Uma fumaça azul rodopiava no meio da sala, o ar cheirava a menta e a alecrim e um brilho púrpura iluminava suas bochechas. Estava pronta.

Ítalo colocou uma mecha do cabelo comprido atrás da orelha, enquanto checava a consistência do líquido no pequeno caldeirão sobre a mesa bagunçada. Abriu caminho entre os livros e as folhas de papel, os ramos de cominho e os frascos de nós moscada e canela. Achou um frasco de cristal brilhante e colou a poção multicolorida dentro dele.

Ítalo fazia poções do amor. Ele pintava de colorido as páginas da vida de outras pessoas, mas a sua própria continuava em branco.

Não tinha certeza de quando começara a misturar os sabores acres das ervas de seu jardim, com os doces das essências de baunilha e de café que guardava nas estantes. Lembrava da primeira vez que chegara ao colorido atual da poção e do cheiro indescritível que exalava dela, e de como correu para escrever os ingredientes antes que se esquecesse da ordem de cada um deles. Lembrava disso, mas não de quando ele começará a agir como um cúpido para outras pessoas.

Olhou a aquarela pelo transparente do frasco e o guardou na bolsa surrada que levava consigo para todos os cantos. Voltou o caldeirão para cima da estante e fechou o livro das sombras sobre a mesa. Abriu a porta para o ar abafado e passou pela horta perfumada de que cuidava tão bem. Pedalou rua abaixo, sentindo a brisa quente lhe bagunçar os fios escuros de seu cabelo.

Ítalo não era um cúpido, ele era um bruxo que, por algum motivo, as poções do amor que fazia para si nunca davam certo, mas talvez agora...

Uma arrepio desceu por suas costas quando sentiu o peso da poção na bolsa ao lado de seu corpo. A coisa que mais queria era provar do gosto que todos sentiam quando estavam apaixonados.

Queria poder assistir ao por do sol com alguém ao seu lado, sentir a quentura de uma mão entrelaçada na sua. Sabia por bocas alheias que amor tem perfume próprio - e talvez, se Ítalo já tivesse sentido esse cheiro, ele saberia que as poções que fazia possuíam o mesmo perfume.

Ele não tinha ideia das consequências de se brincar com sentimentos e só gostava de ver a luz aquarelada dando voltas na terra quando alguém bebia da poção. Era incrível como o colorido se espalhava feito vento, mesmo que parecesse que apenas ele podia ver.

Pedalou através das ruas repleta de pessoas, o coração batendo forte contra suas costas. Ele queria, mais que tudo, derramar tinta e colorir sua própria página.