jeremy.

— Eu queria saber se já convidou alguém para o baile de primavera. É a garota que convida.

— Ah. Hã, não...

— Ué. Você quer... Quer dizer, você acha que a Erica vai te convidar? — sua voz falhou ao pronunciar o nome da garota e tive a impressão de ver suas orelhas ficarem vermelhas.

— Espero que não — falei, talvez um pouco rápido demais.

Ele me olhou com surpresa.

— Por quê?

— Eu não vou a bailes.

— Ah.

Andamos mais um pouco em silêncio. Ele estava pensativo. Eu estava impaciente para sair da chuva.

— Você se importa se eu disser isso a ela? — perguntou ele.

— Não. Acho que é uma boa ideia. Não quero ter que dizer não para ninguém. — dei de ombros.

— Tudo bem.

— Quando é mesmo o baile?

Estávamos perto do refeitório agora. Ele apontou para um pôster amarelo berrante anunciando o baile. Eu nunca tinha reparado, mas estava meio enrugado nas beiradas e apagado, como se estivesse ali havia muito tempo.

— No outro sábado — disse ele.

Eu tinha certeza de que Jeremy já tinha falado alguma coisa quando, na manhã seguinte, Erica não estava com o humor esfuziante de sempre na aula. No almoço, ela se sentou longe de Jeremy e de mim, e não falou quase nada com ninguém. Ficou em silêncio ao andar ao meu lado para a sua próxima aula, que ficava ao lado da minha.

Suspirei, me perguntando o que diabos havia feito para merecer aquela situação.

A garota Riley me companhou até a aula de biologia, dessa vez me acompanhando também até a mesa e sentando-se na beirada onde Mike costumava ficar — Edythe lhe lançou um rápido olhar e depois tentou disfarçar.

— Então — disse Riley, olhando para o chão e não para mim —, o Jeremy me disse que você nunca vai a bailes.

— É verdade.

Ela olhou para mim, sorridente como sempre.

— Bem, eu estava pensando... — disse ela. — Se você, sabe, vai estar livre no dia do baile...

Ela tossiu, a voz ficando grave de repente.

Mordi o lábio para segurar um sorriso, achando adorável a forma como suas bochechas coravam.

— Enfim, eu só pensei que, sei lá, talvez pudéssemos, sabe, fazer alguma coisa fora da cidade. Eu e você.

Ela franziu a testa levemente.

— Acho que seria legal.

Ela ergueu o olhar rapidamente, seus olhos pousando em Edythe um segundo — eu não havia notado que a ruiva estava focando sua atenção em nós duas — e voltaram para mim, brilhantes.

Ela deu de ombros, como se tentasse conter a animação. — Então, tá... Quer dizer, vai ser legal. Vai ser ótimo.

Eu dei uma risada, de repente me sentindo empolgada com a ideia de sair com a adorável garota Riley.

O sinal tocou, tirando-nos de nossa bolha e ela me lançou uma piscadela charmosa. — Eu te ligo. — então correu para sua própria aula.

Suspirei me sentindo um pouco boba por tudo aquilo.

Com o canto do olho, percebi que Edythe estava me encarando abertamente, com aquela expressão familiar de frustração ainda mais evidente nos olhos escuros.

Sustentei o olhar, surpresa, esperando que ela desviasse o rosto. Mas ela não desviou. Os olhos continuaram grudados nos meus, como se estivesse tentando encontrar alguma coisa importante ali. Também continuei olhando, incapaz de romper a ligação, mesmo que quisesse. Minhas mãos começaram a tremer.

— Srta. Cullen — chamou a professora, esperando pela resposta a uma pergunta que eu não ouvira.

— O ciclo de Krebs — respondeu Edythe, parecendo relutante ao se virar para a Sra. Banner.

Baixei a cabeça e fingi ler o livro assim que os olhos dela desgrudaram de mim. Fiquei incomodada com a onda de emoção que pulsou por mim, só porque ela por acaso olhou para mim pela primeira vez em seis semanas. Não era normal.

Era bem patético, provavelmente mais do que isso. Doentio.

Eu me esforcei muito para não ficar atenta a ela pelo resto da aula ou, como era impossível, pelo menos não deixar que ela soubesse que eu estava atenta a ela.

Quando o sinal finalmente tocou, dei as costas para ela para guardar os livros, esperando que ela saísse de imediato, como sempre.

— Bella.

A voz dela não devia ser tão familiar para mim, como se a ouvisse por toda a vida e não um pouco aqui e um pouco ali havia algumas semanas.

Eu me virei devagar na direção dela, sem querer sentir o que sabia que sentiria quando olhasse para aquele rosto perfeito demais. Tenho certeza de que minha expressão era de cautela; a dela estava ilegível. Ela não disse nada.

— O quê? — perguntei.

Ela só olhou para mim.

— Então... Hã, você... Está falando comigo ou não?

— Não — disse ela, mas os lábios se curvaram em um sorriso, exibindo as covinhas.

— Tudo bem...

Eu afastei o olhar, para as mãos e depois para o quadro.

Era difícil me concentrar quando eu olhava para ela, e aquela conversa não estava fazendo muito sentido.

— Desculpe — disse ela, e não havia humor em sua voz agora. — Tenho sido muito rude, eu sei. Mas é melhor assim, pode acreditar.

Olhei para ela de novo. Seu rosto estava muito sério.

— Não sei o que você quer dizer.

— É melhor não sermos amigas — explicou ela. — Confie em mim.

Meus olhos se estreitaram. Eu já ouvira isso antes.

Ela pareceu surpresa com a minha reação.

— O que você está pensando? — perguntou ela.

— Acho... Que é uma pena você não ter chegado a essa conclusão antes. Teria poupado o arrependimento.

— Arrependimento? — Minha resposta pareceu pegá-la de surpresa. — Arrependimento do quê?

— De não ter deixado a van da Taylor me esmagar quando houve a oportunidade.

Ela pareceu chocada. Ficou me olhando por um minuto, com olhos arregalados, e quando finalmente falou, parecia quase furiosa.

— Você acha que me arrependo de ter salvado sua vida? — As palavras saíram baixas, sussurradas, mas bem intensas.

Olhei rapidamente para a frente da sala, onde duas pessoas ainda estavam. Vi uma olhando para nós. Ela afastou o olhar e eu me virei para Edythe.

— Acho — respondi, a voz tão baixa quanto a dela. — O que mais pode ser? Parece meio óbvio.

Ela fez um som estranho: expirou pelos dentes e pareceu um sibilar. Continuava com cara de raiva.

— Você é uma idiota — disse ela.

Aquele foi meu limite.

Já era bem ruim eu estar tão obcecada por aquela garota, bem ruim eu pensar nela o tempo todo, sonhar com ela todas as noites. Eu não precisava ficar ali como a cretina que ela achava que eu era, olhando enquanto ela me insultava. Peguei meus livros e pulei da cadeira, sabendo o tempo todo que ela estava certa.

Eu era um idiota, porque queria ficar, mesmo que tivesse que ouvir mais agressões vindas dela. Me endireitei rapidamente e corri para o ginásio sem olhar para trás.

A aula de educação física não deixou meu dia melhor.

Agora, estávamos jogando basquete.

Aquele dia foi estranho — até a treinadora Clapp pareceu notar — porque eu não conseguia me concentrar nos meus pés. Eu só conseguia pensar em Edythe.

Como sempre, foi um alívio poder ir para casa.

Eu mal conseguia esperar para voltar para dentro do Tracker, sozinha. O carro sofrera danos mínimos com o acidente. Tive que substituir as luzes de ré, mas só isso. Os pais de Taylor tiveram que vender a van para o desmanche.

Meu coração quase parou quando virei a esquina. Uma figura pequena e magra estava encostada na lateral da minha picape. Parei de repente e respirei fundo. Era só Erica. Comecei a andar novamente.

— Oi, Erica — falei.

— Oi, Isabella.

— E aí? — perguntei enquanto ia abrir a porta.

Olhei para ela e me enrolei com a chave. Ela parecia pouco à vontade.

— Hã, eu queria saber se você gostaria de ir ao baile de primavera comigo.

Enfiei a chave na fechadura com cuidado.

— Me desculpe, Erica, eu não vou ao baile.

Precisei olhar para ela nessa hora. O rosto dela estava virado para baixo e o cabelo preto escondia os olhos.

— Ah, tá... Tudo bem — disse ela, mas a voz estava um pouco estranha. — Quem sabe no próximo.

— Claro — concordei, mas me arrependi na mesma hora. Eu esperava que ela não entendesse isso tão literalmente.

— Tchau — disse ela por cima do ombro.

Ela já estava fugindo. Eu acenei, mas ela não viu.

Ouvi um risinho baixo.

Edythe estava passando pelo Tracker, olhando para a frente, e a boca não dava nem sinal de sorriso.

Parei por um segundo. Eu não estava preparada para ficar tão perto dela. Estava acostumada a me preparar antes da aula de biologia, mas aquilo foi inesperado. Ela continuou andando. Abri o carro num rompante e pulei para dentro, batendo a porta ruidosamente. Acelerei o motor duas vezes como se estivesse em um estúpido filme de corridas e dei a ré para a rua.

Edythe já estava no carro dela, a duas vagas de distância, passando suavemente por mim, me dando uma fechada. Ela parou ali — para esperar pela família, eu supus. Pude ver os quatro se aproximando, mas ainda perto do refeitório. Olhei pelo retrovisor. Vi que começava a se formar uma fila. Bem atrás de mim, Taylor Crowley estava no Sentra usado recém-adquirido, acenando. Eu baixei a cabeça e fingi não a ver.

Enquanto eu estava sentada ali, concentrando todos os meus esforços em não olhar para a motorista na minha frente, ouvi uma batida na janela do carona.

Era Taylor.

Olhei novamente pelo retrovisor, confusa. O carro dela ainda estava ligado, a porta, aberta. Inclinei-me para abrir a janela que deslizou suavemente.

— Desculpe, Taylor, não posso andar. Estou presa. — Eu indiquei o Volvo. Era óbvio que não havia nada que eu pudesse fazer.

— Ah, eu sei. Eu só queria perguntar uma coisa enquanto estamos atoladas aqui. — Ela sorriu.

Qual era o problema daquela escola? Era algum tipo de pegadinha? Confundir a garota nova?

— Quer ir ao baile de primavera comigo? — continuou ela.

— Eu não sou fã de bailes, Taylor. — Percebi que fui meio ríspida.

Tive que me lembrar de que não era culpa de Taylor que minha quota de paciência daquele dia já tivesse esgotado.

— É, Jeremy me contou — admitiu ela.

— Então por quê...?

Ela deu de ombros.

— Eu esperava que você só estivesse se livrando das outras do jeito mais fácil.

Tudo bem, a culpa era toda dela.

— Desculpe, Taylor — pedi, não me sentindo tão mal quanto fiquei quando recusei Erica. — Eu não vou ao baile.

— Tudo bem — disse ela, sem se deixar afetar. — Ainda temos o baile dos estudantes.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela estava voltando para o carro. Pude sentir os pontos vermelhos surgindo na minha cara. À frente, Archie, Royal, Eleanor e Jessamine estavam entrando no Volvo. Pelo retrovisor, vi os olhos de Edythe me encarando. Estavam enrugados nos cantos, e os ombros dela tremiam de tanto rir. Era como se ela tivesse ouvido tudo que Taylor disse e achasse minhas reações hilárias. Apertei mais o acelerador, pensando no tamanho do dano que o Volvo e o carro preto ao lado dele sofreriam se eu abrisse caminho para fugir dali. Eu tinha certeza de que meu robusto Tracker podia vencer aquela briga.

Mas todos estavam dentro do carro, e Edythe saiu em disparada com o motor quase silencioso.

Tentei me concentrar em alguma coisa, qualquer coisa, enquanto dirigia.


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Notas finais do capítulo

TT: @pittymeequaliza



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