Diplopia escrita por Guskey


Capítulo 3
Provocações


Notas iniciais do capítulo

"Cada portador tem o próprio horário para trocar de corpo. Os horários se alternam entre inteiros, de forma que caso um portador só poderá trocar de corpo às onze horas da noite, o próximo portador terá como horário meia noite. É necessário pronunciar o nome correto para que a transferência seja fidedigna."



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   A taberna de Raltoor estava demasiada cheia naquela manhã. O barulho de canecas, cheias de cerveja, batendo contra as mesas produziam um som agressivo, porém se misturava com as melodias produzidas por alguns homens. Ali todos eram amigáveis, mesmo que surgisse brigas aleatórias por vezes. Já ouviu falar que as tabernas em Melfin e Ély eram bastante vazias e geralmente tocavam músicas tristes e dramáticas. Raltoor poderia ser a parte mais precária de Farfália, mas também era a mais unida e animada.

   O local estava bastante quente para proteger os clientes do frio que fazia lá fora e também optaram, como em todo inverno, servir chocolate quente – ou quem preferisse poderia adicionar um bocado de álcool na bebida. O barman, um idoso já careca mas com um sorriso estampado no rosto desde sempre, limpava as taças a todo instante, pois a demanda estava grande naquela manhã. O chamavam de Grande Dirk, ninguém sabia sequer o motivo, mas era esse seu apelido. Diziam que tinha o coração grande e bom.

   Arthur estava sentado em um canto, sozinho, ouvindo a música produzida por flautas enquanto bebia um chocolate quente. Adocicou a boca afim de tirar o amargo do seu corpo, por mais difícil que fosse. Havia prendido seus cabelos esbranquiçados e o deixou caído por seu ombro esquerdo. Precisava de uma notícia.

   Ardan havia ficado com Yris em casa. A mulher havia dormido bastante bem no hall – por mais que Arthur insistisse para que ela dormisse em sua cama junto de seu amigo. “Não, por favor, sou apenas uma hóspede. Hóspedes não dormem na cama dos proprietários”, inventara essa desculpa para Arthur. Aquela frase saiu de sua boca como se uma adaga cortasse os pulsos dele. Haviam compartilhado uma infância juntos e ela parecia se recusar a tocar no assunto.

   “Você não é uma estranha, Yris. Da mesma forma que não sou para você” Arthur proferiu enquanto a observava. “Agradeço por ter me cedido uma noite aqui” ela disse com um olhar tristonho tentando dissipar todos seus sentimentos. “Poderá ficar quanto tempo for preciso”.

   Arthur se perguntou se teria alguma chance de conquista-la. Não conseguia negar que sentia algo intenso pela jovem, não de agora, mas desde quando partilhavam do mesmo orfanato. Ela havia dormido no hall e Arthur não poderia simplesmente agarrá-la e obrigar que dormisse na cama, uma vez que ficaria acorrentado por vinte e quatro horas.

   Na noite anterior, assim que Arthur voltou para seu corpo com um pesar no peito, a visitou no hall embora ela continuasse dormindo. Seu lado romântico dizia para acordá-la e beijá-la de uma forma ou de outra, querendo ela ou não, mas ele não poderia cometer o mesmo erro que Riston. Arthur, se um dia Yris se apaixonar por ele, deveria trata-la da mesma forma que tratou quando possuiu o corpo de Riston e a penetrou, foram comprar coisas para a casa, assistiram o sumiço do sol e de noite novamente se relacionaram.

   A música da taberna havia se transformado em uma melodia mais animada, fazendo com que Arthur esquecesse o lado ruim das coisas. Bebeu mais um pouco do chocolate quente e pôs-se a observar um homem que fazia malabares. Estava tão feliz enquanto jogava aquelas facas para o alto e as pegava em seguida, isso pois ele sabia que tinha sido pago para ser feliz. O ouro compra os sentimentos das pessoas e os obriga a fazer o que realmente não querem, mas não era uma questão de querer e sim de necessitar. Arthur tinha medo de cair nessa armadilha com a ideia de Sarph.

   Não foi à tal floresta. Por mais que algo em si lhe dizia para matar a família real, outra insistia em mostrar que ouro não é a saída para todos os problemas. Afinal, tinha uma casa, um amigo e talvez uma futura mulher, se Yris aceitasse o romance entre os dois ele poderia constituir uma família. Pensou em seus filhos, mas percebeu que era um futuro distante.

   - Me fez esperar uma eternidade – Sarph apareceu na taberna sem que Arthur percebesse. Sentou-se de frente para ele. – Acho que você não está entendendo as regras do jogo.

   Arthur estremeceu. Ficou de olhos arregalados, mas lutou para que o nervosismo não o entregasse para aquele homem. Deveria ser forte, tão forte quanto Yris levantando-se do chão – ensanguentada, olhos roxos e roupa rasgada – caminhando adiante na sua vida. Tão forte quanto Ardan que passou por tantas dificuldades junto de Arthur. Tão forte quanto ele mesmo que teve um passado tão difícil, mas continua de pé.

   - Acho que você não está sabendo ditar as regras do jogo ou muito menos conduzi-lo – Arthur olhou fixamente naqueles olhos negros do homem encapuzado. Deveria ser forte. – Você escolheu a pessoa errada para participar de seu teatro sanguinolento. Está muito enganado sobre minha pessoa.

   - Pensei que era um assassino de aluguel. – Sarph proferiu sussurrando para um Arthur completamente perdido no mapa. Não conseguia compreender o real motivo daquele homem.

   - E sou! – Arthur também sussurrou. - Mas não mato famílias inocentes. Meus clientes só me procuram para vinga-los de uma forma que eles não precisem sujar as próprias mãos. Mato pessoas que os feriram de alguma forma.

   - Se acha um vingador de Farfália, não é mesmo? Ninguém lhe concedeu esse título, ninguém lhe obrigou a isso.

   - Não é questão de querer. Eu preciso disso para sobreviver, para ter o que comer todos os dias, para ter onde dormir e descansar.

   - Então está sendo demasiado tolo não aceitar minha proposta. Já te disse que terá ouro suficiente para sair daqui e esquecer suas origens. Esquecer tudo! Eu preciso de você, pois é o único capaz de tal feito – Sarph ainda continuava com a voz baixa. Ignorou a atendente do estabelecimento quando viera perguntar o que queria beber. – As outras pessoas que contratei para fazer isso não conseguiram chegar na metade do caminho. Ou foram presas ou morreram. Mas você, você tem capacidade, pois guarda algo extraordinário em você mesmo.

   - Não sou uma máquina de matar.

   Naquele instante a porta abriu em um estrondo e um grupo de homens entraram. Alguns deles eram de Raltoor, mas dois de Melfin. Sentaram nas banquetas diante do balcão e Grande Dirk tratou de preencher cinco taças com cerveja para eles.

   - Vocês souberam? – Um homem gordo de cabelo castanho e comprido dizia enquanto dava o primeiro gole na bebida. – Riston Hiperth se suicidou. Dá para acreditar? Não aguentou ficar sem mulher nem mesmo um dia todo.

   - Com tantos prostíbulos em Melfin – Outro homem, alto e magro, disse após soltar uma gargalhada cômica. Também bebeu da cerveja e fechou o punho, batendo no balcão. – Bem capaz de ter bebido e perdido o controle da vida.

   Sarph também prestou atenção na conversa daqueles homens. Olhou rude para um Arthur que preenchia sua boca com chocolate quente.

   - Como fez isso?

   - Não fui eu! – Arthur chamou a atendente. Assim que chegou pagou as moedas da bebida e levantou-se com rapidez. Deu uma última olhada para um Sarph voraz.

   - Você está recusando minha proposta?

   - Já recusei, quando deixei de ir ao ponto de encontro. Agora, peço que não apareça mais na minha vida e trate de cuidar dos seus próprios problemas. – Bebeu o último gole do chocolate e bateu a caneca com força na mesa.

   - Você será um homem morto, Arthur.

   Arthur saiu da taberna sentindo o frio lhe percorrer cada parte do corpo, por mais que estivesse muito bem vestido. Naquela manhã Raltoor não tinha as ruas movimentadas como os demais dias, mas Arthur podia ouvir vozes por todos os cantos. A taberna mesmo produzia tanta poluição sonora que ocupava quase a rua toda. Continuou a ouvir os gritos e as melodias mesmo após ter virado a esquina.

   O castelo erguia-se ao longe com tamanha proporção. As janelas agora reluziam-se com os raios de um sol fraco devido as nuvens que cobriam várias partes de Farfália. Lá morava a família real, cuja Arthur deveria matar segundo Sarph. Acabar com um reinado, era uma tarefa que se concentrava especialmente na mão dele. Não só a família poderia morrer, mas levaria consigo o castelo, Ély, Raltoor e Melfin – e também os distritos mais pobres que rodeavam o reino. Arthur não poderia fazer aquilo mesmo com a recente intimidação de Sarph em mata-lo.

   Sua mente ainda não conseguia entender o motivo daquele homem aparecer em sua vida tão espontaneamente. Não sabia quem era ou de onde viera, onde morava ou quem eram seus parentes, mas sabia que seu desejo era realmente deplorável.

   Chegou em casa poucas horas depois. Yris estava com os cabelos presos por uma fita de seda enquanto lavava alguns frutos que Ardan havia comprado para o jantar. Estava bela, como sempre, usando o mesmo vestido, porém costurado no busto. Quando Arthur aparecer notou que ela chorava. Sabia o motivo e possivelmente Ardan havia contado sobre a morte de Riston.

   - Eu sinto muito. – Foi a única coisa que conseguiu pronunciar antes de ir para o quarto.

   Ardan estava vestindo uma roupa qualquer quando Arthur entrou e deitou-se na cama, exausto com a caminhada que fizera por Raltoor. Olhou para o teto sujo vendo algumas teias de aranha com insetos presos nela. Mais tarde um aracnídeo iria devorá-los como jantar. Ficou pensativo.

   Por mais que Yris não amasse – assim pensava Arthur – Riston, ela poderia ter levado um choque quando soube da notícia. Podia sentir a mesma dor no peito que ela, como quando Yris era forçada a copular com o tal sem vontade alguma. Agora, por mais que Arthur pudesse se comover com a morte do homem, sentiu que havia tirado um peso das costas da mulher. Ela era livre, livre como uma andorinha.

   Ardan sentou-se na cama e abaixou a cabeça. Arthur tentou decifrar o que ele estava sentindo ou pensando, mas logo o tal se pronunciou.

   - Ela caiu ao chão e começou a chorar como um bebê quando lhe tira a mamadeira – Ardan levantou-se e pôs-se a olhar o sol abaixando pelas montanhas, estava escurecendo. – Eu não consigo entender o motivo de tanto sofrimento se ela sofria nas mãos dele, não é mesmo? Você disse que ele abusava dela no orfanato, mas eu não a conhecia tão bem como você. Se tivesse me dito poderíamos ter dado um jeito nele muito antes.

   - Antes ou agora, as cicatrizes são as mesmas. Quando fazemos algo errado teremos de arcar com as consequências mais cedo ou mais tarde e eu fiz questão de vinga-la por tudo que passou.

   - Parte disso concordo, meu caro. Não quis minha opinião sobre Riston, mas agora eu a darei e você ouvirá calado. Está vendo essas casas que preenchem Farfália? Cada casa tem sua família e cada família tem seus problemas. Não podemos tentar mudar os erros das pessoas, pois apenas elas conseguem tal feito. Yris é uma pessoa forte, se ela não estivesse o amando e recebendo o amor esperado ela conseguiria resolver o problema.

   - Está dizendo que fiz errado? Está dizendo que não a livrei de um problema?

   - Você pode até ter a livrado de um problema, mas a trouxe outro.

   Ardan estava certo. Desde que Arthur conhecera Yris sabia que ela era uma pessoa forte, de um coração forte e uma mente vitoriosa. Uma parte de si dizia que tinha feito certo e a outra parte recusava ao menos a pensar a que ponto ele chegou. O amor não se resume em morte. Se Arthur a amava ele deveria conquista-la e não usar o corpo do marido para poder fazer tal feito. O amor não se consegue a força. Arthur, só então, percebeu que havia cometido o mesmo erro de Riston.

   Lastimou-se. Continuou a olhar para o teto enquanto ouvia a respiração profunda de Ardan. Erro. Ele foi errado. Tudo foi um erro e ele não mais poderia voltar atrás. Mas naquele momento Arthur estava como o inverno. Estava frio. Não sentiu remorso e não mais lastimou-se por Riston. Pensou que se ele teria um fim Arthur decidiria qual era. Mas novamente achou eu estava errado, pois não tinha o poder de controlar a morte de ninguém.

   - Estou confuso.

   - Imagino, meu caro. O lado bom de tudo isso é que aprendemos com nossos erros, não é mesmo?

   - Sai da casa meia hora antes. Estava uma bagunça, objetos quebrados, mesas viradas, Riston havia feito uma grande bagunça, mas eu organizei tudo antes do momento. Quando tomei posse do seu corpo o rosto estava manchado de água e ele mesmo havia se cortado em alguns lugares. Se arrependeu do que tinha feito. Então, quase meia noite, subi até a torre de observação em Melfin. Fiquei sentado no parapeito da janela até dar a hora certa. Pulei! Senti o vento passear pelo corpo e logo disse meu próprio nome. E depois eu estava acorrentado e Riston morto.

   - Que isso fique somente entre nós. Agora vamos que já tenho fome.

   Arthur demorou para se levantar, pois sentia que seu corpo estava mais pesado que antes. Chegou na cozinha e sentou ao lado de uma Yris tristonha e de frente a um Ardan esfomeado. Para o jantar a mulher havia preparado uma mistura de frutos e coelho assado. Apenas. Só ouvia o som dos talheres e nada mais.

   Yris comia devagar enquanto olhava fixamente para a vela na sua frente derretendo. Estava sem expressão alguma.

   Ardan, após terminar seu prato, disse que sairia para tomar um ar e saiu com uma maçã e uma faca, descascando-a.

   - Foi difícil vê-lo morto, Arthur. Não pensei que sentiria uma dor tão forte no peito, mas senti – Yris deixou o prato de lado e abraçou um Arthur consolador. – E você estava justamente lá para me acolher e me dar um teto. Muito obrigada!

   Talvez se dissesse a verdade para ela naquele momento, mas temeu que ela não continuaria a retribuí-lo e talvez sairia da casa, sairia da vida de Arthur. Foi muito rápido os próximos segundos, pois Yris havia levantado a cabeça e encontrado com os lábios de Arthur. A chama havia renascido das brasas que Arthur tentou um dia incendiá-las. Novamente aquele doce que sentiu quando tomou posse de Riston, novamente aquela paixão de infância.

   Arthur desprendeu o cabelo longo dela e começou a passar a mãos nele, como se estivesse surfando no mar. A beijou mais intensamente, com mais intensidade do que antes, bem mais, pois queria amá-la como ela merecia. A pegou no colo e a prensou contra a parede da cozinha, beijando-a, passando a mão pela sua nuca e seu cabelo, excitando-a.

   Decidiu leva-la para o porão, onde não poderiam ser incomodados com a chegada de Ardan depois – já que o amigo só ia para lá quando Arthur fosse usar sua habilidade. Desceu os degraus vagarosamente segurando o corpo da moça. Desta vez ele tirou sua roupa primeiro deixando seu membro visível e já entumecido e pôs-se a ajudar Yris com sua roupa. Ambos excitados.

   Arthur deitou-se no chão e Yris começou a cavalga-lo, como um cavalo percorre as campinas. Não queria pensar em mais nada naquele momento, apenas que ele não terminasse nunca.

   Mudaram de posição. Ambos suando bastante e cada um conhecendo o outro um pouco mais. Após tantos anos Arthur conseguiu encantá-la e terem a primeira relação juntos. Era um dia importante para ele e não se esqueceria nunca. Pensou que não haveria necessidade de ter tomado posse do corpo de Riston, mas depois imaginou que jamais chegaria perto de Yris se ela não tivesse sido expulsa de casa.

   Yris gemia e Arthur gostava daquilo. Gostava de como a fazia tremer de prazer como ela realmente merecia e não à base de socos e sangue. Ela gemeu ainda mais e Arthur também entrou no ritmo. Ambos excitados ao extremo.

   Arthur virou-se de lado e libertou seu sêmen no chão enquanto Yris apreciava. Finalmente ele não era mais virgem e realizou seu sonho de infância. Sabia que aquele dom o possibilitaria de fazer coisas que sempre quis e ele teve certeza de que deveria usá-lo sem medo, pois era feliz assim.

   Deitaram-se um ao lado do outro, corpos ainda nus transferindo o calor corporal. Estavam suando, afinal, bastante suados. Ouviu gritos abafados e isso fez com que Yris pulasse do chão e vestisse sua roupa o mais rápido possível. Arthur só se preocupou em vestir a calça e subiu os degraus rapidamente. Ao abrir a porta as chamas ardiam e o fogo já se espalhava por toda a casa.

   - Rápido! Yris, corra.

   Arthur a pegou rapidamente pelos braços e como se o fogo não queimasse ele simplesmente o atravessou. A fumaça fazia ambos tossir e ouviu o grito de sofrimento de Ardan do lado de fora da casa.

   No hall, Arthur empurrou a mesa para que liberasse passagem pelas chamas, mas espontaneamente parte do teto se desprendeu e caiu. Yris caiu no chão assim que Arthur foi atingido pelo telhado. Arthur pensou que morreria. A morte viria logo após a realização de seu sonho, mas o que realmente importava era que ele havia conseguido. Morreria ali, chamuscado, ao lado de sua amada e poderiam se encontrar no pós vida. Receou encontrar Riston depois da morte e entregar todo seu jogo para Yris, mas naquele momento o raciocínio de Arthur não estava bem devido os efeitos da fumaça.

   Fez esforço para se levantar enquanto sentia a perna arder. De pé conseguiu agarrar uma Yris ainda consciente, mas fraca demais. Dirigiu até o quarto, onde sua cama já não existia, mas a janela ainda estava aberta. Primeiro jogou Yris por ela e depois atravessou sem cerimônia. De fora da casa ele conseguiu assistir tudo que tinha se queimando.

   Com Yris no colo, Arthur contornou a casa até à rua. As pessoas traziam vários baldes de água e tentavam jogar com a intenção de apagar as chamas – as pessoas de Raltoor. Deixou a mulher estirada no chão e correu para um Ardan com uma faca encravada na perna e o sangue escorrendo pelos tijolos da rua.

   - Aguente firme, Ardan. Um curandeiro, por favor. UM CURANDEIRO! – Gritou com todo o ar que tinha nos pulmões.

   Arthur decidiu tirar a faca e nisso Ardan gritou de desespero e dor. O que Arthur tinha feito para que aquilo tudo acontecesse. Estava em choque por tudo decidir acontecer no mesmo instante. Não poderia perder nenhum dos dois, não poderia ficar sozinho, não poderia.

   Olhou para a faca. Um papel estava pregado nela com os dizeres “você ainda terá mais uma chance”. Sarph! Ele havia incendiado a casa, ele havia esfaqueado Ardan. Ele era o culpado daquilo tudo.

   Na verdade Arthur era o culpado. Tudo que acontece em nossa vida é culpa de nós mesmos e de mais ninguém. Começou a achar que seu dom na verdade era uma maldição, pois sem ele Sarph jamais teria aparecido em sua vida. “Mas sem ele você jamais teria reconquistado Yris ou talvez nem mesmo arrumado uma casa. Sem ele você seria um ninguém”, a mente de Arthur ainda estava partida, pois uma dizia que ele estava certo enquanto a outra parte que ele estava errado.

   Alguns homens se aproximaram e trataram de encaminhar Yris e Ardan para uma enfermaria próxima. O fogo estava se dissipando com a água que estava sendo jogada, mas nada ali mais tinha valor. Nada ali mais poderia ser resgatado. Apenas as lembranças sobreviveram na cabeça de Arthur, aquele que tem um dom que muitas vezes se torna uma maldição. Arthur estava confuso, como sempre.


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