Os Filhos da Lua escrita por Lua Chan


Capítulo 17
Os órfãos




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Por uns momentos, tudo parecia calmo demais. Não sei se era apenas eu num dos meus estados de choque ou se realmente o mundo resolvera ficar em silêncio por alguns instantes. Minha mãe estava lá, dessa vez sem poupar as lágrimas que segurou minutos atrás. Ao seu lado, o homem de cabelos castanhos, levemente encaracolados, que demonstrava estar ou ser inseguro demais. Eu sabia que ele era o nômade russo, que por 2 anos esteve em território americano, rondando pelas florestas, procurando-me infatigavelmente. Darius Krutevish. Meu irmão. Tudo estava confuso demais.

— Se veio aqui para dizer calúnias, sra. Grant, é bom que saia do meu território. — a voz àspera e nem um pouco vacilante de Amur me acordou do transe — Este homem é um fugitivo. Diferentes alcateias estiveram procurando Darius, desde que ele pisou neste continente.

— Eu o garanto, Amur Gauthier, que meu filho não prejudicou ninguém enquanto esteve por aqui.

Pensei em perguntar como minha mãe sabia sobre Amur, mas lembrei do que Jace me falou sobre as alcateias estarem conectadas umas com as outras. Até mesmo nômades reconheceriam a influência de um futuro alfa. Antes que eu pudesse falar algo, Darius deu alguns passos a frente, ficando de cara a cara comigo. Amur estava rosnando, mas por mais idiota que eu pareça, deixei que o nômade se pronunciasse.

— Summer, eu entendo que nada disso faz sentido, mas eu estive a sua procura.

— É, disso eu sei. — respondo secamente — Mas e então? Toda palhaçada pra dizer essa mentira? Qual é o seu problema?

— Irina não está mentindo, eu sou seu irmão!

— Não, você não é e nunca foi! — grito, despejando minha raiva pra fora. Meu peito estava flamejando — Tudo isso é errado. Minha mãe esteve viajando pelo mundo à trabalho. Não sei o que você está fazendo aqui, a propósito, — digo, olhando para Irina Grant, que ainda estava chorando — mas saiba que foi uma brincadeira de mau gosto.

— Summer, calma. — dessa vez, Amur falou, segurando meus ombros. Larguei suas mãos e me afastei de todos.

— Cala a boca, Amur! Você não... eles não... o que está acontecendo?

Dobrei as pernas e simplesmente caí no chão, sendo amparada pelo futuro alfa dos Axel. Minha visão ficou borrada novamente, fiquei sem saber se eram pelas lágrimas ou por tontura. De repente, sinto uma mão a mais a me tocar. Era Darius, com o mesmo olhar perdido que fizera, assim que nos encontramos. Parecia legítimo.

— Por favor, deixe-nos explicar. É tudo o que eu peço.

Não consegui pensar muito bem, mas parei de soluçar, de tanto chorar. Não sabia como ou por que, mas a voz cheia de sotaque de Darius me transmitia uma sensação de paz. Olhei para ele por mais uns instantes e tentei me levantar sozinha. Darius olhou pra mim de volta, enterrando seus dedos em meus cabelos. Novamente, fiquei sem saber o por que, mas o abracei. Não era saudades, nem felicidade de ter encontrado um irmão. É porque eu precisava. Finalmente, me senti satisfeita e o soltei. Respirei profundamente e olhei mais uma vez para minha mãe.

— Certo. — digo — Vou lhes dar uma chance. Contem-me tudo o que preciso saber.

Darius deu um leve sorriso e me puxou para perto. Amur interveio, mas dei-lhe um olhar que dizia que estaria bem. Meu suposto irmão nos guiou até a floresta, onde encontramos uma espessa árvore, que me fez lembrar do dia em que descobri sobre os segredos de Amur. Sentamos no chão, minha mãe e Darius de frente a mim, e Irina começou a falar.

— Summer, o que eu e seu irmão temos a falar é mais complexo do que parece. A verdade é que... é que eu sou como seu irmão. Uma metamorfa da alcateia russa.

Ao dizer isso, meu coração acelera. Não era como se eu não tivesse chegado a essa conclusão: se a minha mãe me revelou que Darius, um lobo da alcateia russa, era meu irmão, então supostamente ela ou meu pai (ou os dois) deveriam ser lobos também. Acontece que eu não estava pronta pra ouvir isso, mas de qualquer forma, não baixo a guarda.

— Conheci seu pai há muito tempo, mas havia um problema: ele era apenas um humano e meu pai, um dos assistentes de Igor, o alfa da alcateia russa, não permitia nosso relacionamento com os humanos.

— Clichê. — afirmo, fingindo não estar com o coração na mão.

— Também acho. Mas enfim... fui obrigada a me casar com um dos lobos da alcateia. Surtei assim que soube do fardo que aguentaria por uma vida inteira e tentei fugir.

— E foi o que você fez. — Amur conclui o pensamento da minha mãe.

— Com toda a certeza, garoto. — ela diz, olhando pra ele — O pai de Summer, naquele ponto, já sabia sobre os metamorfos e queria fazer de tudo pra impedir meu casamento, assim como eu. Continuei a encontrá-lo sem o consentimento do meu pai. Meses depois, eu engravidei dele.

Irina dirige o olhar a Darius e ele prossegue, como se já tivesse ensaiado.

— Quando meu avô soube da traição de nossa mãe, ele pediu a Igor para puni-la. Felizmente, o pedido foi temporariamente suspenso. De acordo com o alfa, Irina deveria cuidar de sua cria por pelo menos 2 anos, até ela ter sua punição. Foi o que aconteceu. Ela foi expulsa da alcateia e proibida de pisar naquele território.

— Então você esteve órfão por o quê? 20 anos?

Ele fica cabisbaixo. Entendo na mesma hora que aquilo ainda o machucava.

— Mais ou menos. Fui criado pela minha tia, até a adolescência. Pode falar o resto, mãe.

Irina assentiu, segurando minhas mãos.

— Quando eu fui expulsa de lá, comecei a morar com seu pai em Varsóvia, na Polônia, onde parte da família dele vivia. Foi lá também que substituí meu sobrenome "Krutevish" por "Grant", quando casei com seu pai. Depois de mais alguns meses, tive Yakob, seu irmão. Por fim, você nasceu.

— Que bom que ainda lembra dos nossos nomes. — digo, sarcasticamente. Ela ainda não havia explicado por que tinha abandonado nós dois.

— Eu sinto muito por não ter feito parte da sua vida, meu raio de Sol, mas tive que ir embora. Havia lobos me patrulhando, seja lá onde eu estivesse, sem a permissão do alfa, muito menos do meu pai. Provavelmente eram um bando de extremistas e revoltados por eu ter desobedecido uma das nossas leis. Precisei, depois de certo tempo, me ausentar para falar pessoalmente com Igor sobre o caso. Não foi fácil me afastar de vocês, mas era necessário. Tivemos que mentir, dizendo a vocês que eu estava realizando apenas uma viagem à trabalho.

— E então Izak ficou pra cuidar de mim e Yakob.

— Exatamente.

— Mas por que tivemos que nos mudar tanto, mãe? — questiono, assimilando todas as informações como um computador.

— Seu pai me falou sobre isso. Ele disse que estava preocupado com os lobos, tinha medo de que alguns dos que estavam me seguindo ainda estivessem por aí. Por isso, tiveram que se locomover até chegar aqui. Demorei a voltar pra vocês, porque tive certas complicações na alcateia russa.

Ela ostenta um olhar mortífero para Darius, que recusou encará-la.

— Seu irmão aqui estava rebelde demais. Escapou das proximidades do bando, provocou intrigas entre membros da alcateia e foi visto por uma comunidade de caçadores. Fui permitida pelo alfa a voltar para alcateia e cuidar dele por um tempo. Igor dizia que Darius estava muito agitado porque sempre teve vontade de me procurar, mas todos diziam que eu morri assim que ele nasceu. Não demorou muitos anos até que ele fosse expulso da alcateia por chamar mais atenção humana. Tivemos que nos virar sozinhos, dois nômades perdidos. Mas dessa vez, eu tinha um objetivo de vida: encontrar vocês, Summer.

— E então chegamos aqui. — termino — Bem, eu tenho uma dúvida. Se você e Darius são lobos, significa que eu e Yakob...

— Não. — diz ela, cortando minha fala — Pelo menos não seu irmão. Esse era o outro ponto da conversa que eu gostaria de chegar. Darius herdou minhas características lupinas e Yakob, as características humanas de seu pai. Mas com você foi diferente, Summer. Você é uma mestiça. Parte humana, parte lobo.

— Espere. — Amur exclama, organizando os pensamentos — Summer esteve sentindo muitas dores ultimamente. E se ela é uma mestiça, então quer dizer que... quer dizer, na próxima lua cheia ela...

— Terá sua primeira transformação.


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