Poção de não amor escrita por LittleHobbit


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inspirado pela música: one thing, Pascal Pinon.
E eu já perdi o desafio UHUUUUL o/
Adivinha quem vai pagar prenda?



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  Sua visão era colorida pelas flores. Havia rosas, lírios e damas da noite. Havia botões delicados e flores desabrochadas e docemente perfumadas. Havia as flores e havia ele.

  Ítalo apertou a alça de sua bolsa surrada e respirou o mais fundo que conseguiu. Respirou o ar doce que lhe confortava de dentro pra fora. Deu um passo para dentro da floricultura e baixou o olhar ante os alheios que pareciam o encarar. A franja escondendo parte de seu rosto o deixava melhor nessas horas, quando todos a sua volta pareciam lhe julgar de alguma forma. Mas Ítalo sabia que não precisava de nenhum deles. Que eles o julgassem, se assim quisessem, não importava.

  Sabia do que precisava. E quando o viu entre as flores apenas teve ainda mais certeza de que ele era a única coisa que realmente precisava.

  -Ítalo! – o chamou animado quando seus olhos escuros o focalizaram. – Achei que não viria mais.

  Ítalo se sentiu bobo quando seu coração pulou algumas batidas. Ele brilhava de tal forma que Ítalo achava não precisar do sol. Mesmo com um dia nublado, Bruno conseguia fazer o céu brilhar de novo. Alisou o cabelo involuntariamente e caminhou para mais perto do balcão repleto de fitas coloridas e flores.

  -Eu estava terminando o que prometi – disse com a voz baixa, sentindo o rosto se esquentar gradativamente. – Pra quem é o buquê dessa vez?

  -Eu estou fazendo pra Mônica – a expressão que tomou o rosto de Bruno pegou Ítalo de surpresa, fazendo seu peito apertar. – Ela já deve estar chegando.

  Ítalo postou as mãos no balcão gelado e se lembrou do rosto delicado da namorada de Bruno. Ele sabia disso há um bom tempo, mas isso não o impediu de misturar todos aquelas coisas no seu caldeirão. Não o impediu de ir até ali com um ar inocente que ele não possuía de verdade.

  Ítalo só precisava de uma coisa. Achava que se aquela expressão fosse direcionada a si, tudo daria certo. Queria acreditar que estava criando algo bonito para si, mesmo que tivesse que fazer algo feio para conseguir.

  Em um impulso enfiou a mão no bolso e puxou o frasco multicolorido para fora. Sabia que a única coisa que precisava fazer para colorir o próprio mundo era dar a poção para que Bruno bebesse. Sentiu o gelado do cristal contra os dedos e o apertou com uma hesitação nervosa.

  -O que é isso? – Bruno perguntou, uma curiosidade quase em transe ante as cores que refletiam nas paredes da loja. – É tão bonito.

  Uma coisa.

  Ítalo sabia, mas seus dedos se apertavam contra o frasco de tal maneira que sua mão tremia. Ele sabia que iria se arrepender se fizesse aquilo, mas algo sussurrou no seu ouvido “Mesmo que se arrependa, isso ainda vai demorar a acontecer. Vai valer a pena”. Talvez, pensou afrouxando o aperto. Fitou os olhos hipnotizados de Bruno e respirou fundo.

  -Bruno, eu...

  Mas então ele sentiu uma presença em suas costas e parou, quase aliviado por ter sido parado antes de dizer algo desnecessário.

  -Bruno, o que você está fazendo quando tem tanta gente esperando? – uma voz masculina disse.

  Ítalo voltou a apertar o frasco com a poção e se virou para a figura mais alta. Era Caio quem estava parado ali, seus olhos recaindo imediatamente sobre a mão de Ítalo.

  Caio, assim como Bruno, trabalhava entre as flores na floricultura. Ítalo não costumava conversar com ele. Ele era extrovertido demais para que Ítalo conseguisse se sentir confortável perto dele.

  -O Ítalo veio me trazer alguma coisa para as plantas – Bruno disse, saindo do transe. – Uma poção para ajudá-las a crescer.

  O olhar de Caio subiu das mãos de Ítalo para o seu rosto, o analisando de maneira quase concentrada demais. Depois voltou os olhos para baixo, ainda mais curioso.

  -É essa a tal poção? – perguntou apontando para o frasco, fazendo um movimento para mais perto dele.

  -Não! – Ítalo deixou escapar a exclamação, cobrindo a boca com a mão livre quase imediatamente.

  Sentiu o rosto pegar fogo e baixou mais a cabeça, fazendo o cabelo lhe esconder mais da metade de seu rosto. Só a ideia de que havia chamado toda a atenção do lugar para si o fazia estremecer. Sentiu o olhar pesado de Caio sobre si e desejou que pudesse sair correndo de lá. Puxou um segundo frasco da bolsa, um frasco simples com um líquido azulado dentro.

  -E – essa é a poção que eu fiz para as plantas – disse quase num sussurro, empurrando o vidro até mais perto de Bruno. – Eu vou embora agora...

  Escutou Bruno o chamar de dentro da loja, mas ele já estava longe, mãos no guidão da bicicleta e se preparando para subir a rua repleta de gente.

  Aquela única coisa havia escapado de maneira ridícula de entre seus dedos. Não sabia se teria coragem de tentar mais uma vez. Sentiu as lágrimas caírem de seus olhos. Lhe molhando o rosto, o queixo, o pescoço. Lhe embaçando a visão. Como se chorasse para não se afogar de dentro pra fora, porque não importava se tivesse coragem para voltar e tentar de novo, ele sabia que não conseguiria destruir a felicidade de Bruno com Mônica pela sua própria.

  Por isso chorava, enquanto o vento quente lhe cortava o rosto, quando ele já se sentia despedaçado por dentro.


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