Meetings At Midnight escrita por Yokichan


Capítulo 10
X - Adeus


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, anyway. Eu não gosto de finais felizes. qq



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15 de Abril.

 

 

 

         “Eu hesito com a caneta na mão, eu não sei o que escrever pra você, amor. É impossível tentar esclarecer o quanto eu te amo, ainda menos provável que um dia eu consiga resumir você a uma única palavra. O que me resta, e o que devo fazer, é transformar algumas de nossas memórias em algo concreto, para quando eu não estiver mais com você. Enquanto estiver lendo, eu espero que você lembre de como fomos felizes há algum tempo atrás. Eu gostaria que aquele tempo não tivesse acabado.”

 

         Sentado no degrau mais baixo da varanda, curvado sobre o caderno ternamente respingado de um vermelho agora seco e escuro, você fazia questão de demorar os olhos sobre cada palavra, saudosamente. Fazia uma semana desde que eu me fora, e você ainda vestia preto.

 

         “Quando Cloud nos apresentou, você costumava ser tão irritante quanto eu. Apesar disso, eu não entendo o que lhe fazia agir de modo tão imponente, tão edificante perante todas as minhas futilidades. Você falava bonito, amor. Oh, eu ainda lembro de suas palavras suntuosas inferiorizando-me, falando sobre amor e sobre a vida que ambos tão pouco conhecíamos. ‘O amor verdadeiro não pode ser expressado com palavras’, você afirmou. No entanto, eu nunca parei de dizer que te amo, e em nenhum momento isso se afastou da sinceridade. Eu apenas queria estar perto de você, e sofri tetricamente quando você me deixou pela primeira vez. Por Deus, eu jurei que você jamais voltaria! Mas você voltou, derrubando facilmente todas as tênues paredes que eu havia construído.”

 

         As lágrimas enevoavam seus olhos, melancolicamente. Você ergueu os olhos para o sol dourado que se punha por trás das copas verdejantes e tão fúnebres, e suspirou profundamente, engolindo a própria dor. Sentada – e invisível – ao seu lado, eu pousei a mão piedosamente sobre seu ombro, mas você não podia sentir.

         Você virou algumas outras páginas.

 

 

 

23 de Abril.

 

 

“Me perdoe, amor. Eu não posso ter mais quinze anos, eu não posso mais voltar atrás nas escolhas que fiz. Eu não sou capaz de fugir de você, e por isso continuo te magoando amavelmente ao longo dos dias. A verdade é tão dura, e não suporto recitá-la para mim mesma. Nossa marcha lúgubre, nossa canção de terror. Eu penso muito sobre o que acabamos fazendo conosco, sobre o quanto nos mutilamos diariamente em prol desse amor que não temos a capacidade de sustentar. Você ainda é tão jovem, eu já passei da idade de sonhar de olhos fechados. O que nos resta parece tão pouco, mas eu tenho esperanças.

Eu quero me perder no escuro ao seu lado, quero deitar no gramado de verão e observar as nuvens enquanto sua mão repousa sobre a minha, quero estar na soleira da porta quando você chegar no final da tarde, quero dormir nos seus braços escutando a chuva cair do lado de fora. Quero passar uma borracha em toda a minha vida, quero nunca ter conhecido alguém tão bom que pudesse ser meu namorado para nunca precisar magoá-lo, quero esquecer que tenho esse nome e, magicamente, me chamar Sra. Sua Mulher. Quero tanto de mim, tanto de você, tanto do amanhã, mas acabo dormindo com migalhas.”

 

Você apertou o caderno aberto contra o peito, protegendo-o das próprias convulsões e soluços que lhe chacoalhavam o corpo. Eu podia escutar seus lamentos internos, tão desesperados. “Você ainda me machuca tanto. Eu carregarei para sempre a nossa dor, não se preocupe, meu bem.” Resumida à um frágil espírito incapaz de abandonar aquele mundo, eu passei meus braços ao redor de seus ombros e sorri. Como você ainda era um garoto tolo, amor.

 

 

 

02 de Maio.

 

 

“Eu tenho tanto medo de perder você, desta vez para sempre. Eu não sei como as coisas seriam sem você, depois de tantos anos provocando feridas em meu coração e as costurando com suas palavras bonitas. Já faz um bom tempo que você voltou, e eu estremeço só de imaginar aquela dor outra vez. Eu não entendo direito o que nós somos, mas a sensação de que estamos irremediavelmente ligados me fascina. Você sempre soube seguir minhas pistas tão bem.”

 

O que à pouco tempo era uma careta transfigurada pelo estupor, havia se tornado uma curva sutil e melancólica de sorriso. Você havia se lembrado de como lhe custara tempo e paciência até me encontrar, em um de seus inesperados retornos.

 

“Eu não quero que você me deixe outra vez, mas sempre que possível, tento me manter firme diante de minha perpetração. Eu peço para que você viva sua vida como precisar viver, para que não hesite em se envolver com outra pessoa, para que não deixe sua adolescência para depois. Eu tento agir corretamente, uma vez na vida, embora eu o queira possessivamente. Apenas não me conte nada, não me diga que encontrou uma garota que corresponde às suas expectativas, não me mantenha informada de suas relações exteriores. Com a sutil graça que eu conheço em você, oculte de mim todas as verdades que forem capazes de me derrubar. Isso seria cruel, amor.”

 

Uma lágrima despencou de seu rosto assombrado e caiu sobre o coração torto que eu havia desenhado no canto inferior da folha. Enfim, você havia compreendido que eu não era tão egoísta quanto parecia. Eu podia sentir a ternura ganhando espaço sobre a amargura em seu coração, e assim, inclinei o rosto por cima de seu ombro e assoprei as últimas folhas do caderno.

 

 

 

07 de Junho.

 

 

“Esta é a última folha, e eu lhe presentearei com minhas doces memórias hoje à noite. Eu entendo que você não queira nada assim, sem motivos, mas eu gosto de ir contra a sua vontade. Eu gosto quando você percebe que ainda há uma parte em mim que não foi completamente dominada por seu olhar categórico, uma parte que não obedece assiduamente seu poder de persuasão. Oh, amor! Eu me sinto tão bem desde que isso começou a acontecer, nossos encontros à meia noite. Algo está mudando em mim, você pode perceber?”

 

Sim, você havia notado. Você me conhecia tão bem.

 

“Eu sinto que logo seremos capazes de estarmos juntos, de alguma maneira. No entanto, se tudo não passar de um sonho, eu quero que você acredite que eu realmente vivi isso ao seu lado. Se tudo não tiver passado de uma ilusão prolongada por nossa loucura, eu quero que você jamais esqueça que minha atividade favorita é observar seu sono calmo, que meu vício mais sincero é o sabor dos seus beijos, e que minha maior felicidade foi tocar você. Agora eu tenho certeza que somos reais, que meu amor é eterno. Se tudo um dia acabar, eu quero que você sorria, porque eu amo quando você sorri.”

 

As bordas da última página estavam salpicadas de sangue, e lentamente você deslizou os dedos pálidos sobre o pouco de mim que ainda restava ali. O silêncio lhe engolia, a tarde adormecia, e você ainda não sabia o que faria no dia seguinte. Você procurava desesperadamente por um motivo, e eu inocentemente lhe dei o mais solene de todos os quais você poderia encontrar.

 

“Você costuma tristemente afirmar sua incapacidade diante de mim, com besteiras como ‘Eu não sirvo nem pra te deixar feliz’, mas eu quero que você entenda que você sempre esteve tão errado quanto a isso, eu quero que você saiba que mesmo nos momentos ruins, eu estive incondicionalmente feliz por você estar ali. Só Deus sabe o quanto eu te amo, com todas as suas rupturas, com todas as suas falhas, com todos os seus perfeitos defeitos. Não mude nada, não deixe de ser meu amável violador de regras. Eu quero você assim, amor, como você quiser ser.”

 

Minhas confissões haviam acabado, aquele era o fim de muita coisa que você sempre teve como essencial. Eu estava indo embora, para o céu ou para o inferno. Minha mão de fantasma abandonou o trêmulo calor de seu ombro, e lentamente eu fui sugada para o lugar onde devem jazer as almas. Seus lábios balbuciantes esticaram-se ternamente num pávido sorriso, e como se soubesse que aquele era realmente meu último instante ao seu lado, você me disse adeus.

 

- Bons sonhos, amor. – você desejou, lançando seus olhos ao céu enevoado.

 

         E como uma boa e eterna apaixonada, eu obedeci.

 

 

 

“Pergunte-se. Quem está contando essa história agora?”


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