Sequestrada escrita por AC Espadeiro


Capítulo 1
Recomeço




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Acordo com o toque suave da mão de minha mãe contra minha pele, ela me acaricia levemente, de forma calma fazendo com que aos poucos eu abra os olhos. Ela sorri pra mim com lágrimas nos olhos, que notavelmente ela se esforça para segurar. Analiso-a de cima a baixo e ela veste uma roupa simples de ficar em casa, ela está sentada ao meu lado na cama e me observa despertar vagamente.

—Bom dia, filha! - Disse ela com um sorriso meigo e feliz que completava o meu dia. Ainda me lembro do quão senti falta dele. -Está na hora de ir pra escola! É seu primeiro dia! 
—Oba! Estou ansiosa! -Minto.
—Então levanta dorminhoca, eu e seu pai estaremos lá embaixo! 
—Ok!

Ela se levanta alegre e eu tenho a sensação de trabalho cumprido, estou de lado na cama, e me viro ficando cara a cara com o teto de gesso branco, com estrelas, luas, e outros formatos que brilham no escuro. Não dormi tão bem quanto minha mãe acha, na verdade tudo que eu menos queria era sair de casa. Já estou de "recuperação" a 6 meses, mas ainda sim, não quero sair de casa, não quero ficar longe de algum familiar meu por nem um segundo.

Estou ansiosa, nervosa, suando frio, tremendo, menti quando fingi estar animada para voltar as aulas, sei que minha mãe se culpa por tudo que aconteceu e sei o quão triste ela fica ao pensar no que eu passei, demonstrar meu medo em ir a escola, só iria fazê-la se sentir pior.

Ponho-me de pé calmamente. Visto minhas novas pantufas de unicórnio já que as que eu tinha não cabiam mais no meu pé, e vou para o banheiro, onde faço minhas higienes, e arrumo-me pro colégio. Vejo que minha mãe deixou a roupa preparada já, uma blusa regata de seda preta, e um jeans azul. Visto-os apreciando o cheiro da roupa, a sensação do tecido limpo na minha pele, é bom sentir isso novamente.

Ao arrumar as coisas para sair dali, acabo de frente para com o grande espelho no centro do banheiro. Encaro-o por alguns segundos, sentindo um mar de lágrimas nos olhos, cerro os pulsos com as mãos avistando aquelas cicatrizes pelo meu corpo. Uma enorme pairava no lado direito do meu pescoço vindo do meio dele até a frente, pego um tecido que venho usando sempre que vou sair, uma espécie de laço, preto, e o ponho envolta do pescoço para disfarçar. Dou uma última olhada pegando a toalha de rosto e jogando-a por cima do mesmo.

Me encarar era uma difícil tarefa desde o acontecimento. Na verdade, desde aquele dia, eu nunca mais me vi no espelho, não havia nenhum lá. A última vez que me vi, eu tinha apenas 14, e agora tenho 18, quase 19, sou quase uma mulher, totalmente diferente e mudada. O problema é que eu não vivenciei esse anos...

Pego minha mochila, também arrumada por minha mãe, em cima da poltrona rosa ao lado da estante de livros. Ponho-a nas costas e desço as escadas indo para a cozinha. Ao chegar lá vejo um mesa totalmente arrumada, pães diferentes, frios, sucos variados, manteiga, café, requeijão, tudo que pudesse imaginar, era como uma mesa de café da manhã das pessoas de alta classe.

—Surpresa!!! -Minha mãe, falava animada mexendo os braços animada pela minha volta a escola. Ela costuma dizer para meu pai que isso será bom pra mim, que eu voltarei a ser uma adolescente normal assim.

Ela não sabe que isso é impossível.

—Mãe! Foi a senhora quem fez tudo isso? - Ela afirma com a cabeça, orgulhosa. - Não precisava desse trabalho todo!!

Falo com afeição por ela ter tido tanto carinho e preocupação em preparar uma mesa tão bonita pra que meu dia comece bem. Deposito-lhe um beijo na testa e me sento à mesa preparando minha torrada com manteiga e presunto. Observo minha mãe, absorvendo cada detalhe de seu rosto. Os cabelos curtos, castanhos escuros com alguns fios brancos, o rosto fino e pequeno como seu corpo, o vestido de flores rosas que realçava seu lindo e aberto sorriso que brilhava junto aos seus olhos verdes como a relva do jardim de nossa casa de campo.

Logo meu pai aparece, vindo do jardim dos fundos, ele sorri para mim dando um carismático e alegre Bom Dia. Ele beija o rosto de minha mãe acariciando seus ombros e pela primeira vez em anos, ele não pega seu jornal para ler, deixando toda a atenção disposta para mim.

—Então, filha - Desde que voltei, percebo a questão que eles fazem de me chamar de filha a praticamente todo o momento. -, ansiosa para a volta a escola? 
—Claro! -Minto novamente. 
—Soube que suas amigas continuam lá! Mary e Melissa! 
—Quem...? 
—Suas amigas de infância, Mel! - Minha mãe diz como se fosse a coisa mais normal, mas então ela percebe no meu olhar que estou perdida.

Abaixo a cabeça decepcionada comigo mesma, tentando disfarçar o que acabara de acontecer. Eu não me lembro delas. Não depois desses 3 anos. Faço um esforço para lembrar-me delas, mas a memória falha, e eu não me recordo delas duas. Por mais que eu tente esconder, meus pais percebem o pânico no meu rosto ao tentar lembrar delas e rapidamente mudam o assunto.

—Ah, ta. Você não lembra... Quer saber, você poderá fazer novos amigos, novos professores e quem sabe não arranja um namorado!
—Lili!- Meu pai repreende-a de uma forma irônica e engraçada que faz nós rirmos.

Dou um gole em meu suco de laranja ouvindo a rádio a.m. com as músicas matinais que minha mãe sempre escutara pela manhã. Imagino se ela ainda as ouvia enquanto estive fora, penso em como eram as manhãs nessa casa após a minha partida. Ela não costuma falar sobre o que foi, para ela, esse tempo que passei fora, na verdade ela nunca sequer me perguntou como foi.

Sei que em sua mente, ela acha que o melhor é fingir que não aconteceu, que falar comigo sobre o assunto apenas pioraria as coisas, mas a verdade é que talvez eu não tivesse que reprimir tanto meus sentimentos se não fingisse que não aconteceu.

Ela acha que a psicóloga é capaz de resolver tudo, e grande parte é verdade. A lei obriga que eu tenha psicóloga de 2 em 2 semanas, a doutora Pilar, que é realmente a única amiga que eu considero. Conversar com ela é poder me abrir, e botar pra fora tudo que eu tenho dentro de mim, é poder respirar, o que é sufocado por mim aqui.

—Está na hora de irmos, Mel! -Chama meu pai largando a xícara de café sobre a louça e indo. Levanto-me e minha mãe também.

Agradeço a ela pelo café me despedindo mas ela fala:

—Eu vou com você! Tudo bem...?- Ela pergunta repensando se é uma boa ideia, mas admito que me sinto mais confortável e segura com ela comigo. 
—Tudo. - Respondo e dou a mão pra ela. Vamos pro carro e ela resolve se sentar no banco de trás comigo.

Deito a cabeça em seu ombro e ela aperta minha mão com força deixando-me confortável para fechar os olhos e quase garantir que estou segura. Uma sensação que eu não tenho a tempos.

Meus pais e eu nos mudamos para um bairro um pouco mais caro, porém mais seguro, em quase toda esquina há um carro da polícia e isso me tranquiliza um pouco. Meu pai vira a esquina e em poucos minutos já chegamos.

Eles me matricularam em uma escola próxima a nossa casa para que eu não tenha problemas em voltar caso precise, mas eles negociaram comigo que virão me buscar todos os dias.

Ao chegar lá, meu pai estaciona e eu vejo aquele mar de gente, começo a imaginar se aquele homem está ali, se ele está escondido dentre aquele mundaréu de pessoas. Fecho as mãos com força, cravando a unha na palma de minha mão, porém sem sentir dor alguma de tanto medo.

—Vai ocorrer tudo bem, eu estarei na rua ao lado, e seu pai no trabalho, qualquer coisa só ligar!

Olho pela janela ainda aflita em abrir a porta do carro, ela pega em minha mão e fala:

—Você está segura! 
—Mãe...? Pode entrar comigo...? -Peço evitando seus olhos, encarando o chão do carro com os olhos cheios d'água de tanto pavor. 
—Claro...- Ela diz de uma forma meiga cheia de compaixão, sem se importar ou manifestar qualquer insatisfação com àquele pedido. 
—Tchau, pai!- Digo com um nó na garganta. 
—Tchau, filha! Bom primeiro dia!!- Ele sorri pra mim e eu não consigo retribuir de tanto medo.

Ao sair, minha mãe faz o que qualquer mãe faria nessa situação, tenta me deixar solta, o que ela não entende é que eu não quero ficar solta. Agarro em sua mão com tanta força que ela reclama de dor e eu me desculpo arrancando-lhe um riso. Ela envolve-me em seus braços e vamos indo para a entrada, eu ando de ombros curvados, cabeça abaixa, e olhos para o chão, com medo de qualquer um, eu me sinto uma estranha.

Passamos pelos portões e entramos num corredor extenso cheio de armários e várias pessoas conversando. Algumas delas me encaram como se perguntassem de onde eu sai. Continuamos andando e vamos ate a sala da diretora, onde minha mãe dá três batidas na porta aguardando uma resposta que logo é obtida.

Uma mulher negra, de cabelos curtos e escuros, olhos castanhos, e trajes formais, abre a porta para nós, esboçando um receptivo sorriso.

—Diretora Monrey? -Indaga minha mãe. 
—Ela não está! Eu sou a codiretora, Williams! A senhora é...? 
—Hollena Castellamary! 
—E essa bela jovem, como se chama?- Ela pergunta amigavelmente mas de algum jeito, algo em mim não consegue corresponde-la, não consegue se abrir, responde-la meigamente e me entrosar como costumava fazer. Não consigo sequer olhar para ela sem me encolher no colo de minha mãe. 
—Esta é a Mel! Melanie, quero dizer! 
—Melanie... Hollena... Vocês me parecem familiares! Teve uma mãe e uma filha com esses nomes a anos atrás, mas algo terrível aconteceu àquela família! Nossa! Chega me arrepio só de lembrar! Deus que me livre!

Ela fala e eu sinto o peso na consciência de minha mãe pesar sobre meus ombros que ela acariciava. Olho para seu rosto que antes sorridente agora demonstra uma expressão vaga, um sorriso desbotado, um olhar perdido, uma confusão de pensamentos.

—Licença! Cheguei! - Olho para o lado, ainda encolhida em minha mãe, e vejo quem provavelmente seja a diretora. -Prazer, sou a diretora Monrey! Presumo que seja a senhora Castellamary!
—Sim, eu mesma!- Minha mãe confirma acordando de seus pensamentos depressivos. 
—Está é Melanie?! -Ela pergunta e minha mãe afirma com os braços em volta de mim.

Por algum motivo eu me sinto como uma versão mais recente e realista de Carrie - A Estranha; a forma de andar, de falar, de agir, o medo expresso pela mesma a cada passo, a cada conversa, a cada palavra, define exatamente quem eu me tornei.

Uma garota tão sociável, simpática e amiga de todos, se tornara uma completa estranha, introvertida e medrosa.

—Se lembra de mim, Melanie? Você vinha tanto pra coordenação por aprontar nas aulas que nos tornamos grandes amigas de tanto encontros! - Ela diz rindo se lembrando dos momentos que foram apagados de minha memória. Ela me é familiar, mas não me lembro de nada.

Sempre que tento voltar ao passado, acabo sempre parando naquele dia.

—Ela não... Não se lembra... De nada... - Minha mãe fala e o sorriso no rosto da diretora desaparece. Essa vergonha alheia que as pessoas sentem ao mencionar o ocorrido comigo me tira do sério.

Qual a dificuldade em falar que sobre Eu ter sido sequestrada? Qual a dificuldade em encarar o fato de que eu não me lembro de praticamente nada de antes dos meus 14 graças ao tamanho trauma que adquiri com toda essa experiência?

Talvez, se não me olhassem ou tratassem diferente, a cada vez que descobrissem o que aconteceu comigo, quem sabe não seria mais fácil de encarar tudo isso?

—Ah...  tá. Mil perdões!- Ela da uma longa pausa entre uma palavra e outra como se analisasse meticulosamente qual será sua próxima palavra. Eu quero dizer que não há pelo que se desculpar mas não consigo. Algo me tranca em meu próprio corpo.
—Tudo bem... -Minha mãe responde fingindo que nada aconteceu. 
—Bem, acho que querem algumas respostas sobre o colégio. Acertei?- A diretora pergunta mudando o assunto. 
—Sim!- Ela responde. 
—Bem, a sala da Mel fica no terceiro andar, podem pegar o elevador! Qualquer coisa é só me falar! 
—Okay! Obrigada diretora!
—Nada! E bom primeiro dia, Mel!

Dou um sorriso forçado pra ela, e eu e minha mãe subimos os andares no estreito elevador de serviço e chegamos justo no toque do sinal.

—Tenho que ir agora!- Ela fala e eu a aperto com mais força. Acho que ela percebeu meu medo. 
—Não! Por favor, mãe! Fica! 
—Mel! Mel! Olha pra mim! Lembre-se que nada de ruim nunca te aconteceu na escola! Você está segura aqui!
—Mas, mas, mas e se ele estiver me observando?- Eu falava olhando para os lados alerta a qualquer um que passasse do meu lado, eu tenho medo de qualquer estranho próximo a mim, e dessa vez, toda a escola parece querer passar por esse corredor. -Ele, ele pode estar no prédio da frente, es-escondido, me vigiando, me observando como ele fazia!!! Peguei você! Peguei você!

As palavras saiam de minha boca automaticamente. Eu não tinha noção do que dizia, apenas do pânico que sentia. Comprimo a mão da minha mãe com mais força, piscando rapidamente enquanto meu pescoço contrai involuntariamente num tique nervoso resultado de um desespero tão grande que eu não sei o que fazer, eu não raciocino, apenas penso em fugir dali para minha casa.

—Peguei você! Peguei você! Peguei você!

Eu repetia a mesma frase inúmeras vezes, em minha cabeça, em minha boca, aquele era um surto. Mais um dos vários que eu tenho. Quase toda semana e tenho um surto, repito a mesma frase, enquanto tremo em medo.

—Melanie! Melanie! Olha pra mim!!- Minha mãe agarra em meu rosto me forçando a olhar pra ela tirando meus olhos da lata de lixo temendo que ele surja de dentro dela. 
—Peguei você! Peguei você! 
—Melanie!!! 
—Peguei você! Peguei você! 
—MELANIE!

Ela da um berro que chama a atenção de todo o corredor, todos nos olham sem entender o que está acontecendo e eu me reprimo em seu colo começando a chorar sem acreditar naquilo. Ela se desculpa por gritar e eu choro mais ainda por fazer isso com ela. Eu não aguento mais esses surtos. No começo era todo, toda noite, todo momento no banho, agora eles são toda semana. Mudanças não são mais bem reagidas por mim.

ShhhShhh! Desculpe-me por gritar contigo!

Eu não consigo responde-la apenas deixo-me afogar em minhas lágrimas sentindo meu nariz entupir e meu rosto se encharcar. Aperto seu braço com força desejando que ele nunca me largue, mas sei que não posso adiar isso.

Estava marcada para começar as aulas semana passada, mas consegui adiar, sei que de hoje não passa. Eu tenho que ir.

—Olha pra mim! Você está bem! Ele não vai alcança-la aqui! À polícia de todo o país está a procura dele, ele não vai se atrever a aparecer em uma escola tão pavimentada e segura, ok? 
—O-ok...- Eu respondo entre engasgos e respirações desreguladas. 
—Aqui em frente tem uma padaria, que tal fazermos assim, eu ficarei lá, você se senta próximo à janela e fica me vendo por lá. E lembre-se do que a doutora Pilar disse, não precisa exagerar no primeiro dia, se conseguir ficar até o intervalo já é um bom começo, só tente se adaptar.

Sinto como se eu fosse uma criança em seu primeiro dia de aula com medo de sua mãe a abandonar. Pena que não é esse meu medo da vez.

—Ta...
—Melanie, confia em mim que está segura aqui?
—Eu... Eu confio só que...
—Eu estarei na porta dessa escola vigiando qualquer um que se aproxime dela, e se aparecer qualquer um com uma máscara de Lobo Mau, eu mesma cuidarei dele! Estamos entendidas agora?! -Ela fala tudo com uma convicção que somente as mães possuem. 
—Sim... 
—Ótimo! Então vá e faça amigos, e aproveite bastante seu primeiro dia na escola! Estarei na padaria da frente! Boa aula!
—Valeu, mãe...

Ela me da um beijo molhada e carinhoso na testa me dando um último abraço. Ela se vai pelo elevador e eu observo aquelas portas fecharem lentamente e eu sinto o pânico voltar. Agarro minha mochila e vou ate o fim do corredor onde fica minha sala.

Ainda há algumas pessoas pelo corredor e todas me olham com desprezo, nojo, deboche, alguns até riem. Mas isso não me incomoda, não mais, não como costumava incomodar quando eu era uma simples adolescente, agora eu só me preocupo se aquele homem está próximo a mim.

Entro na sala e vejo que todos ja tomaram seus lugares. Graças a todo aquele barulho, eles não percebem a minha insignificante entrada. A professora não está na sala, então vou direto para a cadeira vaga na última fileira lá no canto onde ninguém poderá me ver. Abro um pouco a persiana permitindo que meus olhos avistem minha mãe. Ela realmente está na padaria com o que presumo ser uma rosquinha de granulados de chocolate.

Fico com a cabeça na janela sem mover meus olhos dela quando o som da porta se abrindo me espanta fazendo-me virar assustada com medo de quem tenha entrado. Alivio ao ver que era a professora, enquanto mexo nas unhas tentando distrair toda essa tensão e choro preso em mim. 

—Bom dia, classe!- A mulher de rosto fino e óculos redondos fala através de sua boca carnuda e vermelha. -Sei que a maioria da turma já me conhece por ter tido aula comigo ano passado, mas para os alunos novos, sou a professora Vanetz! Por favor, os novatos podem ficar de pé para que eu os conheça!

Eu não quero ficar em pé. Não quero que me notem. Isso só abrirá espaço para mais comentários, mas já é tarde demais. Todos ja vasculharam a sala com seus olhos e eles pararam sobre mim, se perguntando quem eu era.

Desvio o olhar deles encarando o chão mas não posso evitar quando um breve comentário chega aos meus ouvidos:

—Ei! Ela disse pra levantar lesada!

Um garoto xinga e logo a professora o repreende. Continuo sem fitar ninguém com os olhos apenas constrangida com toda aquela situação. Olho ao meu redor perdida naquele mar de gente. Forço meus dedos a largarem a fita da mochila e consigo ficar de pé rapidamente. A professora me encara mas eu a evito.

—Olá! Seja bem vinda à nossa escola! Qual seu nome, querida?! - Ela parece simpática. Hesito em responder, não quero falar meu nome para uma estranha.
—M-Meu nome... É... É... - Era como se ele tivesse desaparecido de minha mente. Simplesmente ido embora. Ele não estava mais lá. Mexo no cabelo involuntariamente e começo a puxa-lo tentando me acalmar. 
—Olha lá, gente! A novata não sabe o próprio nome!
—Marcos já chega!! -Ela briga de novo com o mesmo garoto. 
—Meu nome... Meu nome... - Eu puxo meu cabelo cada vez mais. 
—Está tudo bem...? Precisa de alguma ajuda, querida?! 
—Eu... Eu...

Sinto todos aqueles olhares vidrados em mim, com risos, pena e ironia, achando que eu sou maluca ou algo do tipo. Minha visão é embaçada pelas lágrimas que brotam em meus olhos. Largo meus cadernos no chão de imediato e saio correndo pra fora da sala, começo a chorar em desespero querendo me esconder e nunca mais aparecer em público novamente. Eu choro sem parar, as lágrimas descem sem mais serem seguradas enquanto corro procurando o banheiro.

Ao virar o corredor acabo dando de cara com alguém cujo não vejo o rosto e caindo de costas. Olho para cima e vejo um garoto. Não paro para analisa-lo apenas arrasto meu corpo sentado fugindo dele começando a ter outro surto.

—Desculpe-me! Eu não a vi! Está tudo bem? 
—Ele era como você! -Eu não podia controlar o que saia da minha boca. Tapo minha boca na mesma hora, tentando me calar mas eu não conseguia. 
—Oi? 
—Ele, ele, ele também era um homem! - Minha mão cria uma vida própria e consegue soltar minha boca de forma que eu volte a falar involuntariamente: - Peguei você! Ele também era um homem! São todos iguais! Eles... Eles... Eles são todos iguais! 
—Você está bem...? Quer que eu chame alguém?

Ele se abaixa para me ajudar mas interpreto aquilo como um ataque e desvio com fúria. Com as mãos molhadas escorregando no chão, eu consigo levantar cambaleando para os lados e por fim sair correndo de perto dele para o mais longe possível de qualquer um. Inclusive daquele homem.


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Notas finais do capítulo

Oiee povo!!
Espero que gostem dessa nova história e que se apeguem a pequena Mel tanto quanto eu. Nos vemos em breve, até!!
Bjsss da autora :* :* :*



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