Entre feitiços, uma negra e um gordinho excitado escrita por Lucas Stumpf


Capítulo 2
Um sorteio agoniante




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Embora Gabriel não amasse a ideia de ter Gabi de volta em Hogwarts - e, pior do que isso, de volta na Corvinal -, a perspectiva de ter Alexia na mesma Casa, atenuava significativamente os pensamentos de suicídio que permeavam sua mente ao lembrar-se da sensação de acordar afogado no cheiro cadavérico do primo de Lucas.

Os alunos foram levados ao Grande Salão, cujas janelas estavam enfeitadas com pingentes dourados, o céu artificial exibia uma majestosa lua dourada, e quase nenhuma nuvem; o céu mais lindo que Gabriel já vira na vida, e Lucas concordara.

Enquanto tomavam seus lugares, Gabriel se surpreendeu ao notar que a comida já estava posta. Fileiras com as mais deliciosas fantasias culinárias que um jovem de doze anos poderia ter. Pudins de sorvete, frangos untados com molhos doces, salsichas crocantes, bolos de chocolate cobertos de creme e morangos, e buquês de pirulitos coloridos polvilhados com açúcar. 

A boca do garoto começou a salivar enquanto seu olhar se perdia no banquete interminável e extraordinariamente suculento, como, segundo um sextanista que ouvira entre a multidão, nunca havia sido preparado pela escola. O cheiro paradisíaco fazia a mente de Gabriel delirar, e o garoto sentiu como se fosse capaz de devorar tudo sozinho em menos de meia hora.

 Era como se tudo tivesse sido projetado especificamente para tentar desviar a mente dos estudantes, muito bem acomodada nos protestos que fariam ao saber que Gabi estava de volta. E estavam se saindo muito bem, se a intenção era de fato essa, porque Gabriel pensou que, se o prêmio por aturar o Gabi fosse ter uma refeição assim todos os dias, até poderia pensar em destruir qualquer futura poção milagrosa que prometesse exaurir a cagança do Fezes.  

A profa. Minerva subiu no altar brilhante onde se localizava a mesa dos professores, e, sem precisar elevar muito a voz, conseguiu controlar a inquietação provocada pelo banquete inesperado, e ainda ser muito bem ouvida:

— Iremos agora receber os alunos novos deste ano. Por favor, mantenham a boa postura e a educação correta, como é de praxe. - E Gabriel notou que o olhar severo da professora se desviou para a mesa da Sonserina, onde um "não sei de nada" Lucas, se divertia passando a varinha pela fumaça de um frango. 

A professora desceu e deslizou até a porta ornamentada, abrindo-a e, num átimo, já estava a conduzir a fileira de alunos que olhavam deslumbrados cada canto do salão. Gabriel lembrou-se de sua primeira noite em Hogwarts. Tentou procurar Alexia com o olhar, mas não conseguiu, pois eram muitos. 

A multidão de alunos não muito maiores que Gabriel, parou de chofre à frente do banquinho de madeira encimado pelo Chapéu Seletor enquanto a professora puxava a lista de nomes e segurava o chapéu puído como se fosse uma pilha de testes que estava prestes a entregar para sua turma. 

Gabriel ficava mais nervoso a cada nome que era chamado, cada aluno que era sorteado, e cada um que se juntava às mesas.

Chegou em um ponto em que os cabelos azuis cintilantes de Alexia puderam ser vistos no interior dos calouros. Gabriel deixou escapar um sorriso assim que a viu. De repente, até o delicioso banquete que estava fazendo-lhe travar uma batalha interna para não começar a comer, pareceu um folheto de supermercado. Só preocupava-se em para qual Casa ela iria, e se havia mais alguém naquele salão, olhando para ela com más intenções. Não entendeu de imediado por que especificamente esses dois pensamentos povoavam sua mente, mas considerou que deveria ser algo normal. Era, por si só, um garoto relativamente paranoico.

— Geschwind, Alexia. - chamou a professora, procurando a aluna com o olhar.

Gabriel teve certeza de que estava mais ansioso do que a própria Alexia, que subiu até o altar com uma tranquilidade que chegou a incomodar o Hobbit um pouco, pois poderia indicar que não estava tão envolvida com a perspectiva de ir para a mesma Casa que ele.

— Vejo que a senhorita tem uma ótima mão para transfiguração. - elogiou o chapéu. - Acho que isso pode ser uma marca de um grifinório, não acha, profa. Minerva? - e o chapéu pareceu piscar para a professora de transfiguração, cujos lábios apenas retesaram, no que poderia ter sido a nascente de um sorriso.   

— ISSO QUE DÁ BOTAR A PORRA DE UM CHAPÉU PARA CONCLUIR COISAS! - exclamou Gabriel em uma voz que rompeu por todo o salão. 

Um colega da Corvinal precisou puxa-lo de volta para o banco. 

Alexia se escondeu dentro da aba, ao mesmo tempo em que um rubor percorria pelo gosto de Gabriel, assim que percebeu que atraíra a atenção de todos. 

— M... Muito bem - tornou a dizer o chapeu. - Mas também vejo que tem um interesse particular na casa de Corvinal...

O estômago de Gabriel deu uma cambalhota, se aquietou, e começou a dançar ao som de Ivete Sangalo. 

—... um interesse que vai além dos estudos... - continuou o chapéu. 

O chapéu virou o "rosto" para a mesa dos corvinos, e Gabriel percebeu de imediato que estava olhando para ele. Não poderia ser para Ysadora, com certeza não poderia. 

— Nesse caso... - começou o chapéu, lentamente.

— Nesse caso... - repetiu Gabriel, com o coração entoando todas as sonatas de Mozart. 

— Que seja CORVINAL! 

— SE ALGUÉM DISSER ALGO DE MAL DESSE CHAPÉU, VOU FAZER COMER COCÔ DO GABI! - bradou Gabriel enquanto os alunos da Corvinal batiam palmas e uma feliz e saltitante Alexia corria para se juntar a eles.

Foi em uma fração de segundo que mais pareceu todos os sete anos que se leva para concluir os estudos na escola, mas Alexia e Gabriel se abraçaram fortemente. Não tão forte como gostaria, porque não gostava de tais demonstrações em público, tampouco pouco íntimo a ponto de fazer qualquer espertinho criar esperança em vir falar com ela.

Alexia sentou-se ao lado dele, com um sorriso tímido e satisfeito.

— Muito bem, Alexia. - disse Ysa, também sorrindo, porém, não dando tanta importância assim.

— Agora só falta ela ser melhor do que você era. - disse Gabriel. 

— Não estou nem aí. - replicou a giganta dos infernos, se apropriando de uma travessa de comida assim que a voz abafada de Dumbledore ao fundo, anunciou que a comida estava servida. 

Gabriel fez questão de servir Alexia, e ter o tato de não perguntar a todo o momento o que ela gostaria, pois queria passar a ideia de que sabia de seus gostos tão bem quanto sabia conjurar o feitiço "lumus". 

Lucas e Pedro juntaram-se à mesa da Corvinal durante o jantar, aproveitando o fato de Gabi não estar por ali. Pedro jogou cerca de quinze alunos para fora do banco, quando sentou.

— Mamute encardido. - amaldiçoou um corvino, levantando-se no chão.

— Será que o Gabi vai continuar na Corvinal? - perguntou Lucas, com a boca cheia.

— Podemos por favor, não falar nesse entojado? - pediu Pedro, servindo-se de massa com molho. - Estamos comendo. 

— "Entojado" é seu vitupério preferido, ou seu repertório apenas ficou escasso? - perguntou Lucas, sem nem olhar para o gordo. 

— Estava apenas tentando ser sutil. - respondeu o Free Willy de óculos. - Ele merece coisa bem pior. 

— Mas eu também estou curioso quanto a isso. - admitiu Gabriel. - Principalmente porque não quero que a Alexia tenha de sofrer o que sofremos. 

— Que romântico. - comentou Lucas, comendo uma coxa de frango. 

— Você sabe que se o fedor continuar, as pessoas vão começar a evitar você também, não é? - perguntou Pedro. - Afinal, você é primo dele. Ano passado isso não aconteceu porque era o primeiro ano dele, então acharam que era mais um problema de nervosismo, do que de fato um castigo bíblico vindo para punir você por todo o mal que causou à humanidade. Mas quando virem que o problema continua, vão passar a achar que é de família.

— Assim como todas as doenças do mundo, na mente das pessoas. - acrescentou Lucas, revirando os olhos. - Não acho que Dumbledore permitira que as mesmas situações se repetissem. No final do ano ele deixou o Gabi e o Borela voltarem para as Casas porque não faltava muito para as aulas acabarem, e queria pelo menos poder ser gentil com eles nesse ponto, já que tudo acontecera por causa dele. Mas, se quer minha opinião, com certeza ele trabalhou em uma solução para esse ano.

— O cheiro é tão ruim assim? - perguntou a voz quase etérea de Alexia, fazendo os amigos engolirem em seco ao serem forçados a analisar o cheiro em suas mentes para descrevê-lo.

— É como se tivessem feito Feijãozinhos-de-todos-os-sabores sabor fim do mundo. - disse Ysa.

— É como se a professora Inês tivesse resolvido transformar sua própria aparência em uma fragrância. - disse Gabriel.

— É como se a Besta tivesse comido os dejetos que fez logo após devorar os próprios ovos, e depois arrotado.

— É pior do que olhar pro Pedro e Ysa na mesma perspectiva, por mais que ninguém jamais teria capacidade de comprimir os dois no mesmo campo de visão sem ter de dar à volta ao mundo. - dramatizou Lucas. 

— Com sorte, você não vai precisar sentir. - disse Gabriel, botando o braço em volta dos ombros da garota.

— O pior é que eu queria, apenas por curiosidade. - pôs Alexia. 

— Por que alguém teria curiosidade nisso? - perguntou Lucas, indignado. - Com tanta coisa pra você querer fazer apenas por curiosidade...

— Como afrontar a profa. Minerva? - disse Ysa, irônica.

— Como ofender o Snape? - agora foi Pedro quem falou.

— Como comer o João com o dedo?! - entoou Gabriel.

— EU ERA JOVEM E IMPRUDENTE! - defendeu-se Lucas levantando o dedo para Gabriel.

— ENTÃO QUER DIZER QUE HOJE VOCÊ SE CONSIDERA PRUDENTE?! - sibilou Gabriel. - PARAR UM VELHA NO MEIO DA RUA E CHAMÁ-LA DE FLITWICK É SER PRUDENTE? 

— E GRITAR PARA UM CHAPÉU, É SER O QUE? - rebateu Lucas. - NUMA VISÃO NORMAL, VOCÊ SERIA ACORRENTADO E LEVADO POR ESQUIZOFRENIA! 

— MAS O CHAPÉU PELO MENOS FALA! 

— A VELHA TAMBÉM!

— COM AQUELA IDADE, ACHO QUE NADA MAIS FUNCIONA! 

— Olá, alunos, como est... - mas o professor Fliwtick jamais terminara a frase.

Logo após um som alto de pum e um odor podre se espalhar no ar, vindo de Pedro, o professor de feitiços fora arremessado sobre as mesas vizinhas, derrubando as travessas, os pratos, e a cara dos alunos nos pudins às suas frentes. 

— BETERRABAS PROTUBERANTES! - berrou ele, ao desaparecer no intervalo entre duas mesas. 

— Desculpem... - pediu um escarlate Pedro quando os amigos o olharam enquanto os alunos tentavam recolher o abatido professor. - Não dava mais pra segurar...

 


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