retr(atos) escrita por Lyn Black


Capítulo 2
FRAGMENTO 2 - hUgO


Notas iniciais do capítulo

Surpreendentemente cá estou de volta. Espero que curtam o capítulo, depois me contem o que acharam, que tal?



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FRAGMENTO 2 - hUgO

(câmeras escondidas em apartamentos alheios e legimência nunca foram tão úteis como nos dias de hoje).

 

 

Crack, crack – há uma pausa, o barulho de sirenes é sobreposto pela voz de Kyle Smith correspondente do canal do Profeta Diário para a televisão bruxa. A visão de Hugo sentado em cima da bancada da cozinha triturando relaxadamente uma cenoura, coberto por um casaco de tricô azul e verde grande demais para o seu corpo, as pernas expostas ao frio vento londrino que entra pela janela, seria estranha, talvez, a quem não passou cinco minutos na sua presença. O garoto pula do balcão sem muita delicadeza e em passos largos alcança a chaleira, logo a enchendo de água. Seus cabelos castanhos (seu pai diria que são levemente arruivados, bela mentira) estão especialmente armados hoje, e enquanto cantarola baixo uma música velha trouxa, passa as mãos pelos seus fios, pensativo.

Não é com surpresa que percebe a mudança de ar ao ver que Victorie encontra-se agora em sua sala de estar. Solta um silvo de irritação, revirando os olhos e se recostando na batente da porta, empurrando os óculos – ah, eles vivem escorregando pelo seu nariz – e levanta uma sobrancelha inquisitiva.

— É claro que você é sempre bem-vinda, Vic, nenhuma necessidade de bater na porta como qualquer outra pessoa que respeita a privacidade alheia. – seu tom irônico carrega tanto da cultura sonserina de Hogwarts, mesmo após dois anos de formado, mas ele nem repara, é simplesmente ele.

A loira é tomada por um sobressalto, estava muito focada analisando um retrato velho emoldurado devido ao apegamento do Weasley ao passado. Ela se desfaz do casaco longo metálico, deixando exposto um armamento na sua cintura, antes de se aproximar dele e envolve-lo num abraço automático, quase vazio em significado.

— Achava que estava dormindo. – é sua resposta curta. Volta para a sua posição inicial, e passa o dedo pela moldura da foto, retirando poeira acumulada. Ela hesita por alguns segundos, antes de soltar em tom baixo um comentário que Hugo deflete com rapidez – Não sabia que você e Albus ainda eram próximos...

Após uma risada levemente esganiçada, ele replica:

— Não somos. Acho que a última vez que vi Potter foi na comemoração de 20 anos da 2ª Guerra Bruxa. O quê, uns seis anos atrás? – uma mentira bem disfarçada que passou pelos radares da prima já que Hugo havia encontrado o primo ainda um mês antes no meio de uma missão para o governo sueco.

Tantas graças vieram ao escolher não ser auror, mas sim entrar para o treinamento de espionagem oferecido pela Internacional Bruxa. Enquanto ganhara um corte na bochecha antes de ser reconhecido, pois justo naquele dia esquecera-se de trocar o formato dos seus olhos, usou da surpresa de Severus ao vê-lo para torcer o seu tornozelo, sem muito remorso. Amigos, amigos, negócios a parte, diria, embora não tivessem mais laços afetivos. Só, possivelmente, memórias os ligando.

Hugo escutou o chiado da chaleira e apressou-se para retirá-la do fogo com um movimento dos dedos. Victorie seguiu-o pelos calcanhares, sentando na cadeira mais próxima. Seus olhos castanhos sobrevoaram criticamente a cozinha, parando no prato sujo com restos de frango. Era fato antigo que o primo era vegetariano, ou algo do tipo, ela nunca se apegou muito às nomenclaturas, apenas tomando ciência através do que seu irmão mais novo contava. Semicerrou ainda mais os olhos gerando um riso de Hugo, que agora voltara para a sua primeira posição, só que com as pernas desnudas cruzadas no balcão. Tomou alguns goles do chá, olhando pela janela.

— Então Dominique finalmente conseguiu se livrar... – sua voz se misturou com o tom acusatório da Weasley mais velha que reclamava:

— Como eu não fiquei sabendo que você não está mais morando sozinho? – sua interrogação chegou com uma elevação de seu tom levando o garoto a apanhar a varinha que estava ao lado do fogão e lançar um abaffiato.

O jovem rejeitou a pergunta com um aceno da mão. Victorie encarou-o nos olhos pelo que pareceu ser a primeira vez no dia. Ele voltou a insistir, com menos paciência afinal como diz o ditado nunca é noite em Londres. Não há pausas em seu trabalho, e aquele suposto dia de folga havia sido cancelado após a coruja que recebera e que, bem, levara-o a posição em que o encontramos em primeiro lugar, desperto sete da manhã na droga de um sábado.

— Fale logo, 70% de chances do tio Bill ter te enviado aqui atrás dela. Como você pode observar, sua irmã não se encontra no meu flat.

— Papai não me mandou vir aqui! – sua voz estava um pouco rouca, e esganiçada, irritando Hugo.

— Certo, então me deixe pensar um pouco mais, George teve a ideia e Roxanne estava muito ocupada? Pare com o teatro, Victorie.

A mulher que estava cada vez mais próxima dos trinta anos revirou os olhos e bufou.

— Eles nem sabem que eu estou aqui! E, para a sua informação, aparentemente ninguém se importa o suficiente para mandar uma equipe de resgate atrás de Domi.

Hugo riu, seus olhos cheio de pena que irritaram a Weasley, embora ela tenha engolido o orgulho ao perceber que ele abria uma gaveta e tirava de lá uma pasta azul. O garoto retirou de lá alguns papéis com uma foto velha da outra prima anexada. Folheou as páginas até a última, vendo que a ligação havia sido desconectada, sem dúvida obra de Safo se o telejornal estivesse correto. A última localização era aquela que vira hoje mesmo pela manhã, o edifício onde a menina de dezenove anos estaria promovendo algo pouco interessante.

— Não faz sentido procura-la, quando Dominique não quer ser encontrada. E, também, ela está em boas mãos.

Victorie cruzou os braços, obviamente insatisfeita.

— Suponho que você não pretende me ajudar, então?

Ele balançou a cabeça em negativa, um sorriso leve fazendo sombra em seu rosto. Olhou para o relógio da cozinha e aproximou-se dela o suficiente para encostar a ponta dos dedos em seu ombro.

— Se você não se importa prima, acho que já passou da hora de voltar para a casa da família e fingir que nunca saiu de lá, okay? Se ela passar por aqui posso considerar te comunicar, mas eu não trabalho com promessas.

Ela suspirou, disfarçando a derrota ao empinar o nariz (um traço de família, sem dúvidas).

— Não devo esperar que me acompanhe até a saída?

Isso gerou uma risada longa e verdadeira de Hugo, que com uma caneca recém-enchida de chá numa mão já se encaminhava para o seu quarto trancado com magia e chaves. Ele só continuou seu caminho para dentro dos aposentos, sem olhar para trás, esperando sentir o equilíbrio do apartamento retornar quando ela aparatasse. Não demorou mais de alguns segundos.

Já dentro do seu quarto, apoiou o chá na mesinha de cabeceira antes de sentar na beirada da cama e passar a mão suavemente pelos cabelos pretos de Aldous Malfoy, filho bastardo e desconhecido pela larga maioria dos bruxos ingleses.  

— Para de fingir que está dormindo, você ‘tá fazendo uma careta, isso sim! – falou enquanto deslizava os dedos pelas madeixas alheias.

O riso agudo encheu o ambiente ao mesmo tempo em que o pequeno Hugo era puxado pela cintura para a cama, caindo todo torto por entre os lençóis. Ele até pensou em reclamar (divertidamente, é claro), mas foi calado por um bom-dia sussurrado no pé de seu ouvido. O garoto de cabelos crespos se ajeitou na cama, apoiando o cotovelo no travesseiro e inclinando-se para encarar a face sonolenta do outro.

— Nós vamos nos atrasar, Al. – murmurou tentando trazer algum senso para a calmaria que tinha lhe invadido.

— Ótimo que somos nossos próprios chefes então, Hugo Granger. - comentou provocativamente antes de encostar rapidamente seus lábios e levantar-se espreguiçando o corpo enquanto o mais jovem observava suas costas. O dia continuava: a única marca da visita da prima na sua mente logo empurrada para um canto empoeirado de seu cérebro, determinado a dar prioridade para coisas mais importantes.

Como, por exemplo, o modo da luz fazer a corrente de Aldous brilhar e refletir cores inimagináveis, hipnoticamente. É irritantemente fascinante. 


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