Dei uns tapinhas no sofá para ele se sentar ao meu lado, pegamos os controles e escolhemos um jogo antigo de lutas. Só depois de acabar a primeira partida que me dei conta que estávamos sendo observados.

Eu e Joab olhamos ao mesmo tempo para a porta com aquela sensação de termos sido pegos no flagra. Tiago e o rapaz que apareceu mais cedo nos olhavam com imensa curiosidade.

— Está é a nossa sala do descanso, temos uma filosofia diferente aqui na empresa. - fez um sinal para meu amigo ao lado - Este é Joab, ele é o responsável por toda a parte de redes, estruturação e por fazer nossa impressora funcionar.

Levantei o dedo para pedir a palavra e disse com um tom irônico.

— O famoso menino da informática.

Tiago riu, mas se conteve, sabia que meu colega odiava aquele apelido.

— Está é Sophia, ela cuida das mídias sociais, fotografia, pós venda e é nossa garota do café.

Joab levantou o indicador para falar:

— Só quando ela está de bom humor, não se engane com esse rosto meigo.

— Ele está bravo porque perdeu a primeira partida - pisquei de um jeito maroto para os dois.

— Pessoal, também gostaria de apresentar o Ícaro a vocês, sei que estamos sobrecarregados nos últimos meses e ele vai nos ajudar nesse momento de crescimento da empresa, ele vai passar alguns dias em cada setor, então, nada de pegadinhas.

Tiago nos olhou com veemência, da última vez assustamos o estagiário controlando o computador dele por acesso remoto e contando histórias de fantasmas, o pobre coitado nunca mais quis ficar sozinho em qualquer cômodo daquela casa.

Levantamos as mãos ao mesmo tempo em sinal de inocência.

— Não vamos fazer nada.

— Sei...

Nos olhou com um semblante de aviso caso algo estranho acontecesse. Tiago fez sinal para o nosso novo colega se pronunciar, pelo semblante de Joab percebi que ele também o achou daqueles caras bombados de academia que só pensam em músculos e em mulheres. A voz dele era até bonita, meio rouca, como quem acaba de acordar, ele realmente devia fazer muito sucesso.

— Vai ser um prazer trabalhar com vocês, espero contribuir aqui dentro.

Por um segundo eu pensei: nós também esperamos. Me limitei apenas a sorrir e fazer um jóia para ele.

Depois que eles saíram dali, voltamos ao nosso jogo, ganhei duas seguidas e Joab tirou algumas moedas do bolso para mim.

— Você apela demais.

Dei de ombros e fui até a máquina de café, escolhi um cappuccino italiano com creme e voltamos para nossa sala. Finalmente consegui me concentrar para o trabalho, eu tinha que entrar em contato com nossos clientes depois da venda e graças a Deus esse número era cada vez maior, então essa parte do serviço ocupava todo meu tempo de manhã.

Depois entrei em uma rede social para pesquisar o design de algumas páginas, tudo era em clima de dias dos namorados, buquês, perfumes, roupas. Muita gente sofre nessa época, para mim é totalmente indiferente, creio que seria mais produtivo se fosse o dia do bacon, ou o dia da batata frita, dia dos namorados é a data mais falida para mim, as pessoas enchem suas redes sociais de fotos banais querendo mostrar uma felicidade que é só de aparência.

Alguém tocou meu ombro e eu tirei o fone de ouvido.

— Tiago me mandou uma mensagem… - Joab me tirou de meus devaneios - Ele vai ter que ir em casa, pediu para a gente almoçar com o novato.

— Ah, fala sério… - murmurei com desgosto.

— Se serve de consolo, é por conta da casa.

— Que horas a gente vai? - brinquei, irônica.

— Sua mercenária, o que custa acompanhar seu colega novo?

— Custa minha paciência.

— E se ele for gente boa?

— Duvido.

Coloquei o fone de volta, ainda faltava alguns minutos para nosso horário de almoço, Tobias veio se esfregar na minha perna, ronronando. Tentei me fixar na minha pesquisa de novo, mas fora em vão, levantei e fui para a cozinha pegar um café.

— Há quanto tempo trabalha aqui?

Uma voz que eu não estava acostumada falou atrás de mim, me assustei e quase derrubei minha caneca.

— Não faça mais isso… - coloquei a mão no peito, quase arfando.

— Desculpa, não queria te assustar.

— Ícaro, né? Quase tive um infarto do miocárdio, mas acho que não vai ser dessa vez que eu parto dessa para melhor.

Dei de ombros e expressei o sorriso mais largo que eu poderia ter dado. Ele me olhou como se eu fosse uma marciana, um objeto de estudo, algum animal de laboratório. Sempre gostei de analisar as expressões faciais das pessoas e ver o semblante dele foi um prato cheio para mim. Seus olhos eram tão azuis de dar inveja, azuis e grandes, como duas bolas de gude com luz própria. Apelidei seus olhos mentalmente de mar do Caribe no verão. Não sei quanto tempo fiquei em meus devaneios mas ele se aproximou e me tocou levemente no ombro.

— Você está bem?

— Oi?

Despertei do meu transe mental e tive que olhar para cima, ele devia ser uns 15cm mais alto que eu.