Catarina I escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 1
Leve-ME




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Belomy Sebastian Henry de Vanderburg, também conhecido como Sua Majestade, Rei Belomy I. Ele era o governante de Hidden Springs um pequeno país montanhoso e com uma economia que dependia basicamente da agricultura e pesca em seus golfos. Mesmo assim, Belomy ao lado de sua Rainha consorte, a princesa italiana Eliza Francisca Mary Vanderburg eram amados e admirados por seus súditos e pelo Conselho.

Belomy I ,com o passar dos anos de seu casamento ,começou a desesperar-se com a ideia de talvez nunca ter um herdeiro varão. Ele já podia sentir o peso de sua idade aproximando-se, e tudo o que possuía em sua longa união com Eliza eram seus inúmeros fantasmas de natimortos.

Todos já estavam cientes de que em breve a Rainha que já não mais sangrava, e com isso nunca colocaria o tal sonhado herdeiro no mundo.

Inclusive, naquele momento ele aguardava do lado de fora do quarto de sua esposa o parecer do médico que foi chamado pela mesma para fazer a confirmação, pois já tinha um pouco mais de um mês que suas regras não vieram.

A porta dos aposentos da Rainha se abrem, deixando então que o velho médico venha até o Rei que se encontra andando de um lado para o outro. Ele inclina a cabeça para Belomy e então diz:

— Majestade – ergue a cabeça a então continua — Conforme os exames realizados, constatei que a rainha não está sangrando.

— Isso significa que não terei meu herdeiro – conclui Belomy desapontado consigo mesmo.

Sem herdeiros, o trono passará para as mãos dos Winterlys, uma das famílias mais antigas e poderosas de Hidden , ficando apenas atrás da família real.

— Majestade – continua o médico atraindo a atenção do Rei — A Rainha não está sangrando porque está gerando um filho. O seu filho.

Belomy encara o médico surpreso com a notícia. Ele sorri para o velho e então corre em direção ao quarto de Eliza que se encontra deitada em sua cama. Ele senta ao lado de sua esposa que está chorando de felicidade.

— Então é verdade, minha senhora? – pergunta o rei segurando na mão de sua esposa e a levando até seus lábios

— Sim , meu senhor – responde Eliza sorrindo. Ela conduz a mão de seu marido até seu ventre e então continua — Finalmente fomos presenteados por Deus com o nosso varão.

— Eu te amo, Eliza – declara Belomy beijando o topo da cabeleira negra de sua Rainha — Bem como amo o nosso filho, o nosso herdeiro.

— Eu prometo que carrego em meu ventre o próximo soberano de Hidden Springs – profetiza Eliza alisando sua barriga.

****

Tanto Belomy quanto Eliza, acreditavam de todo o coração que o filho que ela esperava era um menino, e tinham todos os motivos para tal, afinal videntes, filósofos e astrônomos asseguraram ao jubiloso rei, que desta vez, ele seria o pai de um varão.

Hidden Springs estava em festa esperando o herdeiro varão; festas foram organizadas por todo o país, e cartas anunciando a chegada do "Pequeno Príncipe" ao mundo.

O Rei, planejou tudo, torneio de justas, ricos banquetes, bailes de máscaras, nada passaria despercebido. A única dúvida a assombrar Belomy, seria o nome de seu filho.

Dentro da realeza, o nome de um príncipe herdeiro, reflete a posição que ele deve seguir ou espelha-se em monarcas anteriores, no qual o atual, deseja que seu filho siga o exemplo. No caso, Belomy tinha dúvidas entre Sebastian, nome de seu avô materno, ou Henry, nome do fundador da Dinastia Vanderburg.

Como tradição, semanas antes do nascimento do bebê, a Rainha Eliza entrou em um período de reclusão da Corte, para trazer o príncipe ao mundo. Devido ao grande número de natimortos, a quantidade de tempo de reclusão da Rainha dependeria da sua saúde ou do perigo que um aborto ou um herdeiro frágil representaria.

Primeiramente, os Reis, seguiram em procissão rumo à Capela Real para à missa. Após a missa, dirigiram-se para seus aposentos, onde receberam um cálice de vinho com especiarias, frente à toda a Corte. O lord Westford, rogou que todos os presentes, rezassem a Deus, para que a Rainha tivesse um parto calmo e sem contratempos. Outra procissão ocorreu, levando Eliza até a porta de seus aposentos. Belomy então segura na mão trêmula de sua esposa, eles já haviam passado por aquilo tantas vezes e falhado que o medo tomou conta de Eliza que encara o marido, tristemente.

— Minha senhora – chama Belomy segurando no queixo de sua esposa — Não se preocupe, nos veremos em breve.

—Se algo acontecer...– começa Eliza, nervosa.

— Nada acontecerá – garante o rei — Vocês dois ficarão bem. Eu sou o rei e ordeno que assim seja. Espero vocês dois em breve. Você... e o nosso amado Sebastian. – finaliza revelando o nome que escolheu para seu herdeiro enquanto alisa a barriga de sua esposa pela última vez.

— Que assim seja – concorda Eliza oferecendo um sorriso fraco para seu marido.

Ele se aproxima e toma os lábios de sua esposa apaixonadamente.

Eles se afastam e então a Rainha entra em seus aposentos acompanhada por suas damas. Por algum motivo, tem a amarga sensação de que aquela será a última vez que esteve fora de seu quarto.

Então em uma bela tarde de outono, Eliza teve contrações e o trabalho de parto teve início. Este não seria um parto fácil. Dois dias depois, a rainha ainda encontrava-se em trabalho de parto, exausta e sofrendo bastante.

— Ainda não nasceu? – questiona o Rei, irritado, ao ser informado por uma das parteiras.

—Desculpe-me, majestade, mas a criança está virada – responde a parteira, amedrontada.

— Então a desvire! – esbraveja o Rei. — Isso é uma ordem.

A parteira corre em direção aos aposentados da Rainha Eliza enquanto o Rei caminha em direção a capela Real. Ele se ajoelha no altar enquanto reza:

—Oh Deus, todo poderoso, em sua infinita graça e misericórdia, enviou-nos neste momento, o trabalho de parto de um príncipe. Conceda boa saúde, prosperidade e preservação contínua do príncipe e de minha amada Rainha. Que à sua Vontade se prevaleça.

O Rei permaneceu na capela, junto com o conselho, a fim de rezar para a rainha, pela segurança e entrega do bebê.

Enquanto oravam, Francisca gritava e sofria em seu esplêndido leito no Palácio. Apesar de todo sofrimento, não foi realizada uma cesariana na rainha; isso sequer foi sugerido pelos inúmeros médicos e parteiras reais presentes no recinto.

Já era madrugada do terceiro dia, quando os médicos reais saíram do quarto da Rainha e caminharam até a Capela onde encontraram o Rei ajoelhado diante do altar rodeado por seus ministros.

— Majestade – Chama o mais velho deles — A criança nasceu.

Belomy faz o sinal da cruz e então se levanta , aliviado: Suas preces foram atendidas.

—A Rainha Eliza deu à luz a uma saudável menina –revela o médico.

Naturalmente Belomy fica um tanto decepcionado perante o ocorrido. Embora não houvesse nenhuma lei concreta em Hidden Springs que impedisse a adesão de uma mulher ao trono , a ideia em si era algo indesejável por Belomy I, que uma mulher não conseguiria ser uma boa governante. Porém, naquele momento nada disso importava.

No palácio, dentro de seus aposentos, a rainha Eliza recuperava-se do esforço, sentada e penteada por suas damas. O nascimento de uma filha, não foi menos amargo para ela que, prometeu outrora, carregar em seu ventre o futuro Rei de Hidden Springs.

As portas de seu quarto se abrem e o Rei Belomy entra , fazendo com que todos os empregados se ajoelhem diante de sua presença.

— Meu senhor – fala Eliza fazendo sua reverência ao marido.

Ele caminha em direção ao berço real, segurando a rechonchuda menina, que nasceu com os cabelos loiros e nariz adunco de seu pai, mas com os olhos azuis acinzentados de sua mãe.

— Eu sinto muito – pede Eliza chorando enquanto se aproxima do marido — Deus sabe o quanto pedi para que viesse um varão.

— Meu amor – fala Belomy olhando para sua esposa e então para sua filha — Ela é linda.

— Então , me perdoa, meu senhor? – questiona Eliza.

— Minha senhora, não há o que se perdoar. Você trouxe ao mundo a próxima soberana de Hidden Springs – ele ergue a filha no alto e continua — Catarina Regina de Vanderburg.

Eliza sorri diante da cena e então sente uma terrível pontada em sua barriga a fazendo se curvar contra seu corpo.

— Minha senhora? Você está bem? – pergunta Belomy , preocupado.

—Estou. – responde Eliza segurando em sua barriga. Ela caminha em direção ao seu leito real, sendo auxiliada por uma de suas damas — Eu só preciso descansar, foram muitos dias de esforço.

Ela se deita e então fica observando seu marido com a filha nos braços. Em seu íntimo , a sensação de dever cumprido.

****

A razão para o repentino declínio na saúde de Eliza não foi identificada por nenhum dos médicos presentes.Durante uma semana, a rainha ficou em sua cama com febre alta, delírios e encharcada de suor.

Belomy permaneceu indeciso sobre se deveria ou não ir para Fluffy para o início da temporada de caça, mas eventualmente, decidiu que a condição de sua esposa era séria demais para que ele deixasse o local. Em um momento de abnegação, o monarca permaneceu com ela no Palácio.

—Belomy... Belomy ... – sussurra Eliza em seu leito.

—Estou aqui, meu amor – responde o rei segurando a mão de sua esposa enquanto senta na cama.

—Meu senhor... por favor... Chame o Bispo...

—Não, não será necessário – recusa Belomy balançando a cabeça enquanto acaricia os cabelos negros de sua esposa — Você se erguerá dessa cama e ficará conosco. Catarina precisa de você...

—Meu senhor... Está feliz... com o... nascimento de nossa... filha? – pergunta Eliza com esforço.

— Sou o homem mais feliz da face da Terra – responde Belomy sorrindo para sua esposa — O mais abençoado dos servos do Senhor.

— Então... meu dever está cumprido – sussurra Eliza esboçando um sorriso.

— Não, Eliza. Seu dever é governar ao meu lado – alega Belomy segurando o rosto de sua esposa por entre as mãos — Lembra-se do que me prometeu no dia do nosso casamento?

— Sim... – responde Eliza com dificuldade.

—Você me prometeu que eu morreria em sua cama entre seus braços, minha senhora – recorda Belomy — Eu estou gozando de plena saúde.Logo, não morrerá agora.

—Desculpe-me... – sussurra Eliza segurando na mão do marido e trazendo para seus lábios — Não consegui cumprir... as minhas promessas..

— Minha Eliza, meu amor. Você cumpriu a maior delas – responde Belomy. — Você me fez o homem mais feliz do mundo.

—Então por que não me deixa ir? – pergunta Eliza — Por favor, meu senhor... Deixe-me partir.

—Não... Eu não saberei viver sem você , minha rainha. – explica Belomy deitando sobre o peito da esposa — Peça-me o que quiser, menos isso.

—Por favor, cuide de nossa filha – pede Eliza chorando — Dê o seu melhor para garantir o futuro de Catarina.

—Prometo que farei de tudo por ela, nem que para isso tenha que sacrificar minha vida – responde Belomy.

— Deixe –me também dar minha benção de esposa a você – pede Eliza.

—Claro, minha senhora – responde Belomy que se levanta.

Ele curva a cabeça diante de sua esposa. Eliza se esforça ao máximo para sentar na cama e então estende suas mãos sobre a cabeça do rei, enquanto o abençoa , dizendo:

— Que Deus misericordioso lhe guie; Que as suas benções caiam diante de ti... E que você sempre volte para mim.... Caso não consiga, me leve dentro do seu coração... onde habitarei... para sempre.

Eliza então desfalecena cama para desespero do Rei Belomy que segura o corpo de sua esposa entre osbraços.Após angustiantes dias de sofrimento,Eliza finalmente recebeu os últimosritos do bispo e faleceu pouco antes do amanhecer.    

 


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Notas finais do capítulo


INICIO DA POSTAGEM: 7 DE MAIO



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