“Nada é tão ruim que não possa piorar.”

Lydia nunca mais duvidaria de sua sorte,aquela merda toda que havia passado em Seattle não se comparava a nada com aquele momento. Teve que criar muita força de vontade para se afastar de Stiles e recuperar a pose. E não ajudava em nada aqueles olhares que todos lançavam para ela, alguns como Isaac e Scott tentavam segurar o riso, enquanto outros como Jackson, Allison e o próprio Stiles, pareciam atordoados com sua presença. Ela mesma estava um pouco confusa com aquilo tudo.

—Lydia! - virou-se assim que ouviu sua mãe chamar. - O que você está fazendo aqui?

—Eu bati em casa, você não estava. - disse tentando manter o controle em sua voz, não podia se entregar tão facilmente assim.

—Você voltou quando? - Allison perguntou, ela parecia se segurar para não abraça-la. Tudo o que Lydia queria era correr para os braços dela e contar tudo o que aconteceu nos últimos anos, principalmente contar sobre Mia.

—Cheguei agora. - disse desviando o olhar para procurar sua filha.

—E veio direto para cá? - Scott indagou cruzando os braços, ela sorriu sem saber como explicar toda aquela situação.

—Cara, é a Lydia, ela só não é gorda de ruim. - Stiles disse, repetindo a mesma ladainha de sempre quando eles estavam no colégio, ela se virou para ele. Estava pronta para retrucar o que estava na ponta da língua quando o grito infantil chamou a atenção de todos presentes.

O instinto de Lydia foi buscar Mia com o olhar, quando achou a filha se arrependeu amargamente. Amélia segurava o braço de um garoto loiro mais alto e mais velho do que ela com força, torcendo contra as costas do pobre coitado, começou a caminhar em direção a sua filha, a mulher que estava ao lado de Stiles correu mais rápido chegando primeiro e separando os dois, ela se ajoelhou na frente do garotinho passando a mão pelo rosto dele e perguntando se ele estava bem, então ela olhou para Mia com os olhos tão afiados quanto adagas.

—Por que você fez isso?

—Ele tocou em mim e puxou meu cabelo. - Mia disse com os braços cruzados e os dois pés firmes no chão.

—Você é uma garotinha mal criada e mal educada. - a mulher disse, Lydia olhou ao redor, ninguém parecia disposto a contradize-la.

—Para sua informação, minha mãe me criou muito bem, obrigada. - Mia retrucou, Lydia havia ensinado-a a nunca se rebaixar e discordar com educação. - Ele que é mal educado.

—Seu pequeno monstro. - a mulher disse, Mia fraquejou descruzando os braços e torcendo a barra do vestido entre os dedos.

—Malia! - Stiles a repreendeu, mas já tarde, Mia piscava os olhos deixando as gotas de lágrimas caírem. Não há nada pior no mundo para uma mãe do que ver seu filho chorar. Se aproximou deles pisando duro, parou a frente de Mia olhando para a tal de Malia.

—Com licença, mas com que direito você tem de falar isso para ela? - indagou com as mãos na cintura, Mia grudou nas suas pernas. Malia se levantou cruzando os braços.

—Essa garota é um monstrinho. Ela bateu no meu filho.

—Ele fez por merecer.

—E quem disse? - Malia arqueou a sobrancelha, Lydia estufou o peito.

—Eu nem sei quem você é, mas já tenho vontade de bater na sua cara. - disse.

—Quero ver tentar.

—Ok, Ok. - Stiles se meteu entre as duas com um sorriso nervoso. - Acho que já está bom por hoje de emoção. Apenas deixemos que a pequena ali peça desculpas a Benny e tudo fica bem.

Lydia olhou para ele abismada, aquilo só podia ser brincadeira.

—Você não tá falando sério, tá? - Stiles a olhou suplicante, como se pedisse para ela ceder. - Vamos sair daqui Amélia. - disse pegando na mão de Mia e a puxando para fora dali, nem olhou para trás para seus amigos, para sua mãe, apenas pegou a chave do carro e abriu a porta para Mia entrar, deu a ré e saiu do estacionamento.

•••

O sol já havia se sumido quando ela deu a última volta ao redor da cidade voltando para o posto de gasolina bem na entrada. Socou o volante frustrada.

—Você está bem, mamãe?

—Apenas cansada, fadinha. - murmurou fechando os olhos com força.

—Ainda vamos para casa da vovó? - Mia perguntou, Lydia se virou para olhar para ela, seus olhos estavam pesados, era notável o quanto ela estava com sono.

—Acho melhor um hotel, a gente pode dormir lá hoje e amanhã vamos a casa da vovó. - disse saindo do posto e tomando a estrada de novo. Conhecia um hotel bem no centro da cidade, sabia que ele estava sempre disponível, seria um novidade ele estar lotado. Estacionou na frente do hotel, desceu com Mia e as duas bolsas com as pouco as roupas que ainda não havia vendido para pagar um advogado decente. Fez o check-in e subiu para o quarto, todo o lugar era meio nostálgico para ela, naquele hotel havia ocorrido a festa de formatura, Jackson havia reservado um quarto só para eles, ela estava êxtase com aquilo, até descobrir da maneira mais difícil e inesperada que seu namoro era uma farsa.

—Mamãe posso comer alguma coisa? - Mia pediu pulando na cama de casal, Lydia assentiu tirando os sapatos de salto e massageando os pés cansados. - Podemos pedir uma pizza?

—Que tal um japonês? - sugeriu, era capaz de morrer se visse mais alguma massa a sua frente. Seu sangue ainda borbulhava por conta daquela mulher, seja lá quem ela fosse, Stiles parecia realmente determinado a protege-la.

—Mamãe, você tá bem? - Mia indagou se jogando em suas costas e prendendo as mãozinhas em volta do seu pescoço, Lydia assentiu virando a cabeça para dar um beijo nela.

—Apenas, as coisas estão um pouco confusas para nós ultimamente.

Mia ficou em silêncio, Lydia a cutucou na cintura. - O que foi fadinha?

—Como era meu papai?

Lydia suspirou puxando Mia para sentar em seu colo, acariciou o rosto da filha mexendo em seus cachos.

—Você me lembra muito ele, seus olhos, sua personalidade, o jeito como você não consegui tirar uma idéia da cabeça até que ela esteja concluída. - disse, mas Mia não se deu por vencida.

—Ele era bonito?

—Maravilhoso, engraçado, divertido, era meu melhor amigo até que algumas coisas aconteceram.

—E onde ele está, mamãe?

Sorriu com calma e colocou o cabelo dela atrás de sua orelha.

—Eu não sei meu amor, perdemos o contato.

—Ele não sabe que eu existo? - Mia piscou seus olhinhos, Lydia umedeceu os lábios.

—Digamos que foi melhor assim, ele tem uma carreira, salva as pessoas, isso tudo o mantém muito ocupado.

—Então ele não tem tempo para mim?

—Ele teria todo o tempo do mundo para você. - disse, Mia deitou a cabeça em seu peito fechando os olhos. - Ele vai ter.

•••

Ela havia chegado a uma conclusão, não podia mais esconder Mia, mesmo não querendo teria que contar a verdade, principalmente para ele. Sua filha merecia saber quem era seu pai. Mas primeiro tinha que arranjar um trabalho, para isso tinha que colocar Mia na escolinha.

Desceu do carro dando a volta e abrindo a porta detrás. Mia saltitou a sua frente em direção ao prédio, havia muitas crianças do lado de fora esperando o sinal bater, algumas mães e pais torciam o pescoço para vê-la passar, Lydia balançou o cabelo e remexeu ainda mais a cintura enquanto caminhava, sua fama na cidade já era bem forte mesmo antes da formatura, todos a julgavam com uma vadia, embora Stiles sempre deixasse claro que eles tinham raiva dela apenas por ela fazer coisas que eles não podiam fazer.

Mia a puxou pela mão, o corredor estava amontoado de pequenas pessoas gritando alto, Mia hesitou, Lydia apertou sua mão com delicadeza enquanto caminhava até a diretoria.

—Que bela surpresa encontrá-la aqui. - Erica disse apoiando os braços na lateral da cadeira.

—Queria saber quem foi o louco que deixou você cuidando de uma escola de crianças. - soltou a mão de Mia e cruzou os braços.

—Coisas mudam. E o que você veio fazer aqui?

—Matricular minha filha.

Erica arqueou a sobrancelha, Lydia inclinou a cabeça em direção a Mia.

—Espera aí, foi ela que quase quebrou o braço de Benny?

—Quem é Benny? - indagou, Mia de repente se grudou na sua perna.

—Benet Reaken. Aquela confusão da pizzaria.

—Ah, aquele com a mãe chata.

—Malia Stilinski, a esposa do Stiles. - ela disse, Lydia sentiu o coração pesar, claro que ele havia seguido em frente, todos tinham seguido em frente. - Benny é enteado de Stiles.

—Oh. Então acho que Malia vai me odiar ainda mais. - sussurrou para si mesma. - Ok Erica, você vai ou não matricular minha filha aqui?

—Você em sorte de mal termos começado o ano letivo, ela pode entrar em uma das turmas. - Erica disse pegando alguns papéis embaixo da mesa. - Trouxe os documentos dela?

—Sim. - entregou-os para ela.

—Vou colocar Mia no andar de baixo longe de Benny.

—Ele estuda aqui?

—Sim, mas não se preocupe, eles nunca vão se cruzar.

Assentiu.

—Mas sério Erica, o diabos você está fazendo aqui?

—Qual é? Eu gosto de crianças. - ela disse, Lydia riu.

—Você é o Grinch das crianças.

•••

Lydia abriu a porta da lanchonete segurando a bolsa, caminhou até o balcão e sorriu para a garota do outro lado.

—Bom dia o que você vai querer? - ela indagou sem sorrir.

—Vi lá na frente que estão procurando novos funcionários. - disse apontando para a placa, a garota a olhou de cima a baixo. - Vim me candidatar.

—Vou chamar minha chefe. - ela disse e saiu pela porta que dava acesso a cozinha. Lydia deixou a bolsa sobre o balcão e mordeu o lábio, o lugar não estava muito lotado, mas ela podia ouvir os murmurinhos e sentir os olhares sobre ela.

—Oi. - ela se virou encarando uma mulher asiática que usava duas tranças. - Você é a Lydia Martin não é?

—Sim e você?

—Kira Yukimura. - ela estendeu a mão, Lydia apertou.

—Você está ontem na pizzaria.

—Sim, o aniversário de Cole McCall.

—Filho de Scott e Allison. - Kira assentiu.

—Já ouve tantas histórias sobre você, principalmente por Stiles, nos primeiros anos que eu cheguei aqui ele mal calava a boca para falar sobre você. Acho que ninguém mais o suportava.

—É bem a cara de Stiles fazer isso. - riu.

—Às vezes acho que nem Malia aguenta ele. - Lydia sentiu o estômago revirar com a menção da esposa de Stiles, a vontade de contar sobre Mia diminuía cada vez mais. - Onde você está hospedada?

—Em um hotel perto daqui.

—Acho que podemos sair juntas, posso chamar Ally. - Kira sugeriu, Lydia achou um pouco estranho aquilo, elas mal se conheciam. Mas a vontade de rever Allison foi maior.

—Seria ótimo.

—Perfeito.

Sorriu para Kira.

—Lydia Martin. - se virou de volta para o balcão, Kate Argent a encarava com um sorriso convencido. - Sempre soube que você voltaria se arrastando pra cá.

Ela suspirou fechando os olhos com força.

—Isso só pode ser brincadeira. - murmurou.

—Não era você mesma que disse que nunca mais trabalharia para mim?

—Eu tinha dezesseis anos e estava de castigo. - disse olhando para ela. - E eu não sabia que você era dona desse lugar.

—Você sempre foi orgulhosa.

—É, mas desta vez não tenho escolha, você vai me dar o emprego ou não?

Kate riu.

—Você vai passar por um teste, só então eu penso em lhe dar o emprego ou não. Então vamos Lydia, troque esse vestido caro ou vai acabar sujando ele.

Assentiu pegando a bolsa e dando a volta no balcão seguindo Kate, não havia feito MIT e trabalhado naquela maldita empresa para acabar servindo mesas em um café de quinta, mas não tinha alternativa. Era hora de engolir o orgulho e tentar se reerguer.