No More than Reason escrita por Ana Barbieri, p a squad


Capítulo 1
No More than Reason


Notas iniciais do capítulo

Eis então que o dia finalmente chegou. O dia de prestar homenagens ao grupo que nasceu em virtude do amor que nutrimos por este casal que é: Poseidon e Atena. Não poderia ser diferente, logo, a dedicatória... desta humilde cena vitoriana à minhas caras companheiras do p.a squad! Obrigada por tudo, minhas meninas. Mamãe Afrodite AMA vocês!!



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Normalmente, Atena não possuía maiores reservas contra uma multidão em sua casa. Celebrações constituíam tradição em sua família e tal traço certamente não deveria ser alterado à vista de seu casamento. Especialmente não após seu casamento. Ela havia crescido em ambiente semelhante ao que sua própria casa viria a se tornar, graças às constantes visitas de seus familiares e amigos, sempre dispostos a reunirem-se para uma pequena soirée. O tumulto das conversas e o frisson dos preparativos antecedentes não representavam desafio. Recordava-se com ternura de estar sentada ao lado de sua mãe, enquanto assistia-a imperiosa sobre seus criados. Embora não estivesse sempre certa se acabaria ou não subindo ao altar, aquela imagem de poder assentava-se bem a que almejava para si.

Seus ouvidos recebiam, agradecidos, a música que seu irmão Apolo tocava ao piano. Um belo instrumento, presente de seu pai. Não obstante o talento natural do caçula, Lord Zeus sabia do igual amor que sua filha detinha pela arte. Estivera em tempo de comprar-lhe um melhor e o casamento trouxe a oportunidade perfeita. Atena adorava tocar, mas não mais do que assistir as performances do caçula. Apolo possuía uma reputação, com suas maneiras extrovertidas e trejeitos espontâneos. No entanto, tudo aquilo apagava-se completamente ao toque de suas mãos sobre as teclas de marfim e, subitamente, seu irmãozinho envolvia-se em uma aura tão delicada e frágil, que Atena não conseguia evitar que seus olhos se mantivessem presos nele.

Isso, claro, antes de se casar. Antes dele. O escolhido, Barão Poseidon de Zummach, por sua vez, contrariando sua natureza igualmente reservada, aprendera a amar o barulho inafastável que seguia a chegada dos familiares de Atena, tanto quanto de fato a amava. Seu primeiro casamento contradizia tudo o que insistiam ensinar os poetas. Fruto de um impulso apaixonado, destruíra muito da sua crença pelo sentimento, assim nomeado, amor. A culpa era inominável; e tanto ele quanto Anfitrite ainda concordavam na sensatez do desenlace de suas escolhas, resolvendo guardar apenas as recordações do que foi bom, pois nem tudo é erro desde o início. Caso fossem obrigados a se reencontrarem hoje, dividiriam um ambiente com civilidade; sabendo melhor, antes de cometer os mesmos erros novamente.

Seu segundo matrimônio, por outro lado, conhecera variados estágios. Um verdadeiro campo de batalha, diria seu sobrinho. Lady Atena Davies, a nova Baronesa de Zummach. As lembranças de como a conheceu envolviam-no à medida que sentia-a enlaçando seus dedos aos dele. Observava, concentrada, o retrato de uma jovem sobre a grama, na grande galeria, em uma tarde de outono. A pintura não apresentava nenhum traço muito particular e pouco importava o artista. Chamara-lhe, contudo, a atenção o modo obstinado de sua hipnose ao encará-lo tão vividamente; era, pois, uma pintura aparentemente simples, de forma que o barão viu-se ao lado dela antes que repensasse seus passos.

— Parece que construímos tamanha paz, que falta propósito ao conteúdo de nossos artistas. – ela lhe disse, sem dar-se ao luxo de mirá-lo. Poseidon teve de concordar, maravilhado com sua descoberta. Lívido, pois era justamente a falta de significado o que chamava a atenção dela e a mantivera presa ali pelo quê? Vinte minutos? No entanto, não encontrou resposta à altura, sem deixar qualquer primeira impressão. Certamente não uma boa. Ou uma segunda, quando voltaram a se encontrar. À quarta ou quinta, contudo, obteve algum sucesso ao fazê-la rir pela primeira vez, com um comentário acerca do discurso que ouviam, usando as palavras em citação de um de seus autores favoritos. Omitindo, propositalmente, o fato de que o trâmite daqueles últimos meses envolvera perguntas constrangedoras a pessoas que ousava chamar de amigas, que a conheciam, e poderiam oferecer detalhes a seu respeito. Algo que não o deixasse com cara de tolo diante dela.

Atena não costumava rir durante discursos. Não sendo de seu feitio ignorar a seriedade de uma situação, por um milésimo de segundo de egoístico prazer. Este, todavia, não foi exatamente o que encontrou ao baixar a guarda pela primeira vez. A paz que lhe trouxe. O milésimo de segundo sem que sua mente estivesse contradizendo uma linha de raciocínio externa a si ou elaborando formas de melhorá-la, proveu-lhe de paz tão serena... que finalmente foi capaz de entender o que Apolo deveria sentir ao tocar as teclas brancas. Um homem que insistia em cruzar seu caminho, a quem ela julgara ser apenas mais um dos envolvidos pela fumaça dos charutos de seu próprio ego, tornar-se-ia, afinal, professor para que o mundo, e não apenas seus amigos mais íntimos, conhecessem seu riso. A leveza com a qual poderia aprender a levar a vida, sem permitir que ela a derrotasse.

Normalmente, Atena não possuía maiores reservas contra uma multidão em sua casa. Todavia, o pronome jazeu alterado aos proclames de “aceito” e já não existia mais sua casa; apenas nossa casa. E em nossa casa, ela gostaria de aproveitar todas as oportunidades para vivenciar a paz de Poseidon. A performance concluída de Apolo arrancou-lhe os aplausos calorosos e a conversa prosseguiu. Uma semana. Atena jamais imaginou que assumiria o patronímico de seu cônjuge, mas ali estavam as toalhas de mesa bordadas para lhe provar justamente o contrário. Uma semana. Sua família, influenciados por seu irmão do meio, Dionísio – quem insistia em dizer que a casa de Zummach era perfeita para eles – lhe fizeram mais visitas e lhe concederam mais festas do que seria capaz de alegrar-se verdadeiramente por elas.

— Eu sei o que está pensando. – sussurrou Poseidon para que apenas ela ouvisse, quando se viram um pouco separados do grupo. Atena sorriu de lado; aquele que ainda não conseguia evitar. O sorriso da mulher recém-casada e que de variadas formas descobrira como aquela vida lhe assentava bem.

— Que provavelmente vou precisar convocar o exército britânico para expulsá-los hoje? É, imagino que sim. – retrucou, respondendo ao sussurro dele com uma risadinha bem humorada.

— Às ordens de minha senhora, convocarei a maior tempestade que já se viu e os expurgarei do continente. – brincou o barão, erguendo sua taça de whisky para ela, num gesto tão ensaiado e digno de uma farsa shakespeariana, que Atena reprimiu a gargalhada que gostaria de soltar.

— Pela minha honra! – exclamou uma voz estridente, porém doce, às costas do casal, fazendo-os girarem sobre seus pés para encará-la. – Como eu gostaria de pagar a um artista para que retrate estes momentos de tão harmoniosa intimidade... mas suponho que minha querida irmãzinha acharia o presente de mau gosto. – Afrodite, e a mais velha a respeitava um pouco por isso, nunca guardara papas na língua ao se dirigir à irmã. Tampouco Atena via suas provocações com maldade; a morena simplesmente não era capaz de expressar quaisquer sentimentos pela metade, inclusive o deleite que sentia ao vê-la casada com um homem que, sabia, era capaz de compreender e amar cada milímetro de sua personalidade.

— O que você quer, irmãzinha, é arranjar uma desculpa para finalmente conseguir que eu pose para um retrato. – pontuou Atena dividindo um sorriso sábio com seu esposo, que ergueu as sobrancelhas, assentindo gravemente. Afrodite adorava pintar. Apolo, Dionísio, Hermes, sua mãe, suas tias e primas, todas haviam passado por sua mão. Exceto a pequena corujinha, que se recusava a ceder aos seus talentos capazes de captar as profundezas de corações estranhos.

— Tenho certeza de que o nobre senhor P. ficaria encantado com os resultados. – rebateu piscando para Poseidon que riu, dando de ombros.

— Não coleciono arte, cara Afrodite, mas mesmo assim reconheço que o bom colecionador sempre irá preferir o original. – ponderou olhando de uma a outra, prendendo os olhos verdes em Atena com forte adoração, à vista de fazer seu ponto notável. Afrodite suspirou, aproximando-se deles para lhes tomar as mãos.

— Certamente, não posso refutar contra isto. – disse meigamente, olhos vivos em Atena. – Pela milésima vez, estou satisfeitíssima! – e os três riram.

— E pela milésima vez, obrigada, Dite. – disse a loira, solene. Ao fundo, ouviu-se o guincho ante a risada de Hermes, que apontava para algum ponto no jardim, onde certamente Apolo estaria. – Família...

— Eu prometi que haveria uma semana de celebração, quando você finalmente aceitasse se casar com alguém! – lembrou-a Dionísio, alcançando os três. – E que tipo de anfitriões são vocês? – trovejou, incisivo. Atena e Poseidon se entreolharam, afirmando que iriam se juntar ao grupo do lado de fora. Subitamente, no entanto, a loira animou-se para outra coisa, avisando que logo os apanharia. Com passos rápidos, seguiu para um dos corredores mais afastados.

A primeira vez que adentrou a biblioteca de Poseidon, não conseguiu acreditar que ele, de fato, fosse capaz de manter uma tão bem guarnecida. Contudo, conforme lhe explicara, o amor pela literatura surgiu mais tarde, mas não tão tarde que não pudesse construir uma sala como aquela; satisfeito por ser do gosto dela. Sobre a mesa, ainda achava-se o dito exemplar e Atena pegou-o, ainda aberto àquela cena, sentindo suas bochechas corarem em felicitação. Com que, então, a porta se abriu...

— Tive um palpite de que teria fugido pra cá? – ouviu Poseidon dizer, a porta fechando-se brandamente atrás dele.

— Nunca é um palpite quando se trata de mim. – ela rebateu sorrindo para a página. – Posso ficar sossegada de que Afrodite não vai convencê-lo a ceder a uma trama para conseguir que eu pose para um retrato? – continuou virando-se para encará-lo já ao seu lado. Baixando os olhos pelo livro que ela lia, Poseidon sorriu, retornando aos olhos cinzentos vivazes que encarara ao pedi-la em casamento; naquele exato lugar, tendo memorizado exatamente as palavras constantes naquelas páginas, mas proferindo-as a Atena sem a zombaria dos personagens que tanto amava, mas com uma eloquência a qual se julgava imune... até ouvi-la dizendo sim.

E como se ainda pudesse ouvi-la dizendo-o – para sempre seria capaz de ouvi-la dizendo-o – calou suas divagações e, por um instante, espantou todos os indesejáveis familiares dali. Não com uma tempestade ou um exército, mas um único beijo. Ela, quem era força tão pungente contra o mundo, tão resoluta e altiva perante qualquer rei, abria-se para recebê-lo com a graça e doce naturalidade de quem nada mais almejava para si além da felicidade de amar e ser amado em troca. Ele, quem apenas se considerava sobrevivente, agora vivia dentro dos olhos dela, guarnecido por seus braços e pela sensação insuperável de que Atena lhe era sinônimo de vida.

Quando se desvencilharam, ainda com as testas atadas uma a outra, sua esposa ainda ousou beijar a covinha em seu queixo, rindo baixinho, melodiosamente.

— Acima de qualquer batalha, está o meu amor. – murmurou Poseidon, então fitando-a calorosamente, o peito estufando-se por ser a causa no súbito brilho que perpassou os olhos da sua Baronesa de Zummach. Atena não conseguia parar de rir, sua mão subindo de encontro à curva em seu pescoço como se já estivessem casados há sete anos, e não dias.

— Pois então, senhor Benedito, amais-me? – recitou branda, apaixonada, consciente de que – assim como dissera muito antes – diria sim agora.

— Não acima do razoável. – mas tão mais acima do razoável cantava sua voz.

Tão mais acima do razoável era verdade.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, obrigada meninas. Eu não conseguiria escrever sobre estes dois - por mais que os ame - não fosse a inspiração encontrada nas palavras de vocês.

E se você, que leu até aqui, está se perguntando: WHAT IS GOING ON? Bem, esta one shot, como eu disse, faz parte de um conjunto de ones poseitena comemorativas pela criação do p.a squad! Se eu fosse você, leitorzinho fantasma ou comentarista, não deixaria de conferir as outras (desculpe-me a péssima referência à péssima propagandas). O link até este baú do tesouro é: https://fanfiction.com.br/u/740397/

Divirtam-se! Deixe seu comentário! As meninas e eu ficaremos mais do que felizes!! Bjiiinhos!



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