Pining escrita por Tai Bluerose


Capítulo 1
Bully




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/742970/chapter/1

Capítulo I

Bully

Ciel estava odiando fortemente ter de fazer trabalho em grupo. Grupo sorteado. A pior ideia que professores poderiam conceber.

 Professores tinham uma ideia fantasiosa de que isso separaria os grupinhos e uniria a classe. Será mesmo que eles não tinham ideia de como isso era problemático? Será que não percebiam a dor de cabeça que é trabalhar com pessoas com quem você não tem muita química ou familiaridade, com horários que não combinam, que moram em lugares longe demais, e várias outras divergências que só dificultavam e atrasavam a execução das tarefas? Esses problemas básicos são evitados quando todo mundo já tem seu grupo definido e cada grupo já sabe como atuar com seus membros e horários de cada um.  Quando esses grupos são desfeitos: caos.

Na maioria esmagadora das vezes, é mais fácil você sair com um trabalho feito de qualquer jeito e uma nota regular do que com um grupinho novo de amigos.

Mas isso era o de menos. Às vezes, você tinha a sorte de cair no mesmo grupo que alguém inteligente e esforçado, como William T. Spears (mesmo que ele fosse um babaca), e às vezes tinha o azar de ficar com uns pesos mortos, como Ronald Nox (um balde de preguiça). Ou então você era a pessoa mais azarada do mundo e acabaria ficando no mesmo grupo que Sebastian Michaelis.

Ciel era essa pessoa azarada.

E Sebastian devia ter um pacto com o deus da sorte, se isso existe, pois todos os seus amigos foram sorteados para o grupo dele. Para azar de Ciel. Mais azar, no caso.  Se o professor o tivesse jogado no meio de uma alcateia faminta, Ciel se sentiria menos apreensivo.

Seu conflito com Sebastian Michaelis era de longa data. Eles freqüentaram toda a escola primária juntos.

Não foram anos agradáveis.

Michaelis tinha sido um valentão agressor desde que Ciel podia se lembrar. Sempre o esperando nos corredores da escola ou em alguma rua no caminho de volta. Alguns socos eram desferidos também. Não só por Michaelis. Ciel se defendia como podia, mas seus punhos dificilmente faziam o mesmo estrago que os de Michaelis. O que ele poderia ter feito? Não passava de um menino magrelo e muito pequeno, mesmo para seus 10, 12 anos. 

Michaelis gostava de tentar fazer Ciel chorar, mas Ciel jamais deu esse gostinho a ele. De alguma forma, isso parecia encorajar Michaelis mais ainda.

Por causa do trabalho do pai, Ciel estivera fora de Londres por três anos. Quando ele voltou, há uns seis meses, e soube que mais uma vez estudaria com Michaelis, Ciel torceu para que o cara tivesse amadurecido e mudado. Afinal, as pessoas adquirem mais maturidade e consciência aos dezessete anos, não é? Não, não é.

Muita coisa tinha mudado em três anos, mas não Sebastian Michaelis.

Nos últimos seis meses, tudo o que Michaelis fez foi aproveitar cada oportunidade para perturbar e provocar Ciel. Michaelis não tinha o agredido fisicamente, ainda, mas insinuava ou ameaçava fazer isso.

Basicamente, o que mudou foi a forma como os outros alunos enxergavam Sebastian. Ninguém mais o via como um garoto problema que deveria ser evitado. Os meninos o viam como um tipo de ídolo ou algo assim, porque Sebastian estava no time de basquete e, ao que parecia, ele era bom. As meninas o amavam porque ele era bonito e meio que bancava o conquistador com todas. Tudo bem, o cara era bonito, Ciel admitia, mas não era pra tanto.

O grande ponto era: Sebastian Michaelis ainda era um imenso idiota com Ciel. Mas apenas Ciel o odiava. Porque apenas Ciel não tinha esquecido o tipo odioso que ele era.

Ciel imaginou que o cara o odiasse também, que o considerasse seu nêmesis ou algo assim. Porque, segundo Elizabeth Middlelford, Michaelis não tinha mais intimidado ninguém nos últimos três anos. Então... Hey! Ciel era premiado!

Inferno!

Ciel teve vontade de estrangular o professor Druitt.

 O grupinho do Michaelis, todo satisfeito, cochichava, sorria e olhava para Ciel. Daí repetia o processo. Ridículos. Bando de idiotas. Druitt o maior de todos.

― Vamos nos reunir na minha casa. ― disse Sebastian ao final da aula.

― A biblioteca da escola é mais adequada para todos. ― Ciel tentou declarar o óbvio. Nem pensar que iria para a casa do Michaelis.

― É o melhor lugar pra você. ― Sebastian zombou. Os outros ao redor dele começaram a rir como se ele tivesse contado a melhor piada do ano.

― Sim, claro, e a sua casa é uma escolha muito lógica e totalmente imparcial. ― Ciel ironizou. Já estava irritado e nem tinha passado um minuto na presença deles. Perguntava-se como fariam um trabalho em grupo.

― Não dá pra discutir ou debater sobre o trabalho numa biblioteca. Não tem privacidade e não se pode fazer barulho. Minha casa tem espaço pra todo mundo. Mas se você quiser podemos fazer uma votação pra escolher o local.

  O que seria uma perda de tempo e uma simples humilhação para Ciel, já que eles estavam em cinco.

― Você não está com medo de ir na minha casa, está? ― Sebastian sorriu. Ciel odiou mais ainda aquele sorriso presunçoso.

― Não sei onde fica sua casa. ― Ciel quase rosnou. Resignado. E odiou-se por ceder ao ver o sorriso crescente nos lábios de Sebastian.

Num movimento rápido, Sebastian agarrou o pulso de Ciel. Ciel tentou se afastar, na defensiva, mas Sebastian manteve seu aperto firme. Os outro riram outra vez.

Sebastian enfiou a mão no bolso de sua jaqueta.

― Calma. É só uma caneta, viu? ― Sebastian simulou uma voz carinhosa, que provocou um arrepio em Ciel. Ele começou a escrever um número de telefone na pele clara de Ciel, logo abaixo do pulso. Enquanto o fazia, seus olhos não desviaram dos olhos de Ciel nem por um segundo. O sorriso malandro sempre no canto dos seus lábios. ― Meu número. É só me dar um toque que eu te mando meu endereço por mensagem. Você sabe ler um mapa, não sabe?

A corja voltou a dar risinhos.

Eles se afastaram. Ciel deixou que eles saíssem primeiro. Mas ainda conseguiu ouvir um deles dizer a Michaelis:

― Você viu como ele te olha? Acho que ele gostaria de arrancar sua pele fora.

― Eu queria ver ele tentar. ― disse Sebastian dando uma última olhada por cima do ombro, para Ciel, antes de sair da sala.

Ciel engoliu em seco, sentindo, não medo, um desconforto estranho. Aquele último sorriso de Sebastian Michaelis ficou em sua mente. Mas não era o sorriso sádico a que estava acostumado. Era algo diferente.

Olhou para o número escrito com tinta de caneta em seu braço e puxou a manga do uniforme para cobri-lo. Jogou a mochila sobre as costas e saiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pining" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.