DEAN

Acordei cedo para aproveitar meus últimos momentos naquela praia espetacular. O surf estava perfeito, a areia praticamente vazia, as festas foram tão intensas que apenas os mais regrados e viciados estavam fora da cama naquele horário. Não vi meus amigos e mentalmente agradeci por isso, não que fosse ruim estar com eles, mas o que eu estava pensando direto naquela hora era em voltar para o campus e ver Penny.

Por falar na Penny. Ela não me ligou de novo. Mas, esse fato além de parecer a cara dela, não foi tão preocupante porque eu estava determinado a ligar para ela assim que tomasse um banho e terminasse de arrumar minha mochila. Só que ao entrar em casa dei de cara com Sam enrolada em uma toalha. Ela me olhou com aquele ar bobo e sorriu, fui em direção a escada, ela se colocou na minha frente.

— O que você quer? - perguntei dando um passo para o lado.

— Conversar com você. - ela miou e eu me afastei irritado por ter de aturar aquela mulher me perturbando.

— A gente não tem nada para falar Sam. Preciso de um banho, minha passagem é para hoje, não posso atrasar.

— Por que você foge de mim Dean? Tudo o que eu quero é que a gente se dê bem...

— A gente se dá bem Sam. Não tem como se dar melhor do que isso! Você é minha madrasta e ponto.

Ela veio em minha direção, circulei a mesa e saí do outro lado. Perto da bancada da cozinha.

— Nossa! Olha só como você foge de mim! Isso não é uma relação amigável.

— A gente tem uma relação amigável! Não tem discussão, eu sou adulto, me viro sozinho, você não precisa tomar conta de mim. Tá mais do que bom! Que tipo de relação você esperava?

— Mais carinhosa, mais atenciosa... mais...

Soltei uma gargalhada.

— Eu te ofereço o máximo de carinho e atenção que a mulher da vez merece.

Ela se fingiu de desentendida. Fui mais claro:

— Cara! Você é a mulher da vez, ainda não notou isso? Por quanto tempo Andrew vai ficar com você? Mais alguns meses? Por que eu teria uma relação de carinho com alguém que logo vai sair da minha vida?

— Mas eu não quero isso... não quero sair da sua vida Dean.

— Não é você quem decide isso. - expliquei tomando a direção da porta lateral que irritantemente, estava trancada naquele dia. - Droga! Que merda! - esbravejei, aquela porta nunca estava trancada.

E por causa disso eu estava encurralado.

Senti a mão dela na minha bunda e me virei rápido.

— Tá doida mulher? - dei um passo para o lado percebendo que naquele momento de nada adiantava ser alto e forte. Não poderia usar nada disso contra ela. - Vou chamar o Andrew... - ameacei como uma criança boboca que enfrentava um amiguinho mais forte.

— Chame... eu quero mesmo dizer a ele que amo você. Que quero você... vou deixar de ser a mulher da vez dele e vou passar a ser a “sua” mulher!

O que é isso? Senhor! Essa mulher tá muito doida!

— Para com isso Sam! Eu tenho namorada! E mesmo que não tivesse eu não quero nada com você!

— Estou grávida! - ela disse sorrindo.

Enquanto ela falava eu me esgueirava junto a parede tentando escapulir, mas parecia impossível, exceto se eu a afastasse com o uso da força. O que me parecia bem perigoso devido ao rumo que aquela conversa tomava.

— E daí? Vá contar isso para o Andrew! Ele é o...

— Não querido... você é!

Petrifiquei.

— Tá delirando! Você precisa de um médico urgente... sua cabeça não tá boa Sam! - falei nervoso - Nunca cheguei nem perto de você!

— Mas ninguém sabe amor... posso dizer que o filho é seu... todos vão acreditar, com sua fama de mulherengo pegador, até que se faça um exame, sua namorada já era, a confusão estaria formada... e já viu né? O futebol acabaria...

Senti o sangue correr nas veias, ergui a mão e a segurei firme pelos braços para afastá-la de mim, Sam gritou depois riu alto, como se estivesse satisfeita com o que acontecia, neste momento ouvi a voz de Andrew que descia as escadas e nos via naquela situação.

Pronto! Meus medos estavam se transformando em realidade.

Ele parou no meio da sala, colocou as mãos na cintura e me encarou sério sem entender o que acontecia, Sam fingiu chorar e cobriu o rosto com as mãos quando eu a liberei. O circo estava armado! Era a hora de enfrentar aquela situação de uma vez por todas.

PENNY

Dean não me ligou mais. E eu voltei para o campus com o coração apertado sem saber o que estava acontecendo com ele. Se ele de repente descobrira que a tal amiga, ex ficante sei lá, era melhor do que eu. Afinal ele a conhecia a mais tempo. Eles já tinham certa intimidade. A gente mal ficara por alguns dias e já se separara. Isso nem dava para contar como um relacionamento. Um suspiro angustiado trancou na minha garganta. E provavelmente era culpa minha, fui eu quem quis manter o nosso “namoro” em segredo. Fui eu quem escondeu de todos que gostava dele. Fui eu quem permitiu que a minha tia se colocasse entre nós e me apresentasse aquele e... larguei a mochila dentro do armário.

Ele deveria ao menos falar comigo antes de sair assim ficando com qualquer ex namorada gostosa e sarada... nossa última conversa foi boa, parecia tudo bem e...

Me sentei na cama com a garganta travada.

Mas também. Se o Dean pensava que eu ia ficar chorando por ele estava muito enganado. Nunca na minha vida que eu vou sofrer por alguém como ele de novo! Não agora, depois de adulta, depois de ter tomado tantas decisões que alteraram minha vida. Depois de ter me libertado dos meus medos.

—Você está pensativa. - Josy disse enquanto largava todas as roupas sobre a cama.

Falei a primeira coisa que me veio a mente:

— Estava imaginando como vou fazer para organizar minhas matérias neste semestre.

— Só poderia ser isso mesmo! Não sei como tive essa estúpida intuição de que seria algo diferente.

— Por quê? - perguntei erguendo o olhar.

— Sei lá... nos últimos dias você estava diferente. Mais solta, mais de boa. Agora voltou a ser a mesma de antes.

Josy e suas verdades. Eu não queria ouvir isso. Estava angustiada por não ter notícias de Dean.

— Como foi passar essa temporada com Alan?

Josy parou o que estava fazendo. Me olhou séria. Tive medo do que ouviria.

— Tenho que contar uma coisa pra você...

— O que é? - perguntei imaginando que sabia o assunto.

— Quando comecei esse negócio de ficar com o Alan eu queria mesmo era me aproximar do Dean...

Meu estômago travou. Eu sabia. Mas ouvir da boca dela era outra coisa.

Josy continuou:

— Mas o Dean não quer nada comigo... e o Alan... - ela sorriu de leve, parecia encabulada – Ele é tão legal! A gente combina em quase tudo! Temos gostos parecidos... somos festeiros, gostamos de viajar, das mesmas comidas...

— Você tá apaixonada por ele? - questionei imaginando se ela me chamaria de boboca por falar dessa forma sentimental, mas fui surpreendida.

— Estou! Eu gosto mesmo dele!

Sorri e segurei as mãos que ela apertava sobre as coxas grossas.

— Que bom! Fico muito feliz por vocês. Eu gosto do Alan também.

— Pois é... - havia mais alguma coisa que ela pretendia me dizer? Josy me olhou séria confirmando minha intuição – Acho que o Dean está a fim de você.

Segurei o ímpeto de confessar tudo para ela dentro de mim e perguntei:

— Por que você pensa isso?

— Porque ele pergunta sempre sobre você. Porque ele é muito gentil com você. - balançando a mão e sorrindo ela continuou – Não que ele seja desagradável com os outros, mas ele te trata diferente. Tem um cuidado a mais com você... não fui só eu quem notou. - ela emendou depois de alguns segundos.

— Quem mais notou? - acho que naquele momento meu rosto estava vermelho como o batom que recobria os lábios de Josy.

— Todos os garotos. Eles estão apostando quando o Dean vai se declarar para você. E se você vai aceitar.

Sorri de leve. A cara deles fazer isso.

— Ele tem chance? - ela perguntou de repente, titubeei para responder e Josy sorriu abertamente. - Eu sabia que você também tinha uma quedinha por ele.

— Ele é um arrogante debochado. Isso é o que ele é! - reclamei fingindo zanga. Já sabia que o Dean era muito mais do que isso.

— Então você vai fazer ele sofrer um pouquinho antes de aceitar?

— Aceitar o que?

— Ficar com ele oras!

— Eu não vou ficar com ninguém.

— Namorar então Penélope! - Josy mudou o tom de voz rapidamente – De qualquer forma eu vou ganhar uns trocados, apostei que você não ficaria com ele de primeira. Que faria ele sofrer um pouquinho.

Se ela soubesse. Pensei suspirando e meu telefone tocou. Era ele. O toque era especial para ele. Pulei da cama e Josy me olhou curiosa.

— Quem é?

— Minha tia! - menti e ela fingiu acreditar, pois pela olhada percebi que não a convencera.

— Alô! - falei saindo para o corredor.

— Oi Penny! - era ele mesmo. - Tá no seu quarto?

— Sim... eu e a Josy....

— Droga! - ele disse sério. - Preciso conversar com você.

Conversar comigo! Conversar comigo? Oh! Por que aquilo estava me cheirando a um pontapé final?

— Onde você está?

— Estou aqui em baixo. - respondeu suspirando. - Você pode descer?

— Sim... - concordei insegura.

— Não demora tá? Tô precisando mesmo de você!

Precisando de mim. Precisando falar comigo. O que esse garoto aprontou agora? Me perguntei entrando no quarto outra vez. Josy me viu e sorriu, acho que percebeu alguma coisa no meu rosto porque foi logo perguntando:

— Algum problema Penny?

— Nada sério. Vou sair, volto logo.

— Quer que vá com você?

— Não precisa... obrigada!

Nos olhamos. Ela passou a mão pelo meu ombro e eu a abracei. Desde quando ficamos tão amigas? Tão próximas? Não sei não, foi acontecendo com calma. E agora a gente se dá bem. E isso é tão bom!

— Já volto...

— Vai tranquila!

Ouvi ela dizer enquanto cruzava o corredor o mais rápido possível em direção a Dean e à conversa que ele queria ter comigo.