Por um instante ela mal acreditava em sua sorte, ou azar...

Qual era a probabilidade daquele reencontro?  Já podia até mesmo sentir uma gota de suor escorrendo pela nuca. Engoliu seco.  Ele a encarava com um meio sorriso e sua famosa sobrancelha sarcástica. Ela se mexeu tensa na cadeira de madeira.

Fale alguma coisa Hermione, qualquer coisa! Muito bem... cérebro, palavras, língua... Como isso funcionava mesmo?

As palavras saíram, ainda que um pouco arrastadas. “Senhor Snape, que surpresa! Espero não estar atrapalhando” Consegui lhe dar um sorriso por cima do cardápio que ele lhe estendera.

“Eu poderia dizer o mesmo senhorita Granger, mas por algum motivo sinto que não posso me livrar facilmente da senhorita”.  Disse olhando o seu próprio cardápio.

Hermione piscou. “Sinto muito, não quis interromper seu momento...” Franziu o rosto e começou a se levantar.

O cérebro de Severus entrou em modo pânico naquele instante. Maldita sua língua! Ela estava indo embora!  A garota não tinha culpa da situação e ele havia feito o convite. “Espere!” Seu tom deve ter sido quase desesperado a julgar pelo olhos arregalados dela. “Perdoe meus modos, Hermione não quis ser grosseiro, por favor, sente-se” 

O sorriso que ela ofereceu foi um tanto vacilante, mas em seus olhos o alívio era claramente visível.

“Por um instante acreditei mesmo que iria ser expulsa.” Disse colocando um cacho errante atrás da orelha e dirigindo o olhar para os olhos ao homem a sua frente.

O cérebro de Severus deu um salto, a menina tinha um olhar doce, mas estranhamente intimidante. Se não falasse algo sabia que suas bochechas começariam a corar.

“Deixo claro que não foi minha intenção expulsa-la do local,expresso minhas desculpas novamente Senhorita Granger...

“Hermione”. Ela o cortou e sorriu ao ver a confusão em seu rosto. “Me chamou de Hermione antes, eu prefiro que continue assim senhor Snape.”

“Sim, é claro.”

Ela sorriu e ele ofereceu  um repuxo de lado em um dos lábios, um silêncio confortável se instalou entre os dois enquanto avaliavam seus  pedidos.

Uma jovem garçonete se aproximou da mesa  para anotar os pedidos. Ela pediu uma simples xícara de chá com um bolo de canela e teve que esconder o espanto com o pedido de um bolo trufado de chocolate com café preto do professor. Quando ele terminou e a jovem se retirou ela ainda tinha um olhar interrogativo em sua direção.

“Posso saber o que despertou tanto interesse de sua parte senh-Hermione.”  Snape tinha um olhar neutro, mas sua voz demonstrava impaciência.

 Ela deu uma pequena risada. “Desculpe-me senhor, mas é que sempre imaginei que detestasse doces”

Ele pareceu ponderar um instante, até dar um discreto sorriso. “Não posso culpá-la, na verdade, estou surpreso de que essa seja sua maior suposição sobre mim.”

Ela riu e achou melhor não citar tudo o que os meninos imaginavam sobre ele em suas conversas na sala comum da Grifinória.

 Ele ainda tinha uma expressão levemente divertida quando começou a falar. “Confesso que enquanto professor raramente me dava ao luxo de consumir doces na escola, mas uma vez que comecei minhas viagens me deixei levar pela curiosidade e acabei provando inúmeras variedades, desde então me permito a um deleite ou outro, especialmente deste lugar.”

Quem era este homem a frente dela? Vendo a postura relaxada, as roupas informais, ela mesma nunca acreditaria estar conversando com o próprio e temido heróis Severus Snape.

“Costuma vir sempre aqui?” Ela perguntou interessada e ganhou uma sobrancelha levantada, percebendo seu erro ela corou. “Quero dizer, não que eu precise saber, isso não foi uma pergunta maliciosa, por favor, não me leve a mal eu só...”  Ela respirou. “ É só que, costumo vir aqui algumas vezes no meu intervalo em St. Mungus e nunca o vi aqui, não desde a primeira vez.”

Ele pareceu pensar em algo para falar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, seus pedidos chegaram.  Conforme os alimentos iam sendo distribuídos na mesa, um prato em especial chamou a atenção de Hermione quanto posto a sua frente.

“Com licença, mas não pedi este.” Ela educadamente começou a empurrar um prato de biscoitos de chocolate de volta a funcionária.

“Perdão não dizer logo senhorita, os biscoitos são cortesia do senhor da mesa três, ele parecia muito feliz quando meu pediu para trazer.” Ela disse confidenciando e saindo.

Hermione olhou para Severus, que parecia bastante interessado em seu próprio café. Vendo que não obteria simpatia ela olhou em volta, tentando ser  o mais discreta possível ao procurar seu admirador da referida mesa.

Discrição era algo que todo sonserino aprendia desde o berço, o mesmo não podia se esperar de um grifinório. Severus quase bufou ao ver a desastrosa tentativa da menina a sua frente a procurar sem ser notada. Com uma, quase imperceptível, olhada a esquerda sobre o ombro de Hermione, ele viu um homem, pouco mais jovem que ele próprio, olhar para a garota como se quisesse perfurar sua nuca, com um olhar cheio de si. Ele rapidamente soube quem ele ela.

 Severus sorveu seu líquido mais uma vez, antes de perder a paciência com as tentativa frustrada de Hermione. “Se já se cansou senhorita Granger, posso dizer que é o remetente deste.” Disse apontando para o  prato ainda intocado.

 Hermione ficou tão surpresa com a sentença que nem  o repreendeu pela maneira que disse seu nome.  “Por favor, não me diga que você o conhece.” O olhar miserável que ela lhe deu quase o fez ter pena da situação. “Isso é, quem faz isso hoje em dia...

“Gregory Flint.” Ele disse sem esperar que ela terminasse sua frase.

“Me diz que você está brincando.” Seu rosto afundou em suas mãos em um claro sinal de desânimo.

“Homem loiro, alto, aproximadamente  trinta e cinco anos olhar pretencioso...

 Ela colocou as mãos a frente para ele parar. “Tudo bem, já entendi que você o conhece.”  Ele lhe deu um olhar interrogativo  como se esperasse uma explicação. “Esse idiota tem tentando sair comigo há meses, não importa a desculpa que eu dou, ele simplesmente não se toca, mas agora isso?” Ela apontou um dedo para o inocente prato de biscoitos. “Como vou encará-lo no trabalho?”

Snape franziu o cenho. “Senhorita Granger-” Mudou rapidamente pelo olhar devolvido. “Hermione, a senhorita disse que trabalhava em St. Mungus e até onde me lembro  a inteligência do Sr. Flint o qualificaria para trabalhar como uma estátua viva, por favor não me diga que esse imbecil foi contratado por um hospital!” Disse baixando o pires indignado.

Hermione bufou  baixando sua própria xícara, não tinha nem mesmo vontade de tomar chá. “Bem ele foi, sem um diploma para med-bruxo, enfermeiro, fabricante de poções ou algo do tipo, mas parece que ele tem um tio influente o suficiente que o colocou como encarregado administrativo da seção financeira.”

“Eu não poderia imaginar outra resposta para isso”.

Ela começou a falar sobre seu trabalho, e sua paixão por ele, Severus se interessou muito por sua pesquisa e começaram a debater autores, poções de curar, métodos de tratamento. Rapidamente uma hora se foi. E para seu prazer ele revelou que estava montando um comércio de poções no Beco Diagonal. Ela olhou para o relógio tinha que ir. Sentiu-se triste, aquela tarde estava maravilhosa e Snape tinha se mostrado uma excelente companhia.

Ele olhou pra o prato de biscoitos franzindo os lábios. “O que pretende fazer com isso”.

Ela olhou enrugando o nariz. “Eles são todos seus se quiser, principalmente com a minha descoberta de seu dente doce” Ela gargalhou.

Mesmo sem quere ele achou aquele som maravilhoso, ficando rapidamente sem graça pelo pensamento.

“Bom, eu preciso ir, mas muito obrigada por deixar eu me juntar você”. Ela começou a se levantar e ele se juntou a ela, caminhando em direção ao caixa (com seus biscoitos devidamente embalados para a viagem, muito obrigado.)

Ela pagou primeiro e começou a se afastar, Severus queria dizer alguma coisa, qualquer coisa para prolongar aquele encontro acidental, mas não consegui, ele esperava que  o desapontamento  em seu olhar fosse apenas impressão sua.

O que ela esperava? Ele só estava sendo educado e ela estava fantasiando! Pelo menos Flint tinha saído antes deles, para seu alívio.

Pensou cedo demais, pois em sua direção veio a fonte de seu desgosto.

“Confesso que estou decepcionado Granger, achei que iria apreciar meu pequeno presente.” Tinha um sorriso falso e descontente no rosto.

Hermione bufou, o homem a sua frente estava tão acostumado a ter as meninas se atirando a seus pés que não conseguia superar biscoitos? Sério?

“Com todo respeito Flint, estou com pressa, como você bem sabe meu intervalo já terminou e alguns de nós tem trabalho real a fazer, com licença...” Hermione começou a se mover, mas ele acompanhou seu movimento, barrando-a com o corpo.

Seu sangue ferveu, como ele se atrevia! Se a rua não estivesse tão movimentada teria lançando uma azaração, sua varinha já estava morna presa contra sua perna.

“Vamos lá Granger, qual o problema, até onde sei você está solteira e só se sentou naquela mesa porque era a única vazia.” Ele estava se aproximando de maneira incomoda.

Droga de garçonete fofoqueira.

“Não que isso seja da sua conta, mas eu estava num encontro!” Disse da maneira mais indignada que conseguia.

Ao sair a primeira coisa que Severus viu foi o homem de antes encurralar Hermione na esquina, aquilo o irritou, muito. Ela parecia desconfortável e no meio de um centro trouxa magia estava fora de consideração. Ele ouviu o que ela disse sobre estar em um encontro ao se aproximar, seu coração deu um salto, mesmo sabendo que era apenas uma mentira para se defender. Mas quando ela tentou se retirar novamente e ele prendeu seu braço, aquilo foi demais. Apressando o passo ele os alcançou.

 “Alguma coisa errada Hermione?” O tom de sua pergunta deve ter sido claro o suficiente para que Flint entendesse o recado.

“Não, nada errado Severus, Flint já estava de saída.” Hermione ainda estava extremamente irritada, mas seu alívio era quase palpável.

“Snape? Seu encontro era com Snape?” Sua voz era carregada de escárnio.

“Bom saber que seu cérebro inferior é capaz de reter uma informação tão simples quanto um nome Sr. Flint” Ele o olhou de toda a sua altura cruzando os braços. “Agora, sugiro que dê meia volta e desapareça da minha frente, se o braço da senhorita Granger aparecer com um roxo sequer vou me certificar que suas capacidades mentais sejam ainda mais restringidas. E senhor Flint, obrigada pelos biscoitos” Ele levantou a sacola de papel.  “São os meus favoritos”.

Sem precisar ouvir duas vezes, ele atirou um olhar desgostoso em direção a Hermione e saiu.

 Snape se certificou que Flint estava fora de seu campo de visão antes de se virar para Hermione. “Você está bem?”

Ela suspirou e olhou para ele com pesar. “Estou ótima, se pudesse usar minha varinha... Mas obrigada por me ajudar e sinto muito mesmo por envolver você nisso tudo.”

“Não sinta, homens como o senhor Flint precisam ser colocados em seu lugar de tempos em tempos” Ele franziu o cenho. “Espero que isso não vá ser um problema em seu trabalho”

Ela sorriu levemente. “Não, homens como ele não admitem quando saem no prejuízo e ele é esperto o suficiente para não me incomodar.” Disse batendo no local onde a varinha se encontrava.  Começaram a caminhar em direção ao ponto de aparição de maneira próxima.”Eu agradeço mais uma vez pela ajuda”.

 Ele levantou uma sobrancelha e o canto dos lábios “Como seu encontro, foi um descuido e uma grosseria deixá-la sozinha”

Ela corou de maneira não menos que adorável. “Desculpe por aquilo, só escapou na hora. Não tive a intenção de mentir” Ela riu sem graça. E eles pararam,

Naquele ponto teriam que se separara finalmente, cada um iria para um local diferente. Ele respirou e tomou coragem.

“Que não seja mais um mentira então.” Ele disse olhando em seus olhos.

Lá estavam elas, as borboletas no estômago que sentiu na primeira vez que o reencontrou.

Sua voz não era mais alta que um sussurro quando falou. “Você quer dizer, um encontro?”

Ele riu levemente para esconder o próprio nervosismo. “Sim Hermione, o que me diz?”

Ele estava tremendo por dentro, idiota! Ela o rejeitaria o que estava pensando...

“Sim, eu adoraria!” Ela lhe deu a resposta acompanhada de um radiante sorriso.

“Que tal comida italiana? Às 20 horas na sexta?” Ele perguntou não segurando seu próprio sorriso dessa vez.

“Parece maravilhoso senhor Snape”

“Severus, me chame de Severus”.  Com um a inclinação em sua direção, ele sacou a varinha e desapareceu, deixando uma Hermione extasiada no lugar.