Uma Nova Chance escrita por Arikt


Capítulo 14
Constatação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/743403/chapter/14

L, em mais uma de suas noites apáticas, deitava-se em sua cama de barriga para cima, olhando fixamente o teto. Sua cabeça martelava com o vídeo que o segundo Kira enviara. Estava óbvio que aquilo havia sido uma ordem de Kira, para ele mandar aquele tipo de mensagem. Tudo parecia estar conspirando contra o detetive. Os dois Kiras estavam juntos, e ele encrencado. Tinha que achar uma saída, ou poderia estar morto sem nem perceber.

Embora houvesse dito que as suspeitas acerca de Raito caíam com aquela mensagem, pensava exatamente o contrário. Não tinha certeza, mas todos seus palpites apontavam para o garoto. Era no mínimo desconcertante fazer o agente Yagami participar de uma investigação que incluía o próprio filho, mas infelizmente era necessário. Até que pegasse Kira, ou Lucy contasse sua identidade, o garoto era seu melhor palpite.

Um barulho abafado soou na sala, acompanhado do som da porta de entrada batendo forte. Alarmado, levantou-se e foi olhar o que estava acontecendo. K era a causa de todo o barulho. Ele estava afobado e em seu colo carregava Lucy, que parecia inconsciente.

— K! O que aconteceu? Porque Lucy está assim? — começou a perguntar, sério. — Vocês sofreram algum tipo de ataque?

— Ela estava tendo um ataque de pânico. Eu tentei ajudar, mas ela desmaiou... Depois disso não sabia como agir, e a trouxe para cá.

Apesar de estar tentando manter a calma, ele ainda parecia muito assustado e mortalmente pálido. O corpo de Lucy estava inerte.

— Procurou na bolsa dela para ver se tinha algum remédio emergencial? Ela chegou a falar o que aconteceu para ter ficado dessa forma? ― disparou as perguntas para K de modo rude.

— Procurei, mas não havia nada! E ela não falou nada, não tenho ideia do que aconteceu!

O detetive suspirou, passando a mão nos cabelos bagunçados. Não adiantava descontar as coisas em cima do amigo, é claro que ele não tinha a mínima culpa por aquela situação. Não fazia ideia de como lidaria com aquilo, mas tinha que tentar algo.

— Dê-me ela. Pode ir para o quarto, eu cuido disso, seja lá como for — estendeu os braços, resignado. Ele que insistiu em prendê-la ali. Era como se fosse sua responsabilidade.

K entregou Lucy a L, a preocupação estampada em suas feições.

— Peço perdão por isso, L. Eu realmente fiquei sem saber o que fazer.

— Tudo bem, não foi sua culpa. Deixaremos para amanhã o relatório sobre Raito. Vá descansar.

— Tudo bem. Se precisar de ajuda, estarei acordado.

O homem deixou a bolsa de Lucy, que estava carregando em um dos braços, em uma mesa de canto e se retirou para o quarto, fechando a porta sem barulho. L rapidamente levou a moça até o sofá, colocando-a sentada. Ajoelhou-se em sua frente, checando sua respiração e seu pulso. Ambos estavam um pouco acelerados, mas ela ainda estava imóvel. Chacoalhou seus ombros delicadamente.

— Lucy? Acorde, vamos... Você está segura agora.

Continuou a chacoalha-la, ficando cada vez mais assustado. Temia que fosse tarde demais, que fosse precisar levá-la para o pronto socorro urgente.

Mas, depois de alguns minutos de insistência, ela abriu os olhos.

— L? — murmurou, depois olhando em volta e estreitando o tronco, parecendo alarmada. — O que... aconteceu? Minha cabeça está rodando...

Seu corpo amoleceu novamente, voltando a se recostar nas almofadas. O detetive sentiu o alívio derramar-se por seus músculos.

— Eu que pergunto o que aconteceu! Consegue me dizer por que passou mal?

Ela não respondeu. Levantou uma mão e passou-a no pescoço. L percebeu que não ligara as luzes. Mas, pela claridade que entrava pelas janelas, ele conseguia ver gotículas de suor na pele dela. Provavelmente estava suando frio.

— Não posso cuidar de você aqui. Não sei o que fazer. Vou te levar ao hospital.

Fez menção de se levantar, mas a garota o impediu, segurando em sua mão, curvando-se para mais perto dele.

— Não... por favor. Tudo menos isso. — Embora todos os seus gestos denunciassem o quão mal ela estava, sua voz não era arrastada, mesmo que estivesse um pouco fraca e ofegante. Seu rosto estava lívido e sua expressão era de medo. — Não quero ser internada de novo, não posso suportar!

— Mas não posso correr o risco de você piorar e... não sei, de você morrer.

— Eu... estou bem agora. Já passei por coisa pior e não morri... Vai ficar tudo bem.

 Soltou-se dele, voltando a se recostar. Passou novamente a mão no pescoço, ajeitando o corpo, soltando um gemido sôfrego. Mesmo em um momento tão delicado, L não deixava de se sentir hipnotizado quando a olhava, achando-a a criatura mais bela da face da terra. Suspirou, dando-se por vencido.

— Tudo bem. Mas se eu sentir o mínimo de piora, não pedirei permissão para te levar. Venha, vou te ajudar a se deitar.

Levantou-se e a pegou novamente no colo. Não precisava fazer muita força, ela não era nada pesada. Lucy jogou os braços em volta do pescoço do homem, escondendo o rosto no ombro dele, totalmente sem forças. L foi andando calmamente em direção ao quarto dela, abrindo a porta com um pouco de dificuldade e a fechando com o pé.

 Cuidadosamente colocou o corpo da moça na cama, sentando-se ao lado dela. Ela se ajeitou, virando a cabeça para encará-lo.

— Como... cheguei aqui?

— K a trouxe.

— Ah, me lembro agora... Foi a primeira vez que ele foi gentil comigo... Tenho que me desculpar com ele. Com você também. Eu sou uma bagunça total.

Ela escondeu o rosto com as mãos. O detetive decidiu tentar novamente.

— Lucy, o que aconteceu?

A garota deu de ombros, descobrindo o rosto e olhando para o teto.

― Acho... Que eu só estou cansada. Exausta, na verdade — murmurou, o olhar perdido. ― Só consigo pensar em como eu gostaria de sumir.

― Não posso te ouvir falando dessa forma e não pensar em tomar medidas mais drásticas quanto a sua segurança. Se continuar dessa forma, terei que impedir suas saídas. Nunca se sabe se não é Kira tentando lhe incutir esses pensamentos suicidas.

L tentava falar calmamente, mas a possibilidade de Lucy estar começando a adoecer novamente o assustava muito, mais do que poderia imaginar. Lucy bufou, balançando negativamente a cabeça.

— Se tem algo que eu tenho certeza é de que Kira não está controlando minha mente nesse momento. — passou a mão na testa, prendendo os dedos no meio dos cabelos. — O problema é essa tempestade que não passa. Sabe? Essa que levou minha mãe de mim, levou minha vida. E agora ela está ameaçando de novo, colocando Raito na mira... e você também.

Ela o encarou, e em seus olhos parecia morar uma forte agonia. L também a encarou, sem saber como reagir.

Aquela frase, que lhe dava um mínimo de chances de Lucy também se importar com ele, produzia um solavanco em seu estômago e uma pontinha de felicidade incrédula. “Não, ela só está fora de si. E provavelmente tentando me manipular”. Pensou, sufocando esses sentimentos. Queria realmente se convencer disso, mas aqueles benditos olhos castanhos não pareciam mentir.

— Você também sente isso, L? Sente que... sempre está prestes a perder tudo o que tem? — Lucy perguntou de repente, tirando-o desses pensamentos conflituosos.

Demorou para responder. Algo assim para ele era tão óbvio quanto respirar. E, após começar a trabalhar no caso Kira, sentia que também poderia perder o controle de si próprio.

— Todo o tempo — sussurrou, dando um leve sorriso. — Mas a vida geralmente é assim, não é? Não dá para prever o que acontecerá em seguida.

Ela deu uma risada baixa, desviando os olhos para a janela.

— Acho que se existe um deus, este escolhe à dedo algumas pessoas para brincar. Acho que fui uma das escolhidas.

L suspirou, e resolveu deitar-se perto da moça, de lado. Olhou-a preocupado, por um momento deixando de lado seu modo cauteloso, permitindo que seus sentimentos se aproximassem dos dela. Pegou em uma mecha dos cabelos compridos, sentindo a textura macia.

— Por favor, não... pense mais em acabar com a sua vida. — Sua voz expressava tristeza. ― Seria muito difícil para mim... perdê-la dessa forma.

Lucy franziu os lábios, parecendo desacreditar das palavras dele, mas acabou abrindo um meio sorriso.

— Isso quer dizer que você se afeiçoou a mim, detetive? — Sua voz era brincalhona, e soava bastante sensual aos ouvidos do homem.

L retribuiu o meio sorriso.

— E você não?

Ela ignorou a pergunta, virando-se também de lado e levantando um pouco o tronco, apoiando a cabeça na mão.

— Lembro quando eu costumava sair na Inglaterra, e encher a cara nos pubs. Costumava dar em cima dos caras, e me meter em alguns problemas por isso. Mas não posso dizer que não era divertido. — A expressão dela era nostálgica. — A sensação de estar fora de si, de ter pelo menos um período de liberdade, sem pensar em problemas... Raito me dava sermões de como isso era perigoso, que não tinha como ele me defender sempre...

O detetive, ao escutar esse curto relato, tomou consciência da relação que os dois jovens construíram. Não era fácil de lidar com esse fato, de que Raito estava na vida dela muito antes que ele chegasse. 

— Ele realmente cuidava de você, não é? — perguntou, desgostoso.

— É, cuidava... — A face dela toldou-se em uma máscara circunspecta ao pronunciar essas palavras. ― Eu só queria poder sentir essa liberdade de novo.

Sem que L esperasse, Lucy aproximou-se de seu corpo, fazendo-o se deitar de barriga para cima, enquanto o tronco dela ficava por cima do seu. Ela apoiou-se nos cotovelos, deixando seus rostos próximos, olhando-o com uma intensidade assustadora.

Automaticamente, todo o corpo dele entrou em um estado de tensão. Observou com atenção o rosto da moça, apreciando seus olhos castanhos, os pequenos poros na pele clara, a penugem quase invisível em suas bochechas, sua respiração, ainda acelerada, tocando seu próprio rosto. Era uma visão maravilhosa.

— Pode me prometer uma coisa? — Lucy murmurou.

Seu hálito quente umedeceu a pele do detetive, que teve que usar todas as forças que tinha para se concentrar no diálogo.

— O que quiser.

— Não seja pego por Kira. Nunca.

L olhou para os lábios da menina quando ela falou, e arrepiou-se todo com seu timbre de voz. Oh Deus, como aquilo era sexy. Toda a situação. Levantou o braço, passando os dedos levemente pelo rosto dela, descendo para o pescoço. Como estava sendo difícil manter a sanidade naquele momento...

— Essa, por acaso, é uma tática para flertar comigo enquanto estou vulneravelmente preocupado com você? ― Não sabia de onde estava tirando tanta coragem para falar daquele jeito, quando havia fugido de todas as investidas até aquele momento. Talvez a preocupação tivesse realmente derrubado as barreiras que colocara entre os dois.

Lucy não respondeu, mas enterrou suas mãos nos cabelos do homem, chegando mais perto, encostando sua testa à dele. O detetive não conseguia discernir o que aquilo tudo queria dizer. Talvez ela só estivesse brincando. De qualquer forma, aquilo não importava naquele momento. Mal conseguia raciocinar.

— Por que quer que eu prometa isso? Há algo que você não me contou?

— Talvez... eu só não queira que algo lhe aconteça. Porque, no final, eu também me afeiçoei a você. E estou aproveitando esse momento vulnerável para poder falar.

Aquilo era a cartada final. Não podia mais fingir para si mesmo. K tinha razão. Ele se apaixonou por Lucy, intensa e perdidamente. E admitir isso era sua condenação. “Mas como pode uma condenação parecer tão atraente?”.

— Eu prometo.

***

Lucy acordou com alguém chamando seu nome. Rompeu sua inconsciência de forma quase dolorosa e abriu os olhos. Era Watari. Intrigada, esfregou as mãos no rosto, sentindo uma forte sonolência. Sua cabeça doía e seus membros pareciam muito pesados. Sempre se sentia assim depois de um ataque de pânico. Com um tremendo esforço, sentou-se e encarou o senhor.

— Watari? O que aconteceu? — perguntou, percebendo que até sua voz estava estranha.

— Ryuuzaki pediu-me para lhe trazer algo para comer — respondeu ele com um sorriso amável.

A garota viu que, ao lado dele, estava um carrinho de chá portando uma bandeja com biscoitos e uma xícara de chá. Ao sentir o cheiro da bebida, seu estômago roncou. Não percebeu que estava faminta. Retribuiu o sorriso de Watari.

— Ah, obrigada! Realmente, é tudo o que preciso agora!

Sem pensar duas vezes ela começou a atacar os biscoitos, sem nenhuma cerimônia. Sentiu um pouco do torpor passar. O homem havia se sentado em sua cama e a observava comer.

— A senhorita está melhor? Acha que precisa ir ao hospital? — Ele perguntou.

Lucy se sentiu envergonhada. Com certeza L contara o acontecido para ele.

— Não, obrigada. Estou um pouco lenta, mas nada preocupante.

Parou para analisar o quarto. O aposento já estava totalmente claro e ela ainda se encontrava com as mesmas roupas que vestia no dia anterior. “Minha cara deve estar um desastre!” Pensou, nem tentando imaginar o que teria de encarar no espelho.

— Watari, que horas são, agora?

— Onze da manhã.

Ela soltou um gemido desanimado.

— Droga. Não podia ter faltado na aula hoje... — E só então notou um curioso fato. L nunca deixou ninguém entrar em seu quarto além de Raito. Sempre que precisava chama-la ou dar algum recado ele mesmo aparecia, não passando da porta. Por que hoje seria diferente? — Hã... Afinal, por que L não veio aqui? Geralmente é ele quem se responsabiliza por mim...

— Ryuuzaki não está aqui hoje, querida. Ele resolveu voltar para a universidade.

O rosto de Lucy ficou lívido. Um pavor sufocante passou por todos os seus nervos, deixando-a imóvel. Ele não podia ter feito isso. Ir para a universidade e se encontrar com Raito era como cavar a própria cova. Tinha que fazer algo, isso se já não fosse tarde demais.

Levantou-se como um raio, calçando seu tênis, ignorando as indagações de Watari sobre o que havia acontecido. Saiu para a sala de estar e encontrou K sentado no sofá, lendo. Sem nem ao menos lhe dirigir um olhar, foi rapidamente até a porta de entrada.

Mas, antes que pudesse abri-la, o loiro levantou-se, foi até ela e segurou em seu braço, impedindo-a.

— Onde diabos você pensa que vai sem nenhum acompanhamento? — perguntou ele, aborrecido.

— À faculdade — respondeu simplesmente, tentando não sucumbir ao nervosismo.

— Acho que não. Ryuuzaki não me deixou nenhuma ordem para segui-la, e que eu saiba, também não teve permissão dele para sair hoje.

A garota puxou com violência seu braço para baixo, conseguindo soltá-lo e encarou o homem com raiva.

— Fodam-se suas ordens e permissões. Eu vou para a faculdade, quer acompanhada quer não! Preciso falar com L! — vociferou.

Finalmente abriu a porta e saiu para o corredor, quase correndo. Pela agressividade dela, K viu que poderia ser realmente importante. Suspirando, foi atrás. A bronca seria pior se a deixasse sozinha.

No térreo, Lucy estava disposta a pegar o metrô até o campus, mas K pediu por um táxi.

— Vai ser muito mais rápido desse modo ― explicou.

Por todo o caminho a moça sentia seu corpo em um estado insuportável de tensão, e tudo ficava pior pois o torpor não se dissipava. As coisas passavam por suas vistas como num sonho, nada parecia real. Mas tinha que se forçar a raciocinar, a voltar ao normal. Precisava encontrar L, precisava evitar que algo lhe acontecesse.

K lançava olhares sérios em sua direção, mas estava mais preocupado que irritado. Ainda tinha a visão dela inerte em seus braços, e essa recordação não era nada agradável. Queria saber o que estava acontecendo para poder evitar que aquilo se repetisse, mas não ousou perguntar. Sabia que não ia adiantar.

Chegaram na universidade vinte minutos depois. Assim que o táxi parou, Lucy abriu a porta e saiu em disparada, quase fazendo K a perder de vista. Começou a procurar pelo campus, indo até um ponto próximo à ala onde Raito estudava. Estavam no fim do primeiro período. Os estudantes espalhavam-se pelos gramados, conversando entusiasmadamente com seus grupos, alguns parando para comer por ali mesmo, outros dirigindo-se aos cafés e lanchonetes ao redor.

Finalmente avistou L. O detetive estava sentado no seu jeito peculiar em um banco, debaixo de uma frondosa árvore, lendo. Lucy quase soltou uma risada com o alívio que sentiu ao vê-lo. Começou a ir na direção dele, abrindo a boca para chamar seu nome, mas Raito apareceu a alguns metros, saindo do prédio com a garota de seu curso, Takada. Por sorte ele estava olhando para ela, então não viu a amiga.

Lucy pegou no braço de K e o fez ir para trás de uma árvore com ela, escondendo-os. O homem a olhou sem entender nada.

— Que diabos você está fazendo?

— Não quero que Raito saiba que estou aqui. — respondeu ela simplesmente, espiando pelo lado do tronco.

Ela tinha certeza que Ryuuku a havia visto. Implorava mentalmente para que ele nada falasse ao garoto.

Os dois rivais começaram uma conversa. Raito falou alguma coisa para Takada, que assentiu e continuou seu caminho. Lucy não conseguia ouvir, pois estava alguns metros afastada. Durou alguns minutos a interação, até que L se levantou e eles começaram a caminhar, aproximando-se de onde ela e K estavam.

Lucy estava apreensiva. Sabia que, naquelas circunstâncias, Raito nada podia fazer contra L, pois estaria na cara que era ele o assassino. Tecnicamente, só ele sabia quem L era por ali. Mas e se Misa estivesse escondida em algum lugar próximo, ou Remu? Começou a procurar, mas não encontrou nem uma, nem outro. Embora um pouco menos preocupada, ainda achava que deveria tirá-lo dali. Era arriscado demais.

Sem dizer nada a K, pois sabia que ele a seguiria de qualquer forma, saiu de trás da árvore, seguindo para os dois que já haviam passado por ela. Mas, antes que pudesse abrir a boca, viu uma garota loira correndo naquela direção. Voltou rapidamente para o esconderijo, o coração quase saindo pela boca. Era Misa.

Agora nada podia fazer, além de observar. Tentar arrastar L dali, na frente de Raito e Misa, ia ser muito suspeito. Tinha certeza de que K já estava desconfiado.

Misa gritou por Raito, que olhou para trás, assim como L. O trio começou a interagir, mas Lucy não conseguiu mais olhar. Afastou-se e começou a correr para o pequeno bosque que havia dentro do campus, fervendo, tremendo dos pés à cabeça. Parou depois de alguns minutos, perto do lago.

 A visão da loira se aproximando do detetive rodou em sua mente, misturando raiva, medo e desespero em seu peito, que lhe borbulharam pelo estômago. Ela sentiu uma forte ânsia. Apoiou-se em uma árvore e abaixou o tronco, vomitando o pouco que havia comido antes de sair do hotel.

K chegou até ela um pouco depois, pois não conseguiu acompanha-la na corrida. Ela era bem mais rápida. Ao vê-la vomitar, assustou-se de verdade. Não tinha ideia do porquê desse estado dela, e não sabia lidar. Queria se irritar, mas não conseguia. Estava receoso de que ela estivesse tendo outro surto, e não queria que ela se machucasse. L não suportaria.

— O que aconteceu? Por que está passando mal? — perguntou, chegando alguns passos mais perto.

Lucy fez um gesto para que ele esperasse. Embora não tivesse mais nada para colocar para fora, continuava tendo ânsia.

Quando conseguiu se controlar, afastou-se da árvore e agachou-se, tremendo mais que antes. E, então, desatou a chorar. Não sabia o que fazia. Era tarde demais para L. Nada poderia fazer para parar Raito, e mesmo que pudesse fazer algo não conseguiria pensar no estado em que se encontrava.

— Por que ele teve que sair? — esbravejou de súbito, a voz alta e estridente. — Ele nunca precisou mostrar o rosto, por que teve que fazer isso agora? Por que ele não cumpriu a promessa?

Sua voz fraquejou na última palavra e ela começou a soluçar, sem conseguir falar mais. Escondeu o rosto nos braços, derrotada.

K assistia aquela cena se sentindo atordoado. Resolveu mais uma vez ser solidário com a moça. Foi até ela, levantando-a pelos braços, levando-a até um banco perto dali. Sorte que, naquele momento, o local estava vazio.

Lucy curvou o tronco até sua cabeça encostar nos joelhos, e assim ficou por um tempo, apenas conseguindo chorar. K dava-lhe tapinhas nas costas, tentando consolá-la.

— Sabe... aquilo que me falou aquele dia? — perguntou ela com uma voz sumida, depois do que pareceram horas. — Sobre... o que eu sentia por L?

K deu de ombros, retirando a mão das costas dela. Ela endireitou o corpo, as lágrimas ainda descendo por seu rosto. O detetive percebeu que a expressão dela era de total desolação.

— Lembro. O que é que tem?

Lucy suspirou, fazendo uma pequena pausa antes de responder. Estava cansada de mentir para si mesma, embora aquele não fosse o melhor momento de confessar qualquer coisa que fosse.

— Você... você tinha razão. Eu não queria admitir, pois achava que seria menos doloroso se eu simplesmente ignorasse... Já perdi pessoas demais na minha vida, não sei se aguento o baque de perder mais uma! Mas não está sendo menos doloroso. Eu só estou enlouquecendo mais rápido, podendo alcança-lo e renegando... Eu estou apaixonada por ele, e isso só torna tudo pior!

Ela voltou a chorar, desconsolada. Ainda não conseguia decidir se estava aliviada ou preocupada ao dizer aquilo em voz alta, mas tinha certeza que cravara a cruz do resto de sensatez que lhe restava.

K abriu um meio sorriso.

— Acha que eu não sabia que tinha razão? Não vou dizer que essa sensação de que você está prestes a perdê-lo passa um dia. Então, é melhor se preparar. Eu também não vou deixar barato. — Sua expressão tornou-se séria, quase dolorosa. — De qualquer forma, é uma batalha perdida para mim. L não gosta de homens. Nunca poderia gostar de mim. Não posso ser o que ele quer, e ele quer você. Apaixonar-me por ele também tornou tudo pior para mim, que me culpava por ser assim. Mas não me arrependo. L nunca me decepcionou.

Lucy nunca parou para pensar o quão doloroso devia ser para K amar alguém que, definitivamente, nunca iria querê-lo. Pensou na possibilidade de ele estar errado e L a rejeitar. Era inconcebível. Essa possibilidade lhe dava falta de ar.

— Eu... imagino o que passou... todos esses anos — murmurou, encolhendo-se.

— Está com medo de passar por isso? — Ele deu uma risada baixa, recostando-se no banco e se espreguiçando. — Você é mesmo tapada.

Ela não disse nada. A conversa a distraíra do motivo dela estar tão abalada, mas o assunto lhe tomou a mente de novo. Começou a balançar o pé direito, tentando não entrar em pânico outra vez.

— Afinal, você disse sobre pessoas importantes para você... Mas não citou Kira. — K a encarou, intrigado. — Por acaso não o considera mais?

Lucy pensou sobre isso por um momento, mas deu de ombros.

— Só... não estou encontrando motivos para amá-lo. Não quando ele está prestes a me destruir por dentro novamente, matando L.

Ele percebeu que Lucy voltou a parecer inquieta. Ela com certeza escondia algo. Mas não podia forçá-la a dizer, não naquele momento. Deu um sorriso amigável, dando mais dois tapinhas em suas costas.

— Não se preocupe. Ele sabe o que está fazendo. Seja lá o que ele tenha te prometido, ele vai cumprir.

Ela assentiu com a cabeça, mas começou a sentir náuseas novamente. Poderia até cumprir, se ainda estivesse vivo nessa altura dos acontecimentos.

O celular de K tocou. Lucy observou-o atender e a expressão de seu rosto ficar surpresa. Quando ele desligou, voltou-se para a menina, coçando a cabeça.

— Precisamos ir. Ryuuzaki acabou de prender Misa, com suspeita de que ela seja o segundo Kira.

A garota não conseguiu acreditar. Uma explosão de alívio desceu por sua espinha dorsal, deixando-a mole. Ele havia se safado. Ele realmente estava à salvo, pelo menos por enquanto. K tinha razão. L cumprira a promessa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Nova Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.