Baina - A Sombra Reluzente escrita por Clarinesinha


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Meu Anjo




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Passaram-se alguns dias e Claramente aos poucos e com alguma paciência e persistência dos pais já conseguia ir para a cama e ficar apenas com a luz do candeeiro que o tio lhe oferecera há pouco tempo ligada. Ela chamava-lhe a 'Cabana dos Amigos". Este candeeiro era feito de madeira e tinha o formato de uma linda casinha em tons de rosa e verde. Tinha também uma pequena sebe branca e por trás dela podíamos ver todos os amiguinhos de Clara: o Tareco, o Cometa, o Eliseu, o Parolas e o Baltazar.
Estavam lá todos, Clara tinha adorado o presente. Uma das partes do telhado saía, de forma a pode substituir a pequena lâmpada...e por enquanto estava colocada à parte de forma a que a menina tivesse um pouco mais de luz a iluminar o quarto.
Certa noite, estava já a menina deitada, viu uma sombra, daquelas sem nome que ela não conhecia. Não era nenhum dos seus amigos, uma vez que as suas mãos estavam bem tapadas pelos lençóis. Clara começou por se tapar toda até ficar com a cabeça tapada...nao queria chamar a mãe, ela queria ser crescida, e queria mostrar à mãe que conseguia enfrentar aquela sombra sozinha.
Aos poucos começou a destapar-se...espreitou...sim, a sombra continuava ali, no mesmo lugar, olhando para ela, ou pelo menos parecia que olhava para ela. Uma coisa que Clara aprendera sobre as sombras: elas tinham uns olhos tão escuros como a sua própria pele, por isso ela achava que esta sombra também teria olhos escuros como o carvão. Parecia-se com ela...sim parecia uma menina, uma menina-sombra.
De repente a menina-sombra levantou a sua mão, o que fez Clara ficar cheia de medo e voltar a cubrir-se pelos lençóis. Será que ela lhe ia fazer mal? Os seus amigos nunca lhe bateram, mas aquela sombra não era sua amiga...ou será que sim? Clara ficou à espera...contudo, nada aconteceu. Assim voltou a espreitar, devagar, bem devagar...a menina-sombra estava a acenar a sua mão, como que a dizer-lhe "olá". Clara levantou a sua pequena mão e acenou ela também, e sorriu...daqueles sorrisos que ela dava com os seus olhos cor de mel. Aqueles sorrisos que iluminavam todos ao seu redor.
— Olá, eu sou a Clara. Como te chamas?- perguntou Clara com algum receio e ao mesmo tempo muito curiosa.
— O meu nome é Baina...- disse a menina sombra com voz melodiosa.
— Baina? Que nome esquesito...nao conheço ninguém com esse nome...
— Achas mesmo? Onde moro significa "reluzente". Posso ser tua amiga? - pergunta a menina sombra muito depressa para que Clara não tivesse tempo para fazer mais perguntas.
— Não me vais fazer mal pois não? - pergunta-lhe Clara com toda a inocência que uma menina pode ter.
— Não. Eu só quero ser tua amiga...Eu não tenho amigos de onde venho.
— Não tens amigos? - Baina faz lhe sinal com a cabeça dizendo que não.- Então eu vou ser tua amiga...e sabes acho que gosto do teu nome.
— Obrigada. Sabes que o teu nome significa "brilhante"? Temos nomes com o mesmo significado.
— A sério?...não sabia. Então temos mesmo que ser amigas...
— Sabes o que é suposto fazerem as amigas? – perguntou Baina
— Hum! Acho que brincamos, contamos segredos, jogamos jogos...
— Então vamos brincar, jogar ou contar segredos? Ou queres fazer outra coisa?
— Acho que é melhor conversarmos hoje. A mamã não vai gostar de nos ver a brincar tão tarde.
E assim estiveram algum tempo a conversar sobre a escola de Clara. Baina não sabia o que era a escola, lá no mundo das sombras não havia, então Clara explicou à sua nova amiga o que era a escola e o que os seus colegas e a própria Clara faziam: brincavam, jogavam, corriam, pulavam...mas também aprendiam muitas coisas sobre os animais, as letras, os números e muitas outras coisas. Também ouviam histórias muito bonitas contadas pela professora Sofia.
Baina estava espantada com tudo o que ouvia sobre aquele lugar, porém, passado algum tempo, Clara começou a ficar com sono e despediu-se da sua amiga, que lhe prometeu voltar no dia seguinte. E, assim como apareceu do nada, a menina-sombra desapareceu deixando Clara feliz, por ter mais uma amiga sombra,apesar de um pouco triste por esta se ter ido embora.
Nessa noite Clara sonhou com a sua nova amiga. Estavam felizes no parque a andar de baloiço, vendo quem era capaz de subir mais alto ou conseguia bater com o seu pé no ramo da árvore que lhes dava abrigo do sol. Clara sentia-se feliz, livre...e adorava sonhar com a sua nova amiga. Durante a noite a mãe de Clara ao ouvir a menina pensou que estaria a ter um pesadelo e foi até ao seu quarto. Quando lá chegou percebeu que afinal Clara estava a sonhar...e sorria feliz. Afinal, o barulho que a mãe ouvira não era o choro de Clara mas sim uma gargalhada...
Os dias iam passando e todas as noites Baina aparecia no quarto de Clara. Um dia, Clara resolveu perguntar à sua amiga sombra onde ela vivia, com quem e porquê é que decidiu ser sua amiga. Havia tantas crianças, porquê é que Baina a tinha escolhido a ela?
— Baina, tu vives onde? Onde moram as sombras, sabes a tua morada? Talvez possa ir à tua casa brincar.
— Eu vivo por aqui e por ali. Mas o que é uma morada?
— A morada é o nome da rua onde moras. Tu não sabes o nome da rua onde moras?
— Não, não sei. Acho mesmo que não existem ruas onde moramos.
— Então como voltas para casa, se não sabes o nome da rua onde moras?- Perguntou Clara muito espantada.
— Não sei, eu simplesmente volto para casa. Depois de dormires eu apenas...
— Então a mamã tinha razão vocês também dormem! Tal como nós...
— Sim e não, é que eu não sou uma sombra como as outras...sou especial...
— Especial? Como assim?- Clara agora estava intrigada.
— Acho que está na hora de dormires. Um dia explico-te porque é que sou especial...Boa Noite Clara.
— Boa Noite Baina.- E assim Clara adormece sonhando com Baina...esta sombra especial que a fez perder o medo das sombras.
Baina era de facto especial, não era como as outras sombras. Simplesmente porque não era apenas uma sombra, era alguém muito mais importante do que uma sombra. Mas isso era algo que Baina ainda não podia dizer a Clara...não, ainda não tinha chegado o dia de desvendar esse segredo. Um dia Clara iria saber, um dia Baina iria contar que ela era muito mais que uma sombra, na verdade era o oposto disso.
Clara acordava agora com muito melhor humor, e ansiava que noite chegasse para brincar com Baina. A mãe da menina estava radiante, pensava que tinha conseguido que esta perdesse o medo das sombras e do escuro e contava feliz às mães dos colegas da filha. O que ela não sabia é que quem verdadeiramente ajudou Clara foi Baina.
Certa noite Clara estava a brincar com a sua amiga, tão feliz que, sem se aperceberem, fizeram demasiado barulho e estavam a fazer tanto barulho e a mãe apareceu no quarto.
— Clara...mas que algazarra é esta? Tu devias estar a dormir e não a brincar.
— Desculpa mamã...mas foi só mais um bocadinho...nós vamos já dormir.
— Nós?...- pergunta a mãe da menina...- Nós quem Clara? Só te vejo a ti!
— Lembras-te de eu dizer que era uma sombra diferente Clara?- pergunta Baina...- Um dos meus segredo é que só tu me podes ver...
— Clara...estou à espera da resposta. Nós quem?- pergunta de novo a mãe.
— Ora mamã...eu e os meus amigos: o Tareco, o Cometa, o Eliseu, o Patolas e o Baltazar...quem mais podia ser?- E começa a fazer as sombras dos seus amigos com as suas mãozinhas...fazendo com que a mãe sorrisse ao de leve.
— Bom. Mas agora chega de brincadeira porque a senhorita e os seus amiguinhos precisam de dormir.
Aconchega Clara nos lençóis, dá-lhe um beijo de boa noite e sai do quarto.  Assim que percebe que a mãe saiu, Clara levanta-se de novo e junto com Baina dá uma gargalhada baixinha sem que ninguém as ouvisse.
— Baina, porque é que só eu é que te posso ver? Porque é que a mamã não te pode ver?
— Já te disse, eu sou especial. Não sou apenas uma sombra, sou muito mais que uma sombra.
— És mais que uma sombra? Então mas se tu não és uma sombra, que és?
— Ainda não te posso dizer...mas tu acreditas em anjos?
— Em anjos? Não sei, mas a mamã ensinou-me a rezar ao meu anjinho da guarda: "Anjo da guarda minha companhia, guarda a minha alma de noite e de dia."
— Então, vou te contar um segredo...os anjos existem. E todos os meninos têm um que os protege, todos os dias...e às vezes eles aparecem.
— A sério...eu tenho mesmo um anjo da guarda? Mas então porque é que ele ainda não me apareceu a mim?
— Quem te disse que ele não te tinha aparecido já? Talvez tu é que ainda não tenhas aberto bem os olhos...talvez ainda não estejas pronta para o ver.
— Mas eu estou...eu estou pronta...eu quero ver o meu anjo da guarda...
— Talvez um dia ele te apareça...um dia em que realmente precises dele...
— Num dia em que precisse dele?- Mas assim que fez a pergunta Clara começou a abrir a boca, o João Pestana estava a chegar e, assim que se encostou na almofada adormeceu de imediato.
Baina tal como disse a Clara voltou para o seu mundo...seria o mundo das sombras, ou será que não? Seria o mundo dos sonhos? E porque é que ela tinha falado dos Anjos? O que é que ela estaria a esconder?
No dia seguinte Clara decidiu que logo depois da escola iria perguntar à mãe, tudo o que havia para saber sobre os Anjos da Guarda: quem eram, onde moravam, como viviam, o que comiam, o que vestiam, se dormiam, se iam para a escola, se brincavam como ela...
Clara queria saber tudo para que quando visse o seu percebesse quem era. Perguntou-se também se os Anjos da guarda teriam assas como aquele Anjo que todos os anos vai para o cimo da árvore de natal. Será que voavam?
Finalmente chegou a hora de fazer todas as perguntas à mãe sobre os Anjos...Clara decidira que iria falar com a mãe durante o banho, era um momento só delas. Durante esse tempo elas falavam de tudo o que se tinha passado no dia de cada uma. Assim, hoje Clara ia falar sobre: Anjos.
— Mamã hoje podemos falar de um assunto importante em vez de falarmos do nosso dia?
— Pensei que falar sobre o que fazíamos durante o dia era importante...
— E é mamã, mas é que tenho...tenho estado a pensar numa coisa...e preciso de respostas para as perguntas que tenho aqui...- diz Clara apontando para a sua cabecinha.
— Hum! Tudo bem...vamos lá saber o que anda aqui a matutar esta menininha linda...
— Então, posso começar mamã? Olha que são muitas, e muitas e muitas perguntas...
— São assim tantas? Vamos lá começar, qual é a primeira?
— A primeira é fácil...acreditas em Anjos?
— Em Anjos?- Clara acenou com a cabeca como que a confirmar...- Se eu acredito em Anjos? Sim, acho que sim...
— Achas que acreditas? Mamã esta pergunta era fácil...e se nem esta sabes como é que me vais responder às outras...
— Tens razão...bom então a minha resposta é sim, acredito em Anjos. Qual é a seguinte?
— Onde vivem os Anjos? O que comem? O que vestem?...
— Calma Clara, isso são três perguntas numa só. Bom vamos lá ver, os Anjos moram no céu e em relação às outras duas acho que comem e se vestem como nós.
— Mamã, tu já alguma vez viste um Anjo?
— Acho que sim, quando era pequena. Agora, embora saiba que os anjos existam, já não os vejo.
— Já não os vês?...porquê mamã? Portaste-te mal? Por isso não os consegues ver...
— Não, minha princesa. Vou-te contar um segredo...um segredo que a Avó Inês me contou a mim quando era pequenina...
— Um segredo? Que segredo mamã? Conta...eu não conto a ninguém prometo!
— A avó Inês dizia que só as crianças podiam ver os Anjos...é algo mágico. E apenas os meninos e as meninas como tu têm essa magia dentro delas.
— E como são os Anjos? Porque é que eu nunca vi nenhum?
— Bom...os Anjos são...são...lembras-te do anjinho que colocamos na árvore de natal todos os anos, achas que ele se parece com quem?
— O nosso anjinho parece-se com a Sara: loirinha, olhos claros e bochechuda.
— Tens razão, o nosso anjinho parece a tua irmã. Então como achas que são os Anjos?
— Eles são crianças...como eu?
— Sim...eu acredito que sim, acredito que os anjos da guarda são simplesmente crianças iguais a ti.
— Mamã e como se faz para se ser um Anjo?
— Clara...essa é uma pergunta que um dia quando fores mais crescida eu te respondo mas não agora...e agora vamos jantar que o papá e a Sara já estão à espera.
E assim a conversa sobre os anjos chegava a um fim, mas Clara queria saber como poderia ser um anjo...e sabia exatamente a quem perguntar: à sua amiga Baina. Sim a sua amiga iria saber...porque Baina era um Anjo...sim, Clara tinha a certeza.
À noite quando já estava na cama Clara esperou que Baina aparecesse...mas nada, Baina não apareceu. E a mesma coisa aconteceu nos dias seguintes...Clara começou a ficar triste, será que Baina estava zangada com ela? Será que lhe tinha acontecido alguma coisa?
Clara andava triste. Na escola não era a mesma, ficava no seu canto sem brincar com nenhum dos seus amigos e em casa deixava-se estar no quarto a "brincar", pelo menos era isso que a mãe pensava. Na verdade Clara ficava no quarto e chamava por Baina, mas esta nunca lhe respondia. Clara não sabia se a sua amiga a ouvia e simplesmente continuava a falar com ela, um dia Baina iria responder...Clara tinha a certeza...
Passaram-se dias...semanas...e Baina não aparecia. Um dia, ou melhor uma noite, apareceu no meio da escuridão do quarto de Clara uma luz. Era a luz mais brilhante, mais reluzente, mais resplandecente que a menina jamais vira. Quando os seus olhos se conseguiram adaptar àquela luz, Clara reconheceu-a...era Baina, a sua amiga Baina. Contudo, agora estava diferente, em vez de ser uma sombra negra e assustadora, Baina era uma linda luz, cheia de brilho...estava linda.
— Baina estás linda...mas...espera tu és...um anjo? O meu anjo da guarda.
— Sim, eu sou o teu anjo da guarda...
— Eu sabia...eu sabia. Tu és o meu anjo da guarda...porque é que deixaste de vir brincar? Fiz alguma coisa...
— Não, Clara, não fizeste nada de errado. Eu é que não pude vir...estive ocupada...
— Ocupada? A fazer o quê? O que fazem os Anjos?
— Bem...na verdade...bem nós...fazemos muitas coisas...
— Como ajudar os meninos, e proteger-nos de coisas más?
— Sim...de certa forma fazemos isso. Mas às vezes nem nós os Anjos da Guarda vos conseguimos proteger...
— Baina, como é que te tornaste um anjo?
— Não sei...simplesmente um dia acordei e...
— E achas que um dia eu também posso me tornar um anjo como tu?
— Não sei, talvez...mas podíamos brincar agora e fingir que somos dois anjos.
— Sim...eu vou buscar as minhas asas. São verdes mas são as únicas que tenho, do meu fato de carnaval da Sininho.
— Vou-te contar um segredo...há anjos de todas as cores. Por isso tu podes ser um Anjo verde e eu um Anjo dourado.
E naquela noite as duas brincaram de Anjos...foram, talvez, os anjos mais traquinas e menos silenciosos. No entanto, ninguém as ouvia, era como se todo o quarto de Clara se tivesse transformado num cubículo e tudo fosse abafado. Ao fim de algum tempo ambas estavam cansadas e acabaram por se sentar na cama.
— Baina, tu vais estar sempre comigo? Nunca me vais deixar pois não?
— Porque me perguntas isso? Eu sou o teu Anjo da Guarda e vou estar sempre aqui contigo.
— A mamã disse-me que quando crescemos deixamos de ver o nosso Anjo da Guarda. Eu não quero deixar de te ver, não quero que desapareças...
— Mesmo que me deixes de ver eu não vou estar longe, vou estar sempre perto de ti. E se me chamares eu vou estar lá.
— Prometes?
— Prometo...mesmo quando tiveres medo das sombras.
— Eu já não tenho medo das sombras, graças a ti.
Na manhã seguinte Clara estava feliz...aprendera que apesar das sombras serem escuras e assustadoras todas elas podiam ser reluzentes e cheias de luz. Clara e Baina eram inseparáveis: brincavam, saltavam, jogavam, riam, falavam de tudo.
No entanto, e ao contrario de Clara que foi crescendo, Baina manteve-se sempre aquela menina sombra que ela conhecera e não crescera. Contudo Baina nunca, mas nunca abandonou Clara. Mantiveram-se amigas para sempre, e ao fim de alguns anos, mesmo já não a vendo, Clara continuava a falar com o seu Anjo da Guarda...com a sua amiga sombra...com a sua amiga Baina.
E quando Clara se tornou também ela mãe...explicou aos seus filhos que todos os meninos tinham um Anjo da Guarda que os velava e protegia. E quando estes lhe perguntavam se Clara também tinha um, esta contava-lhes a história de Baina, a história da sua amiga sombra...a sombra reluzente.
Mas afinal qual é a história de Baina? Como se tornou ela um Anjo? Não é uma história daquelas que acabava com um "viveram felizes para sempre.", não...pelo contrário, era uma história triste, muito triste.
Baina era uma menina como outra qualquer, tinha uma familia: uma mãe, um pai, irmãos...Baina era feliz. Tinha tios e tias, primos e primas, e uns avós que a mimavam muito...mas mesmo muito.
Baina também ia à escola e tinha amigos...muitos amigos. Tinha uma professora e muitas pessoas na escola que gostavam dela, e Baina gostava muito delas também.
Tal como Clara, Baina gostava de tudo o que era cor de rosa. E também, como Clara, adorava dançar Ballet...o que ela gosta de dar piruetas, nunca se cansava...e de andar em pontas e fazer "pliées", Baina era feliz, muito feliz.
Porém um dia tudo acabou: deixou de fazer piruetas, de andar em pontas, de fazer "pliées", de brincar, de ir à escola. Um dia tudo o que ela conhecera simplesmente tinha desaparecido.
Ela via os pais preocupados e a chorar...os tios e os avós, os primos e os seus irmãos todos choravam. Mas ninguém lhe dizia o que se passava. Um dia a mãe chegou-se bem perto dela e disse-lhe "Está tudo bem minha luz. Podes partir...podes ir. Nós amamos-te muito...nunca te esqueças de nós. Vais estar sempre nos nossos corações."
Baina não percebeu o que a mãe quis dizer "Podes partir...podes ir.". Partir para onde? Ir para onde? Baina não queria partir, não queria deixar os pais, os irmãos, a sua família, os seus amigos, mas, a verdade é que ela sentia-se cansada, só queria dormir e acordar cheia de energia para brincar, correr, saltar...ser a pequena pulguinha, como a sua mãe lhe chamava.
De repente Baina começou a sentir-se leve, muito leve, como se estivesse a flutuar numa nuvem feita de algodão. Ainda de olhos fechados Baina sentiu uma luz, forte e brilhante...não era uma luz qualquer, não era a luz do sol com a qual tantos dias Baina acordava. Era uma luz com um brilho diferente, contudo ela não conseguia explicar em que é que era diferente.
Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, estava num lugar lindo: estava no meio de um campo com a erva mais verdejante que alguma vez vira, cheio de flores de todas as cores, um céu azul mas tão azul...era tudo tão lindo. Baina não se sentia mais cansada, ela corria, saltava, dançava...sentia-se livre e feliz.
Depois de muita brincadeira e correria, Baina avistou alguém caminhando para junto de si, era uma senhora e à sua volta havia uma luz...a mesma luz que Baina sentira antes de abrir os olhos. À medida que se aproximava Baina reconhece aquela Senhora...a sua Bivó...a sua Bisavó Bianca...tinha tido tantas saudades dela.
Mas o que estaria ela a fazer ali? Seria um sonho? Sim, devia ser isso, só podia ser isso, de outra forma como podia ela estar ali com Baina. Baina sentia-se feliz e livre...contudo, começava a ter saudades dos pais e dos irmãos, e pediu para voltar para casa...e foi nessa altura que percebeu que tal como a sua Bivó também ela estava cheia de luz ao seu redor, era como se estivesse vestida da própria luz.
Baina transformara-se num Anjo...sim...num bonito anjo. O que ela daria para que a sua mãe a visse agora. Baina sempre fora o seu anjo...e agora era-o de verdade. E apesar de ter saudades dos pais, dos irmãos...Baina sabia que eles jamais a esqueceriam e ela também nunca os esqueceria. Eram parte dela, e ela parte deles. Baina sentia-se...em paz. Sim, em paz...sem culpas, sem nada a temer...porque afinal o que é que lhe podia acontecer naquele lugar? Nada…


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