Pining escrita por Tai Bluerose


Capítulo 2
Confrontação




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Capítulo II

Confrontação

E agora Ciel estava ali, apertando a campainha de uma enorme casa.

Demoraram a atender.

Enquanto tocava a capainha uma segunda vez, Ciel se perguntou se, talvez, Michaelis não tivesse lhe passado o endereço errado de propósito. Não seria improvável, nem uma surpresa. Mas dois minutos depois, lá estava ele na porta, todo sorridente.

― Você está atrasado, Phantomhive. ― Foi o cumprimento de Sebastian. Ele deu espaço para Ciel entrar.

― Precisei vir de táxi. O táxi atrasou.

― Que pena. ― Sebastian disse sem emoção.― Vamos para o meu quarto. Os outros já estão esperando.

Os outros eram Claude Faustus, Hannah Annafellows e os gêmeos Landers, Ash e Angela.

― Vejam só, o baixinho veio ― disse Angela com seu melhor tom esnobe.

― Do quê você me chamou? ― Ciel tentou manter a calma.

― Meu irmão apostou que você não viria. Eu tive mais fé em você, Phantomhive. ― E ela se virou para o irmão. ― Está me devendo, Ash querido.

― Só por que o nanico é mais nerd do que medroso. ― Ash resmungou e tirou uma nota de dez libras do bolço da calça jeans.

― Devíamos ter apostado que o nerd chegaria atrasado. Atraso significa relutância em vir.

― Pode ser. Mas o baixinho veio e eu ganhei.

― Parem de me chamar assim. ― Ciel disse entre dentes.

― Por quê? Isso te irrita? ― Angela disse. Os outros riram.

― Angela, chega! Vamos focar no trabalho do Sr. Druitt, ok? ― o tom de Sebastian era de quem tem autoridade. ― Quanto mais cedo terminarmos, menos teremos de nos aturar.

Excluindo o atrito inicial, o primeiro encontro foi tranqüilo e eles conseguiram fazer o trabalho avançar, apesar de algumas pequenas discussões aqui ou ali por causa de divergências criativas.

Sebastian, claro, assumiu o papel de líder do grupo. Ciel não achou tão ruim, afinal Sebastian tinha poder sobre seus amigos e conseguia os colocar na linha. Não houve mais piadinhas em relação à Ciel durante todo o trabalho.

Ao final daquela tarde de sábado, eles tinham conseguido deixar o trabalho bem adiantado. Tinham planejado todo o projeto, começaram a redigir o artigo e dividiram os temas que cada um pesquisaria e traria no sábado seguinte.

― A gente vai pra piscina agora, aproveitar o que nos resta de sol ― disse Sebastian ao acompanhar Ciel até a porta. ― Se quiser ficar e...

Sebastian deu de ombros.

Ciel olhou para ele pelo canto do olho. Não sabia se Sebastian estava sendo sincero ou não. Mas de qualquer forma, na opinião de Ciel, ele, Sebastian e roupas de banho não eram palavras que combinavam na mesma frase. Muito menos na mesma piscina.

Por cima do ombro de Michaelis, Ciel viu Hannah Annafellows atravessar a casa vestida com um biquíni azul e uma canga florida. Ela era bonita. Curvas demais para uma adolescente de dezessete. Ciel corou. E, por um instante, ele se pegou imaginado como seria Sebastian com calção de banho.

― Não. Obrigado. ― Ciel respondeu com firmeza, cortando a própria linha de pensamento. Expulsando a imagem que se formara em sua mente. ― Eu tenho hora pra chegar em casa.

Sebastian riu.

― Quantos anos você tem? Doze? ― Sebastian comprimiu os lábios ao ver Ciel estreitar os olhos para ele. ― Foi só uma brincadeira.

Quando Ciel chegou a calçada, Michaelis o chamou.

― Hey, Phantomhive! Quer carona? Você disse que veio de táxi. Eu posso de levar de moto.

Ciel voltou a fitar Sebastian, incrédulo, sem saber se aquela oferta era genuína ou não. Ciel recusou novamente, pegaria outro táxi.

Pelo resto do dia, o comportamento de Sebastian naquela tarde o perturbou. De onde tinha vindo toda aquela gentileza e prestatividade? Sebastian Michaelis nunca foi gentil ou prestativo. Pelo menos, nunca com Ciel. Haveria alguma razão sórdida por trás? Talvez ele só quisesse concluir o trabalho. “Quanto mais cedo terminarmos, menos teremos de nos aturar,” ele dissera. Ou quem sabe, talvez, ele estivesse mudando pra melhor.

Não estava.

Na segunda-feira seguinte, a primeira coisa que Sebastian fez foi esbarrar em Ciel no corredor. E eles voltaram ao equilíbrio normal. Alfinetadas aqui e ali. A provocação e o sarcasmo. O olhar de ódio mútuo.

.

― Onde estão os outros? ― indagou Ciel, no sábado seguinte, ao chegar ao quarto do Sebastian e não ver o grupinho dele esperando como da última vez.

― Eles vão se atrasar um pouco. ― Sebastian respondeu. ― Estou assistindo um filme pra passar o tempo. Pode sentar onde quiser. Quer pipoca?

― Não, obrigado.

― Refrigerante? ― Sebastian ergueu uma latinha depois de se deitar de um jeito bem desleixado em um enorme puff preto esparramado no chão.

― Não tomo refrigerante ― Ciel ainda estava de pé no meio do quarto.

Sebastian o olhou dos pés à cabeça, os lábios ligeiramente curvados num sorriso. Votando a fitar a televisão, disse:

―Relaxa, Phantomhive. Eu não mordo ― sorriu mais abertamente e jogou uma pipoca na boca. Fique à vontade. Pode se sentar na minha cama se quiser. Ou no puff aqui. – Ciel odiava a ideia de ter de se sentar na cama de alguém, principalmente na de Sebastian. Mas era isso ou se sentar no puff imediatamente ao lado de Sebastian. A única poltrona no quarto estava cheia de equipamentos esportivos e livros. Ciel se sentou na cama e abriu suas anotações para o trabalho.

Em certo ponto, Ciel parou de ler e começou a prestar atenção no filme, o qual apresentava um governo que lembrava muito o nazismo; e tinha um cara de máscara, que Ciel não sabia de onde tinha saído, afinal, ele tinha perdido o início do filme. Mas a máscara era familiar.

Em determinado momento, Ciel notou que Sebastian o observava em vez de dar atenção ao filme. Ciel o encarou, na esperança de que isso dissuadisse Sebastian. Mas Sebastian nunca foi covarde. Eles se entreolharam firmemente por um minuto inteiro, antes de Sebastian sorrir e jogar outra pipoca na boca.

Sebastian se levantou e foi sentar-se ao lado de Ciel na cama. Ciel ficou incomodado, porque aquela situação criava o falso cenário de intimidade, de dois bons amigos curtindo um filme juntos, coisa que eles não eram.

―Tem certeza de que não quer experimentar? ― Sebastian agitou a tigela de pipoca. ― Ok, você não bebe refrigerante. Mas aceita um suco? Se quiser eu vou pegar.

― Não, obrigado ― Ciel respondeu e voltou sua atenção ao caderno. Mesmo sem olhar para Sebastian, Ciel podia dizer que ele o estava observando.

 Ciel ficou mais desconfortável ainda. Ele não sabia como agir ou o que esperar daquele Sebastian que lhe parecia tão estranho, que parecia querer de alguma forma agradá-lo. Era isso?

Ciel não conseguia evitar a desconfiança de que Sebastian estava planejando algo. De que no momento em que ele baixasse a guarda, Sebastian o surpreenderia com algo malvado e idiota.

― Porque não larga essa coisa e curte o filme? ― Sebastian falou de repente. ― Você nem mesmo está lendo. Está na mesma página desde que abriu o caderno.

―Talvez seja porque eu não consiga me concentrar com todo esse barulho.

― Ah, Vamos! Não minta pra mim, Phantomhive. Eu sei que você estava prestando atenção ao filme.

― Eles já estão atrasados há uma hora. Seus amigos. ― Ciel o interrompeu. E voltou a conferir os ponteiro no relógio de pulso. Sebastian não disse nada. Continuou a olhar para a TV e a mastigar sua pipoca e a beber seu refrigerante de latinha. Ciel se irritou. ― Será que você poderia ligar para seus amigos e verificar se eles ainda estão a caminho?

― Eles não virão.

― O quê? Porquê? ― Ciel indagou confuso.

― Por que eu disse para não virem.

Ciel fez um minuto de silencio, tentando processar a informação.

― Você cancelou com eles?

― Foi o que eu disse.

― Nós temos um trabalho pra terminar e você desmarca com o grupo pra ficar aí assistindo filme? E por que não me avisou?

― Porque, obviamente, eu queria que você viesse.

― Isso é algum tipo de piada? Qual o seu problema?

― Por que com você tudo tem que ser tão difícil? Por que sempre encara qualquer atitude minha como um tipo de afronta a você?

― Talvez porque você me deu motivo pra isso. Por anos. Eu vou embora.

― Não. Espere! ― Sebastian agarrou o braço de Ciel para impedi-lo de sair do quarto. Ciel reagiu institivamente. Puxou o braço do aperto e empurrou Sebastian, que cambaleou dois passos para trás.

Ciel não soube exatamente como eles começaram a brigar fisicamente, mas começaram. Ambos desferiram socos, que eram desviados e interrompidos. Não seria tão fácil para Sebastian, Ciel tinha se preparado, estava pronto para enfrentá-lo. Em dado momento, os dois caíram no chão, um emaranhado de braços e pernas. Ciel se distraiu com a força do impacto e foi o suficiente para Sebastian dominá-lo. Segurou os dois braços de Ciel presos para trás o joelho sobre as costas.

― Vamos, Phantomhive. Sério mesmo que você ainda me vê como o garoto malvado do terceiro ano? ― Sebastian segurava a cabeça de Ciel contra o piso de madeira.

― Seu comportamento não tem contribuído muito para mudar minha opinião. ― Ciel se debatia, tentando se soltar. Mas Sebastian o manteve firme.

― O meu comportamento? Há! Desde que voltou a Londres tudo o que você tem feito é me tratar como se eu fosse o número um na lista de procurados. Me ignora, fala comigo como se falasse com um cachorro e sempre me olha como se me quisesse morto.

Sebastian pressionou mais ainda Ciel contra o chão. E se aproximou da orelha dele.

― Você parece ter uma perda de memória seletiva, Phantomhive. Eu agredia você? Sério, mesmo? Até onde me lembro, sempre fomos farinha do mesmo saco. Eu não batia em você. Nós brigávamos. Juntos. É diferente. Por que você acha que eu gostava de implicar com você? Porque você me desafiava, você me enfrentava e revidava. E você também gostava de brigar comigo. Não gostava? Eu sei que sim. Gostava de sentir o sangue correndo, o coração batendo, o cheiro do suor... e no fim, eu sempre tinha você sob mim.

Ciel sentiu a língua quente de Sebastian deslizar por sua orelha. Seu corpo inteiro tremeu.

Humilhação!

Na fúria, Ciel ganhou nova força e conseguiu se desvencilhar, girando seus corpos e ficando por cima.

― Não sou mais aquele garotinho magrelo ― disse Ciel. Ele sorriu satisfeito consigo mesmo, mas ficou surpreso ao perceber que Sebastian se divertia.

― Eu reparei. ― Sebastian se ergueu, subitamente, agarrou o rosto de Ciel e o beijou. Lábios quentes contra lábios quentes. O susto e a surpresa foram tão grandes que Ciel relaxou, baixou a guarda, e Sebastian interpretou aquilo como uma permissão para aproximar aprofundar o beijo e apertar-se contra o corpo de Ciel. Ciel abriu a boca para tomar ar e sentiu a língua de Sebastian tocar a sua.

Ciel reagiu. Empurrou Sebastian para trás, com toda força.

Sebastian caiu sobre o puff e olhou para Ciel, surpreso.

― Você ficou louco?! ― Ciel olhava para ele com fúria.

 O rosto de Sebastian estava vermelho e Ciel imaginou que seu próprio rosto estivesse mais vermelho ainda, pois o sentia em chamas.

Ciel voltou a pegar sua mochila para sair, fugir, dali.

― Ciel! ― Sebastian o chamou quando Ciel descia as escada.

Ciel se virou surpreso. Era a primeira vez que ouvia Sebastian Michaelis o chamar pelo primeiro nome. Seu coração martelava. Sebastian o olhava com preocupação, mas seu rosto se fechou.

― Se contar isso pra alguém, eu te mato.

Ciel fechou as mãos em punhos.

― Até parece que eu quero que alguém saiba disso. ― Ciel disse, irritado. ― Fique longe de mim.


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